Dos trilhos do Sudão do Sul
O Sudão do Sul tem para a maioria nome de um dos quase seis mil municípios brasileiros. Como há nomes de pessoas os mais diferentes do mundo, também pode haver nomes de municípios os mais diferentes neste Brasil. E por que não esse? Porque esse é um país da África, recente, separado do Sudão, que tinha existido junto ao Egito, do qual se separou com um algodão da qualidade de fazer inveja nas fábricas do falecido José Alencar. E a separação dos dois países foi violenta, principalmente porque a luta não foi de independência por independência, mas porque as grandes petroleiras acharam que podem ter mais lucros no Sudão do Sul do que em um Sudão unido e maior.
É nesse Sudão do Sul, rico em petróleo, que esta jorrando à vontade, que neste final de ano surgiram conflitos armados de grandes proporções. A luta fratricida entre diversas etnias está deslocando milhares de pessoas, provocando milhares de mortes e uma fome que assustou o mundo. As Nações Unidas vão enviar mais de seis mil soldados para a região e mais alimentos. Todas as potências mundiais estão pedindo que as partes em conflito cessem de lutar e iniciem conversações de paz. Tudo em vão, já que nem governo nem rebeldes foram suficientemente derrotados para iniciar negociações.
Mas, o susto que o mundo levou por se iniciar um conflito tão vigoroso em tão pouco tempo, com uma violência que beira o desastre humanitário, não deve ser menor do que o que levaram no Brasil os que estavam engajados em construir uma ferrovia naquele país. Uma empreiteira das alterosas, AG, conseguiu um empréstimo do nosso super banco de desenvolvimento nacional e social para construir mais de 500 km da ferrovia. Um empréstimo que a imprensa avalia em aproximadamente 1 bilhão de dólares ou mais de 2.3 bilhões de reais. E como o Brasil não fábrica nem trilho, segundo Jorge Gerdau porque o mercado não compensa, montamos locomotivas na fábrica da GE em Contagem que está ociosa, e os vagões têm mais partes importadas do que os carros de luxo, acrescentando que não temos mão de obra qualificada, essa obra seria boa para quem?
Estourando a guerra, pode se que os responsáveis revejam os investimentos. Ou não, já que acabamos de cancelar dívidas de alguns países africanos no valor total de mais de dois bilhões de reais. A pergunta é se os nossos investidores, quando vão para exterior pendurados nas garantias e risco do BNDES, realmente analisam qual é a real chance de receber. Parece que as lições mais recentes de penúria venezuelana pouco nos ensinaram. Enquanto a viúva estiver pagando as contas, por que se preocupar?
Stefan B. Salej
26.12.2013.
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