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Friday 15 November 2019

DOS ACORDOS E DESACORDOS COMERCIAIS

DOS ACORDOS E DESACORDOS COMERCIAIS

As relações econômicas  no sentido mais amplo de palavra são a base das relações diplomáticas e políticas entre os estados. Essas relações podem ser ou não traduzidas em acordos comerciais, ou muitas vezes em difícil entendimento entre os países que beiram mais o desacordo do que uma boa relação. Mas, um acordo entre países sempre significa um avanço nas relações, teoricamente benéfico para as partes. E principalmente coloca as regras claras mediante as quais essa relação evolui.

Hoje em dia tem muita falácia sobre a abertura do Brasil, país segundo alguns mais fechado do mundo, e a assinatura de novos acordos com blocos ou países. Mais recentemente, houve a declaração do Ministro da Economia Guedes, que disse que temos que fazer um acordo de livre comércio com a China. Primeiro precisamos esclarecer  que quem negocia os acordos comerciais pelo Brasil é o Ministério de Relações Exteriores, conhecido como Itamaraty. Claro que negocia em nome do governo, do país, mas são os diplomatas que negociam.

Bem, antes de fazermos um acordo com China, vale a pena ver o que temos de acordos em curso e em negociação. Primeiro está o nosso acordo mais amplo e menos eficiente, que é o Mercosul. Nele o Brasil tem o seu maior superávit de exportações de produtos manufaturados e tem uma relação mais intensa e extensa. Mas, esse acordo precisa ser revisto, também no seu sentido mais amplo, como não só uma união aduaneira mas como um acordo de desenvolvimento regional. E neste momento essa parceria está sob hemorragia verbal dos líderes políticos dos dois maiores parceiros, o que não indica que haverá uma revisão proveitosa para o desenvolvimento dos países em questão. Aliás, tanto Bolsonaro como o Presidente eleito da Argentina já falaram que se não for do jeito que eles propõem (o Brasil que baixe tarifas externas, por exemplo), vão sair do Mercosul. Em resumo, se não arrumar o Mercosul, o Brasil não pode negociar acordos com outros países.

O Brasil também faz parte de inúmeros organismos internacionais, entre eles a Organização Mundial do Comércio, que precisa de uma revisão antes que a entidade se torne inútil. A OMC, dirigida por um brasileiro, pessoalmente muito capaz, foi sendo desdenhada como fator de avanço do comércio internacional, e, como todos sabemos, está moribunda, e no pior estágio da vida: nem viva e nem morta.

Fazemos parte dos BRICS que se reuniram esta semana em Brasília. Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul evitaram discutir problemas políticos e pela enésimas vez declararam sua intenção de incrementar o comércio intra bloco. Nada disso aconteceu até agora, a não ser avanço das exportações chinesas para Brasil e importação de commodities brasileiras pela China. Nosso comércio com outros membros é tão miserável que não vale a pena nem mencionar. 

E na lista de espera está a ratificação do Acordo com União Europeia. Esse acordo, que verdade seja dita, vai afetar profundamente  a estrutura produtiva do país, esta sob ataque tanto na Europa como em especial na Argentina. Ou seja, o caminho a percorrer na aprovação do acordo ainda é longo, tortuoso e às vezes parece incerto. Quase o mesmo vale para o acordo com a EFTA, Suíça, Noruega, Liechtenstein . Um acordo cuja negociação foi concluída, mas ninguém viu o que se concluiu. E nas mesma esteira estão os acordos com Coréia do Sul, Japão e quem mais quiser. Tem também entusiastas de nossa adesão ao acordo com países do Pacifico e agora com a China. 

Em resumo, acordos e intenções de incrementar comércio não faltam.

Então, o que falta? Falta dizer com clareza que esses acordos fazem parte de um projeto econômico e social do país. Eles mudam não o nosso comércio externo, mudam a estrutura econômica e social do Brasil. Para os leigos é simples entender: o que vai se produzir no país, o que se vai importar, que empregos vai gerar. Que áreas vão desenvolver, e quais não. Onde vale a pena investir e onde não.

O fato é que esse projeto, se existe, está escondido e não  é consensual no país. Hoje os acordos com a UE e EFTA nos empurram para um novo patamar de competitividade para o qual não estamos preparados. E pior, com avanços tecnológicos, indústria 4.0, inteligência artificial, 5 G etc., a situação só tende a piorar.

Precisa de um plano de aumentar a competitividade da sociedade brasileira. Não basta só a modernização do estado, que está lenta, mas de toda a base econômica e ai vai social, como educação e saúde entre outras, do país. Também só ajustar a  infra estrutura e reduzir o Custo Brasil não será suficiente. Vai ajudar mas continuaremos a  exportar matérias primas, por exemplo soja para a China e não farelo de soja para mesma China.

Fazer acordos, ou então anunciá-los, sem uma base de transformação que os mesmos exigem, é a parte mais fácil ou às vezes até irresponsável da história. Implementá-los para que criem uma sociedade mais equilibrada, justa, com mais e melhores empregos, esta é a parte mais difícil . 

Monday 11 November 2019

DE MINAS EM CACOS E CACOS DE MINAS

DE MINAS EM CACOS E CACOS DE MINAS

Recente campanha publicitária da quase centenária FIEMG, Federação das Indústrias de Minas Gerais, diz que o Estado de Minas está em cacos e precisamos todos apoiar o projeto do governo Zema para a sua recuperação fiscal, em discussão na Assembleia Legislativa do Estado. Os anúncios e o chamado à população para que entenda que, se o projeto não for aprovado, a situação do próprio cidadão vai piorar, merecem neste momento crítico uma reflexão que ultrapassa o simples anúncio.

De fato, Minas tem muitos cacos e cocos que foram feitos durante a história. O estado foi dirigido  por banqueiros, industriais, empresários, engenheiros, advogados, economistas, mas foi um médico, JK, que deixou mais progresso e desenvolvimento do que qualquer outro. Uma das atitudes mais proveitosos na solução de crises é que os atores envolvidos na sua construção, ou neste caso desconstrução do estado, governo, e sua sociedade, façam uma reflexão sobre o que aconteceu e qual foi o papel de cada um. Já que a palavra crítica é , no dicionário político mineiro é palavrão e ofensa grave, seria bom pensar o que fazer com os cacos que estão infernizando a vida do cidadão. Ou seja, não é uma análise de números e também uma solução aritmética que vão dar uma saída duradoura à situação crítica e triste de hoje do estado.

O que não falta em Minas são boas cabeças pensantes. E esta situação exige uma reflexão profunda dos melhores cérebros mineiros e brasileiros. Quiçá estrangeiros. Hélio Garcia não teve medo, para citar um exemplo, de ter ao seu lado técnicos do mais alto gabarito e ouvir sobre o Plano Real o redutável Professor Jeffrey Sachs. E pior, ou melhor, fazer o que ele  sugeriu. Um governo que foi eleito com tal maioria não pode ser sectário e nem se apequenar perante os problemas, mas tem que exercer a liderança que leva a soluções. O plano apresentado é parte da solução e as medidas anunciadas, como a pré-venda de recebíveis de nióbio ( algo parecido com o que aconteceu com venda fracassada do pré-sal ou na Grécia), privatizações e ameaças de medidas não passam de solução momentânea.

O plano tem que ser uma profunda reforma do estado, por incrível que pareça algo que Guedes, aliás quadro da UFMG, quer fazer. Se continuar com esse modelo de gestão do estado, composto por privilegiados e outros 90 %, de nada adianta esse plano. Se os setores privilegiados de ontem, hoje e querendo ser de amanhã, insistirem em não colaborar, o plano só vai resolver algumas coisinhas, mas na essência só vai transformaram os cacos de hoje em meteoritos de amanhã.

Minas tem que repensar urgentemente seu modelo de estado. Na área de gestão pública, no seu modelo político, altamente dependente do poder federal, econômico e social. O que está aqui faliu e faliu feio, deixando muito mais gente na miséria do que se imagina e muito mais gente riquíssima do que a sociedade aceita. Estamos numa nova era tecnológica e de desafios, e agimos, inclusive com esse plano, com métodos do século passado que morreram.Ou que nos deixaram onde estamos.

Nesta visão do futuro, não podemos deixar de repetir aquela frase de Presidente  Kennedy, salvo engano, o que você pode fazer por este país. Na área empresarial, colocar anúncio e fazer lobby pelos interesses só de um grupo de empresários, é coisa de amador , sem visão e muito pior: sem responsabilidade com o futuro. O empresariado mineiro tem sim que dar as mãos ao governo e outros atores na solução da crise, mas tem que também liderar seu próprio projeto de melhoria de competitividade e inserção no mercado global. A soberana indústria não conversa com o agro e com os serviços e comércio, ou vice versa. As reuniões de coordenação das 11 entidades não levam a um objetivo comum, um projeto comum, como aliás já aconteceu no passado. E enquanto o setor econômico for essencialmente pensar nas soluções do governo e com o governo, o estado vai para o Plano de recuperação e nada além. E isso quer dizer um grande Band aid, mas tudo continua como D’antes no quartel do Abranches.