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Monday 24 February 2020

DO NÓ GÓRDIO DE MINAS

DO NÓ GÓRDIO DE MINAS



As contas não fecham. Ou seja, os aumentos que estão sendo discutidos na Assembleia de Minas, inicialmente com a proposta do Governador Zema para os policiais e posteriormente adicionando outros setores, não fecham as contas  de Minas.  O Estado, já inviável pelo seu passado fiscal, sem nenhuma perspectiva de melhoria de sua economia, aumenta ainda o seu déficit fiscal além de qualquer limite sustentável.

Como o Governador permitiu que isso aconteça, só ele sabe. Por que seus secretários e políticos que o acompanham no governo concordaram com a loucura, só eles sabem. Ou não sabem. Só ele sabe porque cedeu à pressão dos policiais e só ele sabe porque permitiu que essa reivindicação virasse bola de neve. O fato é que da bola de neve estamos abaixo de uma avalanche fiscal e financeira que torna o Estado inviável. Inviável para as atividades econômicas, e inviável para o cidadão sequer poder viver. O Estado, que já cumpre seu papel com deficiência, não tem condição de cumprir mais nada.

Comecemos com a área de segurança. Não é a primeira vez que os policias mineiros se revoltam. Já tivemos greves, intervenção do exército e politização das reivindicações, até justas. A Polícia Militar de Minas, que era um exemplo de profissionalização, tornou-se nos últimos vinte anos um exemplo de inversão de hierarquia. Quem manda são os cabos e sargentos, que se transformaram em líderes políticos, e não os oficiais. A tropa obedece aos primeiros e não aos segundos. E não reconhece que é uma massa de manobra de oportunistas que enriquecem às custas de migalhas para a tropa. Eles hoje representam uma facção ou fração política mais poderosa do que a maioria do eleitorado. E no seu conjunto se negam discutir o seu papel na sociedade, inclusive nos privilégios que mantem a oficialidade em relação a outros setores da sociedade. Resumindo, uma situação caótica e perigosa em todos os sentidos, sejam políticos ou econômicos. 

Nesse caos que se criou com a discussão sobre o aumento das polícias, as soluções que estão aí na mesa não são soluções para a sociedade como um todo. O Governador, que foi o estopim do caos, que ainda pode ter revoltas dos policiais como estamos vendo no Ceará, não é hoje a liderança que leva a uma solução. E mais: os tecnocratas que o acompanham também não deram nenhuma solução para o caso. Os políticos estão esperando que tudo estoure para ocupar o espaço que esta ficando cada vez mais contaminado. Ainda há de se perguntar por que outros atores políticos estão esperando a bomba estourar. Notadamente o Tribunal de Contas do Estado, as cabeças brancas de judiciário, e os empresários. É impossível acreditar que os empresários podem concordar com esse caos, sabendo que a conta vai ficar para eles. 

Alguma solução terá que aparecer. Um governador que, eleito com 70 %  dos votos, após um ano cria um caos dessa natureza, devia no  mínimo ter o bom senso de tirar licença e permitir que entrem outros  atores que resolvam a questão. Aliás, se ele tivesse bom senso não só não teria feito o que fez, mas ia embora porque ele não tem liderança para resolver esse caos.

Minas nunca viveu uma crise institucional tão grave. Tão sem perspectiva para ser resolvida. De tão profunda divisão entre os interesses e visões de como gerir o Estado. O orgulho de Minas ter os políticos de primeira grandeza do país, patriotas e devotos brasileiros, foi para o brejo. A liderança  que devia ter surgido na última eleição ainda levou o estado para pior. Espera-se que surjam lideranças da sociedade civil e mesmo políticas que cortem esse no górdio, porque desamarrá-lo é totalmente impossível.

Stefan Salej

Sunday 16 February 2020

DO GUEDISMO

DO GUEDISMO

Nas várias teorias de sucesso de políticos, existe  uma simples: onde não tem pão, todos brigam. Por pão. E por mais que analisarmos o primeiro ano do governo Bolsonaro, que tem um núcleo econômico guedista, chegamos a divergências quase insuperáveis em avaliações sobre se estamos bem ou não. Não estamos falando de meio copo cheio ou meio copo vazio. Estamos falando de quem tem o copo e quem não tem o copo. 

Uma mínima parcela da população, que tem dinheiro investido na Bovespa, que pertence aos mercados financeiros, em resumo que tem capital e participa do processo de economia liberal do guedismo, está rindo de orelha a orelha. Os bancos brasileiros, que demitiram muita gente no ano passado, tiveram, com a queda dos juros, um lucro de fazer inveja a qualquer membro de Wall Street  ou da City londrina. Não tem banco mais lucrativo do que o brasileiro no mundo. E isso num país cuja Importante parcela da população não tem nem emprego e nem condições mínimas de vida.

Uma parte do agronegócio também foi muito beneficiada pelo mercado internacional. Basicamente não o produtor, mas a indústria e o complexo comercial exportador. O fazendeiro, veja por exemplo os cafeicultores, continua com preços aviltados e com dificuldades . 

Não há um sucesso econômico igual para todos, nem quando a economia vai muito bem. O lumpenempresariat, a classe media empresarial e com ela também a classe de pequenos empreendedores, continua sofrendo com o fenômeno econômico mais antigo do mundo: a renda do brasileiro, mesmo com medidas dos governos temporais, não está crescendo. Temos uma distribuição de renda com um mercado de super-ricos (inclusive maiores investidores no exterior) e a absoluta maioria da população sem capacidade de consumir. A classe média está desaparecendo e a classe D, aumentando. Os dados de dezembro de 2019, que deveria ser um mês excelente de vendas no comércio, mostraram isso. A eles se juntam os dados incríveis de aumento de endividamento da população. E os juros, que caíram no Banco Central, não caíram  no varejo para provocar aumento de consumo e não só a migração da poupança para a especulação.

Os empresários apoiaram, e continuam dizendo que é melhor o bolsonarismo do o que petismo (o qual também  atônitos apoiavam). Mas, isso não vai bastar para dinamizar o crescimento econômico. O nível de emprego está crescendo, mas longe de provocar mudança significativa no crescimento do país. A reforma da previdência foi feita, mas os resultados nas contas públicas vão demorar. E outras reformas estão num caldeirão de discussões que levam a crer que não se pode contar com elas para aumentar os investimentos, gerar mais empregos e mais renda. 

O guedismo, que é um núcleo duro do governo, muito mais duro do que o núcleo militar (que by the way lhe dá guarita, como deu a Delfim Netto no passado, sem saber de que se trata), está convencido que eles estão certos, e que todos os outros estão errados. Falam o que querem, têm toda a liberdade de fazer o que querem, mas será que o modelo proposto gerou e vai gerar resultados, além da baixa inflação, que também esta cambaleando, que o país precisa? É impressionante a certeza  que o guedismo tem de que o que está fazendo está certo.

As ações que estão em curso nessa área têm efeito profundo na economia e nas finanças do país. E como são todas legais, porém com transparência complexa, também são muito boas para um pequeno número de pessoas do mundo financeiro.
A agenda financeira está em curso como poucas vezes antes no Brasil. Provavelmente, há uma agenda de modernização ao nível terciário do governo na área econômica também em curso. Esta vai aparecendo ao pouco, mas não substitui a reforma de gestão do estado e nem e principalmente a tributária.

O guedismo não ganhou a eleição. O bolsonarismo, sim. Por quanto tempo a agenda guedista vai sobreviver no seio de bolsonarismo, sem apresentar os resultados que eleitorado considera de fato suficientes para re-eleger o chefe de novo, ninguém pode responder hoje. Numa ruptura, os que forem sair, não sairão com prejuízo pessoal. Nem profissional e nem financeiro. E uma eventual substituição não poderá ser  feita de uma pessoa, mas de troca completa do guedismo por um outro modelo que poderá dar certo. O custo político vai ficar para governo, e a conta, para o povo.

Saturday 1 February 2020

DO MUNDO DE 2020 DIFERENTE

DO MUNDO DE 2020 DIFERENTE


O que aconteceu neste janeiro de 2020, está difícil de explicar. Incêndios na Austrália, chuvas torrenciais no Brasil e na Ásia, são só parte da história. Três outros eventos estão  marcando a história deste século de forma indelével. O relacionamento do mundo com a China, incluindo a guerra comercial e a epidemia de corona vírus, é o primeiro. O Brexit, ou a saída do Reino Unido da União Europeia, é o segundo. Mas, não deixa de ser de menor importância o processo de impeachment do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os três juntos guiam as mudanças globais que vão afetar Brasil, independentemente de nossa atenção maior ou menor com o que acontece.

Os Estados Unidos concluíram dois acordos comerciais neste janeiro. Com a China, que prejudica enormemente as exportações brasileiras de produtos agrícolas (aliás, fora do minério de ferro, as únicas exportações que temos para lá) e reorganiza parcialmente as relações entre as duas superpotências. E outro acordo  reestruturado após 25 anos, com o México e o Canada, que se chamava NAFTA. Os dois acordos trazem um pouco de calma no comércio internacional, mas não indicam uma clara tendência de volta ao comércio global como base de sustentação do comércio e do desenvolvimento da economia mundial. São antes de mais nada uma vitória política do Presidente dos Estados Unidos, que insiste que as regras do comércio mundial têm que aparentemente beneficiar e não prejudicar os Estados Unidos. Como se até agora fosse diferente.

Na relação China-Estados Unidos, as complexidades continuam. De fato, o modelo econômico norte americano é de aliança industrial com China e também acesso a um mercado quatro vezes maior  do que o dos próprios Estados Unidos. Estados Unidos e China cresceram até agora porque a aliança que havia sido feita funcionou. Os Estados Unidos,  derrotados  militarmente várias vezes pela República  Popular da China, se beneficiaram com essa associação. Mas parece que subestimaram a capacidade da China de aproveitar da situação para se tornar a segunda maior economia do planeta e uma séria ameaça aos Estados Unidos, inclusive no campo militar.

E aí aparece o corona vírus. Do ponto de vista epidemiológico, nada de muito novo. Tivemos no século passado a gripe espanhola, mais recentemente a febre amarela, ebola, gripe comum, tuberculose, AIDS, SARS, gripe suína, zica e mais alguma coisa. O fato é que o corona vírus está fechando fronteiras econômicas que ainda não havíamos visto. E afetando diretamente a segunda maior economia do mundo, a chinesa. E se não bastasse no ano passado a peste suína na China, que aliás nos beneficiou muito em exportações de carne, o corona vírus não esta limitado à China, mas está se espalhando pelo mundo afora.

O cínico Trump disse que isso é muito bom porque agora as fábricas vão ficar nos Estados Unidos. O fato é que de repente a China ficou isolada por terra, ar e mar. O governo chinês vai conseguir controlar a situação, apesar do desconhecimento científico do que está acontecendo. A ditadura do proletariado pode ter neste momento essa vantagem no combate ao vírus. Mas o contágio já esta em curso e não sabemos a sua extensão. E só falta a notícia que mata tudo, de que o vírus se espalha também com certo tipo de produtos.

A saída do Reino Unido da União Europeia é uma mudança na geopolítica mundial. A Europa fica enfraquecida, o Reino Unido menor sem a Europa, e os grandes como os Estados Unidos, Russia e China, maiores, com a Europa menor.

Last but not the least, está o processo de impeachment do Trump. Ele está salvo, mas a democracia, não. Ele recebeu, e com ele todos os presidentes eleitos, certificado de que não há limites no executivo para se manter no poder. Eleito, pode tudo. O balanço do poder morreu. O sistema democrático que tinha como base um equilíbrio mutável dos poderes, mudou. E se muda nos Estados Unidos, muda no mundo inteiro.

Assim, o mundo  está diferente. Sem falar em mudanças tecnológicas.