Powered By Blogger

Monday 13 May 2019

DA DANADA DA CACHAÇA: HAVANA

DA DANADA DA CACHAÇA: HAVANA


Um dos produtos mais conhecidos entre os duzentos milhões de brasileiros é a danada da cachaça mineira. E entre marcas de quase dez mil estabelecimentos que produzem cachaça artesanal com aproximadamente 200 mil pessoas (acrescidas de mais 400 mil dos chamados empregos indiretos) em  Minas Gerais, a campeã é a Havana de Salinas.  A cachaça que expõe sua qualidade de maturação de 12 anos em barris de bálsamo também tem o preço mais elevado entre todas as marcas oferecidas. Com 75  anos de produção contínua num lugar que pouca gente conhece, longe de tudo, é sem dúvida a marca mais conhecida ou brand, como dizem hoje, de Minas no Brasil. E mais respeitada.

Explicar essa história, descrita já tantas vezes, é nas verdade explicar o que realmente é um empreendedor mineiro. Anísio Santiago, que foi o fundador, e os filhos dele, assim como os netos, seguem princípios simples de gestão: sempre produzir com qualidade, sem ambição de ganhar muito dinheiro mas sem perder no negócio, e deixar todo mundo feliz. Começando com  apreciadores do produto, funcionários, comunidade. E não pode errar porque, como diz o filho do fundador, o Sr. Geraldo Santiago, se uma garrafa for de qualidade ruim você joga fora toda a história de 75 anos.

A produção e distribuição da cachaça artesanal mineira é uma verdadeira teimosia de alguns aficionados que criaram a AMPAQ, associação de produtores de aguardente de qualidade, que controla a marca e só fez parte de um projeto integrado de desenvolvimento de Minas no final do ano 2000, quando a FIEMG fez o projeto CRESCE MINAS. Esse projeto previa o desenvolvimento do estado através de clusters e precisava de, além daqueles de alta tecnologia, como eletrônica, metal mecânico, carne vermelha, também dos que criavam emprego e tinham raiz não no investimento fora do estado ou nos generosos incentivos estaduais, mas na cultura e empreendedorismo mineiro. Aí nasceu o cluster da cachaça e o do pão de queijo.

Nesta hora em que temos na nossa frente desafios de desenvolvimento e de criação emprego que grandes investimentos em mineração e indústria não estão criando, vale a pena ver o exemplo singelo da cachaça  mineira e da Havana. Como alguém tão distante do mundo chamado desenvolvido conseguiu sobreviver 75 anos e criar uma marca tão apreciada e respeitada.

Os novos planos de desenvolvimento com investimentos de 50 bilhões  de reais nos próximos anos nas área de infra-estrutura, saúde, habitação e saneamento são necessários, mas não vão criar os empregos que o cluster da cachaça cria hoje. Além de 50 % desse investimento vir do governo, os produtos  oriundos da cultura empreendedora mineira, em geral vindos da área rural e do interior do estado, criam empregos, solidez financeira, continuidade e não dependem de governo, quebrado ou não.

A admirável saga do Anísio Santiago e seu herdeiros deve servir para uma reflexão sobre o nosso desenvolvimento. Estamos obcecados em procurar soluções grandiosas fora e desprezamos lições valiosas que temos na nossa história. Menos grandeza, mais humildade, menos Torino e mais Salinas. Menos nomes bombásticos de planos e mais realidade.

Sunday 5 May 2019

DO EMPREGO, TRABALHO E EDUCAÇÃO

DO EMPREGO, TRABALHO  E EDUCAÇÃO


Está difícil de aceitar, mas o fato é que os empregos que se perderam nos últimos anos não voltam. As mudanças nos modelos de negócios e tecnológicos requerem novas habilidades . Os tempos são outros, e não são só as novas habilidades, mas também quem fica fora do trabalho perde a habilidade de assumir um novo emprego. É simples, você dirigia um carro com marcha mecânica, por exemplo uma Kombi há anos. Depois você não dirigiu esse veículo por um ano. Aí tem vaga para motorista de van escolar modelo 2019. Toda automática, com GPS, sensores, ABS etc. Você simplesmente não sabe dirigir a nova van.

Nessa situação estão milhões de brasileiros que perderam o emprego e não estão aptos para trabalhos bem diferentes do que os que exerciam no passado. Ou seja, a formação profissional e a experiência não serão suficientes para assumir novas funções em qualquer escala hierárquica e em qualquer profissão daqui por diante. Os desafios no exercício profissional, a partir de agora, por mais simples que seja a profissão, são diferentes e temos que nos adaptar a eles.

Como? De um lado o sistema educacional brasileiro não é orientado para o mercado. Não estou dizendo o mercado de trabalho. Estou dizendo para o mercado mesmo. Ou seja, como não sabemos para onde vamos, fora umas  declarações  bombásticas sobre a economia liberal e sua clareza quanto a falta de limites, não sabemos se a economia brasileira ainda terá indústria, que está minguando, que tipo de serviços, agro e comércio vão dominar. Como não temos rumo de desenvolvimento, não podemos  ter um  sistema educacional orientado para o mercado e então não sabemos qual será o mercado de trabalho.

Claro que não faltam conjunturas sobre a aceitação de novas tecnologias, em especial robótica e inteligência  artificial, mas são casos esporádicos que não tem fundamento nenhum na área empresarial, como diretriz estratégica. Veja o caso da indústria 4.0, cuja adaptação não depende só de capital, mas de uma direção estratégica  do país, de que vamos ter menos mão de obra de baixo custo e de produtividade baixa versus sistemas inteligentes de produção com mão de obra de custo mais alto e produtividade bem mais alta.
Nesses cenários de novos desafios,  é fundamental a sociedade transmitir a ideia de permanente aperfeiçoamento profissional. Incutir no sistema educacional, ou seja em alunos e estudantes, que nunca podemos parar de estudar. O que era ontem apreender inglês, terá que ser estudar mandarim. E junto com o mandarim, novas tecnologias como  blockchain, AI, IOT etc.etc. Isso hoje, mas e amanhã? 

Nesse desafio praticamente de vida ou morte para cidadão, ou seja se não estiver preparado para um novo desafio de trabalho e emprego (que também não é mais  estruturado como no passado), a pergunta é  se estamos preparados.

Não, não estamos. Os conselhos profissionais e a justiça de trabalho nos protegem para morrermos orgulhosos na praia do mar de competitividade no qual navegamos.

O sistema educacional público está falido, sob a égide de uma gestão pública confusa e absolutamente dissociada da realidade econômica do país, com poucas  exceções que confirmam a regra. O sistema privado de ensino, inclusive de religiosos, cuida do lucro como primazia do seu objetivo.

Vamos ter que pensar em reforçar o sistema que atualiza e prepara, no ciclo de vida do cidadão, um sistema  mais ágil, mais voltado para futuro e também socialmente responsável. Não é só educar quem tem dinheiro, os MBA por exemplo, mas também as pessoas que não têm recursos, querem trabalhar e não têm oportunidade. Talvez  essa seja a grande chance do sistema S, desde que transparente, mostrar-se ágil e integrado com o mercado e com os sistemas educacionais.