Dos negócios e da política externa
Nos últimos movimentos no xadrez mundial, vale a pena lembrar o legendário mestre internacional em xadrez, o russo Boris Spasky, cujo conterrâneo Putin fez uma jogada digna de um jogador de xadrez de classe mundial. O jogo simultâneo que se joga nesse tabuleiro, com vários tabuleiros e jogadores no campo, mas às vezes jogando todos com um só jogador, é para jogadores talentosos, frios, profissionais. Enquanto os peões da Ucrânia eram jogados contra a rainha russa que os eliminava do jogo, o rei do tabuleiro russo jogava outro jogo: com a China, onde aceitava empatar, mas ganhando os dois.
O contrato de fornecimento de gás russo para a República Popular da China, no valor de um trilhão de reais, por 30 anos, tem outros valores mais significativos do que o valor monetário. As duas maiores potências dos BRICS, grupo de países ao qual pertence o Brasil, se unem num projeto de desenvolvimento que mudará a economia e a política mundiais. Em primeiro lugar, a Federação Russa deu preferência à sua política asiática. Em segundo, o fornecimento de gás fortalece a China, oferecendo uma base energética forte para o seu desenvolvimento. Em terceiro lugar, enfraquece a relação russa com a Europa e inclusive pode, no futuro, reduzir o fornecimento de gás. E talvez não o último item, que ninguém sabe se existe, é como os dois países, vizinhos, vão juntar tecnologias no campo militar e civil.
A União Européia, que está realizando eleições parlamentares nesta semana, ficou, devido à sua política expansionista para Leste Europeu, sem a Ucrânia e sem a Rússia. E o acordo comercial que está promovendo com os Estados Unidos deixa-a numa posição defensiva, no momento em que a economia norte-americana está em expansão e a eurpéia ainda ensaia tímidos passos de saída da sua maior crise.
E esse jogo do lado europeu tem outros lances. O nome é patriotismo econômico, ou seja, quando uma empresa norte-americana quer comprar uma empresa Européia, há gritaria. Os casos mais gritantes são a intenção da compra pelo centenário conglomerado industrial norte-americano, General Electric, da empresa francesa (neste momento mal afamada no Brasil) Alstom. Nada feito porque entrou no jogo a alemã Siemens ( também com escândalos no Brasil) e vai ser muito difícil que os americanos fiquem com a empresa francesa. O mesmo está acontecendo no setor farmacêutico, onde os americanos não conseguem comprar a britânica Astra Zeneca, por um valor de 300 bilhões de reais que, comparado com o orçamento do Estado de Minas, é algumas vezes maior.
Mas, os chineses compraram parte da Citroen e o maior distribuidor de alimentos, imagine onde, em Israel. O provérbio chinês, onde brigam dois, o lucro é de terceiro, está funcionando bem para eles. E nos continuamos na periferia das decisões, à mercê das jogadas dos especuladores financeiros, que ganham com as pesquisas eleitorais. Imoral?É, mas esta é a regra do jogo.
Stefan B. Salej
23.5.2014.
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