Da Dona Sinha da eletrônica
Em um vale cheio de fazendas de café, no Sul de Minas, nasceu uma jovem que, por destino, viajou, casada com um diplomata, pelo mundo. E em 1959, trouxe, depois de viver no Japão, onde o país se re-erguia, após a Segunda Guerra Mundial, a idéia de fazer uma escola técnica de eletrônica. A primeira da América Latina, em um lugar chamado Santa Rita de Sapucaí. E após a escola técnica que leva o nome do pai da jovem e passou a se chamar Dona Sinhá Moreira, nasceu a escola de engenharia INATEL, a faculdade de administração de empresas e um polo tecnológico de eletrônica que se chama Vale de Eletrônica. E veio o SENAI, com equipamentos de última geração e mais e mais.
As 154 empresas do Vale da Eletrônica, no meio desse nada para os teóricos do desenvolvimento e os agentes governamentais, aumentaram o faturamento, as exportações e número de empregados. Aliás, o prêmio com nome da Dona Sinhá, oferecido pelo eficiente Sindicato da Indústria Eletro-Eletrônica do Vale, SINDIVEL, é dado às empresas que mais aumentaram o número de funcionários e que alcançaram o mais alto nível de inovação. A disputa é ferrenha, porque todo mundo no Vale da Eletrônica é competitivo e quer progredir. Mas, também é unido, oficialmente no cluster eletro-eletrônico, mas extra-oficialmente em um projeto imaginário de cooperação, competitividade e alianças pelo bem-estar da sociedade. O prefeito eleito já quatro vezes é um prefeito de toda a cidade e não só dos industriais. O INATEL, instituição de educação tecnológica que hoje já atua em São Paulo e no exterior, é junto com o super moderno laboratório de protótipos do SENAI, fornecedora de tecnologia, pesquisa e educação da mais alta qualidade. Não há desemprego, não há negativa rivalidade. As empresas, que possuem nos seus quadros inúmeros doutores em ciência, são também empresas onde toda a família está empregada e colaborando.
O Vale da Eletrônica parece uma ilha no meio de um oceano revolto em escândalos, dificuldades, políticas e não sei mais o quê. Mas, deixa lições importantes, que estão sendo pouco aproveitadas. Ninguém lhe traz desenvolvimento. Você, como Dona Sinhá Moreira e seus descendentes diretos e indiretos, tem que trabalhar, ter visão, ser ousado e o mundo é o seu mercado. Não precisa perder raízes, mas deixar a porta aberta para que a inovação, em todos os sentidos e e em todas as áreas que permeiam a sociedade, domine seu futuro.
No meio dos cafezais, mesmo lutando contra a invasão do narco-tráfico na região e outras mazelas (como a estrada que liga o Vale da Eletrônica com a Fernão Dias já asfaltada, mas não sinalizada e muito menos iluminada, como deveria ser), o pessoal pensa estrategicamente, com apoio do SEBRAE Minas, nos próximos 20 anos. Em um negócio super competitivo, como ser líder e não sobrevivente.
Se a estória de que a felicidade do mineiro é a vaca morta do vizinho, que assim os dois não tem vaca ou um tem uma a mais, precisa ser desmentida, ela o foi por Dona Sinhá Moreira e os seus sucessores no Vale da Eletrônica. O fracasso de um é insucesso de todos, e o sucesso de todos, é de cada um.
Stefan SALEJ
28.11.2014.
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