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Thursday, 6 November 2014
DO MURO QUE CAIU E NÃO CAIU
Do muro que caiu e não caiu
A queda do muro de Berlim, há exatos 25 anos, foi só um momento de um longo processo de mudança do mundo. Os Estados Unidos quebraram a União Soviética e, com o apoio do então Chanceler alemão ocidental Helmut Khol, não só reuniram as duas Alemanhas como mudaram os regimes políticos em toda a Europa do Leste, inclusive na própria Rússia. O mapa geopolítico do mundo mudou. Além de apareceram novos países como a Alemanha reunificada, a Rússia esfacelada e a Iugoslávia desaparecida, e seis novos países, desapareceu da Europa o sistema de governo chamado comunismo. Os Estados Unidos, como campeões da democracia, ganharam novos aliados e enfraqueceram o seu ex-aliado na luta contra o nazismo, a União Soviética, para transformá-la na menor Rússia, inicialmente enfraquecida e empobrecida até os ossos.
O período de transição nesses novos países, sem tradição de economia de mercado e de práticas democráticas, provocou inicialmente uma abertura dos mercados para produtos de consumo, seja dos Estados Unidos ou dos outros países da Europa Ocidental, que incentivou o crescimento europeu. E mais: os processos de privatização transformaram-se em uma oportunidade de ouro, já que as empresas com boa base industrial estavam à venda a preços, como se diz no popular, de banana. É o caso do avanço alemão na base industrial da República Tcheca (que se separou da Eslováquia ). Desta vez não precisaram de usar os tanques, como fizeram os nazistas em 1938: compraram por pouco a indústria, a tecnologia e a mão de obra barata. A Europa ganhou mercado e mais tudo isso.
E com a democratização criaram-se as elites empresariais aliadas aos políticos que depenaram os países e suas economias e criaram alianças corruptas de fazer vergonha a qualquer corrupto latino-americano. Os modelos econômicos implantados, que aliás se espalharam pelo mundo, geraram, mesmo com a adesão da maioria desses países, a crise mais recente e mais profunda da própria União Européia. Não há dúvida nenhuma de que você tem hoje uma Europa com países mais democráticos, mas de duas velocidades na economia e no seu conceito de democracia. Avançaram, como é o caso mais específico da Hungria, os governos democraticamente eleitos de uma direita muito parecida com a aquela que levou à segunda guerra mundial.
A hegemonia dos Estados Unidos ficou mais patente, ao mesmo tempo que a Alemanha ganhou para a maioria dos países do Leste Europeu uma importância fundamental. A Chanceller alemã Merkel é quem dá as cartas na Europa hoje. E os interesses alemães e a visão deles do mundo são os que predominam. Pesam desde a nomeação do ex-Primeiro ministro polonês Tusk para a Presidência do Conselho da União Européia até as privatizações na minúscula Eslovénia. E aí não se pode passar à margem o crescimento e consolidação da Rússia. Talvez quem mais se consolidou como país independente nesse processo, além da própria Alemanha, foi a Rússia.
O Brasil, que reconheceu esse novo mapa rapidamente, ganhou novos mercados e novos espaços de alianças políticas. Há clara consciência de que o muro caiu, mas que os países ainda não foram reconstruídos, o que leva a concluir que o processo de destruição do muro continua, como continua o de construção de uma Europa unida, em paz e em desenvolvimento.
Stefan Salej
6.11.2014.
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