Do inferno da primavera árabe
Os massacres no Egito
desviam a atenção dos massacres na Líbia, Tunísia, Bahrain, Síria, as confusões no Líbano, e guerras regionais na África. Desviam também a atenção do Iraque, do novo
governo no Irã, que continua com a obsessão de destruir Israel, e do Afeganistão e do Yemen, em permanente
estado de alerta. Vidas e famílias destruídas, milhões de refugiados, milhares
de mortos e um desastre humanitário de proporções que o mundo não queria ver mais após a segunda guerra mundial. O mapa da região coberto de sangue, e a esperança da chamada primavera árabe que trazia a democracia, paz e prosperidade, acabou em banho
de sangue.
A discussão sobre a razão do que está acontecendo e quanto tempo isso vai durar não chega a uma conclusão. O que é um fator comum a todos esses acontecimentos é que a descompressão política e o caminho para a democracia que traz mais empregos e
prosperidade são parte de um processo
longo e pode demorar dezenas de anos, como foi a agonia do comunismo na Europa
do Leste. Há também uma luta pelo poder entre vários grupos religiosos, e
definitivamente uma luta pelo poder dos radicais islâmicos. Não é só Al Kaida que esta nesse cenário. A Irmandade muçulmana, que esta sendo combatida no Egito, é um movimento atuante em vários países da região. E o Egito, onde a
repressão militar está sendo, com apoio e armas americanas, ainda maior, é o ponto de mudança da região. Se cair o Egito, a região passa ser domínio total dos radicais islâmicos.
A outra face da moeda são os países árabes, também islâmicos, produtores de petróleo, que apresentam ilusória tranqüilidade. É o caso dos Emirados e Arabia Saudita. Quanto eles estão envolvidos nesses conflitos, ou quanto estão fora dos conflitos, é um segredo guardado a sete
chaves. Mas, não faz muito tempo que o
Bahrain era uma ilha de prosperidade e tranqüilidade. E hoje é um terremoto só.
O ajustamento geopolítico da região pode demorar muito e
afeta fortemente a recuperação de economia mundial. As
soluções que estão acontecendo na região não oferecem nenhuma tranqüilidade. Não se trata só de caminhos marítimos como o Canal de Suez, mas também de petróleo. No caso brasileiro, também de mercados que eram
promissores e que estão acabando.
Especificamente no caso de Egito, há fábricas brasileiras lá e investimentos egípcios no Brasil. Mas
trata-se sobretudo de milhões de pessoas que têm parentes no Brasil. É lamentavelmente uma
primavera no inferno.
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