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Friday, 26 July 2013

E a conta vai



E a conta vai para....

Ser contra movimentos populares e manifestações pacificas neste momento é ser quase politicamente incorreto. Mas, essas manifestações, cujas soluções políticas estão desenhadas pelos próceres da república na capital federal, têm no fundo um sussurro silencioso de espanto ignorado. São os nossos milhões de empresários, independentemente de sua grandeza e do seu tamanho. Para começar, os quebra-quebras estão trazendo prejuízos visíveis a serem cobertos, na maioria das vezes, pelos pequenos empresários. E essa maioria, que hoje tem até ministério próprio, o qual nada disso viu ou deu alguma solução, é um lumpenempresariat que representa uma boa parte de chamada capacidade empresarial brasileira. E pensar que eles acham graça é desprezar que a democracia de rua também tem outro lado.

Adicionalmente, uma boa parte de classe media é composta de empresários e seus funcionários. Na ruas estavam filhos, colaboradores, capital humano das empresas. Ao mesmo tempo, não há nem entidade de classe no Brasil  (veja o caso da CNT, com SENSUS e CNI, com IBOPE) e nem grande empresa ou banco, que não usasse pesquisa de opinião pública e consultores políticos de primeira linha. Eles falharam em detectar o que está acontecendo no Brasil, assim como os políticos, o governo e os seus tentáculos de inteligência. E o Conselho de Desenvolvimento Econômico e  Social e a Assessoria avançada do Jorge Gerdau no Palácio do Planalto também. Falhou a percepção do momento político ao empresariado brasileiro.

E agora José? O silêncio empresarial, começando pelas concessionárias de transporte público, que aparentemente foram o pivô da revolta, não será suficiente para o Brasil sair da crise. O já mencionado setor de transporte terá que rever sua parceira quase centenária com o poder público e seu envolvimento com a política. Se quiser sair da crise, terá que aumentar a transparência das contas, a eficiência do sistema e reduzir seu envolvimento com a política. Segue que o temor de medidas populistas, a mais ridícula delas é o passe livre, tem que ser rejeitado publicamente pelos empresários com o esclarecimento de que não  existe conta sem ser paga. As lideranças empresariais, que frequentemente navegam mais pelas águas políticas, com candidaturas às vezes até bem sucedidas, do que pelo desenvolvimento competitivo das empresas, têm que dizer claramente o que é e o que não é aceitável e viável para a economia empresarial. Essa clareza, comunicada de forma adequada, é sem dúvida alguma uma contribuição fundamental para a manutenção de uma democracia saudável no país.

O debate sobre  o novo modelo político para o Brasil não pode prescindir do setor empresarial. Não há como avançar se nesta hora só têm voz no Planalto os que gritam, ignorando os que ajudam pagar a conta. Nenhuma reforma política será sustentável se não contemplar mudanças na área econômica. Em resumo, a reforma política, sem reforma tributária, não se sustenta a médio prazo.

As entidades empresarias, das quais uma parcela ponderável recebe aproximadamente 50 bilhões de reais por ano de contribuições obrigatórias, e que participam de inúmeros órgãos do governo, além de terem uma bancada no Congresso nada desprezível, devem oferecer propostas e criar diálogo. Para começar, iniciar o diálogo com os trabalhadores, antes que a manifestação da rua atinja ainda mais duramente as empresas do que já atingiu. Os prejuízos financeiros das manifestações são a parte visível do problema. O invisível esta para vir.

Stefan B. Salej

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