Powered By Blogger

Thursday, 5 September 2013


Do Brasil brasileiro

O Brasil é um país que fascina. A fascinação atinge tanto os nacionais como principalmente  os  gringos. O sorriso, a simpatia, a beleza das pessoas, as belezas naturais, a cordialidade, a música e a cultura, a ginga do futebol e mais e mais. Falar mal do Brasil com um gringo, mesmo que o seu relógio deixado na praia, junto com as chaves do BMW que ficou na garagem do aeroporto na Europa, tenham sido roubados, é correr o risco de ser mal entendido. O brasileiro  de um lado é o povo que mais fala mal do seu próprio país, mas ao mesmo tempo se embrulha na bandeira nacional cheio de orgulho e agressividade se alguém comentar alguma coisa óbvia e que ele mesmo critica. Mas, eu sou brasileiro, eu posso, ele não é!

As apresentações nos seminários para estrangeiros, e com o aparecimento do power point isso piorou, são cheias de otimismo e crença inabalável no nosso futuro. Deus é brasileiro. Numa apresentação sobre Minas em Londres, alguns anos atrás, os cinco apresentadores mostraram cinco números diferentes sobre a população, extensão geográfica e economia de Minas. E os idiotas eram os presentes que não entenderam a democracia estatística mineira.

O povo em geral ama o Brasil. Mas há um outro público que olha o Brasil com mais cuidado. São os governos e diplomatas que costuram as relações entre os países e têm que avaliar, com o uso de instrumentos sofisticados como os usados pelos norte americanos, o que acontece no Brasil e quais são as perspectivas.
A outra classe, que é prima da anterior, são os investidores, banqueiros e empresários.   

Nesse capítulo pode-se dizer com muita tranqüilidade que o encanto dos últimos 18 anos acabou. O Brasil,  mesmo perdoando a dívida das ditaduras africanas e fazendo alguns malabarismos na área externa, como o banco dos BRICS, não é mais a bola da vez. Pouca gente colocou um pé para trás, mas muito menos gente esta colocando a tropa em marcha para mais investimentos. Está todo mundo esperando mudanças para valer e consolidação do rumo para um país democraticamente sólido e economicamente competitivo.Ou então continua a falácia e, mesmo as ruas falando, nada mudará, independente das eleições no ano que vem. 

Mas, como ouviu muitos atrás um executivo brasileiro tentando convencer os investidores norte-americanos no governo Collor de que "agora sim o Brasil esta no rumo certo": "nós confiamos na sua capacidade gerencial, empresarial, não no governo".

Stefan B. Salej
6.7.2013.

  

DO INFERNO DA PRIMAVERA ARABE



Do inferno da primavera árabe

Os massacres no Egito desviam a atenção dos massacres na Líbia, Tunísia, Bahrain, Síria, as confusões no Líbano, e guerras regionais na África. Desviam também a atenção do Iraque, do novo governo no Irã, que continua com a obsessão de destruir Israel, e do Afeganistão e do Yemen, em permanente estado de alerta. Vidas e famílias destruídas, milhões de refugiados, milhares de mortos e um desastre humanitário de proporções que o mundo não queria ver mais após a segunda guerra mundial. O mapa da região coberto de sangue, e a esperança da chamada primavera árabe que trazia a democracia, paz e prosperidade, acabou em banho de sangue.

A discussão sobre a razão do que está acontecendo e quanto tempo isso vai durar não chega a uma conclusão. O que é um fator comum a todos esses acontecimentos é que a descompressão política e o caminho para a democracia que traz mais empregos e prosperidade são parte de um processo longo e pode demorar dezenas de anos, como foi a agonia do comunismo na Europa do Leste. Há também uma luta pelo poder entre vários grupos religiosos, e definitivamente uma luta pelo poder dos radicais islâmicos. Não é só  Al Kaida que esta nesse  cenário. A Irmandade muçulmana, que esta sendo combatida no Egito, é um movimento atuante em vários países da região. E o Egito, onde a repressão militar está sendo, com apoio e armas americanas, ainda maior, é o ponto de mudança da região. Se cair o Egito, a região passa ser domínio total dos radicais islâmicos.

A outra face da moeda são os países árabes, também islâmicos, produtores de petróleo, que apresentam ilusória tranqüilidade. É o caso dos Emirados e Arabia Saudita. Quanto eles estão envolvidos nesses conflitos, ou quanto estão fora dos conflitos, é um segredo guardado a sete chaves. Mas, não faz muito tempo que o Bahrain era uma ilha de prosperidade e tranqüilidade. E hoje é um terremoto só.

O ajustamento geopolítico da região pode demorar muito e afeta fortemente a recuperação de economia mundial. As soluções que  estão acontecendo na região não oferecem nenhuma tranqüilidade. Não se trata só de caminhos marítimos como o Canal de Suez, mas também de petróleo. No caso brasileiro, também de mercados que eram promissores e que estão acabando. Especificamente  no caso de Egito, há fábricas brasileiras lá e investimentos egípcios no Brasil. Mas trata-se sobretudo de milhões de pessoas que têm parentes no Brasil. É lamentavelmente uma primavera no inferno.

Friday, 26 July 2013

E a conta vai



E a conta vai para....

Ser contra movimentos populares e manifestações pacificas neste momento é ser quase politicamente incorreto. Mas, essas manifestações, cujas soluções políticas estão desenhadas pelos próceres da república na capital federal, têm no fundo um sussurro silencioso de espanto ignorado. São os nossos milhões de empresários, independentemente de sua grandeza e do seu tamanho. Para começar, os quebra-quebras estão trazendo prejuízos visíveis a serem cobertos, na maioria das vezes, pelos pequenos empresários. E essa maioria, que hoje tem até ministério próprio, o qual nada disso viu ou deu alguma solução, é um lumpenempresariat que representa uma boa parte de chamada capacidade empresarial brasileira. E pensar que eles acham graça é desprezar que a democracia de rua também tem outro lado.

Adicionalmente, uma boa parte de classe media é composta de empresários e seus funcionários. Na ruas estavam filhos, colaboradores, capital humano das empresas. Ao mesmo tempo, não há nem entidade de classe no Brasil  (veja o caso da CNT, com SENSUS e CNI, com IBOPE) e nem grande empresa ou banco, que não usasse pesquisa de opinião pública e consultores políticos de primeira linha. Eles falharam em detectar o que está acontecendo no Brasil, assim como os políticos, o governo e os seus tentáculos de inteligência. E o Conselho de Desenvolvimento Econômico e  Social e a Assessoria avançada do Jorge Gerdau no Palácio do Planalto também. Falhou a percepção do momento político ao empresariado brasileiro.

E agora José? O silêncio empresarial, começando pelas concessionárias de transporte público, que aparentemente foram o pivô da revolta, não será suficiente para o Brasil sair da crise. O já mencionado setor de transporte terá que rever sua parceira quase centenária com o poder público e seu envolvimento com a política. Se quiser sair da crise, terá que aumentar a transparência das contas, a eficiência do sistema e reduzir seu envolvimento com a política. Segue que o temor de medidas populistas, a mais ridícula delas é o passe livre, tem que ser rejeitado publicamente pelos empresários com o esclarecimento de que não  existe conta sem ser paga. As lideranças empresariais, que frequentemente navegam mais pelas águas políticas, com candidaturas às vezes até bem sucedidas, do que pelo desenvolvimento competitivo das empresas, têm que dizer claramente o que é e o que não é aceitável e viável para a economia empresarial. Essa clareza, comunicada de forma adequada, é sem dúvida alguma uma contribuição fundamental para a manutenção de uma democracia saudável no país.

O debate sobre  o novo modelo político para o Brasil não pode prescindir do setor empresarial. Não há como avançar se nesta hora só têm voz no Planalto os que gritam, ignorando os que ajudam pagar a conta. Nenhuma reforma política será sustentável se não contemplar mudanças na área econômica. Em resumo, a reforma política, sem reforma tributária, não se sustenta a médio prazo.

As entidades empresarias, das quais uma parcela ponderável recebe aproximadamente 50 bilhões de reais por ano de contribuições obrigatórias, e que participam de inúmeros órgãos do governo, além de terem uma bancada no Congresso nada desprezível, devem oferecer propostas e criar diálogo. Para começar, iniciar o diálogo com os trabalhadores, antes que a manifestação da rua atinja ainda mais duramente as empresas do que já atingiu. Os prejuízos financeiros das manifestações são a parte visível do problema. O invisível esta para vir.

Stefan B. Salej