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Sunday, 9 June 2019

DO POSSÍVEL E IMPOSSÍVEL ACORDO COM UNIĀO EUROPEIA

DO POSSÍVEL E  IMPOSSÍVEL ACORDO COM UNIĀO EUROPEIA

Anúncios iguais a esses que rodam os jornais nestes dias, dizendo que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia será concluído nas próximas semanas ou meses, vimos nos últimos 25 anos de negociação tantos que já perdemos o seu número. Hoje em dia se alguém, seja quem for, tentar adivinhar quando fecha esse acordo, recomenda-se-lhe que compre um  bilhete de loteria onde tem mais chances de acertar do que quanto ao fechamento do acordo.

Se não fechou nestes 25 anos é porque há muitas razões de parte a parte para não concluírem o acordo. E o mundo mudou muito nesse período, inclusive os países que compõem os dois blocos econômicos em questão. 

A União Europeia passou de 15 para 28 países, a Grã-Bretanha estaria saindo do bloco (outra incerteza), consolidou sua moeda, o Euro e consolidou-se como uma economia forte, com divergências politicas oriundas da história do próprio continente. E avançou na área de tecnologia, assim  como se tornou o mais importante investidor estrangeiro nos países do MERCOSUL.

O MERCOSUL teve seus avanços sim. Os quatro países que o compõem mantiveram seus sistemas democráticos funcionando e suas economias, tirando a Argentina, a exceção que confirma a regra, relativamente estáveis do ponto de vista financeiro. Mas, como bloco econômico, não se integraram mais e nem dentro do espirito de fundação. Efetivamente, as expectativas e esperanças de formação de um bloco econômico e quiçá político foram infinitamente inferiores às esperanças e até resultados dos primeiros anos.

O acordo entre os dois blocos tem todo sentido e seria uma mudança fundamental no desenvolvimento das economias dos países do MERCOSUL. Agora, não pode ser um acordo onde, como tudo indica, haverá um crescimento razoável de exportações europeias e um avanço muito pequeno de nossas exportações para a UE. Nenhum estudo recente aponta com clareza os números, inclusive na criação de empregos, nos países de MERCOSUL. Enquanto nós crescemos em competitividade do agronegócio, mas de forma alguma em produtos oriundos do agro mais sofisticados, como vinhos, embutidos, lácteos etc., a Europa cresceu em tecnologia, produtos industriais com alta tecnologia, serviços e produtos alimentares. Então as trocas serão, simplificando, de uma boiada por um quilo do presunto de Parma.

As negociações empacaram nas tarifas, algo atrasado na realidade do comércio internacional do futuro, nas trocas comerciais de baixa tecnologia e nos problemas regionais europeus que geram políticas de protecionismo de fazer inveja ao Trump. Não há visão de um projeto comum de desenvolvimento entre as duas regiões que poderia beneficiar as populações, com aumento de renda e emprego. E a Europa, sublime e gananciosa, se comporta como se nós não tivéssemos alternativas.

Quando começaram as negociações, a nossa parceria com China era nula. Hoje é o nosso parceiro principal, inclusive em capitais e tecnologias. Se fecharmos acordos com a Coréia do Sul, Japão, Canadá, Suíça, e com países do Pacífico, estaremos bem encaminhados para o nosso futuro, com uma relação até mais equilibrada do que com a UE.

E tem mais, fechar acordo é difícil, implementar ainda mais. E alguém está tendo plano de implementação? Até para aprovar os acordos já feitos, o Brasil leva anos na burocracia do executivo e do Congresso. Nesse meio tempo, arrumar a casa e fortalecer o próprio MERCOSUL seria muito útil para fechar um acordo, com seja quem for, e mais eficaz.

Monday, 13 May 2019

DA DANADA DA CACHAÇA: HAVANA

DA DANADA DA CACHAÇA: HAVANA


Um dos produtos mais conhecidos entre os duzentos milhões de brasileiros é a danada da cachaça mineira. E entre marcas de quase dez mil estabelecimentos que produzem cachaça artesanal com aproximadamente 200 mil pessoas (acrescidas de mais 400 mil dos chamados empregos indiretos) em  Minas Gerais, a campeã é a Havana de Salinas.  A cachaça que expõe sua qualidade de maturação de 12 anos em barris de bálsamo também tem o preço mais elevado entre todas as marcas oferecidas. Com 75  anos de produção contínua num lugar que pouca gente conhece, longe de tudo, é sem dúvida a marca mais conhecida ou brand, como dizem hoje, de Minas no Brasil. E mais respeitada.

Explicar essa história, descrita já tantas vezes, é nas verdade explicar o que realmente é um empreendedor mineiro. Anísio Santiago, que foi o fundador, e os filhos dele, assim como os netos, seguem princípios simples de gestão: sempre produzir com qualidade, sem ambição de ganhar muito dinheiro mas sem perder no negócio, e deixar todo mundo feliz. Começando com  apreciadores do produto, funcionários, comunidade. E não pode errar porque, como diz o filho do fundador, o Sr. Geraldo Santiago, se uma garrafa for de qualidade ruim você joga fora toda a história de 75 anos.

A produção e distribuição da cachaça artesanal mineira é uma verdadeira teimosia de alguns aficionados que criaram a AMPAQ, associação de produtores de aguardente de qualidade, que controla a marca e só fez parte de um projeto integrado de desenvolvimento de Minas no final do ano 2000, quando a FIEMG fez o projeto CRESCE MINAS. Esse projeto previa o desenvolvimento do estado através de clusters e precisava de, além daqueles de alta tecnologia, como eletrônica, metal mecânico, carne vermelha, também dos que criavam emprego e tinham raiz não no investimento fora do estado ou nos generosos incentivos estaduais, mas na cultura e empreendedorismo mineiro. Aí nasceu o cluster da cachaça e o do pão de queijo.

Nesta hora em que temos na nossa frente desafios de desenvolvimento e de criação emprego que grandes investimentos em mineração e indústria não estão criando, vale a pena ver o exemplo singelo da cachaça  mineira e da Havana. Como alguém tão distante do mundo chamado desenvolvido conseguiu sobreviver 75 anos e criar uma marca tão apreciada e respeitada.

Os novos planos de desenvolvimento com investimentos de 50 bilhões  de reais nos próximos anos nas área de infra-estrutura, saúde, habitação e saneamento são necessários, mas não vão criar os empregos que o cluster da cachaça cria hoje. Além de 50 % desse investimento vir do governo, os produtos  oriundos da cultura empreendedora mineira, em geral vindos da área rural e do interior do estado, criam empregos, solidez financeira, continuidade e não dependem de governo, quebrado ou não.

A admirável saga do Anísio Santiago e seu herdeiros deve servir para uma reflexão sobre o nosso desenvolvimento. Estamos obcecados em procurar soluções grandiosas fora e desprezamos lições valiosas que temos na nossa história. Menos grandeza, mais humildade, menos Torino e mais Salinas. Menos nomes bombásticos de planos e mais realidade.

Sunday, 5 May 2019

DO EMPREGO, TRABALHO E EDUCAÇÃO

DO EMPREGO, TRABALHO  E EDUCAÇÃO


Está difícil de aceitar, mas o fato é que os empregos que se perderam nos últimos anos não voltam. As mudanças nos modelos de negócios e tecnológicos requerem novas habilidades . Os tempos são outros, e não são só as novas habilidades, mas também quem fica fora do trabalho perde a habilidade de assumir um novo emprego. É simples, você dirigia um carro com marcha mecânica, por exemplo uma Kombi há anos. Depois você não dirigiu esse veículo por um ano. Aí tem vaga para motorista de van escolar modelo 2019. Toda automática, com GPS, sensores, ABS etc. Você simplesmente não sabe dirigir a nova van.

Nessa situação estão milhões de brasileiros que perderam o emprego e não estão aptos para trabalhos bem diferentes do que os que exerciam no passado. Ou seja, a formação profissional e a experiência não serão suficientes para assumir novas funções em qualquer escala hierárquica e em qualquer profissão daqui por diante. Os desafios no exercício profissional, a partir de agora, por mais simples que seja a profissão, são diferentes e temos que nos adaptar a eles.

Como? De um lado o sistema educacional brasileiro não é orientado para o mercado. Não estou dizendo o mercado de trabalho. Estou dizendo para o mercado mesmo. Ou seja, como não sabemos para onde vamos, fora umas  declarações  bombásticas sobre a economia liberal e sua clareza quanto a falta de limites, não sabemos se a economia brasileira ainda terá indústria, que está minguando, que tipo de serviços, agro e comércio vão dominar. Como não temos rumo de desenvolvimento, não podemos  ter um  sistema educacional orientado para o mercado e então não sabemos qual será o mercado de trabalho.

Claro que não faltam conjunturas sobre a aceitação de novas tecnologias, em especial robótica e inteligência  artificial, mas são casos esporádicos que não tem fundamento nenhum na área empresarial, como diretriz estratégica. Veja o caso da indústria 4.0, cuja adaptação não depende só de capital, mas de uma direção estratégica  do país, de que vamos ter menos mão de obra de baixo custo e de produtividade baixa versus sistemas inteligentes de produção com mão de obra de custo mais alto e produtividade bem mais alta.
Nesses cenários de novos desafios,  é fundamental a sociedade transmitir a ideia de permanente aperfeiçoamento profissional. Incutir no sistema educacional, ou seja em alunos e estudantes, que nunca podemos parar de estudar. O que era ontem apreender inglês, terá que ser estudar mandarim. E junto com o mandarim, novas tecnologias como  blockchain, AI, IOT etc.etc. Isso hoje, mas e amanhã? 

Nesse desafio praticamente de vida ou morte para cidadão, ou seja se não estiver preparado para um novo desafio de trabalho e emprego (que também não é mais  estruturado como no passado), a pergunta é  se estamos preparados.

Não, não estamos. Os conselhos profissionais e a justiça de trabalho nos protegem para morrermos orgulhosos na praia do mar de competitividade no qual navegamos.

O sistema educacional público está falido, sob a égide de uma gestão pública confusa e absolutamente dissociada da realidade econômica do país, com poucas  exceções que confirmam a regra. O sistema privado de ensino, inclusive de religiosos, cuida do lucro como primazia do seu objetivo.

Vamos ter que pensar em reforçar o sistema que atualiza e prepara, no ciclo de vida do cidadão, um sistema  mais ágil, mais voltado para futuro e também socialmente responsável. Não é só educar quem tem dinheiro, os MBA por exemplo, mas também as pessoas que não têm recursos, querem trabalhar e não têm oportunidade. Talvez  essa seja a grande chance do sistema S, desde que transparente, mostrar-se ágil e integrado com o mercado e com os sistemas educacionais.

Sunday, 28 April 2019

DO RECLAME, PROPAGANDA E GESTÃO

DO RECLAME, PROPAGANDA E GESTÃO 

A velha discussão que não consegue ter fim e início é qual imagem o Brasil como país deve apresentar. Essa discussão passou todo o tempo do regime militar com o devido cuidado, inclusive com especialistas da área militar na área, naquela época só chamada de relações públicas. Os governos militares deram muita importância a isso, quem não lembra da marchinha da Copa de 70 milhões, mas não foi a publicidade governamental e das estatais que constituiu a forca motriz daquela moldagem da imagem do Brasil. Houve na época do hoje extinto Instituto Brasileiro de Café, IBC, uma campanha mundial de café brasileiro, liderada pelo pioneiro das feiras brasileiras Alcântara Machado.

A procura de uma marca, de uma imagem do país, e a utilização dos instrumentos de comunicação e publicidade por todos os governos e seus governantes ganhou seus contornos mais fortes na época do governo Lula. A publicidade governamental se tornou um poderoso instrumento de pressão sobre os meios de comunicação, sua grande fonte de receita, e ao mesmo tempo, em alguns casos específicos e em especial nas estatais, fonte promissora de desvio de recursos.

Esse período também produziu uma imagem própria do Brasil, que pelos últimos eventos, não serve mais. Ou seja, qual a imagem que vamos apresentar através da publicidade de atores governamentais, governos e seus órgãos e suas estatais ? Pela mensagem dada pelo Presidente da República, sugerindo a retirada de publicidade do Banco do Brasil, um banco sob controle do governo mas com ações negociadas nas Bolsa de valores, ficou claro que governo federal vai dar diretriz clara e definida a todos sobre o tipo de mensagem deve ser transmitida e por intermédio de quais veículos. E neste momento não tem nenhum maluco na praça que não entendeu a mensagem.

Esse investimento ou despesa das estatais é minúsculo em relação a que as 148 empresas estatais geram de recursos, negócios, investimentos e lucros ou prejuízos. Preocupar-se com uma campanha publicitaria na semana em que a Petrobras informa que vai investir mais de 60 bilhões  de reais nos próximos sete meses e ninguém comenta nada, eis o problema. Onde e sob que critérios serão feitos os investimentos das estatais e criando quanto de empregos, impostos e benefícios para a população, eis o verdadeiro problema. 

Nossas estatais  federais, não falamos de estatais dos Estados, que são um caos, têm tudo para serem eficientes e cumprirem seus objetivos conforme a lei. Mas, elas só podem ser eficientes e produtivas se o dono souber administrar. E aí o governo precisa ter foco e a gestão que pode até incluir o cuidado com a publicidade e seu conteúdo. Mas, efetivamente a empresa é tão boa quanto os donos sabem o que querem e sabem administrar. E nisso fica claro também controlar.

Na gestão de empresas é muito comum que os gestores induzam os donos, conselhos, para os conflitos menores, enquanto as coisas importantes são  relegadas a um segundo plano. E aí, o resultado todo mundo sabe, porque especificamente, no caso brasileiro, já passamos por isso.

Tuesday, 23 April 2019

DA HISTÓRIA, LEU E NĀO COMPREENDEU

DA HISTÓRIA, LEU E NĀO COMPREENDEU

Os debates que vão afetar a nossa vida hoje e amanhã, e a de nossos filhos e netos, estão em curso. Para começar, o debate sobre a previdência. O projeto está sendo debatido no Congresso pelos ilustres deputados e os responsáveis pelo projeto na área econômica do governo, começando pelo próprio Ministro da Economia, debatem e debatem e explicam e explicam. Mas, você entendeu? Você sabe como isso vai afetar a vida da sua família, dos seus filhos, dos seus funcionários? Tem certeza que você entendeu a mudança?

Porque, que tem que fazer essa reforma, disso todos já estamos convencidos. Nos convenceram que se não fizer a reforma, não temos futuro. E que as distorções que existem não podem mais existir. Mas, que as que estão existindo no judiciário, em polícias militares  do estados e entre os parlamentares, essas sim continuam para os que as têm e só vão mudar no futuro. E esse trilhão que tem que economizar ? Quanto dele vai dos seu bolso ou do bolso daquele que tem uma aposentadoria hoje de 200 mil?

No fundo, o que estão propondo é uma mudança de modelo de contribuição, que não afeta só as aposentadorias, mas afeta todo o sistema econômico. Porque com o novo sistema os recursos arrecadados serão investidos pelos fundos de investimentos nas atividades produtivas. Ou seja, vão investir onde terá mais rendimento.

Aí, se a competitividade da economia como um todo, o chamado custo Brasil, não for estimulada, vai investir onde? Em especulação e não em produção, como tem acontecido até hoje como os grande fundos de  previdência privada. Veja como quebraram no governos do PT os fundos de previdência do Banco do Brasil e dos Correios. Então, saber nesta reforma como serão geridos esses recursos, por quem e sob que regras, é absolutamente fundamental.

Fazer reforma de previdência é um dos passos de reformar toda a economia, mas ela tem que ser acompanhada por outras reformas como a tributária, do judiciário e também a política. E claro, por um projeto de reestruturação da infraestrutura e educação do país.

O processo tem que ter início, meio e fim. E tem que estar claro onde chegamos e quando. Os próprios deputados debatem muito em Brasília, aliás como sempre concorrendo com o STF em espetáculos quase  que grotescos  na TV, mas pouco com seus eleitores. E está difícil de entender  o linguajar quase que debochado dos superministros e secretários dizendo que tudo está claro e quem não entendeu, lamento, não entendeu a sabedoria divina deles.

Se os deputados e senadores ficarem discutindo só em Brasília, em um debate sem plano de mudanças econômicas, e não basta dizer cinco slogans de credo liberal, as medidas, mesmo que aprovadas, não terão legitimidade  na implementação. E aí corremos o risco de mudanças mal feitas e não concluídas, que podem levar a um desastre argentino.

Sunday, 14 April 2019

DO PETRÓLEO É NOSSO


DO PETRÓLEO É NOSSO

Há muitas dezenas de anos atrás, os brasileiros se levantaram, e até o escritor Monteiro Lobato colaborou naquela campanha, e exigiram que a exploração do petróleo no Brasil fosse de exclusiva competência nacional. O slogan, o Petróleo é nosso, ecoava pelo país afora e produziu uma empresa estatal, eficaz, monstruosa, eficiente e inovadora, monopolista, manipulada pelos políticos  e técnicos , campeã mundial mais recente em exploração de petróleo em aguas profundas e maior escândalo de corrupção que o país conseguiu descobrir, a Lava Jato. Um orgulho e uma vergonha nacional. Uma empresa para ser elogiada e ser xingada, executora da política energética nacional.

PETROBRAS.

Essa empresa não é a única estatal na área de energia no mundo. Não é nem pior e nem melhor do que as sete irmãs que dominam o mundo de energia, provocam guerras, persistem em explorar petróleo independentemente dos problemas de clima e de meio ambiente. É o setor que, com seu produto, move o mundo dentro de sua visão geopolítica, estratégica e, principalmente, do lucro. Provoca crises, lembra-se da crise do petróleo na década do 70?, conflitos, acaba com economias e países ou, com sua pujança, traz também benefícios para alguns. E muito poder para poucos, sejam políticos, sejam reis, sejam investidores.

Com petróleo não se brinca. Petróleo é uma questão de Estado e não de um governo. E o Brasil, com todos os percalços, não pode dizer que tem solucionado suas crises energéticas pior do que o mundo. Até nos Estados Unidos já houve falta de gasolina nos postos. Os governos, mesmo quando as empresas são totalmente privadas, defendem interesses delas na área internacional, como se fossem parte do estado. Veja os conflitos no Oriente Médio e na África.

Neste momento estamos vivendo um recrudescimento de preços de petróleo que afeta o mundo inteiro. Os preços de derivados de petróleo estão aumentando em todos os países. Mesmo aqueles que são autossuficientes em produção e refino tem aderido a esta onda de aumentos. E aumentos tem sim provocados reações anti-econômicas de custos de produção e transporte, como protestos das populações.
O Brasil não escapa a isso. Agora, como cada governo administra isso, eis a questão.

No nosso caso, independentemente da PETROBRAS ser ou não estatal, a política energética é do governo. A política monetária, ou seja, a  preocupação com a inflação, também é do governo. Então o governo ou, neste caso, o Presidente da República, querer questionar vários atores econômicos sobre qual é a política que estão adotando, para que resultados, não é só legitimo, mas é a sua obrigação. Liberal ou não, ou qualquer outra etiqueta que se dê ao Presidente Bolsonaro, não justifica que ele como mandatário da nação não se preocupe com a questão de preços de insumos de petróleo. Inclusive porque recentemente tivemos um caos nesta questão que prejudicou o país.

Agora, não há dúvida que as equipes técnicas do governo, e não falta doutor, poderiam ter prevenido o susto e evitado o raio que caiu. Falharam. A queda de valor das ações da PETROBRAS foi parte de uma reação e avaliação do mercado, puramente especulativa e exagerada. Como aconteceu no ano passado, nesse jogo da política de preços da PETROBRAS, muita , mas muita gente ganhou muito, mas muito dinheiro. E não vai ser diferente agora: os abutres do mercado já estão felizes.

Mas o problema continua, não pela ótica imposta pelos eméritos especuladores do mercado, mas de como vamos conciliar as nossas políticas energéticas e de transporte versus pressões internacionais de aumento de preços de petróleo. E nisso se inclui a pressão social representada pelos caminhoneiros, entre outros, que são incontroláveis, e uma forca social capaz de subverter o país. E aí, gostem ou não, o papel é do governo e também é a sua responsabilidade. Agora, os tecnocratas liberais deixarem o governo na estrada cuidando só do lucro, e o ônus ficar com o governo, não funciona. Porque o ônus fica por conta de todos e o lucro só para alguns.

Stefan Salej
Ex Presidente do SEBRAE Minas e da FIEMG
Vice-Presidente do Conselho do Comercio Exterior da FIESP
Coordenador adjunto do GACINT Grupo de análise da conjuntura internacional da USP

Monday, 8 April 2019

DO BOM E MAU PAGADOR

DO BOM E MAU PAGADOR

Foi sancionada a lei do bom pagador. Ou seja, será criado um cadastro dos bons pagadores, sejam empresas ou pessoas físicas. Isso é um maravilha, já que com esse sistema será feita justiça a quem paga bem suas contas e não tem reconhecimento. Como disse alguém no meio da euforia com a assinatura da lei, todas as outras só beneficiam com parcelamento, Refis e outras facilidades quem não paga em dia. Agora vamos ver na prática se a lei pega ou não. Porque o que não falta no Brasil são leis, e o que também não falta são leis que não pegam.

Mas, essa questão de pagar as contas, cumprir com as suas obrigações, é complexa. Se mais de 60 % dos  brasileiros têm dívidas, e por outro lado nossas poupanças são baixíssimas se comparadas com o resto do mundo,  temos um problema de renda. As pessoas não atrasam os pagamentos só porque querem atrasar. Atrasam simplesmente porque as contas não fecham.  

Veja os casos dos funcionários públicos nos estados e municípios que atrasam os pagamentos. E aí, como ficam as contas do armazém, supermercado, material escolar, saúde, farmácia e todas as necessidades do dia a dia.

Ou as contas dos desempregados ou subempregados, que no país somam mais de 30 milhões. Entra dia, sai mês, nada de emprego, nada de salário, e as contas batendo na porta, na mesa vazia?

O cadastro positivo vale também para as empresas. Mas elas também têm seus  problemas, se não recebem dos seus clientes. Por exemplo, se o estado ou município não paga seus serviços. Elas têm dificuldade em pagar seus funcionários, impostos fornecedores.

Em resumo, um círculo vicioso de quem paga e outro de quem recebe, ou de quem não recebe e não paga. Portanto, a medida do cadastro positivo é saudável, bem vinda e pode até ajudar a derrubar o mito do alto custo do dinheiro, juros mais altos do mundo, porque o risco dos bancos é grande por causa dos inadimplentes. Mas, aí vamos ver se isso acontece mesmo.

O sistema financeiro e o ciclo de atividades econômicas são irmãos gêmeos. Se a economia vai mal, se a produção cai,  cai também a estabilidade do sistema financeiro. O que se pode esperar é que essa medida seja a primeira de uma série que vai remontar o nosso sistema econômico, permitindo que as pessoas e empresas recebam e possam pagar.

Nesse imbroglio esquecemos que o grande devedor no país continua sendo o estado em suas várias formas. Seja nas obrigações contratuais, seja na persistência em não corrigir a tabela de imposto de renda, seja na burocracia excessiva e na sua ineficiência de gestão em todos os sentidos.