DO PETRÓLEO É NOSSO
Há muitas dezenas de anos atrás, os brasileiros se levantaram, e até o escritor
Monteiro Lobato colaborou naquela campanha, e exigiram que a exploração do petróleo
no Brasil fosse de exclusiva competência
nacional. O slogan, o Petróleo é nosso,
ecoava pelo país afora e produziu uma empresa estatal, eficaz, monstruosa,
eficiente e inovadora, monopolista, manipulada pelos políticos e técnicos , campeã mundial mais recente em exploração de petróleo em aguas profundas e maior escândalo de corrupção que o país conseguiu descobrir, a Lava Jato. Um orgulho e uma vergonha
nacional. Uma empresa para ser elogiada e ser xingada, executora da política energética
nacional.
PETROBRAS.
Essa empresa não é a única estatal na área de energia no mundo. Não é nem pior e nem melhor do que as sete irmãs que dominam
o mundo de energia, provocam guerras, persistem em explorar petróleo independentemente
dos problemas de clima e de meio ambiente. É o setor que, com seu produto, move
o mundo dentro de sua visão geopolítica, estratégica e, principalmente, do lucro. Provoca
crises, lembra-se da crise do petróleo na década
do 70?, conflitos, acaba com economias e países ou, com sua pujança, traz também benefícios para alguns.
E muito poder para poucos, sejam políticos, sejam reis, sejam investidores.
Com petróleo não se
brinca. Petróleo é uma questão de Estado e não de um governo. E o Brasil, com todos os percalços, não
pode dizer que tem solucionado suas crises energéticas pior do que o mundo. Até
nos Estados Unidos já houve falta de gasolina nos postos. Os governos, mesmo
quando as empresas são totalmente privadas, defendem interesses delas na área
internacional, como se fossem parte do estado. Veja os conflitos no Oriente Médio
e na África.
Neste momento estamos
vivendo um recrudescimento de preços de petróleo que afeta o mundo inteiro. Os preços de derivados de petróleo estão aumentando
em todos os países. Mesmo aqueles que são autossuficientes em produção e refino
tem aderido a esta onda de aumentos. E aumentos tem sim provocados reações anti-econômicas
de custos de produção e transporte, como protestos das populações.
O Brasil não escapa a
isso. Agora, como cada governo administra isso, eis a questão.
No nosso caso, independentemente
da PETROBRAS ser ou não estatal, a política energética é do governo. A política monetária, ou seja, a preocupação com a inflação, também
é do governo. Então o governo ou, neste caso, o Presidente da República, querer questionar vários atores econômicos sobre qual é a política que estão adotando, para que resultados, não é só legitimo, mas é a sua obrigação. Liberal ou não, ou
qualquer outra etiqueta que se dê ao Presidente Bolsonaro, não justifica que
ele como mandatário da nação não se preocupe com a questão de preços de insumos de petróleo. Inclusive porque
recentemente tivemos um caos nesta questão que prejudicou o país.
Agora, não há dúvida que
as equipes técnicas do governo, e não falta doutor, poderiam ter prevenido o
susto e evitado o raio que caiu. Falharam. A queda de valor das ações da
PETROBRAS foi parte de uma reação e avaliação do mercado, puramente
especulativa e exagerada. Como aconteceu no ano passado, nesse jogo da política
de preços da PETROBRAS, muita , mas muita gente ganhou muito, mas muito
dinheiro. E não vai ser diferente agora: os abutres do mercado já estão
felizes.
Mas o problema continua,
não pela ótica imposta pelos eméritos especuladores do mercado, mas de como
vamos conciliar as nossas políticas energéticas e de transporte versus pressões
internacionais de aumento de preços de petróleo. E nisso se inclui a pressão social representada
pelos caminhoneiros, entre outros, que são
incontroláveis, e uma forca
social capaz de subverter o país. E aí,
gostem ou não, o papel é do governo e também é a sua responsabilidade. Agora, os tecnocratas liberais
deixarem o governo na estrada cuidando só do lucro, e o ônus ficar com o governo, não funciona.
Porque o ônus fica por conta de todos e o lucro só para alguns.
Stefan
Salej
Ex Presidente do SEBRAE
Minas e da FIEMG
Vice-Presidente do
Conselho do Comercio Exterior da FIESP
Coordenador adjunto do
GACINT Grupo de análise da conjuntura internacional da USP
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