DO CAOS A CAOS
O recém empossado presidente dos Estados Unidos está com a faca e o queijo na mão. Ameaça a cada minuto alguém, semeia uma tremenda insegurança e incerteza no mundo, e por enquanto está ganhando todas. Colômbia, Canadá, México, Panamá, todos baixaram o tom e aceitaram de uma ou outra maneira suas exigências. Bom, ficou a China, que reagiu com cautela à ameaça de elevação dastarifas de importação. A União Europeia rugiu como um gato, mas na prática nada aconteceu. E o Brasil disse que disse que vai retalhar, mas em Washington ninguém deu a mínima para o que Lula disse. Essa briga ainda está para acontecer.
Nesse caos semeado por Trump, é bom lembrar que os Estados Unidos sempre usaram esses instrumentos de pressão. Não é a primeira vez que o Brasil está sendo ameaçado e nem a primeira vez que serão aplicadas sanções ou tarifas extras para as exportações brasileiras. E isso também ocorria quando dominavam os democratas. Quando se discutia a ALCA, associação da América Latina e Caribe com os Estados Unidos, uma das reuniões foi em Belo Horizonte, o então secretário do comércio dos EUA me explicou com clareza porque eles querem essa união: não termos restrições para exportar para o continente, queremos exportar cem bilhões de dólares e criar com isso 2 milhões de empregos. Simples assim.
O deputado democrata de Minessota Joe Oberstar me contou que fez tudo para barrar um empréstimo de 350 milhões de dólares do Banco Mundial para a Vale, oprojeto Carajás, porque a produção de minério de ferro lá seria tão competitiva que acabaria com as minas de ferro no distrito eleitoral dele. Ele estava certo. Hoje oBrasil exporta mais de 10 bilhões de dólares de mineiro de ferro para lá e as minas no Minessota fecharam.
A diferença entre seus antecessores e Trump é a violência verbal, uma prepotência que está um pouco para o Rei está nu. Não tem nenhum sutileza para tratar com seja quem for. A grosseria se tornou a expressão da verdade na política norte-americana e é adotada fielmente por seus seguidores em todos os níveis do governo. Não tem meio termo, não tem solução a não ser subjugar ao que se entende que é o interesse americano. Não tem mais açúcar e cacete, só tem cacete.
O Brasil está vulnerável em todos os sentidos. Temos bilhões de investimentos deles aqui, e o comércio bilateral é importante. E por outro lado somos muito, mas muito mais do que percebemos, dependentes da China. O desarranjo do mundo que está sendo provocado por Trump exige, para responder à altura, uma economia sólida e em crescimento. Como vamos equilibrar as finanças públicas, manter a inflação sob controle e a competitividade das nossas exportações, para termos resiliência nos tempos trumpianos, me parece, no estado atual da política brasileira, a pergunta com centenas de respostas e nenhuma à altura do desafio que estamos enfrentando.
Ótimo texto, bem elaborado, e muito preocupante o que um único homem pode fazer e decidir no comando do país.
ReplyDelete