DA PAULADA ESPERADA E INESPERADA
Nenhuma discriminação contra o Brasil por parte do governo Trump em elevar as tarifas de importação de produtos siderúrgicos e de alumínio em 25 %. Vale para o mundo inteiro.E nem contra Minas Gerais, o maior produtor de aço e alumínio do Brasil. Todos estavam esperando alguma medida assim, mas a questão é se estavam preparados para ela. As análises se baseiam muito no ano de 2018, no Trump1, quando de tarifas de 10 % passou-se a quotas, mantidas no governo Biden. Agora os tempos são outros. Para começar, naquela época os governos dos dois países eram da mesma linhagem política e com isso tinham um diálogo que poderia resolver a questão.
Num mundo onde há excesso de oferta de aço, em especial chinês, e há crise do setor automobilístico, a atitude norte-americana tem reflexos muito maiores do que percebemos. O Brasil exporta aproximadamente 35 % de sua produção, diz a entidade do setor AçoBrasil, para 100 países, mas o maior comprador são os Estados Unidos. Ou seja, a queda nas exportações para lá vai afetar o balanço de pagamentos, os balanços da empresas siderúrgicas e, claro, o emprego. Com exceção da Gerdau, que tem usinas nos Estados Unidos e gera 40 % de sua receita com negócios por lá, as demais, como a Usiminas, Arcelor Mittal e CSN, serão afetadas. No caso das primeiras duas, elas fazem parte de operações globais e aí a direção das empresas decide onde tem mais lucro. E aí vai um aplauso para aGerdau, genuinamente nacional, que implementou a estratégia de produzir nos Estados Unidos e colhe resultados.
A siderurgia brasileira vive uma crise de competitividade há muito tempo. Os investimentos necessários e as atualizações tecnológicas dependem do retorno de capital, que é baixo, em função dos altos custos da energia, do mercado interno imundado com aço chinês e sem a proteção da indústria brasileira, e do alto custo do capital.
A paulada de Trump vai só agravar a crise e, se serve de alguma coisa, o exemplo de como o governo resolveu a questão da importação de aço não é exatamente animador. O Brasil não tem meios de retalhar os Estados Unidos e a única esperança é que o velho e tradicional Itamaraty resolva a questão na área diplomática. E que, por outro lado, o governo reforce a competitividade da indústria siderúrgica e de alumínio para que ela sobreviva no momento, seja com políticas de aumento de consumo interno, que é baixo, com proteção contra dumping chinês, apoiado pela indústria automobilística e de linha branca, grandes consumidores, e com juros compatíveis para que o custo dos investimentos refaça a competitividade industrial e tecnológica.
Um estado como Minas pode levar um baque irrecuperável se o governo do estado,a indústria e o governo federal não se aliarem na solução. O receio é que estão caídos na lona do boxe do comércio internacional e ainda não acordaram para agravidade da situação, aliás prevista e cantada em prosa e verso por Trump.
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