DO FIM DO ANO CHINES
O principal jogo dos chineses é GO. É um jogo de tabuleiro inventado há 2500 anos, ou seja 2000 anos antes da descoberta do Brasil, jogado por dois jogadores. Num jogo abstrato de estratégia, ganha quem conquista mais território no tabuleiro. E todas as informações disponíveis dizem que é um dos mais complexos jogos existentes. Até mais do que o xadrez que pelo menos nós ocidentais consideramos muito complexo.
A referência a GO veio à tona agora que os dois governos, da China e dos Estados Unidos, declaram trégua na guerra comercial e dizem que concordam que os Estados Unidos não apliquem tarifas adicionais em compras de produtos chineses no valor de 360 bilhões de dólares (o que representa umas vez e meia das exportações brasileiras anuais).Os chineses também concordaram em aumentar as compras de produtos americanos, em especial agrícolas, no valor de 50 bilhões de dólares. E mais , produtos farmacêuticos, petróleo, e outros manufaturados. E se comprometeram em não manipular a moeda, não subsidiar empresas estatais e respeitar patentes e propriedade intelectual das empresas americanas.
No meio do jogo, os americanos mandaram de volta alguns espiões chineses, (aliás nos estamos convencidos que no Brasil não há ativo serviço de inteligência chinês),restringiram o movimento dos diplomatas chineses nos Estados Unidos, deram um grande golpe na Organização Mundial do Comércio, não nomeando os árbitros (o que inviabiliza as disputas comerciais entre os países e torna o comércio uma selva), mas os chineses também fizeram de Trump o aparentemente grande vencedor da disputa (ele também conseguiu aprovação do novo acordo com o México e Canadá) e forte candidato à re-eleição.
Como a guerra não era comercial, apesar de que o comércio estava na pauta, a disputa entre os dois países está longe de ser resolvida. As tropas voltaram para os quartéis, afiando as baionetas para a próxima batalha. E a batalha é simples: ou mudança do atual modelo de divisão de atividades econômicas (quem produz o que para quem) ou manutenção deste modelo de cooperação em condições diferentes das praticadas até agora e que levaram os dois países a se enriquecerem em níveis elevados, mas com a China se fortalecendo politicamente e, principalmente, militarmente, além de ter tomado muitos mercados dos Estados Unidos, que não voltam mais para as empresas americanas.
Estas explicações batem no Brasil. Nos somos parte do acordo entre essas duas potenciais. Os chineses nos usaram para mostrar aos Estados Unidos que têm alternativa nas suas compras de alimentos. Os Estados Unidos perceberam, aliás nada difícil de se ver, e castigaram o Brasil na importação de aço com sobretarifa e avisaram que não vão permitir a manipulação do cambio (como se houvesse). Os chineses vão voltar a comprar nos Estados Unidos e reduzir as compras no Brasil. Somos mais competitivos do que os produtores americanos, então, sem preocupação, dizem os leigos agro. Ledo engano, porque nem no campo somos tão competitivos como se alega e o comercio agrícola internacional é essencialmente um jogo politico-comercial-diplomático. E sorry agro business brasileiro, entre esses jogadores, nos somos gandulas no campo de futebol da várzea.
Alias, o próximo ano será nesse campo, de grandes emoções. Se nos dependermos muito da entrada de capital chinês para equilibrar nossas contas externas, ao mesmo tempo que teremos que decidir a nossa opção pela adoção do sistema 5 G, teremos que pensar muito em como equilibrar tudo isso. Não será nem fácil e nem divertido.
Não é que não fomos bem sucedidos até agora ou que houve incompetência, mas o jogo esta mudando. É bem mais complexo e envolve todos os atores políticos e econômicos do país. Trump, gostando ou não dele, está sabendo jogar para o bem do seus constituintes. É sempre bom lembrar que países não tem amigos, mas interesses e alguns, nesse jogo, jogam GO e pôquer ao mesmo tempo.
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