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Monday 2 December 2019

DO AGRO, DO CAMPO, DO BOI E DA VACA E DO BREJO


DO AGRO, DO CAMPO, DO BOI E DA VACA E DO BREJO

O agro brasileiro está hoje na crista da onda. Todos acreditam que,  sem as conquistas que o setor obteve nos últimos anos, o Brasil estaria quebrado. É o agro que está na moda, é Pop como diz uma emissora de TV, e está por cima da carne seca, como diz o povo.

Há muita verdade nisso, mas também é hora mais do que certa de analisarmos, no meio dessa euforia, qual será o futuro desse setor na economia brasileira. Aliás, para começar, a pergunta é qual é o modelo de desenvolvimento econômico e social que o país quer, sem ser um monte de declarações das autoridades estabelecidas e não estabelecidas e nenhum plano e com objetivos e resultados claros. Ou seja, não quanto vai crescer o PIB nesses cenários, mas quanto vai crescer a renda e diminuir a desigualdade, entre outros indicadores. Apesar de não termos um projeto claro na área econômica , temos que reconhecer que o setor agrícola é importante e, no momento, o que tem melhores perspectivas de crescer.

Bem, não nos esqueçamos da história, quando o Brasil já era uma potência agrícola, o caso da monocultura do café ou da borracha, e quando perdemos o mercado ou perdemos tudo. Uma revisão no auge do sucesso, alias algo que preconiza o professor Marcos Jank da Insper, é saudável, é absolutamente necessária. Se não pensarmos para a frente e muito para a frente e nos iludirmos que somos os melhores do mundo, que  por exemplo  a China acaba sem soja brasileira, o nosso futuro não existe. E aí vem a pergunta, o setor agrícola tem massa crítica para uma revisão dessas? Por exemplo, o setor industrial não teve essa capacidade. E aí está o resultado: 12 % do PIB brasileiro hoje representa uma indústria que já teve 35 % há vinte anos atrás.

O agro enfrentará os desafios tecnológicos e com eles também o problema da mão de obra. Não basta a re-estruturação da EMBRAPA, se o sistema de pesquisa no país como um todo, incluindo suas universidades, está em declínio. Pesquisa nessa área demora, custa muito dinheiro e precisa de gente. E hoje ela  é dominada pelas multinacionais, inclusive chinesas, e suas universidades com recursos intermináveis.

No quesito mercado, a verdade  é que não somos players com produtos industrializados ou até semi-industrializados.  Há há alguns exemplos na área de carnes brancas, mas longe de termos marcas que poderiam valorizar mais os nossos produtos. E também temos que levar em consideração o envelhecimento de população mundial, mudança  de hábitos de alimentação, e não final exigências cada vez mais rigorosas dos países compradores tanto no processo como nos produtos. Em resumo, num mercado onde nossas redes de distribuição dependem de empresas estrangeiras, somos muito mais comprados do que vendemos.

O setor que tem enorme potencial, também tem que ter políticas claras quanto ao meio ambiente. Não se trata só da Amazônia, trata-se de toda a cadeia produtiva no país inteiro. E negar que esse assunto não prejudica as vendas do setor no exterior é tapar o sol com a peneira. E aí vem também uma enorme possibilidade na área de produtos oriundos da biodiversidade brasileira. Por exemplo, o  açaí é muito mais lucrativo do que criar boi, e ainda não falamos do potencial da pesca, seja de água doce ou do mar. Para quem tem dúvida, basta lembrar do bacalhau de Portugal, que não o produz e vende com preços exorbitantes.

O setor tem sim, aliás no mundo inteiro, uma estreita relação com políticas governamentais. Mas, será que existe um planejamento do próprio setor, incluindo o governo? Por exemplo, na área de mão de obra para o setor (que aliás não é grande gerador de emprego), o que será feito no futuro? As fazendas precisam de engenheiros, especialistas em dados, analistas e claro todos os outros profissionais. Se depender dos governos, essa mão de não vai existir. E mais, o setor agrícola conversa com outros setores e coordena suas estratégias?

Dependendo só da China, comprando o que quer pelo preço que quer, não vamos muito longe no tempo. É bom lembrar as crises de café na década de 20 no século passado ou as crises de hoje na cafeicultura. Não se iludir com o sucesso de hoje e deixar de construir um futuro mais sólido. Ou como dizem os fazendeiros, não deixar a vaca ir para o brejo.

Stefan Salej

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