Powered By Blogger

Monday, 26 December 2016

DE SER EMPRESÁRIO, EMPREENDEDOR, COMERCIANTE, FAZENDEIRO E OUTRAS

DE SER EMPRESÁRIO, EMPREENDEDOR, COMERCIANTE, FAZENDEIRO E OUTRAS

Uma reflexão sobre a missão de exercer uma das funções descritas no título cabe bem no final de um ano, ou de um período inteiro de vários anos, de tumulto, incerteza e volatilidade ímpar na economia e na política do país. Se levarmos em conta não as definições teóricas ou de Wikipédia o que é o exercício de uma dessas funções, mas  o que os nossos contemporâneos, como José da Costa, Nansen Araújo, José de Alencar, Modesto Araújo, Alair Martins, Alexandrino Garcia, Beth Pimenta, Marcos Mares Guia, Ernesto Salvo e tantos outros, nos ensinaram, podemos tirar algumas conclusões que nos ajudem a entender melhor a situação em que vivemos e o modo de ultrapassar as dificuldades.

Creio que a primeira lição é que a função de uma empresa, fazenda, comércio ou prestadora de serviços, é não só produzir lucros, mas servir aos seus clientes. Ou modernamente dizendo, ao mercado. Entendendo bem o cliente, suas necessidades, e adaptando-se às mudanças por que ele está passando (não adianta vender hoje máquina de escrever se as pessoas usam tablet), você tem grande chance de, com dinamismo próprio, adaptar seu modelo de negócios e sobreviver.

Não se pode ignorar o fato de que, se você quiser ganhar dinheiro rápido e fácil, então é melhor escolher outro ramo de atividades, que não é ser empresário. Construir uma empresa, mantê-la no mercado, ou manter uma fazendo viva por muitos anos, não é trabalho de um dia e nem de uma semana. Requer persistência, objetivos claros, controles financeiros rigorosos e muita preocupação. É um trabalho de equipe, inclusive da família, dos sócios, com objetivos a longo prazo.

As mudanças tecnológicas não são novidades. Podem ser mais sentidas hoje, eventualmente são mais rápidas, mas sempre existiram. Então, você tem que ser capaz de liderar essas mudanças no seu negócio. Decidir se você segue os concorrentes ou lidera o mercado. Nem que seja padeiro no bairro, pode ter melhor atendimento, melhor pãozinho, melhor quibe. Nada  de segunda, sempre tudo de primeira.

Volto ao que, aliás,  todos os mencionados foram mestres no assunto, que é o relacionamento com as pessoas. Olhe para o seu negócio no dia em que está fechado e pergunte quanto vale. E quando as pessoas começarem a atuar, a trabalhar,  quanto isso vale. O capital humano e a sua gestão são valores fundamentais na empresa. Quem não sabe administrá-lo pode até ganhar dinheiro, mas a empresa não sobreviverá a longo prazo.

Não se pode ignorar a firmeza no cumprimento dos valores éticos dos empresários bem sucedidos e cujas empresas sobreviveram às tempestades de políticas ou à falta delas no Brasil. Ninguém que colocou a corrupção como base de negócio pode sobreviver a longo prazo. Ganha dinheiro mas não resiste ao tempo.

Empresa, fazenda, indústria, comércio, serviços são mais do que máquinas de ganhar dinheiro, como nos ensinaram muitos dos nossos mestres, entre os quais incluiria, não como empresário mas como homem público, o  engenheiro João Camilo Penna. São entidades que produzem felicidade, oportunidades, riqueza social e econômica. Entendidas assim são bem comum, respeitadas e cuidadas por todos, para crescer e sobreviver aos tempos difíceis.

Sunday, 25 December 2016

DO ANO DE TERROR E ESPERANÇA


DO ANO DE TERROR E ESPERANÇA

Escrever no fim deste ano, e ainda por cima um artigo a ser publicado sobre os eventos do ano que passou, no domingo de Natal, é sem dúvida uma tarefa das mais complexas para o colunista. O ano não foi atípico só no Brasil, onde saiu a Presidenta por impeachment e entrou um vice com chance de sair. A economia que no mundo inteiro se recupera, no Brasil continua com esperança de recuperação, com sorrisos marotos nos prometendo com micro medidas macro resultados. É a política econômica band-aid, de olho nas delações premiadas dos políticos e empresários que pagam qualquer preço para sair do emaranhado de corrupção em que se meteram. E sem falar no Congresso, cujo ex-presidente também está preso, que cada noite nos surpreende com mais atos contra o cidadão e o país do que a favor. Em resumo, um ano que no Brasil nem de longe terminou e que vai se arrastar como a sujeira do Rio Doce, provocada pela queda da barragem da Samarco.

Mas esse retrato desastroso do Brasil, quando colocado no mundo, a não ser no campo do campeonato da corrupção, da limpeza jurídica e da economia, tem uma outra componente diferente, que abre uma janela de tranquilidade. Fizemos os Jogos Olímpicos com tranquilidade e com perfeição. E se olharmos o balanço do mundo, onde só nesta última semana houve um atentado em Berlin, a morte do terrorista que provocou o atentado, na Itália, o assassinato do embaixador da Rússia na Turquia, a reconquista da cidade de Allepo na Síria pelas forcas governamentais, com êxodo de milhares de pessoas, e o sequestro de um avião que acabou na Malta, ainda podemos dizer que por aqui está tranquilo.

Sem mencionar os atentados na Bélgica, Estados Unidos, e Franca, os conflitos na Líbia, Iraque, Afeganistão, Ucrânia e Síria, a queda do avião no Egito e mais e mais, podemos dizer que efetivamente o mundo está sem paz. Dizer que estamos em guerra, talvez seja forte demais, mas que hoje quando se viaja tem que tomar cuidado, não há duvida alguma. O mundo esta conturbado. A segurança interna vai exigir uma nova postura e o caso do ataque em Berlin mostrou claramente isso. As sociedades democráticas terão que se reorganizar para proteger melhor seus cidadãos contra os extremistas e terroristas. Aliás, a Europa sempre teve seus extremistas: vamos lembrar que a Primeira Guerra Mundial começou com o terrorismo nacionalista sérvio.
O novo retrato do horror no Oriente Médio e na Europa não está pronto para ser pintado. Só vai ficar pronto com as eleições na Franca e Alemanha no próximo ano, quando o tema do combate ao terrorismo será um divisor de águas.

E a esperança? Bem, fora dos assaltos, sequestros, Lava Jato, expansão do narcotráfico, pelo menos o Brasil está livre de terrorismo. Mas, está mesmo? Vale a pena acreditar na paz, mas vale a pena ainda mais lutar para que tenhamos uma sociedade em paz.

Friday, 16 December 2016

DO URSO RUSSO NO CIRCO

DO URSO RUSSO NO CIRCO

No passado, não existia um bom circo que não tivesse algo da Rússia: ou eram os artistas (a Rússia possui uma das poucas escolas para artistas circensenses) ou então pelo menos um urso russo. Ele dançava, às vezes se mostrava preguiçoso até ganhar uns doces, mas era enorme e as crianças o adoravam. Não existia bom circo sem algo da Rússia.

Bem, na política internacional também parece que não há um bom circo sem a Rússia.Ou com artistas ou com ursos. As notícias da semana, que se concentram na expulsão dos rebeldes ou forças contrárias ao governo sírio da cidade de Allepo e na tragédia de proporções inimagináveis que isso representa do ponto de vista humano, têm russos no meio. O regime sírio só conseguiu essa vitória, se pode se chamar de vitória, com apoio de força aérea russa. Os russos mostraram, com apoio ao ditador sírio Assad, que continuam sendo uma potência militar e que, nos territórios considerados estratégicos por eles, não se brinca. Os Estados Unidos, mesmo enviando os aviões mais avançados do mundo para Israel, estão enfrentando, e parece que perdendo, as batalhas, do novo adversário velho, a Rússia.

Mas, é em outro campo que a batalha está mais interessante: as acusações de que a Rússia interveio nas últimas eleições dos Estados Unidos e mais: a favor do eleito Donald Trump. Bem, na verdade, Hillary Clinton se enterrou sozinha e nem precisou de ajuda. Sua estratégia deu errado. E que Trump, durante as eleições e depois, mostrou claramente que a Rússia não é o principal inimigo dos Estados Unidos, ninguém pode negar. Até a nomeação do novo Secretário de Estado, chefe da diplomacia norte-americana, teve como base a sua amizade com o presidente russo Putin e sua capacidade de tecer acordos favoráveis aos negócios norte-americanos.

Se for verdadeira a alegação de que os russos, através do uso da informática, influíram nas eleições, cabe uma outra pergunta ainda mais aterrorizante do que a afirmação do governo de Obama: os Estados Unidos perderam a guerra cibernética, onde a Rússia, mesmo com as sanções que lhe impuseram tanto os Estados Unidos como a União Europeia, está anos luz na frente da chamada maior potência militar do mundo, os Estados Unidos? Ou seja, os russos estão ganhando a guerra nas estrelas? Se os Estados Unidos podem nos espionar, os russos intervêm nos sistemas cibernéticos e mudam os resultados políticos?

É um mundo assustador, onde nos cabe vender minério, milho, soja e carnes, mas nessa guerra estamos na idade de pedra.

Monday, 12 December 2016

DAS CHUVAS E TROVOADAS

DAS CHUVAS E TROVOADAS

Dezembro e, em especial, janeiro, são tempos de muitas chuvas e trovoadas. Os novos prefeitos, entre os quais há muitos sábios, já estão se preparando para as chuvas de verão, que fazem os rios crescerem, os barrancos descerem, os bueiros e as bocas de lobo entupirem, a luz desligar, os sinais  de transito piscarem ou então apagarem, as estradas serem interrompidas, sem falar nas estradas de terra, que viram lamaçais intransponíveis e campos cheios d’água sem poder nem semear e nem colher. Pode ser que tenhamos um ano recorde de safra de grãos, mas, e os preços, e vender para quem? E todo mundo está torcendo para que o ano acabe, aliás este de 2016 não acaba nunca, como se o ano novo gregoriano de fato não tivesse nada a ver com o ano que passou. E nessa agonia com chuvas, desemprego, águas, quem mais sofre é o pobre do barraco, nem lembrado na desgraça, e cheio de promessas de políticos de que vão resolver os problemas que nunca são resolvidos.

Mas, é a meteorologia  política que traz trovoadas incomparáveis neste verão. Em Minas, a incerteza da certeza de situação politico-jurídica do governo Pimentel, que está na corda bamba, com a situação financeira fazendo resolver na ponta de lápis a despesa de cada dia, nos leva a pergunta quem vai investir em um estado que se diz quebrado e não pode cumprir com os seus compromissos. E, justiça seja feita, Minas Gerais não quebrou nesta gestão, mas esta quebrado e não foi consertado há muito tempo. Os últimos três governos antes deste fizeram um choque de gestão, que resultou  em que mesmo? Na quebradeira de hoje.

Se faltavam na literatura brasileira romances policiais com a qualidade de um Paulo Coelho, foi neste verão que essa lacuna foi preenchida: os documentos da delação premiada dos empreiteiros brasileiros. O best seller nessa coleção interminável é a delação da Odebrecht, a empresa baiana de  engenharia, cujos tentáculos no tecido político brasileiro estão em câmaras de vereadores, partidos políticos, prefeituras, governos de estados, e no Congresso nacional.

Conforme o relato publicado neste fim da semana, a aliança empresarial, da qual participou, como está escrito na delação, a entidade máxima da indústria, Confederação Nacional da Indústria, com o Congresso, este, com exceções que confirmam a regra, se movia e legislava a favor dos interesses empresariais e seus lucros e não do povo. Era a casa de negócios e não a casa do povo. Aliás, provavelmente, isso acontecia  na escala vertical até Brasília, em cada um dos quase seis mil municípios que temos no país .

Como se proteger, como não se indignar e em um  ambiente meteorológico político desses, nunca antes visto no nosso país, ou sempre existente, e nós de avestruz, não querendo enxergar nada, é  a grande questão. Não dá para não estar envolvido porque o governo que está aí pode prometer maiores  bondades na economia, mas sempre ficará a pergunta: fizeram para beneficiar quem? E podem entregar, cumprir o prometido? E a dúvida mata, nos recolhe a uma atitude defensiva: proteger-se das chuvas e trovoadas até tempos melhores.

Sunday, 11 December 2016

DAS PREOCUPAÇÕES EUROPEIAS

DAS PREOCUPAÇÕES EUROPEIAS

Este ano que quase terminou foi um ano de muitas surpresas  na Europa. Não só não terminou o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e portanto entre  a União Europeia e a Rússia, como também não terminaram as invasões de imigrantes africanos e do Oriente Médio, vindos através do Mediterrâneo ou via Turquia-Grécia. Também não foi fácil em relação aos atentados terroristas, este ano, especialmente na França e na Bélgica. Além de alguns desastres de trens, como os da Espanha e Itália. Em resumo, no  velho continente não houve guerra, mas em  compensação também não houve tranquilidade.

E entre as novas preocupações, está a eleição do novo presidente dos Estados Unidos. Na área do comércio, não se sabe ainda a postura do Trump em relação ao acordo de comercio entre União Europeia e Estados Unidos. Esse acordo aumentaria em muito as exportações europeias para um dos maiores mercados mundiais. Mas, também não se sabe como Trump vai agir na área de defesa, onde a maioria dos países europeus, junto com os Estados Unidos, formam a OTAN, aliança de defesa. Durante a campanha, Trump salientou que cada um se defenda como pode e que Estados Unidos não vão cuidar da defesa de terceiros. Nesse capítulo, também entra a questão da Ucrânia, apoiada pela União Europeia e os Estados Unidos, contra a Rússia. E quem sabe se Trump não se torna mais amigo do Putin do que os europeus gostariam.

No meio desse retrato, que mais parece um quebra cabeça, não se pode esquecer a saída de Grã Bretanha da União Europeia, processo chamado de  Brexit. Neste momento, tudo indica que ninguém de fato sabe  como isso vai acontecer, e nem os números foram fechados de lucros e perdas. E falando em referendum, tão em moda na Europa para aperfeiçoar a democracia, também não se sabe como se vai reorganizar a Itália após o referendum do último domingo, que rejeitou as reformas do sistema político propostas pelo jovem primeiro ministro Renzi. O incrível é  que, mesmo todo mundo criticando o sistema politico ineficaz e caro (a Itália tem 300 senadores), a população foi convencida pelos populistas que é preferível assim do que se modernizar.

Aliás, um dos cenários mais temidos na Europa é o crescimento do populismo e, em especial, da direita. Além dos governos de direita, como o de  Orban, na Hungria, o temor de crescimento da Le Pen na França  (que no caso de vitória nas eleições presidências no próximo ano levaria à saída da França da União Europeia), ou na Holanda,  tivemos a feliz derrota da extrema direita nas eleições presidenciais no domingo passado na Áustria. Se os extremistas da direita ganharem eleições importantes, o quadro europeu muda para um conflito de proporções nada desejáveis.

E a isso devemos adicionar a crise de desemprego, crescimento lento, reorganização do setor bancário italiano, para não dizer que não faltam problemas, mas soluções consensuais, seja pela União Europeia como conjunto de estados ou pelos países individualmente.

Sunday, 4 December 2016

DOS CONSELHOS PROFISSIONAIS

DOS CONSELHOS PROFISSIONAIS

A ideia de juntar profissionais de uma determinada área em uma associação, chamadas guildas (por causa de fundo mantido em ouro, guld) e estabelecer critérios de qualidade de exercício da profissão e limites de número de associados,  começou  no ano 1000, quando foram fundadas também as universidades de Bologna na Itália (1088) e Oxford, na Inglaterra (1096). As sociedades de profissionais com hierarquia clara e ascensão rígida na profissão se mantiveram muito ativas nos séculos XV e XVI. A carta patente era concedida pelo rei, ou seja, o estado. E o acesso à associação era hereditário.

Nos países novos, descobertos na idade média, essas associações não se estabeleceram da mesma forma que na Europa. Guildas, dizem os historiadores, eram associações de profissionais que faziam ao mesmo tempo as vezes de sindicatos, cartéis e também sociedades secretas. No Brasil, temos sindicatos de trabalhadores, de empresas e conselhos profissionais. Para as categorias, há obrigatoriedade de contribuição. Não ha escolha, mas a lei exige que você faça parte de uma dessas organizações.

No caso dos conselhos profissionais, há obrigatoriedade de registro de empresas e indivíduos. Por exemplo, uma empresa de contabilidade, deve se registrar como empresa e todos os seus profissionais devem ser contadores. E se não o fizer, vêm inspetores de conselhos, com escrito pomposo no carro: fiscalização federal e multam a empresa e os profissionais.  Nas empresas que possuem atividades múltiplas, como a indústria, devem estar registrados todos os profissionais, por exemplo, engenheiros, químicos, eletricistas, enfermeiras, médicos, administradores, psicólogos, representantes comerciais , jornalistas e não sei mais o que.

Tudo isso custa muito dinheiro. Que é preciso haver regulamentação de certas profissões que representam perigo para a saúde das pessoas, não há dúvida . Os advogados, no modelo mundial, criaram a OAB e exame para o exercício da profissão. Mas, que nos perdemos totalmente o bom senso na criação dos conselhos profissionais (aliás em nada diferem das guildas medievais) e impingimos  enorme custo  aos profissionais e às empresas, também é verdade. A maioria dos conselhos são  uma sociedade fechada, sem nenhuma transparência (nunca vi algum conselho publicar balanço), ameaçam os profissionais se não pagarem a contribuição( o que alias é  exigido pela lei) e tem um enorme patrimônio, sem fazer  nada para os seus associados. Porque, se fizessem, não teríamos inclusive um monte de profissionais  e escolas de péssima qualidade.

Ninguém calcula o custo disso, e ninguém quer discutir. Mas, se quiser ter um Brasil com mais empregos e empresas competitivas, essa caixa preta das sociedades secretas terá que ser aberta.

Wednesday, 30 November 2016

DE FIDEL CASTRO E MINAS

DE FIDEL CASTRO E MINAS

A morte aos 90 anos do líder revolucionário ou ditador cubano (depende do ponto de vista, mas provavelmente os dois), Fidel Castro, recolocou no mapa mundi a discussão sobre o seu papel na história mundial. Mas, para analisar esse papel, é preciso olhar primeiro a história de Cuba, que foi o último país latino americano, no final do século XIX,  a se liberar do jugo espanhol e depois ganhou a guerra  contra os Estados Unidos, que queriam ocupar a ilha e transformá-la, como aconteceu com Puerto Rico, em território norte-americano. Aliás, parte da ilha, onde estão as instalações militares norte-americanas e a prisão de máxima segurança para terroristas islâmicos, Guantánamo, é território dos Estados Unidos. E se olhar o mapa da América Latina e do Caribe, do Sul para o Norte, você identifica que a cabeça do continente se chama Cuba, a 150 km de costa norte-americana ou da capital dos ricos latino-americanos, chamada Miami.

Cuba foi um país dos mais desenvolvidos do continente numa determinada época da historia, mas também foi se transformando em filha prostituta dos Estados Unidos, com a máfia dominando os negócios e a desigualdade social aumentando, ao mesmo tempo em que a ditadura do nefasto Fulgencio Batista fazia inveja a outros ditadores mundiais. Foi nesse ambiente de desejo de mudanças sociais que nasceu a guerrilha cubana, na contra mão de um mundo bipolar de guerra fria e de um anti-comunismo crescente, em especial nos Estados Unidos. Ter um país ideologicamente diferente e aliado ao inimigo número um, a União Soviética, era inaceitável para todos os dirigentes estadunidenses, inclusive o liberal John Kennedy.

O encanto romântico de uma solução socialista como a cubana foi impregnando multidões de jovens. Assim, a condecoração de outro líder cubano, Che Guevara, pelo governo de Jânio Quadros, desencadeou uma crise político-militar no Brasil, cujas consequências mais tarde levaram ao golpe militar de 1964. Os jovens revolucionários brasileiros combatentes da ditadura militar, como o mineiro Jose Dirceu, hoje preso por corrupção, foram treinados em Cuba. A Ilha, como era chamada por esses jovens, sob a liderança de Fidel Castro, era a matriz de exportação de idéias, ideais e guerrilha, para uma mudança de regimes no continente. Os jovens treinados lá, quando conquistaram o poder no Brasil, ativaram seus contatos com Cuba, como um deles, o ex-deputado Tilden Santiago, que chegou a ser embaixador brasileiro em Havana.

E claro, começou um novo ciclo de relacionamento, que após a aventura militar em Angola, onde 35 mil soldados cubanos combateram os sul-africanos e seus aliados da Unita, teve seu auge com a vinda de milhares de médicos cubanos para Brasil (o que ajudou Cuba a superar seus problemas financeiros), financiamentos para construção do porto de Mariel (na gestão do então Ministro de Desenvolvimento Fernando Pimentel e seu diretor no BNDES, Mauricio Borges) e mais outros projetos menos conhecidos. Os treinados lá, ou nas idéias e ideais de lá, devolveram a bolsa de estudos com juros e correção monetária.

Mas, é pouco e inadequado dizer que a influência cubana e de Fidel Castro se resumem a isso. Um sistema político fracassado na área de economia, absolutamente hermético quanto aos direitos de cidadãos, só está sobrevivendo porque manteve coerência ideológica em um socialismo que fracassou, mesmo que se cante em verso e prosa seu sistema de saúde e de educação. Fidel Castro manteve Cuba em seu modelo próprio, balançando em um mundo de mudanças, no nariz dos Estados Unidos. Interessante observar que, ao contrário de países do antigo Leste Europeu, a liberdade religiosa em Cuba tem um grau maior do que tinha lá, mas a liberdade de expressão continua zero.

Fidel Castro fez história e não há como não reconhecer isso. O que não quer dizer que ela é tão bonita e charmosa, ou tão boa para o povo cubano, como foram os sonhos, o charme e esperança de tempos melhores  que emanavam em 1959, quando tudo começou na Sierra Maestra.

Monday, 28 November 2016

DA GLOBALIZAÇÃO NOS DIAS DE HOJE

DA GLOBALIZAÇÃO NOS DIAS DE HOJE

O canadense Marshal McLuhan disse que, com o advento de televisão e dos satélites, vamos nos tornar uma aldeia global.Hoje podemos assistir os eventos em qualquer parte do mundo praticamente na hora, sem falar do celular, tablets e computadores, que viraram televisores e nos permitem a comunicação imediata com o mundo.Assim, somos globalizados quanto à informação.E quanto aos produtos e serviços? Bem, é só olhar no nosso dia a dia para sabermos que, independentemente de quanto gostarmos, a globalização está aí, na nossa mesa, no nosso cada dia.

A comunicação fácil e imediata também gera demandas imediatas, desejos de consumo. Vejamos os casos de telefones inteligentes. Quanto a Samsung teve problemas com um dos seus telefones/tablets, mesmo se não teve qualquer problema no Brasil, o consumidor imediatamente reagiu e deixou de comprar o produto. Ao contrário, quando a Apple lançou seu último modelo, o consumidor brasileiro queria saber quando será lançado no Brasil. E, lançado teve filas de madrugada para comprar.

Mas, a globalização muda essencialmente a percepção e as oportunidades de mercado e competitividade tecnológica. Qualquer empreendimento ou empresa, start up, que começar tem que pensar globalmente, mesmo que aja localmente. Isso vale sobre maneira para a start up, hoje a onda de inovação que assola o país. A Start up que não tiver base tecnologia competitiva no nível internacional, também não terá financiadores e nem mercado global.

Aliás, a competição mais acirrada não está nas fábricas e empresas, mas nas universidades e centros de pesquisa. Não nos esqueçamos que a internet começou lá, integrando as informações e o intercâmbio entre pesquisadores. Aliás, a esse capítulo tem que se adicionar as ferramentas de análise, chamados big data. Se seu concorrente fizer e você não, sua empresa acabou e você nem percebeu. Não é Power point, não ! E mais do que isso, é uso da mais avançada matemática  para produzir, atender o cliente, prestar serviço melhor. Por exemplo, o start grid de uma empresa de energia, aumenta a competitividade de toda a sociedade que ela serve.

Tempos modernos, como disse Charles Chaplin no seu famoso filme. Tempos desafiadores de um mundo cada vez mais próximo e dominado por quem tem tecnologia e sabe usar.

DA POLÍTICA E POLITICAGEM EMPRESARIAL

DA POLÍTICA E POLITICAGEM EMPRESARIAL

Num recente episódio em reunião do mais alto órgão de decisão de uma entidade empresarial das maiores (e mais polpudas) de Minas, quando um  dos seus mais conceituados diretores e presidente de várias entidades filiadas, após a fragorosa derrota de uma sua proposição para filiar mais um sindicato, do qual seria  presidente (ele e os sócios controlam não só vários sindicatos, a própria entidade e mais a entidade nacional), perdeu o bom senso pelo qual era conhecido, e chamou seus colegas (pelo que contam nos bastidores) de não possuírem vergonha e serem desonestos, entro outros predicados, cabe a pergunta porque tanta animosidade para dirigir uma entidade empresarial se o serviço é voluntário.

Há algum tempo atrás, um diretor de um serviço de apoio às empresas, experiente político, obrigado a defenestrar, por ordem do presidente-empresário um outro empresário, que prestava  serviços  profissionais, por ele ter dado declarações na imprensa que desagradaram, disse que a política em geral tinha métodos sujos e que está surpreso com os que os empresários usam nas suas entidades.

O fato é que o que acontece na política partidária, no Congresso, nos governos  de varias naturezas, essa decadência  generalizada de valores, chegou também às entidades empresariais. Claro que nem a todas, já que há honrosas exceções, mas também há, como no caso descrito, ocorrências de extrema gravidade. Em entidades que são dominadas por clãs ou grupos empresariais, familiares, onde a compra de votos e os conchavos para colocar nem abaixo de tapete, mas abaixo de terra, os desmandos, não são raridade. E as eleições são  shows para se fazer, no final, uma acordo de esquecer os desmandos do passado, para garantir os do futuro.

Numa hora de crise em um sentido tão amplo que o país nem viveu ainda, episódios de desentendimento, chegando quase às via de fato, de desrespeito às pessoas, à sua liberdade de expor ideias, no  meio empresarial, beiram absurdos inaceitáveis. Que exemplo podem seguir os jovens empresários com esse comportamento? E o que a sociedade pode esperar de uma classe cujo poder econômico está sendo usado para seu próprio bem, muitas  vezes  se apresentado de forma falsa, com publicidade excessiva e programas pseudo sociais?

Minas vive uma crise de governabilidade e sem coesão em torno de projetos dos empresários, em especial de segmentos como a indústria, que mais sofrem nesta crise, na qual só há aumento de desemprego, redução de atividades e ampliação das incertezas.

Mas, onde estão as ideias, os projetos que convençam a sociedade de que os empresários podem não só se beneficiar pessoalmente de sua atuação politico-empresarial, mas realmente liderar, com outros atores, primeiro a saída da crise e em seguida o desenvolvimento?

Se persistir o espírito de briga pelo poder e o abuso dele nas entidades empresariais, como  demonstra o episódio recente, que é a ponta do iceberg da privatização das entidades, e não mudar a visão, o discurso e ação, Minas continuará sendo  cada vez mais exportadora de mineiros, de seus talentos e do seu capital. E Minas é mais do que isso, como também seus industriais e empresários são.

Monday, 21 November 2016

DO ESTADO DEVEDOR E FALIDO

DO ESTADO DEVEDOR E FALIDO

Na história mineira tem uma estória muito atual. Quando as professoras entraram em greve durante o período do saudoso Governador Milton Campos, da antiga UDN, um dos auxiliares do Governador, creio que foi o Secretário de Segurança, sugeriu que se mandasse a Polícia Militar para reprimir a greve. Naquela época, a população de educadores era essencialmente composta por professoras. E aí, o Governador respondeu: Não é a Polícia militar que temos que mandar. Temos que mandar o trem pagador.

Nos dias de hoje, vivemos situações parecidas. O estado, representando por seu governo, enfrenta enorme dificuldade para pagar seus compromissos. Não só com os funcionários, onde as escalas de pagamentos sempre atingem os mais fracos, de menor valor a receber e em maiores dificuldades. Entre esses, sempre se enquadram os profissionais da educação. Mas, o novo governo, logo que entra, primeiro deixa de pagar ou atrasar os pagamentos das dívidas oriundas do governo que sucedeu. Parece que as sucessões políticas significam, em termos de pagamentos de compromissos do estado, ruptura. Divida do governo não se paga.

O fato é que nossa economia depende muito do estado, seja municipal, estadual ou federal. Não só temos um contingente deveras grande de funcionalismo publico, provavelmente em Belo Horizonte, entre os três níveis  dos governos, o maior empregador, como ainda o atraso de pagamentos nos salários significa uma queda do consumo muito forte. Somos uma economia altamente socialista, do ponto de vista da classificação dos bens de produção. O Estado é o dono da maior parte da nossa economia.

Mas, os atrasos também atingem em muito outros fornecedores governamentais. Esquecemos o poder de fogo dos empreiteiros, que sempre se salvam de uma ou de outra maneira, e que através de lobby dos seu sindicato, o SICEPOT, conseguem obter resultados que ninguém consegue. Governo nenhum briga com eles. De outro lado, há milhares de empresas de porte pequeno, espalhadas pelo estado todo, que não têm poder politico, nem poder de barganha. São pequenos comerciantes, industriais, agências de publicidade, jornais locais que publicaram os anúncios dos governos, e tantos outros. Pagaram impostos, suas obrigações com fornecedores e funcionários, e não sabem quando vão receber. E entram numa espiral que só agrava a situação. E tem mais: entidades como a FIEMG  preocupam-se em defender grandes credores, e para os demais fica a necessidade de compreenderem a difícil situação. Para os amigos tudo e para os demais, a lei.

Rio de Janeiro , já tarde, tem que servir de aviso. Efeito Smirnoff: o de hoje será você amanha. Estamos aprendendo ou achando que nada tem que ver a situação de lá, com a nossa?

Friday, 18 November 2016

DOS ACORDOS E DESACORDOS COMERCIAIS

DOS ACORDOS E DESACORDOS COMERCIAIS

Apesar de que a semana está cheia de notícias da transição do governo dos Estados Unidos (o Presidente eleito só toma posse no dia 20 de janeiro e até lá tem tempo para conversar ainda com o nosso Presidente Temer , já que os dois ainda não conversaram), mas há outras preocupações na área de comércio internacional que não foram ofuscadas pela eleição de Trump. Ou foram e não percebemos.

Enquanto o Canadá conseguiu, depois de  sete anos de negociações, fechar um  acordo amplo de comércio e cooperação com União Europeia, o Mercosul, nascido em Ouro Preto há 25 anos, continua negociando, e negociando um acordo comercial com a mesma União Europeia. Está na mesa que  a UE acabou de aceitar o Equador (que está brigado conosco na área diplomática em função do impeachment da companheira Rousseff) no acordo de comércio com o Peru e a Colômbia. Por outro lado na, campanha presidencial norte-americana, ficou claro que o hoje vencedor Trump vai rever o acordo de livre comércio entre os Estados Unidos, México e Canada, como também o acordo transpacífico (o acordo dos acordos) e rever a negociação do acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia.

Resumindo: esta se redesenhando o mapa comercial do mundo. E se a esse quadro adicionarmos o reconhecimento definitivo da China como economia de mercado na Organização Mundial do Comercio (onde o brasileiro Azevedo quer mais um mandato de diretor geral), temos um quadro um tanto quanto indefinido para o exportador brasileiro. Você pode exportar baseado na sua capacidade empresarial, mas  se houver barreiras nos países importadores, ou se seus concorrentes tiverem mais facilidades,  o jogo muda ou até impede você de exportar.

E são acordos comerciais entre os países que permitem  isso. De um lado, estamos amarrados pelas regras do Mercosul, uma associação de países difícil de se entender e com a qual conviver. De outro lado, pelos interesses e reposição do comercio global. O fato é, que o exportador brasileiro neste momento não tem a mínima interferência  nas negociações  que estão em curso, como Mercosul-UE, e nem na consolidação negociadora do próprio Mercosul. Mas também não sabe qual a posição estratégica do governo brasileiro para orientar seu planejamento empresarial.

A situação está menos dramática na área de agro-negócios, onde o próprio setor  assumiu a liderança e obrigou os outros atores a seguir o navio do almirante. Mas, iludidos com que temos boas reservas cambiais, e que o agro e os minerais sustentam a balança comercial, criando superávit, as exportações de manufaturados, serviços e produtos de tecnologia estão mancando. E sem  acordos comerciais, só o bater dos tambores da promoção comercial (incluindo sem diminuir custo Brasil), vai ser difícil conseguir encher o caixa com dólares e euros para poder gastar em viagens e  importações.

Sunday, 13 November 2016

DOS NOVOS EMPREENDEDORES

DOS NOVOS EMPREENDEDORES

Formidável o evento Campus Day, trazendo centenas de jovens para o Expominas, abaixo de tendas, apresentando suas ideias e competindo para obter o beneplácito dos investidores. A isso se juntam os esforços das turmas de São Pedro Valley, e de BH Tec, em Belo Horizonte, o apoio de fundos de investimentos pioneiros no Brasil,  como o FIR Capital, a Biominas, o Vale da Eletrônica, em Santa Rita de Sapucaí, o esforço fantástico da Universidade Federal de Itajubá, na área de empreendedorismo, e mais dúzias de iniciativas, inclusive do Governo do Estado, da FAPEMIG e do BDMG. Sem falar no SEBRAE Minas e seus programas de educação, como a Escola  Técnica de Formação Gerencial.

Em resumo, tudo para incentivar os jovens a serem empresários. Mas, também é hora de fazer um balanço, para que o futuro não seja um sonho de verão e se forme um grande contingente de frustrados que desistem ao invés de persistirem nessa vida de sacrifícios que é a vida empresarial. E a pergunta é, qual a métrica  desses esforços? Não quantas start ups  foram vendidas, mas quantos empregos, impostos e outros  indicadores sociais e econômicos foram alcançados.

Primeiro, além de onda, precisa-se de metodologia com resultados. E, para isso, deve-se envolver gente com experiência, e não só entusiastas com formação acadêmica, mas sem nunca terem  pisado em uma empresa. Os mentores não devem ser só experientes, mas devem ser treinados para ajudarem as start ups a se estabelecerem e crescerem.

Segundo, não basta ter uma boa ideia. Ela tem que ser validada no mercado. E o mercado, em especial na área de tecnologia, é global. Tem que validar a ideia fora das fronteiras mineiras, já que o mercado está lá fora.

Terceiro, ficar só esperando capital do estado, sem a  start up ter se consolidado com capital que exige resultados, é jogar dinheiro fora. Dinheiro do contribuinte. O Estado não confere resultados empresariais, então os jovens recebem o capital inicial, gritam e se entusiasmam muito, se iludem, mas os resultados não são nem cobrados e pior, nem esperados. É uma noite de verão.

Quarto, a inovação mais importante e eficaz deve ser feita  através de criação de start ups nas grandes empresas, que  são tradicionalmente pouco inovadoras. A Cemig, Copasa, Usiminas, Localiza, MRV etc., possuem esse sistema? Elas têm problemas, precisam inovar e são clientes. E mais, como ficam os setores de agro-negócios que precisam de mais do que a indústria?

Aliás, vale a pena ver o que São Paulo, através de programa da Fiesp e novo governo municipal chamado SP 4.0 estão fazendo. Objetivos, meios e fins para se tornar uma das mais inovadoras e competitivas sociedades do planeta.

DOS NOVOS TRUMPS E TEMPOS

DOS NOVOS TRUMPS E TEMPOS

Falar em grandes surpresas com eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos é desconhecer simplesmente que entre os dois candidatos antagônicos, Clinton e Trump, e nas pesquisas muito, mas muito próximos, um ia ganhar. E o que ganhou, ganhou por uma margem tênue, que alias divide o eleitorado americano quase que igualmente meio a meio. As explicações da vitória e da derrota são cheias dos mais profundos e divergentes textos filosóficos e análises políticas, mas o fato é que, por incrível que pareça, os eleitores votaram contra um terceiro mandato de Obama. Esse mesmo presidente, que nos admiramos tanto, e que administrou o desastre econômico, financeiro e militar que os republicanos deixaram após 2008. Não vamos nos esquecer da crise financeira, imobiliária e das consequências da guerra no Iraque e no Afeganistão, que Obama teve que administrar.

Agora, o que vale são as pretensões e previsões. Os  Estados Unidos, irrequietos com a eleição, já se levantaram. Protestos contra a eleição de Trump e, se lembrarmos dos inúmeros protestos pela morte de negros por policiais brancos mais recentemente, podem se alastrar. Trump terá que transformar o discurso em ação, para justificar a sua eleição. E aí começa a verdadeira batalha: como re-erguer as fábricas destruídas e criar mais empregos. A General Motors acabou de anunciar que vai demitir 2.000 funcionários, justamente nos estados que deram maioria a Trump: Ohio e Michigan. Do discurso para a ação, há um oceano de distância, com águas profundas.

Há ainda o medo de políticas de imigração do novo governo. Os Estados Unidos têm há muito tempo políticas rígidas quanto à imigração ilegal. Alias, não são únicos no mundo. Agora a maneira de executar essa política pode piorar e o receio de 750 mil brasileiros ilegais nos Estados Unidos não deixa de ter razão de ser. Imagine o que acontece se eles forem deportados ou confinados em prisões. O pior será com os centro-americanos e mexicanos. Mas, aí a economia norte-americana para, porque o trabalhador branco norte-americano, que votou no Trump porque lhe prometeu emprego, não faz o que o imigrante faz. São classes de trabalhadores diferentes.

Na política externa, (como na interna, onde Trump fez barba e bigode, elegendo a maioria no Congresso e no Senado) há que aguardar e ter esperança em que a beligerância verbal não provoque mais conflitos. Sem dúvida, a relação com Cuba e Venezuela será diferente, mas com o Brasil, do qual Trump sabe pouco, porque não tem negócios significativos aqui, pode ficar na mesma ou não. Agora, é esperar para ver, rezando para que não piore.

Monday, 7 November 2016

DAS ELEIÇÕES NA TERRA DO TIO SAM

DAS ELEIÇÕES NA TERRA DO TIO SAM

Mal saímos do segundo turno das eleições municipais, com troca de insultos da melhor qualidade,  e dívidas de campanha que ninguém sabe de onde vai sair dinheiro, e já estamos no final de uma eleição que não é nossa, mas não deixa de nos afetar. As eleições presidenciais e para o legislativo nos Estados Unidos são importantes e fundamentais para o nosso futuro. Não vamos exagerar e dizer que "para onde vão Estados Unidos, vai o Brasil", mas  que o resultado das eleições no irmão do norte (se podemos chamar os Estados Unidos de país irmão) nos afeta profundamente, afeta.

Primeiro, nos Estados Unidos há o maior contingente de brasileiros no exterior. Então as políticas de imigração, sejam para os imigrantes ilegais  ou legais, são de fundamental interesse para nós. As cidades como Catas Altas, Governador Valadares e outras vivem praticamente do dinheiro enviado pelos brasileiros trabalhando lá. E muitos deles são ilegais para o governo norte-americano, independentemente de quem for eleito. E mais, se a economia norte-americana americana vai mal, então, os trabalhadores,  e em especial os estrangeiros, vão pior.

Esse aspecto econômico, ou seja a recuperação econômica dos Estados Unidos,  tem muito a ver com a nossa economia. Se no novo governo os juros  nos Estados Unidos aumentarem, isso afeta não só o endividamento do governo federal e estadual, que tem dívidas em dólar, mas também das empresas que se endividaram muito porque os juros eram baixos. E já que falamos em dólar, se ele se mantiver valorizado, forte, nossas exportações são beneficiadas, porque aí a importação fica mais barata. Mas, dólar  valorizado também afeta o valor do real.

O mercado norte-americano que, dependendo de novos rumos da economia, pode ficar mais protegido do que está, é fundamental para as exportações brasileiras. E mais: os investimentos dos Estados Unidos são fundamentais para Brasil. Apesar de que hoje estamos todos encantados com o dinheiro chinês, são as empresas  norte-americanas  que mantêm os empregos e a competitividade da indústria brasileira. E, entre elas, há que se destacar agora a Fiat Chrysler, que deixou de ser italiana para ser um gigante da indústria automobilística norte-americana.
Sempre é bom esperar o que vai acontecer após as eleições, não só quem vai ganhar, mas se vai ter a maioria parlamentar para governar. Mas, seja como for, as incertezas eleitorais são grandes e elas se juntam às nossas incertezas. Portanto, agora é  hora de espera para ver o que acontece.

Friday, 4 November 2016

DAS INCERTEZAS E CERTEZAS AMERICANAS

DAS INCERTEZAS E CERTEZAS AMERICANAS

Na próxima terça feira haverá eleições, aliás com a possibilidade de votação antecipada já em curso, nos Estados Unidos da América. No país mais desenvolvido, mais avançado tecnologicamente, mais forte militarmente e maior centro financeiro do mundo.  E mais: o exemplo de democracia ocidental com seus valores transportados aos quatro cantos deste planeta. E líder nas corrida espacial, conquistando Marte, Lua e não sei mais o quê. Em resumo: que manda no mundo de hoje.

Os quatro candidatos, dois de partidos tradicionais e fortes, democratas, cuja candidata é a esposa do ex-presidente Bill Clinton, Hillary, e republicanos cujo candidato é Donald Trump, empresário, hoteleiro. Os dois candidatos são igualmente mais detestáveis, ou como se diz no linguajar eleitoral, tem maior índice de rejeição da história das eleições norte-americanas. Em resumo, tem mais gente que não gosta deles, do que gente que admira, gosta e confia. A campanha foi um terror em termos de acusações pessoais, de baixaria, de qualificações e desqualificações. Quase poderíamos  dizer que  se existisse alguma censura para esse tipo de debates, seria proibido para qualquer pessoas honesta, de bom senso e educada, assistir. Falaram mais mal um do outro do que qualquer outra coisa, e olha que, na verdade, com razão os dois tem uma história de arrepiar cabelo quando se examina o que fizeram, deixaram de fazer ou pagar, ou como se comportaram.

Mas, o fato é que estão aí, e um deles será eleito o líder do mundo, como presidente dos Estados Unidos. As pesquisas balançam e de fato todas as previsões indicam imprevisibilidade de resultados.

A única certeza que temos é a total incerteza sobre o resultado de eleições, e mais o que de fato vai acontecer em seguida. Nenhum dos eleitos terá a maioria a favor, sendo que estão em curso também as eleições para a Câmara dos Deputados e Senado. E elas vão indicar a governabilidade do novo presidente. Se ganhar a democrata Hillary, mas a maioria republicana ganhar uma das duas casas legislativas, será um inferno para governar. E vice-versa, se ganhar Trump, também será.

Neste momento só nos cabe entender o nível de incertezas que nos cercam não só nas eleições, mas no período seguinte. A única certeza passa a ser a incerteza. E temos que estar preparados para isso. Novo governo, novas ideias, novos tempos. E nós continuamos abaixo de Equador, paralelo 20, onde sempre estivemos.

Sunday, 30 October 2016

AS LIÇÕES DO CETA PARA O MERCOSUL

AS LIÇÕES DO CETA PARA O MERCOSUL

A semana agitada de negociações finais do CETA, sigla em inglês para o Acordo Abrangente Econômico e de Comércio entre o Canadá e a União Europeia, que ainda precisa ser ratificado pelos 36 parlamentos dos estados-membros da UE, deixou lições importantes para a realidade que enfrentamos nas negociações entre o Mercosul e o bloco europeu.
A primeira é que as declarações de ministros brasileiros, de que o acordo será concluído em 2018, demonstram claramente a falta de conhecimento sobre o que estão falando. E denunciam uma certa ignorância sobre o funcionamento do sistema. O acordo entre um único país — no caso, o Canadá — e a UE levou sete anos para ser fechado — e  sua assinatura foi adiada por uma razão que parece estranha aos ouvidos de quem imagina que acordos como esse se resolvem com uma ordem de cima para baixo. Uma única província da Bélgica, a Valonia, que abriga menos de 1% da população europeia, rejeitou o acordo. Isso obrigou à renegociação das 1600 páginas do acordo e levou à inclusão no documento de quatro novas páginas com as propostas dos valões.
O Mercosul não exige que os acordos internacionais sejam ratificados em referendos. Mas há divergências às vezes intransponíveis entre os pontos de vista dos países membros. A atual situação da Venezuela — país no qual a União Européia tem fortes interesses econômicos —, por exemplo, torna o processo de negociação especialmente complexo. No passado recente, a Comissão Européia, através de sua Direção de Comércio, tinha um mandato negociador que ignorava os movimentos sociais, os estados membros e o próprio Parlamento europeu.
Hoje a situação mudou. Não só pelo fato de a ratificação dos tratados precisar ser feita pelos parlamentos regionais (como o caso da Valonia, que abriga as comunidades germânica e flamenga da Bélgica), mas também porque muitos governos europeus levam a ratificação a consulta popular. Recentemente, a população holandesa rejeitou o acordo entre UE e Ucrânia. Em resumo: os burocratas da Comissão Europeia, adorados pelos burocratas do Mercosul, podem negociar o que quiserem. Mas o que eles acertam precisa do respaldo dos outros atores políticos da UE. Para usar a velha gíria do futebol, se não “combinar com os russos”, não tem acordo.
Como o Brail é, querendo ou não, o país líder do Mercosul e tem a maior rede e o maior peso diplomático entre os países membros da região, é provável que o papel de negociar os termos do acordo sobre para sua diplomacia. É ela quem terá que obter o mandato dos demais sócios do Mercosul e se desdobrar para convencer
Como o Brasil, é querendo ou não, país líder do Mercosul e tem a maior rede diplomática nos países da UE, é provável que esse papel sobre para convencer todos os atores políticos e econômicos na Europa de que o acordo é bom para eles.
O episódio envolvendo o Canada, um pais amigo "mal tratado", como disse a ministra canadense de comércio internacional, mostra a nova face dos acordos internacionais firmados pela União Europeia. Atualmente, a UE está negociando cerca de 20 acordos comerciais. Um deles, com os Estados Unidos.
O jogo mudou. Não começou um segundo tempo. Começou um novo jogo, diferente e mais complexo. E essa complexidade passa pela própria situação europeia mas pelas próprias mudanças ocorridas nos países do Mercosul. Prometer resultados num cenário como esses pode gerar frustrações. O acordo com o Canadá está aí para não nos deixar mentir.
Contar com o acordo entre o Mercosul e a UE para a expansão dos negócios internacionais do Brasil é difícil, senão impossível, a médio prazo. A solução, talvez, seja encontrar outros caminhos, como uma parceria estratégica entre o Brasil e a UE. Talvez seja mais fácil e rápido buscar acordos específicos, como na área de ciência, ou reforçar as relações bilaterais. Algo que, aliás alguns estados membros da UE, como a Itália, Franca, Alemanha, já estão fazendo. O tempo é de novos desafios. Sem ilusões e declarações sem fundamento.