DO NAUFRÁGIO DA DECÊNCIA
O naufrágio de emigrantes africanos no Mar Mediterrâneo não é nenhuma novidade. A novidade é o número, que beira a 1000 pessoas desaparecidas, e o espanto dos políticos europeus com a notícia. Parece que os europeus, e em especial os burocratas da Comissão Européia, não vivem no seu próprio continente, não vêem o noticiário de televisão e esperam que a CNN pomposamente declare que no mar que cerca uma boa parte do continente europeu há centenas de pessoas se afogando na travessia para um mundo supostamente melhor.
Até o Papa Francisco já esteve em Lampedusa e rezou pelos mortos nos naufrágios anteriores. As imagens de africanos forçando as portas de entrada pela Espanha e Gibraltar são antigas e se repetem como uma novela. E aí tem mais centenas de milhares de sírios fugindo dos conflitos naquele país, campos de refugiados na Somália e outros países africanos e no Oriente Médio. E o conflito na Ucrânia? Lá também há milhares de refugiados e nenhuma perspectiva de uma solução que traga paz à região.
O governo turco, em um outro palco de divergências, chama de volta o seu Embaixador na Áustria porque o parlamento austríaco declarou que ocorreu há mais de cem anos um genocídio quando os turcos, nos anos finais do Império Otomano, assassinaram milhões de armênios. Até o Papa Francisco também disse isso, mas os turcos insistem que aquela matança nada teve a ver com genocídio. Pelo menos após 70 anos do final da Segunda guerra mundial os alemães colocaram em julgamento um ex-oficial da famigerada SS, que contava o dinheiro e pertences roubados aos judeus no campo de concentração de Auschwitz. O Contador de Auschwitz viveu 70 anos tranquilo, mas a justiça chegou.
E, no meio dessa situação, crescem os partidos de extrema direita, os radicais islâmicos e a xenofobia, que aliás teve também seu dia na África do Sul. A Europa, berço de grandes pensadores e da democracia, simplesmente não consegue criar um multiculturalismo capaz de lhe dar paz e prosperidade. Os países europeus são os maiores contribuintes de ajuda aos países em desenvolvimento, mas mesmo assim não conseguem avaliar que essas políticas, e suas intervenções militares junto com a OTAN, produzem resultados tão desastrosos como vimos esta semanas. É muito lamentável e muito preocupante. Muito, mas muito mesmo.
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