Da Dona Sinha da eletrônica
Em um vale cheio de fazendas de café, no Sul de Minas, nasceu uma jovem que, por destino, viajou, casada com um diplomata, pelo mundo. E em 1959, trouxe, depois de viver no Japão, onde o país se re-erguia, após a Segunda Guerra Mundial, a idéia de fazer uma escola técnica de eletrônica. A primeira da América Latina, em um lugar chamado Santa Rita de Sapucaí. E após a escola técnica que leva o nome do pai da jovem e passou a se chamar Dona Sinhá Moreira, nasceu a escola de engenharia INATEL, a faculdade de administração de empresas e um polo tecnológico de eletrônica que se chama Vale de Eletrônica. E veio o SENAI, com equipamentos de última geração e mais e mais.
As 154 empresas do Vale da Eletrônica, no meio desse nada para os teóricos do desenvolvimento e os agentes governamentais, aumentaram o faturamento, as exportações e número de empregados. Aliás, o prêmio com nome da Dona Sinhá, oferecido pelo eficiente Sindicato da Indústria Eletro-Eletrônica do Vale, SINDIVEL, é dado às empresas que mais aumentaram o número de funcionários e que alcançaram o mais alto nível de inovação. A disputa é ferrenha, porque todo mundo no Vale da Eletrônica é competitivo e quer progredir. Mas, também é unido, oficialmente no cluster eletro-eletrônico, mas extra-oficialmente em um projeto imaginário de cooperação, competitividade e alianças pelo bem-estar da sociedade. O prefeito eleito já quatro vezes é um prefeito de toda a cidade e não só dos industriais. O INATEL, instituição de educação tecnológica que hoje já atua em São Paulo e no exterior, é junto com o super moderno laboratório de protótipos do SENAI, fornecedora de tecnologia, pesquisa e educação da mais alta qualidade. Não há desemprego, não há negativa rivalidade. As empresas, que possuem nos seus quadros inúmeros doutores em ciência, são também empresas onde toda a família está empregada e colaborando.
O Vale da Eletrônica parece uma ilha no meio de um oceano revolto em escândalos, dificuldades, políticas e não sei mais o quê. Mas, deixa lições importantes, que estão sendo pouco aproveitadas. Ninguém lhe traz desenvolvimento. Você, como Dona Sinhá Moreira e seus descendentes diretos e indiretos, tem que trabalhar, ter visão, ser ousado e o mundo é o seu mercado. Não precisa perder raízes, mas deixar a porta aberta para que a inovação, em todos os sentidos e e em todas as áreas que permeiam a sociedade, domine seu futuro.
No meio dos cafezais, mesmo lutando contra a invasão do narco-tráfico na região e outras mazelas (como a estrada que liga o Vale da Eletrônica com a Fernão Dias já asfaltada, mas não sinalizada e muito menos iluminada, como deveria ser), o pessoal pensa estrategicamente, com apoio do SEBRAE Minas, nos próximos 20 anos. Em um negócio super competitivo, como ser líder e não sobrevivente.
Se a estória de que a felicidade do mineiro é a vaca morta do vizinho, que assim os dois não tem vaca ou um tem uma a mais, precisa ser desmentida, ela o foi por Dona Sinhá Moreira e os seus sucessores no Vale da Eletrônica. O fracasso de um é insucesso de todos, e o sucesso de todos, é de cada um.
Stefan SALEJ
28.11.2014.
politica internacional, visao de Europa,America Latina,Africa, economia e negocios international politics, business, Latin America-Europa-Africa
Saturday, 29 November 2014
Friday, 28 November 2014
DA BAIXA DO PETRÓLEO
Da baixa do petróleo e minério de ferro
O preço do barril de petróleo está no nível mais baixo dos últimos dez anos, beirando 70 dólares norte-americanos. No início deste ano, estava em torno de 110 dólares. E o cartel dos produtores, reunido em uma organização chamada OPEC, com sede na Áustria, ainda decidiu reduzir a produção atual, o que levou a uma nova baixa do preço do barril. E com o preço do petróleo baixaram, sem correlação direta, também o preço do mineiro de ferro, igualmente em torno de 70 dólares a tonelada, milho, soja, o café esta ainda com preço bom e mais as carnes, sem falar no frango. Em resumo, os preços das matérias primas estão baixando. Até quando e quais níveis vão atingir, ninguém sabe.
Voltando ao petróleo, vale a pena lembrar que os Estados Unidos estão beirando a independência na área de energia. O preço baixo vai acelerar o crescimento norte-americano, vai evitar uma crise maior nos países europeus, em especial durante o inverno, quando o consumo de gás aumenta, mas vai prejudicar em grande escala a Rússia, grande exportadora de petróleo e gás, os países árabes e a nossa querida Venezuela. A entrada menor de divisas oriundas de petróleo vai afetar os investimentos em todos esses países. Na vizinha Venezuela, tecnicamente quebrada já com o preço do barril a 120 dólares, o desastre não tem hora para acontecer, porque já aconteceu. E esses países de petrodólares, que eram bons clientes para os produtos brasileiros, vão ter dificuldades em aumentar as compras e pagar as contas. Esse é também o caso de Bolívia, onde o preço do gás não trará mais a abonança dos últimos anos.
Com o preço do petróleo mais baixo, o preço de gasolina baixa. Aliás, isto já está acontecendo nos Estados Unidos e na Europa. Como nós fazemos parte deste mundo desenvolvido e somos produtores de jabuticaba, aqui as coisas são diferentes. Os valores de nossos negócios com petróleo, do qual o Brasil, é exportador, vão realmente sofrer viés de baixa. Vamos pagar menos pelas importações e receber menos pelas exportações. Mas, como vão ficar os nossos investimentos para a exploração de petróleo em águas profundas ou no pré-sal? Todos os cálculos de investimentos foram feitos com o barril acima de 100 dólares ou até muito mais. Com a tendência de baixa do preço do petróleo, os investimentos não vão cobrir os custos.
E aí sobrou de novo para o consumidor. Como sobraram os altos custos dos demais investimentos na área no Brasil, a eles se adiciona a conjuntura do preço baixo, e temos mais uma razão para o aumento da gasolina e derivados no Brasil.Ou seja, estamos presos a um modelo de negócio na área econômica onde as decisões na área energética e a dependência de exportações de matérias primas nos levam sim, a um beco sem saída. E aí que podemos falar de crise que vem de fora, mas que a administração interna não sabe gerir. A baixa do petróleo, que nos deveria beneficiar, parece mais uma corda no pescoço do que o lenço da salvação.
Stefan Salej
27.11.2014.
O preço do barril de petróleo está no nível mais baixo dos últimos dez anos, beirando 70 dólares norte-americanos. No início deste ano, estava em torno de 110 dólares. E o cartel dos produtores, reunido em uma organização chamada OPEC, com sede na Áustria, ainda decidiu reduzir a produção atual, o que levou a uma nova baixa do preço do barril. E com o preço do petróleo baixaram, sem correlação direta, também o preço do mineiro de ferro, igualmente em torno de 70 dólares a tonelada, milho, soja, o café esta ainda com preço bom e mais as carnes, sem falar no frango. Em resumo, os preços das matérias primas estão baixando. Até quando e quais níveis vão atingir, ninguém sabe.
Voltando ao petróleo, vale a pena lembrar que os Estados Unidos estão beirando a independência na área de energia. O preço baixo vai acelerar o crescimento norte-americano, vai evitar uma crise maior nos países europeus, em especial durante o inverno, quando o consumo de gás aumenta, mas vai prejudicar em grande escala a Rússia, grande exportadora de petróleo e gás, os países árabes e a nossa querida Venezuela. A entrada menor de divisas oriundas de petróleo vai afetar os investimentos em todos esses países. Na vizinha Venezuela, tecnicamente quebrada já com o preço do barril a 120 dólares, o desastre não tem hora para acontecer, porque já aconteceu. E esses países de petrodólares, que eram bons clientes para os produtos brasileiros, vão ter dificuldades em aumentar as compras e pagar as contas. Esse é também o caso de Bolívia, onde o preço do gás não trará mais a abonança dos últimos anos.
Com o preço do petróleo mais baixo, o preço de gasolina baixa. Aliás, isto já está acontecendo nos Estados Unidos e na Europa. Como nós fazemos parte deste mundo desenvolvido e somos produtores de jabuticaba, aqui as coisas são diferentes. Os valores de nossos negócios com petróleo, do qual o Brasil, é exportador, vão realmente sofrer viés de baixa. Vamos pagar menos pelas importações e receber menos pelas exportações. Mas, como vão ficar os nossos investimentos para a exploração de petróleo em águas profundas ou no pré-sal? Todos os cálculos de investimentos foram feitos com o barril acima de 100 dólares ou até muito mais. Com a tendência de baixa do preço do petróleo, os investimentos não vão cobrir os custos.
E aí sobrou de novo para o consumidor. Como sobraram os altos custos dos demais investimentos na área no Brasil, a eles se adiciona a conjuntura do preço baixo, e temos mais uma razão para o aumento da gasolina e derivados no Brasil.Ou seja, estamos presos a um modelo de negócio na área econômica onde as decisões na área energética e a dependência de exportações de matérias primas nos levam sim, a um beco sem saída. E aí que podemos falar de crise que vem de fora, mas que a administração interna não sabe gerir. A baixa do petróleo, que nos deveria beneficiar, parece mais uma corda no pescoço do que o lenço da salvação.
Stefan Salej
27.11.2014.
Friday, 21 November 2014
DA ESCOLA TÉCNICA DE FORMAÇÃO GERENCIAL
Da Escola Técnica de Formação Gerencial
Há vinte anos começou em Belo Horizonte, pelo SEBRAE Minas, um projeto ousado e inovador: uma escola de nível médio para gerentes. A necessidade de educar quadros gerenciais para as empresas em crescimento e dar também oportunidade a jovens que queriam ser empresários é que moveu os fundadores para estabelecerem esse projeto. Buscou-se um exemplo no mundo que poderia ser adaptado às condições sócio-econômicas e culturais do Brasil. Após uma minuciosa pesquisa, optou-se pelo modelo austríaco, já em atividade desde 1852, e com enorme sucesso, em especial quanto à longevidade das empresas.
O projeto recebeu entusiástico apoio do então Secretário de Educação de Minas, Walfrido dos Mares Guia, e das lideranças empresariais que faziam parte do Conselho Deliberativo do SEBRAE Minas. De minucioso planejamento passou-se à execução, e então o projeto recebeu apoio técnico inestimável da equipe pedagógica do Colégio Pitágoras, de onde também vieram seus primeiros diretores: professor Clemenceau e professora Dayse. Os austríacos colaboraram, o pessoal do SEBRAE nacional olhava com desconfiança, mas após quatro anos formou-se a primeira turma.
Começaram escolas em vários outros lugares de Minas, formou-se uma metodologia própria e adotou-se a metodologia de empresas simuladas de forma pioneira na América Latina. Nestes vinte anos, as ETFG's em Minas formaram mais de 8.000 alunos, dos quais a absoluta maioria continuou a sua carreira acadêmica na universidade e muitos, mas muitos deles, não só exercem cargos executivos nas empresas como se tornaram empresários. E o modelo de tutores e outros instrumentos que foram introduzidos no projeto pedagógico garantiram uma relação proveitosa entre a realidade empresarial e o ensino.
O projeto foi adaptado aos novos tempos, não só de uso de tecnologias, mas também de inovações na área de gestão de empresas e também de empreendedorismo. De um lado, educar gerentes inovadores e com visão, e de outro lado, empresários ou empreendedores com bons conhecimentos de técnicas de gerência. Duas faces de uma moeda só: sucesso da empresa mineira, seja do ponto de vista do mercado financeiro, seja do ponto de vista social.
Novos cursos, como o Projeto Plug, destinado em especial aos alunos das escolas públicas, cursos noturnos, ampla divulgação de matérias ligadas a gerência e empreendedorismo nas escolas públicas, projeto Vitrine e mais e mais, firmaram um projeto de sonho daquela época em uma realidade que provocou efetivamente melhoria de desempenho das empresas mineiras e aumentou a sua vida. E mais: trouxe para o mercado uma leva de profissionais-empreendedores de qualidade internacional, que estão mudando a face da economia mineira.
Exemplos disso não faltam. É só olhar e ver empresas novas bem sucedidas e seus profissionais oriundos das hoje chamadas Escolas de Formação Gerencial. Mudou o nome, mas agora cabe preservar o conceito bem sucedido e que faz de Minas um lugar especial.
Stefan B. Salej
20.11.2014.
Há vinte anos começou em Belo Horizonte, pelo SEBRAE Minas, um projeto ousado e inovador: uma escola de nível médio para gerentes. A necessidade de educar quadros gerenciais para as empresas em crescimento e dar também oportunidade a jovens que queriam ser empresários é que moveu os fundadores para estabelecerem esse projeto. Buscou-se um exemplo no mundo que poderia ser adaptado às condições sócio-econômicas e culturais do Brasil. Após uma minuciosa pesquisa, optou-se pelo modelo austríaco, já em atividade desde 1852, e com enorme sucesso, em especial quanto à longevidade das empresas.
O projeto recebeu entusiástico apoio do então Secretário de Educação de Minas, Walfrido dos Mares Guia, e das lideranças empresariais que faziam parte do Conselho Deliberativo do SEBRAE Minas. De minucioso planejamento passou-se à execução, e então o projeto recebeu apoio técnico inestimável da equipe pedagógica do Colégio Pitágoras, de onde também vieram seus primeiros diretores: professor Clemenceau e professora Dayse. Os austríacos colaboraram, o pessoal do SEBRAE nacional olhava com desconfiança, mas após quatro anos formou-se a primeira turma.
Começaram escolas em vários outros lugares de Minas, formou-se uma metodologia própria e adotou-se a metodologia de empresas simuladas de forma pioneira na América Latina. Nestes vinte anos, as ETFG's em Minas formaram mais de 8.000 alunos, dos quais a absoluta maioria continuou a sua carreira acadêmica na universidade e muitos, mas muitos deles, não só exercem cargos executivos nas empresas como se tornaram empresários. E o modelo de tutores e outros instrumentos que foram introduzidos no projeto pedagógico garantiram uma relação proveitosa entre a realidade empresarial e o ensino.
O projeto foi adaptado aos novos tempos, não só de uso de tecnologias, mas também de inovações na área de gestão de empresas e também de empreendedorismo. De um lado, educar gerentes inovadores e com visão, e de outro lado, empresários ou empreendedores com bons conhecimentos de técnicas de gerência. Duas faces de uma moeda só: sucesso da empresa mineira, seja do ponto de vista do mercado financeiro, seja do ponto de vista social.
Novos cursos, como o Projeto Plug, destinado em especial aos alunos das escolas públicas, cursos noturnos, ampla divulgação de matérias ligadas a gerência e empreendedorismo nas escolas públicas, projeto Vitrine e mais e mais, firmaram um projeto de sonho daquela época em uma realidade que provocou efetivamente melhoria de desempenho das empresas mineiras e aumentou a sua vida. E mais: trouxe para o mercado uma leva de profissionais-empreendedores de qualidade internacional, que estão mudando a face da economia mineira.
Exemplos disso não faltam. É só olhar e ver empresas novas bem sucedidas e seus profissionais oriundos das hoje chamadas Escolas de Formação Gerencial. Mudou o nome, mas agora cabe preservar o conceito bem sucedido e que faz de Minas um lugar especial.
Stefan B. Salej
20.11.2014.
DA IMIGRAÇÃO E DOS IMIGRANTES
Da imigração e dos imigrantes
O Presidente dos Estados Unidos comunicou nesta semana que, usando seus poderes presidências e sem submeter o assunto ao Congresso, vai permitir a regularização dos imigrantes ilegais naquele país. São 5 milhões que, segundo a legislação atual norte americana, deveriam ser expulsos dos Estados Unidos. Estão incluídos inclusive filhos deles já nascidos nos Estados Unidos, e, como disse o Presidente Obama no seu discurso, podem ser amigos e colegas das suas filhas, crianças que nasceram nos Estados Unidos, não são cidadãos estadunidenses, mas vivem lá e são como os demais cidadãos daquele país.
A primeira pergunta vem daquele que sofre para obter visto norte-americano: como isso foi sequer possível em um país tão controlado, exigente e de certa maneira militarizado, onde tantas pessoas vivem na ilegalidade. O pessoal de Governador Valadares, onde existia a melhor falsificação dos vistos para os Estados Unidos que o diga! O que às vezes vimos nos filmes quanto à perseguição dos imigrantes ilegais, em especial vindos via fronteira mexicana, não é ficção, é a triste e cruel realidade dessas pessoas. A perseguição a essa ilegalidade nos Estados Unidos é tão forte que até uma candidata a Ministra da Justiça teve que renunciar, porque tinha uma empregada morando ilegalmente no país.
O fato é que essa medida vai resolver um enorme problema para os próprios Estados Unidos, sem falar em milhares de brasileiros que se encontram na situação de ilegais. O Presidente Obama teve uma coragem política ímpar para cortar o nó górdico de uma pendência que se arrastava há décadas. Mas, isso lhe custou a ira dos republicanos, que usam essa questão na política, para promover um americanismo irracional e conservador. Obama usou as palavras do ex-Presidente Bush, aquele da guerra do Iraque, que disse que os Estados Unidos são um país de imigrantes e portanto todos são imigrantes. Os novos e os velhos. Mas, isso não adiantou em nada. Os republicanos, que terão a maioria no congresso a partir de janeiro, vão tentar derrubar essa decisão unilateral do Obama e fazer a vida dele um inferno. Mas, assim é a política nos Estados Unidos,
Na volta do crescimento, os Estados Unidos precisam de sangue novo para trabalhar para os atuais nativos. Aceitam bem os formados nas universidades, e não tem nenhum escrúpulo em empregar a mão de obra ilegal nas fazendas. Essa mão de obra é mais barata, mas também não contribuí com os impostos e nem com o sistema de saúde. A solução que Obama deu também vai ajudar a economia americana tanto com mão de obra legalizada como também com o caixa do governo.
Para os brasileiros que moram lá ilegalmente pode ser um alívio. Mas também levanta a questão dos imigrantes ilegais no Brasil. Estamos fechando os olhos, como se não os tivéssemos. Às vezes surgem alguns haitianos ou bolivianos, mas não temos uma política de imigração consensual e nem clareza do que está acontecendo. E, com a nossa população envelhecendo e mudando de patamar educacional, cabe bem a pergunta, o que vamos fazer. No final de contas só os índios são nativos. Todos os demais somos imigrantes.
Stefan Salej
20.11.2014.
Friday, 14 November 2014
DO MUNDO QUE MUDOU PARA ASIA
Do mundo que mudou para a Ásia
O mundo se mudou esta semana para a Ásia. Primeiro aconteceu a reunião dos países do Pacífico, entre os quais México, Peru e Chile, nossos parceiros latino-americanos, em Beijing. A ridícula exibição de galantearia do Presidente Putin da Rússia, cobrindo a primeira dama chinesa com um manto por causa do frio, não ofuscou a visita de Estado, o mais alto nível de visita de um chefe de Estado, do Obama à China. E muito menos ofuscou um acordo importantíssimo na área de mudanças climáticas, que os dois maiores poluidores do mundo, China e Estados Unidos, fizeram. E mais: os apertos de mão dos dirigentes da China e Japão, que estão brigando pelas ilhas no mar do Sul da China, além das ainda não esquecidas atrocidades japonesas na China na segunda guerra mundial. Em resumo: além do espetáculo de organização chinesa, muitas conversas à parte e nos bastidores, mas os principais atores eram Obama, Putin e Xi.
Vale a pena lembrar que ainda os russos confirmaram o fornecimento de gás para a China, o que ajuda a economia russa, muito dependente dos fornecimentos à Europa, e a China, que com isso ganha segurança energética. Os dirigentes andaram nas nuvens, esquecendo os problemas domésticos, como o mexicano Peña Nieto, o assassinato de 43 estudantes pelos narco-traficantes, Obama, as guerras no Oriente Médio e os inimigos islâmicos, além de seu partido democrata ter perdido as eleições, e Putin, a guerra na Ucrânia.
E de Beijing, a maioria deles, mas não todos, foram a Brisbane, na Austrália, para a reunião do G-20. Neste grupo está o Brasil, Alemanha, e outros do grupo G-7 ( antes G-8 e agora, com a exclusão da Rússia, G-7) e todos os membros dos BRICS. Aí o jogo terá ou segundo tempo ou prorrogação. Sob liderança dos australianos, esse grupo pretende dar uma nova esperança ao mundo, propondo um plano global de desenvolvimento, em especial da sua infraestrutura. Ou seja, um PAC mundial, que aliás terá a apresentação de projetos brasileiros em curso e desejados como parte desse esforço. Portanto, a prioridade dos 20 países mais importantes do planeta será infraestrutura, não fome, não educação, não saúde. E isso com a Ebola andando junto com a dengue e a malária solta pelo mundo.
Houve também, sob presidência brasileira, uma reunião dos dirigentes dos BRICS, onde a implementação do Novo Banco de Desenvolvimento, com sede na China, e com bloqueio aparente da OECD, a organização econômica dos países mais ricos, da qual os países BRICS não fazem parte, foi o tema principal. As reuniões como a da nossa Presidente com Obama e Angela Merkel foram de uma importância fundamental para a expansão de nossas exportações e vinda de investimentos.
E o show da diplomacia norte-americana, que escolheu a Ásia como a sua prioridade, teve o seu ponto alto no entendimento com a Índia. Os americanos convenceram o Primeiro-Ministro indiano Modi a destravar as negociações na OMC e, com isso, deram um novo impulso à Organização Mundial do Comércio e ao seu diretor brasileiro.
Em resumo, o show foi do Obama, Xi e Modi. A Ásia como um todo é a prioridade.
Stefan Salej
14.11.2014.
Thursday, 13 November 2014
DA CAPOEIRA e MUSICA
Da Capoeira e música
Bem lá na ponta da África, na Cidade do Cabo, você assiste, na melhor universidade africana e uma das melhores do mundo - cinco prêmios Nobel ( Brasil não possui nenhum), a Universidade da Cidade do Cabo, uma apresentação de capoeira. Ano após ano, a apresentação dos capoeiristas, este ano com a presença do lendário Mestre Suassuna, mostra um número maior não só dos participantes mas a firmeza de ensino de capoeira no meio universitário. Os sons e os movimentos se misturam aos sons africanos e seus instrumentos, e os não brasileiros cantam em português brasileiro para encontrarem melhor a harmonia entre o som, o movimento e a letra. Aliás, o português que vai ganhar seu leitorado na mesma universidade, em breve.
Por onde andei e passei pelo mundo, o espetáculo se repete. Os mestres baianos de capoeira, entre eles há muitos mineiros, promovem uma arte com cultura brasileira, de forma incrível. Sempre há bandeira brasileira, canções em português e os mestres são brasileiros. Aliás, para ser mestre em capoeira precisa ter experiência e idade, algo que os gringos ainda não adquiriram. O Cordão de Ouro do Mestre Suassuna está presente em 50 países. Estados Unidos, França, Itália Rússia, Japão e muitos outros. Há outros grupos e pode se dizer que a capoeira é um dos "produtos" mais exportados pelo Brasil. E provavelmente, como envolve menos ganância financeira e disputa que o futebol, é mais marcante na presença a longo prazo da cultura brasileira no exterior. Mas, como foi proibido por muitos anos, ainda não venceu todas as barreiras de ser algo de baianos e africanos.
E aí vem a pergunta: e no Brasil? Capoeira é acessível nas escolas, aos estudantes universitários, às pessoas de todas as idades e classes sociais? Já consideramos capoeira como algo bom para corpo e espírito, para o desenvolvimento de jovens em sentido amplo? Quais escolas e comunidades praticam capoeira?
Já que você está olhando nessa direção, e a educação musical nas escolas? Em 2008, o Presidente Lula sancionou a lei que obriga a implementar o ensino musical nas escolas públicas e privadas. Aliás, essa norma existia antigamente no Brasil e, durante a ditadura militar, acabaram com isso. Deve ter sido por causa do medo de aparecerem outros Chicos Buarques, por sinal arquiteto, ou Geraldos Vandré, conhecido por sua música "Pra não dizer que não falei das flores".
Mas, você olhou se na escola dos seus filhos, netos, estão ensinando música? A absoluta maioria das escolas ainda não começou.
Você pode imaginar como as atividades de capoeira e música poderiam dar novas oportunidades, junto com a prática de esportes, aos nossos jovens? Não só preencheriam o seu tempo ocioso mas apreenderiam a viver e trabalhar em equipe, ser mais criativos. E como me disse uma vez um jovem músico: quem aprende a tocar, quem gosta de música, aprende tudo! Quiças.
Stefan B. SALEJ
12.11.2014.
Thursday, 6 November 2014
DA EBOLA NA NOSSA CASA
Da Ebola em nossa casa
O mundo inteiro só fala em Ebola, doença ainda incurável que assola parte da África e esteve na origem da morte de mais de dez mil pessoas. Tanto a Europa como os Estados Unidos só começaram a se preocupar com ela quando apareceram os primeiros doentes nos seus próprios países e não eram negros africanos. E também aí descobriram, mais uma vez, que ainda não desenvolveram remédios para essa doença terrível e mortífera. As medidas de prevenção, que incluem o envio de tropas militares norte-americanas à África, isolamento de passageiros vindos daquele continente e mais isolamento de pacientes suspeitos, são o único disponível. A cura, que depende de pesquisa e fabricação, ainda demora e esperamos que a doença seja pelo menos limitada, se não isolada, para não se tornar uma epidemia como foi a peste negra há um século atrás, que dizimou gente tanto na Europa como nos Estados Unidos.
No Brasil, não é preciso ter muito receio dessa doença. Se vier algum doente a ser descoberto, as autoridades sanitárias têm condições de fazer o necessário isolamento e provavelmente estancar a propagação da doença. Nesta hora, ajuda a crença de que deus é brasileiro.
Mas, a principal razão de reduzir a nossa preocupação com a ebola é que a ocorrência na área de doenças e epidemias no Brasil é muito forte. Entrando o calor e as chuvas, mesmo com a seca que temos em algumas regiões, o dengue agora com um novo companheiro, com nome esquisito, dominam e mantêm as nossas populações bem ocupadas. Quem não teve e não conhece alguém que já teve dengue? As cidades estão hoje ocupadas por mosquitos e, mesmo após a campanha eleitoral, onde a saúde poderia ter sido um dos mais importantes itens da nova agenda, continuam vulneráveis, com suas populações.
Dengue, doença de Chagas, tuberculose, da qual poucos se gabam e que está presente em grande escala na população brasileira, são só algumas doenças que estão, junto com a AIDS, fazendo parte da condição de saúde do brasileiro. E aí vem a pergunta, porque? É questão do biotipo de população ou do desenvolvimento econômico que gera essas doenças, o clima do país, ou que diabo é isso que temos, por exemplo, a doença de Chagas já há séculos e não a eliminamos e que não damos conta da dengue. E vale a pena lembrar aqui que conseguimos eliminar a terrível pólio.
Entre as inúmeras respostas, está a questão da prioridade política para combater essas doenças. Não do pessoal em Brasília, mas na sua comunidade. Esgoto, canalização, água, tudo o que vem por baixo da terra não interessa aos políticos fazer porque o investimento é alto e dizem que não aparece. Trocar esgoto por iluminação é iluminar a desgraça, mesmo que isso gere certo conforto e segurança. A água, que está faltando para quem a tem, falta muito mais para quem não a tem e não vai ter tão cedo.
E se não se resolver esses problemas, dificilmente vão se resolver os problemas das doenças. A isso se deve também acrescentar a prioridade da pesquisa médica para a saúde pública. Custa dinheiro, é demorada e é dever público. Mas, é dever do cidadão cobrar do seu político, vereador, prefeito, deputado e outros as soluções e prioridades.
Dengue é com você, companheiro!
Stefan Salej
6.11.2014.
DA DIFICULDADE EM TER EMPRESA
Da dificuldade em ter empresa
No campeonato mundial de dificuldades para gerir uma empresa, o Brasil ocupa entre 189 países o desonroso 120° lugar. Ou seja, nós estamos entre os piores do mundo na área de facilitar os negócios. Mas isso qualquer um que trabalha na área empresarial no Brasil sabe. Do padeiro ao industrial, do biscate ao comerciante. Mas, os dados sobre essa situação insustentável foram publicados mais uma vez pelo Banco Mundial, do qual o Brasil faz parte. Um dos dados mais impressionantes é, que entre os dez países mais importantes do mundo, o Brasil no último ano foi o único que não fez nenhuma reforma para reduzir os custos de gestão dos negócios. No Brasil alguns chamam isso do custo Brasil, onde incluem também a questão dos impostos.
A vergonhosa situação que se repete há anos é por demais conhecida por todos e, enquanto há um programa governamental e empresarial claro em outros países para reduzir isso, nos não temos simplesmente um agenda de desburocratização na área empresarial. Para abrir uma empresa no Brasil, segundo o estudo do Banco Mundial, precisa de 120 dias, e estamos em 167° lugar do mundo. Bem, nesta área, o governo federal, com adaptações do Simples, fez alguns avanços que regularizam a situação, em especial dos empreendedores individuais. E para fechar uma empresa, é um verdadeiro inferno, que dura às vezes mais do que a própria vida do empresário.
A esses custos todos, deve-se somar um custo não só dos aborrecimentos que o empresário tem, mas a desfocalização das suas atividades. Em vez de focar na sua principal atividade empresarial, tem que estar atento a uma quantidade enorme de procedimentos burocráticos em todos os níveis, que levam não só ao aumento dos custos, mas principalmente à redução da produtividade empresarial. Simples, o padeiro, em vez de cuidar bem do cliente e fazer um pãozinho melhor e mais barato, tem que dar atenção aos inúmeros fiscais e procedimentos contábeis que infernizam a vida dele e consequentemente prejudicam o seu cliente.
Para as grandes empresas, essa situação é administrado através de departamentos jurídicos e contábeis, mas a maior parte do setor empresarial no Brasil é constituído por pequenas empresas. E a tudo isso devemos adicionar que a complexidade da burocracia exige também uma qualificação melhor dos profissionais da área. E eles se chamam contadores. Agora, chique é estudar administração, não contabilidade. E então, de cursos médios de contabilidade e gerência, como escolas do SEBRAE, nem podemos falar, porque praticamente não existem.
Um grande ilusão é que estas soluções só dependem de Brasília. Os municípios e estados são grandes responsáveis pela maior parte das dificuldades. As licenças de construção, por exemplo, são de responsabilidade dos municípios. Sem falar os impostos e controles municipais na área de serviços e saúde. Os estados são responsáveis pelos cartórios e juntas comerciais, como outro exemplo do que pode melhorar. Em Minas, nós últimos 12 anos, o atraso nessa área reduziu os níveis de competitividade das empresas de forma assustadora, tempo a ser recuperado rápido, antes que seja tarde.
Stefan B. Salej
31.10.2014.
DO MURO QUE CAIU E NÃO CAIU
Do muro que caiu e não caiu
A queda do muro de Berlim, há exatos 25 anos, foi só um momento de um longo processo de mudança do mundo. Os Estados Unidos quebraram a União Soviética e, com o apoio do então Chanceler alemão ocidental Helmut Khol, não só reuniram as duas Alemanhas como mudaram os regimes políticos em toda a Europa do Leste, inclusive na própria Rússia. O mapa geopolítico do mundo mudou. Além de apareceram novos países como a Alemanha reunificada, a Rússia esfacelada e a Iugoslávia desaparecida, e seis novos países, desapareceu da Europa o sistema de governo chamado comunismo. Os Estados Unidos, como campeões da democracia, ganharam novos aliados e enfraqueceram o seu ex-aliado na luta contra o nazismo, a União Soviética, para transformá-la na menor Rússia, inicialmente enfraquecida e empobrecida até os ossos.
O período de transição nesses novos países, sem tradição de economia de mercado e de práticas democráticas, provocou inicialmente uma abertura dos mercados para produtos de consumo, seja dos Estados Unidos ou dos outros países da Europa Ocidental, que incentivou o crescimento europeu. E mais: os processos de privatização transformaram-se em uma oportunidade de ouro, já que as empresas com boa base industrial estavam à venda a preços, como se diz no popular, de banana. É o caso do avanço alemão na base industrial da República Tcheca (que se separou da Eslováquia ). Desta vez não precisaram de usar os tanques, como fizeram os nazistas em 1938: compraram por pouco a indústria, a tecnologia e a mão de obra barata. A Europa ganhou mercado e mais tudo isso.
E com a democratização criaram-se as elites empresariais aliadas aos políticos que depenaram os países e suas economias e criaram alianças corruptas de fazer vergonha a qualquer corrupto latino-americano. Os modelos econômicos implantados, que aliás se espalharam pelo mundo, geraram, mesmo com a adesão da maioria desses países, a crise mais recente e mais profunda da própria União Européia. Não há dúvida nenhuma de que você tem hoje uma Europa com países mais democráticos, mas de duas velocidades na economia e no seu conceito de democracia. Avançaram, como é o caso mais específico da Hungria, os governos democraticamente eleitos de uma direita muito parecida com a aquela que levou à segunda guerra mundial.
A hegemonia dos Estados Unidos ficou mais patente, ao mesmo tempo que a Alemanha ganhou para a maioria dos países do Leste Europeu uma importância fundamental. A Chanceller alemã Merkel é quem dá as cartas na Europa hoje. E os interesses alemães e a visão deles do mundo são os que predominam. Pesam desde a nomeação do ex-Primeiro ministro polonês Tusk para a Presidência do Conselho da União Européia até as privatizações na minúscula Eslovénia. E aí não se pode passar à margem o crescimento e consolidação da Rússia. Talvez quem mais se consolidou como país independente nesse processo, além da própria Alemanha, foi a Rússia.
O Brasil, que reconheceu esse novo mapa rapidamente, ganhou novos mercados e novos espaços de alianças políticas. Há clara consciência de que o muro caiu, mas que os países ainda não foram reconstruídos, o que leva a concluir que o processo de destruição do muro continua, como continua o de construção de uma Europa unida, em paz e em desenvolvimento.
Stefan Salej
6.11.2014.
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