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Friday, 26 September 2014

DOS comoditties incômodas

Das comoditties incomodas

Não há mais nenhuma dúvida, pelos últimos dados divulgados tanto pelo Banco Central brasileiro como pelas autoridades norte-americanas, que o nosso maior problema no próximo ano será no front externo. De certa maneira, com muita variação, a economia mundial se recupera, mas essa recuperação também está gerando um fenômeno conhecido: a superprodução de commodities, sejam elas agrícolas ou minerais. Em resumo, a super-safra de grãos nos Estados Unidos, que são de longe os maiores produtores mundiais de grãos, está provocando uma oferta maior, com a respectiva queda de preços. E o Brasil, que está só aumentando a sua fronteira agrícola, também produziu mais do que o mundo pode absorver.

A composição das exportações brasileiras é absolutamente desastrosa para um cenário mundial em saída de recessão global. As matérias primas e suas poucas melhoras, como cafés especiais, açúcar refinado e similares, representam 75 % da nossas exportações. O minério de ferro teve queda de 40 % neste ano, o que afetou profundamente a receita de exportações. E claro, o resultado das empresas exportadoras. E com exceção do café e do cacau, não há  nenhuma matéria prima que indique que haverá recuperação de preços a curto prazo. E a longo prazo, como disse o consagrado economista do século passado Lord Keynes, todos estaremos mortos.

Com a queda de preços, a alegria de curto prazo de vendermos mais carnes para Rússia, e com a contabilidade criativa e as vendas de petróleo, a diminuição de importação devido à queda de atividades econômicas, conseguiremos este ano um superávit comercial de 3 bilhões de dólares. Miserável. Não dá para pagar a conta de turismo dos brasileiros de um mês, quiçá de um ano, quando passará de 20 bilhões de dólares. E mais 25 bilhões de dólares de remessa de lucros e mais as importações e mais e mais. A diferença entre a saída de dólares e a entrada no seu total vai provocar este ano um deficit de 80 bilhões de dólares.

A entrada de investimentos estrangeiros na sua maioria é financeira, ações e papéis. Leia se especulação. Novos investimentos para gerar empregos, são poucos. E, mesmo assim, bem acolchoados com gordos incentivos. Portanto, com esse cenário, ao qual devemos ainda adicionar as dificuldades dos nossos parceiros quebrados do Mercosul, a absoluta prioridade no próximo ano será a recomposição do balanço de pagamentos externos. Não pela restrição, como a Argentina está fazendo, agora controlando a saída dos passageiros com ridículas 32 informações, sem falar nas restrições de importação, mas com um vigoroso plano de aumento de competitividade da indústria brasileira no nível mundial. E aí,  soma-se um esforço hercúleo para aumento de exportações e  diversificação da pauta e dos mercados.

Minas não precisa só esperar as medidas do governo federal, mas com a sua dependência total de matérias primas na sua matriz econômica, vai passar seus apertos, dos quais vai ter que sair sozinha. É o tempo de oportunidade, como dizem nossos maiores parceiros, os chineses.

Stefan B. Salej
26.9.2014.

Saturday, 20 September 2014

O separatismo escocês e europeu

Do casa, descasa, casa....


A Europa amanheceu na sexta-feira passada aliviada. Londres e sua rainha, sem falar no Primeiro-Ministro britânico, muito mais. A Escócia votou, sob pesada artilharia britânica  e ameaças da União Européia de que não reconheceria o novo país chamado Escócia, pela permanência no Reino Unido. Passou o medo de que a Grã Bretanha passaria a ser chamada de Pequena e o Reino Unido perderia mais um pedaço do seu território e se chamaria simplesmente Reino, sem unir ninguém. Os conservadores britânicos, que ficariam na história como quem conseguiu separar a Escócia do Reino Unido, aliviados, continuam no poder, caçando os islâmicos na ilha e no Oriente Médio.

Assim, após 307 anos que a Escócia faz parte do Reino Unido, tudo continua como antes no quartel do Abrantes. É mesmo, nada mudou? Mudou sim e esse processo de separação da Escócia não terminou, só começou. A parte rica da ilha, com petróleo e identidade própria, Escócia, também é o caso mais gritante de imperialismo inglês que domina a coroa britânica. Foi na Escócia que o neo-liberalismo sanguinário dos conservadores bateu mais e empobreceu mais a região do que em qualquer outra parte da ilha britânica. Então, o desejo de separação não era só por razões de uso de saia pelos homens e direito de tocar gaita escocesa ou produzir o melhor whisky do mundo, mas porque, com 33 % de território e 4 milhões de habitantes, os escoceses foram mais prejudicados que o resto da população. A luta não foi só para separar os territórios, mas para separar as políticas prejudiciais à população impostas por Londres à Escócia.

As consequências desse referendum e os seus questionamentos colocam a unidade da Europa em cheque. Acalmam a Inglaterra, mas não diminuem o ímpeto dos catalães, que acompanharam o referendum com muita atenção, de se separarem da Espanha. A situação lá é bem diferente da situação na ilha britânica. As diferenças culturais, inclusive a língua, geram um nacionalismo que pede na região mais desenvolvida da Espanha a separação. E a União Européia, que já enfrentou, com a última guerra balcânica, sangrenta como ela só, o surgimento de novos países, tem, com todo o ímpeto de união dos países europeus para uma união estável, perante si um quadro instável de nacionalismo em várias regiões do velho continente.

Para o Brasil, esses movimentos possuem um  aspecto interessante, que reforça a grandeza do país, uno e indivisível, com suas fronteiras firmes, e por outro lado cria desafios ao seu papel no cenário internacional. Os conflitos na Ucrânia e o referendum escocês mostram que as  fronteiras na Europa, como aliás também na Ásia, ainda não estão definidas. Há um ajustamento geopolítico  que, como agora no Leste Europeu, nos beneficia com a venda de nossos produtos à Rússia, mas que cria uma ilusão de vantagens a curto prazo, sem sabermos o fazer a longo prazo. Talvez nada, mirar bem o que está acontecendo e manter Brasil firmemente indivisível.

Stefan B. Salej
19.9.2014.

Sunday, 14 September 2014

O novo governo europeu

Da nova direção européia

Após as eleições para o Parlamento europeu em maio, está se formando está semana a Comissão Européia, uma espécie de ministério europeu. O primeiro nomeado foi o Presidente do Conselho, que representa os dirigentes dos países europeus. O escolhido foi o Primeiro-Ministro da Polônia, Donald Tusk, tendo como madrinha Angela Merkel, Primeira-Ministra da Alemanha. Ela também, apesar da forte oposição dos britânicos, ajudou o ex-Primeiro-Ministro de Luxemburgo, Jean Paul Juncker, a tornar-se Presidente da Comissão Européia, que é uma espécie de governo da UE. E ainda tem o importante cargo da Representante para Assuntos Exteriores, Chanceler da UE, mas com muita independência, que foi para a jovem Ministra do Exterior da Itália, Federica Mongherini.

Juncker apresentou estes dias os comissários e disse que foram escolhas pessoais e que ele assume a responsabilidade sobre os candidatos que terão que ser aprovados ainda pelo Parlamento europeu. A grande novidade na equipe que substituirá o time de fracasso do português Barroso é a grande presença de mulheres, a idade média de 53 anos e  que entre eles estão 18 ex-primeiros ministros e ministros dos governos membros  da UE. E criaram 7 cargos  de Vice-presidentes que serão responsáveis por diversos setores. O sistema prevê que cada país indica um candidato a cargo de comissário e, na verdade, Juncker tinha pouco espaço político para recusar os candidatos. E assim, não estão lá o que a Europa tem de melhor, mas políticos que  não fazem mais carreira no seu próprio país e ganham de prêmio um posto de prestígio em Bruxelas, com vantagens e salários que nunca tiveram.

A composição da Comissão européia tem poucos nomes mundialmente conhecidos ou reconhecidos. Por exemplo, a Alemanha ganhou a agenda digital, a França mandou para Bruxelas o ex-Ministro da Economia, após um tremendo fracasso no seu próprio país, a Eslovênia  ganhou, com sua ex-Primeira-Ministra, o portfólio de energia e o Reino Unido, o de estabilidade financeira. Os espanhóis, cujo candidato é um íntimo do lobby energético ibérico, ganharam o setor de meio ambiente e o mercado de energia. A raposa cuidando do galinheiro, segundo alguns deputados europeus.

As escolhas dos comissários pelo experiente Juncker não dizem muito o que o Brasil pode esperar. Se essa comissão conseguir aumentar o emprego e diminuir a crise, o Brasil se beneficia. Fora do próprio Juncker, ninguém conhece o Brasil na comissão como ele. Ele também conhece bem Minas Gerais, porque foi na época dele como Ministro das Finanças e depois Primeiro-Ministro de Luxemburgo, que os luxemburgueses venderam a ARBED, que era dona da Belgo-Mineira.

Diz a imprensa européia que essa é uma comissão de políticos e não burocratas. Mas quem manda na União Européia são os burocratas. As esperanças de que a crise européia acabe são esperanças e não é só armar, como fez Barroso, ou desarmar, como terá que fazer Juncker, o conflito com a Ucrânia, que é um problema. É como fazer uma união dos 28 países à véspera de alguns, como os escoceses e catalães, saírem dessa união. Portanto, é visão que falta, não gerencia.

Stefan B. Salej

11.9.2014.

Thursday, 28 August 2014

DO MUNDO BRASILEIRO

Do mundo brasileiro

Os países grandes e importantes no cenário internacional, e entre eles sem dúvida figura o Brasil, são intrinsecamente interligados, não só pelo seus laços comerciais mas e principalmente  pelas suas interconexões políticas. Os eventos no leste de Ucrânia, onde os rebeldes pró-Rússia estão lutando contra as forças ucranianas, provocaram sanções da União Européia e dos Estados Unidos contra a Rússia. E os donos do Kremlin, sede do governo russo, responderam com sanções contra os mesmos países. E o primeiro beneficiado foi o Brasil, que com isso passou a exportar mais alimentos para a Rússia. E isso traduzido, quer dizer mais dólares entrando para comprar máquinas e passear em Miami ou importar produtos chineses baratos e às vezes de qualidade duvidosa, acessíveis a todos. Mas, também mais postos de trabalho abertos, mais riqueza sendo gerada.

Agora, imagine que Brasil se alinhe com a União Européia e os Estados Unidos e seja vítima da sanções da Rússia. Nada do que está gerando essa riqueza para o Brasil aconteceria.Esse é um dos exemplos de como as relações internacionais interferem na vida cotidiana do cidadão comum. Continuando, podemos ainda vislumbrar que uma das nossas maiores riquezas é o nosso mar  territorial. O petróleo é uma dessas riquezas. E aí, se os piratas da Somália resolverem atacar uma plataforma marítima e parar  a produção do petróleo. Ou explodir uma plataforma. Ou atacar um navio mercante nosso, como já aconteceu durante a segunda guerra mundial, quando os submarinos nazistas afundaram um navio brasileiro. E nesse cenário ainda tem a vulnerabilidade dos milhares de quilômetros  de fronteiras praticamente sem proteção, onde a situação só não piora porque os vizinhos são fracos.

Alguém ainda lembra das escutas da presidência pelos Estados Unidos? Ou ataques cibernéticos em diversos ministérios e importantes empresas brasileiras? Nenhum país de importância no cenário mundial como Brasil deixaria de aproveitar para discutir durante a campanha eleitoral seu comércio internacional e a sua defesa. Efetivamente, com os dois setores, relações exteriores e defesa, com orçamentos cada vez mais exprimidos (o Itamaraty com orçamento menor do que o Ministério dos Esportes, hoje na mãos do PC do B), a pergunta é qual será o papel do Brasil nessas áreas no futuro.

Por mais que se discutem todos os problemas domésticos, o Brasil faz parte de um grupo de países que têm peso no mundo. É claro que esse mundo também tem peso no Brasil. Nossas alianças militares e políticas serão com quem e com quais benefícios para o cidadão brasileiro? Nós queremos as nossas forças armadas equipadas para nos defender e garantir paz ou não? E nós vamos continuar financiando projetos em Cuba, algo tão criticado por uma parte da sociedade brasileira, mas sem nenhum indício de como isso será no novo governo? É nessas duas áreas que mora o perigo, muito maior do que em alguns assuntos que estão sendo discutidos. Pode até ser para não discutir esses dois, porque ninguém tem proposta.

Stefan B. Salej
28.8.2014.  

Friday, 22 August 2014

Da democracia pretoriana e Ferguson

De Ferguson e a democracia pretoriana (1)

Inúmeras vezes pessoas em desespero em áreas de conflito pediram que os Estados Unidos interferissem e ajudassem. Há setenta anos liberaram Paris, invadindo a Europa e ajudando a Rússia, Inglaterra e resistentes locais para derrotarem o nazismo em seguida. Os retratos na parede dos alegres franceses saudando os soldados americanos, inclusive negros, são parte dessas lembranças. Mas depois veio a guerra da Coréia, Vietnam, ataque mal-sucedido a Cuba, golpes militares na América Latina, Tempestade do Deserto, Iraque, Afeganistão. E no meio, vil ataque às torres de Nova Iorque, que mudou a percepção de segurança dos Estados Unidos. E nesta semana, a decapitação de um jornalista americano pelos membros radicais islâmicos no Iraque.

Há um mundo permanentemente em ebulição, que exige dos Estados Unidos a defesa dos valores democráticos, ao mesmo tempo que a defesa da própria liderança dos Estados Unidos no mundo. Ou seja, os políticos americanos, além de cuidarem da política externa, têm constantemente que se preocupar com a ordem no mundo. E, definitivamente, após o ataque de 11 de setembro, o conceito norte-americano de segurança interna mudou. O país teve que achar um equilíbrio entre as instituições democráticas e seus valores e as ameaças mais ou menos reais  dos inimigos externos, ou seja, terroristas.

Ao mesmo tempo que se formou uma espécie de regime democrático muito obcecado com a segurança interna (apesar de que este fenômeno se deu através da caça aos comunistas na década de 50, de uma outra forma), com a crise econômica também apareceram problemas internos. E agora, à véspera de eleições parlamentares parciais, e com as comemorações dos 50 anos das liberdades civis, surge de novo a revolta civil numa cidade insignificante chamada Ferguson, em um estado também de menor importância, ou seja, Missouri. Com um presidente negro, a revolta da população negra desponta devido ao assassinato por um policial branco de um jovem negro desarmado.

O aparato de segurança dos Estados Unidos cresceu em todos os sentidos. A violência doméstica e a criminalidade  levaram quase 4 milhões de pessoas à  prisão. A violência nas prisões, inclusive na famosa Ryker, em Nova Iorque, onde segue um inquérito sobre abuso de jovens que nunca chega a conclusão, só tem um nome: inferno. E isso é uma das consequências dos problemas raciais e sociais não resolvidos que os Estados Unidos enfrentam.

A revolta de Ferguson tem raízes muito mais profundas do que o episódio que vemos na TV. E ela expõe com crueldade o sistema de democracia norte-americana, com suas fissuras sociais e raciais. Não só o Presidente Obama, mas também o Procurador Geral, Mjnistro da Justiça, que  também é negro, devem  dar atenção especial ao caso. Não por causa deles, mas porque só com guarda pretoriana a democracia não funciona. Precisa de mais. Precisa de democracia.

(1)Samuel Huntington usa esta expressão no caso de militarização da política, ou seja quando prevalecem os militares ou policiais, segurança, no comando das políticas públicas

Stefan B. Salej
21.8.2014.

Friday, 15 August 2014

DA GRIPE ESPANHOLA, SUÍNA e EBOLA

Da gripe espanhola, suína e Ebola

Não bastam as guerras que matam milhares de pessoas e provocam toda a desgraça para os sobreviventes. Assim como no caso de conflitos militares, também nas guerra de epidemias que estamos  experimentando desde a Idade Média, como a terrível peste negra, o homem comum está sempre sujeito a um ataque inesperado. Desde  terrorismo a acidentes naturais cada vez mais freqüentes, até epidemias como a última de Ebola na África. Esquecemos que a gripe espanhola, que começou em um acampamento militar francês no final da Primeira Guerra Mudial, que começou há cem anos atrás, onde se misturavam os 100 mil soldados com  porcos e total falta de higiene, matou 50 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, morreram 43 mil soldados em 3 meses, aguardado embarque para Europa.

Tivemos ainda a tuberculose, paralisia infantil, gripe suína, chamada no início mexicana, temos ainda malária, febre amarela, hepatite,doença de Chagas e entre outros também a dengue. Está é a mais conhecido no Brasil, mas  foi descoberta em 1779 e contamina em 110 países mais de 500 milhões de pessoas por ano. E agora o surto de Ebola, que  matou mais de 1000 pessoas desde dezembro do ano passado, e se alastrou por quatro países da África Ocidental. Este já  é o segundo surto desta terrível doença, para a qual estão fornecendo os primeiros remédios em fase experimental, mas para a qual ainda não há cura certa.

Muitas dessas doenças ainda existem, como a pólio e a tuberculose, mas elas foram quase que erradicadas. A descoberta da gotinha contra a pólio pelo Dr. Albert Sabin, nos Estados Unidos, mostra o caminho das pedras quando as autoridades querem enfrentar o problema. Foi o financiamento público que permitiu lá a pesquisa que levou à descoberta. Mas, foi também o desprendimento pessoal do Dr. Sabin, filho de judeus russos que emigraram para os Estados Unidos, que abriu mão de direito de patente, para que a "gotinha" se tornasse bem público.

No trato do Ebola está acontecendo justamente ao contrário: os cientistas descobriram o remédio que não foi todavia testado em humanos, mas que as empresas farmacêuticas não querem fabricar porque não é um negócio lucrativo. São poucos doentes, portanto o mercado é pequeno e não compensa! Ou seja tem que morrer mais gente para que as farmacêuticas comecem a fabricar os remédios!

No caso do Brasil, o Ebola está longe e perto ao mesmo tempo. Nos quatro países da África Ocidental há brasileiros trabalhando e há um fluxo do comércio, como no caso de Nigéria, considerável. Sem dúvida, o surto de Ebola, como também aconteceu com a Aids, coloca a África, que tem um crescimento econômico bom, à margem dos fluxos normais do comércio. E a África precisa de ajuda para resolver o problema que está se alastrando pelo mundo.

Esse caso também apresenta excelente motivo para um debate sobre saúde pública no Brasil e o papel da pesquisa na área. As soluções vêm não só pela melhoria de condições sanitárias da população, mas da liderança do poder público na área de saúde. É enorme a oportunidade para a área de biotecnologia, já em estágio avançado no país, mas não uma prioridade. Temo que fazer da ameaça uma oportunidade

Stefan B. Salej
15.8.2014.

Friday, 8 August 2014

DA ÁFRICA QUE QUERO

Da África que quero Em Washington, capital mundial do Ocidente, esta semana, no sexto ano do governo Obama, apesar dos problemas no Iraque e no Oriente Médio, o assassinato de um general no Afeganistão, e a Ucrânia, foi da África. A cúpula Estados Unidos-África reuniu 50 chefes de estados africanos, empresários e outros líderes políticos do continente com Presidente Obama, seus ministros e demais interessados no continente, cujo crescimento vai superar em média 6.5 % neste ano e que tem seis entre as dez economias que mais crescem no mundo. Os Estados Unidos, que perderam a liderança em comércio com o continente para China, querem, mesmo em uma semana em que a propagação do Ebola no Continente assusta todo mundo, reassumir o seu lugar. Mas, a cúpula, durante a qual Obama não manteve conversações bilaterais, algo de que os africanos reclamaram muito, chega atrasada. Antes disso, os africanos tiveram cúpula com a China, com os árabes, indianos, europeus, franceses e, não por último, com os sul-americanos. Em cada uma, foi discutida ajuda ao continente, novos negócios, novos investimentos, novas concessões por parte dos africanos aos estrangeiros. Os números são bilionários. A União Européia foi a maior contribuinte, com 187 bilhões de dólares em recursos de cooperação nos últimos cinco anos. E tem um comércio bilateral invejável, que ainda não é superado por China. Enquanto os norte-americanos juntaram 33 bilhões de dólares para a cooperação com 55 países da África e seus mais de 1 bilhão de habitantes, o Banco Mundial prometeu mais 5 bilhões para projetos energéticos. A maior parte dos investimentos vêm do setor privado e não do governo. A General Electric vai investir dois bilhões de dólares, o que é infinitamente mais do que vai investir na América Latina. E mais: os americanos estão se associando nos grandes projetos com os chineses. A África tem problemas de segurança, terrorismo e corrupção, mas nada disso assusta os investidores. Todos querem ser parceiros de desenvolvimento e lucros em um continente que deixaram à mercê da China no passado recente. Interessante é o acordo entre os Estados Unidos e 35 países africanos sobre desenvolvimento e comércio, chamado AGOA em inglês. Ele foi assinado há 14 anos pelo Presidente Clinton e permite que 6000 produtos africanos entrem no mercado norte-americano livremente. Isso elevou o comércio em dez anos de 8 para 27 bilhões de dólares anuais. Os africanos querem agora a prorrogação do acordo. Nessa disputa pelo território econômico da África, não fica fora a aliança militar para assegurar os investimentos e a luta contra terrorismo. O Brasil não está fora dessa briga de cachorro grande e inclusive foi um dos poucos que cancelou os débitos dos países africanos. As oportunidades de crescimento, em especial de exportação dos produtos manufaturados, vão depender de mais investimentos e alianças com parceiros mais fortes. Como fizeram agora os norte-americanos com os chineses. Stefan B. Salej 8.8.2014.