Do mundo brasileiro
Os países grandes e importantes no cenário internacional, e entre eles sem dúvida figura o Brasil, são intrinsecamente interligados, não só pelo seus laços comerciais mas e principalmente pelas suas interconexões políticas. Os eventos no leste de Ucrânia, onde os rebeldes pró-Rússia estão lutando contra as forças ucranianas, provocaram sanções da União Européia e dos Estados Unidos contra a Rússia. E os donos do Kremlin, sede do governo russo, responderam com sanções contra os mesmos países. E o primeiro beneficiado foi o Brasil, que com isso passou a exportar mais alimentos para a Rússia. E isso traduzido, quer dizer mais dólares entrando para comprar máquinas e passear em Miami ou importar produtos chineses baratos e às vezes de qualidade duvidosa, acessíveis a todos. Mas, também mais postos de trabalho abertos, mais riqueza sendo gerada.
Agora, imagine que Brasil se alinhe com a União Européia e os Estados Unidos e seja vítima da sanções da Rússia. Nada do que está gerando essa riqueza para o Brasil aconteceria.Esse é um dos exemplos de como as relações internacionais interferem na vida cotidiana do cidadão comum. Continuando, podemos ainda vislumbrar que uma das nossas maiores riquezas é o nosso mar territorial. O petróleo é uma dessas riquezas. E aí, se os piratas da Somália resolverem atacar uma plataforma marítima e parar a produção do petróleo. Ou explodir uma plataforma. Ou atacar um navio mercante nosso, como já aconteceu durante a segunda guerra mundial, quando os submarinos nazistas afundaram um navio brasileiro. E nesse cenário ainda tem a vulnerabilidade dos milhares de quilômetros de fronteiras praticamente sem proteção, onde a situação só não piora porque os vizinhos são fracos.
Alguém ainda lembra das escutas da presidência pelos Estados Unidos? Ou ataques cibernéticos em diversos ministérios e importantes empresas brasileiras? Nenhum país de importância no cenário mundial como Brasil deixaria de aproveitar para discutir durante a campanha eleitoral seu comércio internacional e a sua defesa. Efetivamente, com os dois setores, relações exteriores e defesa, com orçamentos cada vez mais exprimidos (o Itamaraty com orçamento menor do que o Ministério dos Esportes, hoje na mãos do PC do B), a pergunta é qual será o papel do Brasil nessas áreas no futuro.
Por mais que se discutem todos os problemas domésticos, o Brasil faz parte de um grupo de países que têm peso no mundo. É claro que esse mundo também tem peso no Brasil. Nossas alianças militares e políticas serão com quem e com quais benefícios para o cidadão brasileiro? Nós queremos as nossas forças armadas equipadas para nos defender e garantir paz ou não? E nós vamos continuar financiando projetos em Cuba, algo tão criticado por uma parte da sociedade brasileira, mas sem nenhum indício de como isso será no novo governo? É nessas duas áreas que mora o perigo, muito maior do que em alguns assuntos que estão sendo discutidos. Pode até ser para não discutir esses dois, porque ninguém tem proposta.
Stefan B. Salej
28.8.2014.
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