Do casa, descasa, casa....
A Europa amanheceu na sexta-feira passada aliviada. Londres e sua rainha, sem falar no Primeiro-Ministro britânico, muito mais. A Escócia votou, sob pesada artilharia britânica e ameaças da União Européia de que não reconheceria o novo país chamado Escócia, pela permanência no Reino Unido. Passou o medo de que a Grã Bretanha passaria a ser chamada de Pequena e o Reino Unido perderia mais um pedaço do seu território e se chamaria simplesmente Reino, sem unir ninguém. Os conservadores britânicos, que ficariam na história como quem conseguiu separar a Escócia do Reino Unido, aliviados, continuam no poder, caçando os islâmicos na ilha e no Oriente Médio.
Assim, após 307 anos que a Escócia faz parte do Reino Unido, tudo continua como antes no quartel do Abrantes. É mesmo, nada mudou? Mudou sim e esse processo de separação da Escócia não terminou, só começou. A parte rica da ilha, com petróleo e identidade própria, Escócia, também é o caso mais gritante de imperialismo inglês que domina a coroa britânica. Foi na Escócia que o neo-liberalismo sanguinário dos conservadores bateu mais e empobreceu mais a região do que em qualquer outra parte da ilha britânica. Então, o desejo de separação não era só por razões de uso de saia pelos homens e direito de tocar gaita escocesa ou produzir o melhor whisky do mundo, mas porque, com 33 % de território e 4 milhões de habitantes, os escoceses foram mais prejudicados que o resto da população. A luta não foi só para separar os territórios, mas para separar as políticas prejudiciais à população impostas por Londres à Escócia.
As consequências desse referendum e os seus questionamentos colocam a unidade da Europa em cheque. Acalmam a Inglaterra, mas não diminuem o ímpeto dos catalães, que acompanharam o referendum com muita atenção, de se separarem da Espanha. A situação lá é bem diferente da situação na ilha britânica. As diferenças culturais, inclusive a língua, geram um nacionalismo que pede na região mais desenvolvida da Espanha a separação. E a União Européia, que já enfrentou, com a última guerra balcânica, sangrenta como ela só, o surgimento de novos países, tem, com todo o ímpeto de união dos países europeus para uma união estável, perante si um quadro instável de nacionalismo em várias regiões do velho continente.
Para o Brasil, esses movimentos possuem um aspecto interessante, que reforça a grandeza do país, uno e indivisível, com suas fronteiras firmes, e por outro lado cria desafios ao seu papel no cenário internacional. Os conflitos na Ucrânia e o referendum escocês mostram que as fronteiras na Europa, como aliás também na Ásia, ainda não estão definidas. Há um ajustamento geopolítico que, como agora no Leste Europeu, nos beneficia com a venda de nossos produtos à Rússia, mas que cria uma ilusão de vantagens a curto prazo, sem sabermos o fazer a longo prazo. Talvez nada, mirar bem o que está acontecendo e manter Brasil firmemente indivisível.
Stefan B. Salej
19.9.2014.
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