DO NEOCOLONIALISMO EUROPEU E O ACORDO MERCOSUL UE
Um acordo entre a União Europeia e o Mercosul, do qual o Brasil é o principal sócio, só tem valor para a sociedade brasileira se produzir resultados no nosso desenvolvimento social e econômico. Os europeus cuidam bem de si próprios, mas nós precisamos que estar convencidosde que haverá de fato benefícios tangíveis para Brasil. E recentes estudos de IPEA e um think tank independente da Alemanha, demonstram o contrário.
O que está na mesa e foi negociado pelos liberais do Paulo Guedes no governo Bolsonaro cria um desequilíbrio econômico entre o futuro dodesenvolvimento, não teoricamente dos dois blocos, mas do aumento darenda e melhoria social das populações dos países dos dois blocos. Making a long story short, a Europa vai crescer mais às custas doaumento da nossa dependência tecnológica, de serviços e industrial. Os europeus, que já são os maiores investidores no Mercosul, e espeficiamnte no Brasil, são também os maiores receptores de dividendos e beneficiários do acesso protegido ao mercado brasileiro. E os maiores beneficiários de um sistema jaboticaba de concessões públicas.
São raras as empresas europeias no Brasil, aliás o que confirma a regra, que pertencem à classe mundial de produção. Ou que introduzem no Brasil as últimas tecnologias nos seus serviços.Ou que igualam seus padrões de gestão ao nível de exigências na área ambiental ou na transparência de gestão e aplicam ESG igual ao que fazem na Europa.Por aqui andam ainda produtos de segunda linha, veja por exemplo a indústria automobilística, onde são os chineses que lideram a corrida para automóveis mais eficientes no Brasil, e com a qualidade, o recall é um ato diário, diferente dos padrões europeus.
Na área das concessões e serviços de telecomunicações, como tambémnos serviços financeiros, as campeãs de queixas no Procon são as empresas europeias. A isso se junta também o fato de muitas delas, como foi caso de Cassino, dona de Pão de Açúcar, teoricamente vão bem no Brasil, mas sustentando erros de gestão nas matrizes com altos lucros no Brasil.
Claro que o cenário empresarial não é tão pessimista como o descrito acima, mas o acordo entre os dois blocos também não garante que nós vamos ter um crescimento de investimentos e uma re-adequação tecnológica da nossa economia. Na verdade, os estudos que existem não comprovam que, além de maior fluxo comercial, nos vamos ter um crescimento qualitativo no nosso desenvolvimento. A previsão do IPEA é que o PIB praticamente não vai crescer e que a desindustrialização será brutal. A abertura do mercado não será igual, pela simples razão que, se não melhorarmos o estágio tecnológico de nossas indústrias e reduziríamos custo Brasil, temos pouco a exportar para a UE a não ser produtos agrícolas que têm mais limitações e restrições do que incentivos. Tente exportar café industrializado para a Europa para desbancar Alemanha como maior exportador de café industrializado, para ver o acontece. Ou como vai exportar máquinas de uma indústria estrangulada tecnologicamente? Aliás, para quanto da indústria seuqer temos o controle acionário e tecnológico no Brasil?
Um acordo dessa natureza, cuja negociação tem sua base na economia analógica e está sendo projetado para uma economia de IA e digital, deve ter a base na nossa visão de futuro e do seu respectivo projeto de desenvolvimento. Brasil 2050. E isso nos não temos.
A UE perdeu o passo nas negociações e dizer que nossos laços culturais devem ser a base para o acordo é nos dizer que devemos ser gratos aos europeus que eliminaram os índios para saquear o continente e continuar pagando o dízimo. Ou achamos uma proposta de desenvolvimento tanto que possível igualitária, e de ganhos futuros recíprocos, ou então o que foi negociado até agora será uma vitória de Pirro, levando o país a uma situação pior do que a que temos hoje.
O anúncio da UE de ajudar aos 33 países da América Latina e Caribe com 45 bilhões de euros ao longo de alguns anos, ou seja aproximadamente 1 bilhão e meio por país, é tapar o sol com a peneira.Ou mais ou menos, um me engane que eu gosto. E onde os europeus querem investir, os resultados serão pífios ou insignificantes para o desenvolvimento social.
A Europa precisa muito desse acordo, precisa de mercados menos exigentes e em crescimento, mas quer tudo e dá pouco. UE não reconhece nem nossa engenhosidade na área de energia, espeficiamnte etanol, nem na agricultura, no manejo florestal e na área de celulose.bNos também temos certas competências onde somos concorrentes. Mas, em termo macroeconômicos, não temos uma ideia clara de como nos desenvolvemos, como enfrentaremos os novos desafios tecnológicos, os desafios sócias e o emprego, e como sairemos da moldura de uma potência agrícola e mineral, para uma de potência integrada. E os europeus, o que é compreensível, se aproveitam disso. A nossa sorte é que a ganância de querer sempre mais e continuar vendo no continente (onde ainda temos colônias europeias como Guaina Francesa, Antilhas Holanesas) uma vaca leiteira que ajuda a sustentar suas economias, leva ao adiamento das negociações e reflexões que freiam o acordo.
Que temos nos entender melhor e incrementar nossos laços em todos os campos, não há dúvida. Mas a dúvida mata, se não soubermos o que queremos e as duas partes entenderem que ganha ganha também requer momentos de ceder. De fato temos mais em comum do que menos, temos uma trajetória de cooperação e negócios excelente, mas precisamos transformar isso numa parceira de iguais visando um mundo diferente no futuro.
O acordo como está remendado depois de vinte anos, é simplesmente um desastre para os países de Mercosul. Quem o assinar deste lado do Atlântico, ficará na história como coveiro de desenvolvimento do país.
https://drive.google.com/file/d/1xCuMccT2rUISnqts5ZBXF7vxgapEWYZf/view?usp=drivesdk
Friedrich Ebert Stiftung,2021
https://drive.google.com/file/d/1qqpFgbf-_Ig3wIiNHv2LxwH8A1riXn-J/view?usp=drivesdk
Carta conjuntura IPEA, julho 2023.