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Monday, 16 May 2022
DO ECOCRIMINALIDADE E A SERRA DO CURRAL
DO ECO DA CRIMINALIDADE E A SERRA DO CURRAL
Ao assumir a presidência da FIEMG, encontrei o logo da entidade simbolizando uma fábrica, com três chaminés soltando fumaça. Outros tempos. O Brasil acabava de sediar a Rio-92, o maior evento de meio ambiente realizado até hoje, e o mundo começava a criar consciência de que a ecologia era um item importante no nosso desenvolvimento. A mesma consciência foi abraçada pelos brasileiros e, em especial, pelos mineiros. Foi o presidente mineiro Itamar Franco que instituiu o Ministério do Meio Ambiente e da Amazonia Legal, em Minas foi criada a Secretaria de Meio Ambiente, que teve secretários memoráveis como José Carlos Carvalho e Mauro Lobo, entre outros, e o movimento ecologista mineiro, com Hugo Werneck e Maria Dalce Ricas (AMDA), tinha um apoio da sociedade que deixou marcas até hoje.
A indústria, já sob a liderança de Nansen Araújo, e depois, de José Alencar na FIEMG, foi se adaptando. A USIMINAS, sob o comando do saudoso Engenheiro Rinaldo Campos, foi a primeira siderúrgica no mundo a obter a ISSO 18.000, certificação internacional na área de meio ambiente. Na história não devemos esquecer que foi um mineiro, o Engenheiro João Camillo Penna, como Ministro da Indústria e Comércio, que implementou o programa de etanol, e outro mineiro, o Engenheiro Alysson Paulinelli, que, como Ministro da Agricultura, implementou a agricultura tropical. E nesse rol da liderança mineira não devemos esquecer os mineiros no comando da CVRD, que implementaram programas de responsabilidade ambiental, inclusive em Carajás. E as florestas renováveis, com eucalipto para siderúrgicas, surgiram com a antiga Manesmann, com Marco Antônio Castelo Branco liderando a mudança tecnológica.
Em resumo, Minas era um exemplo. Mesmo na mineração, a Samarco e outras mineradoras, como a Vale eram motivo de orgulho. Houve o desastre da Mineração do Rio Verde, em Macacos, nas redondezas de Belo Horizonte, com morte de vários operários, que chamou a atenção pela precariedade das bacias de rejeitos, na época mais de 170 no estado todo em situação crítica.
Após 2002 houve uma mudança radical na percepção da importância do meio ambiente para o desenvolvimento do Estado. Começou a prevalecer a máxima de que a regulamentação e a legislação de meio ambiente prejudicam o seu desenvolvimento econômico. Com apoio intrínseco do empresariado, liderado pelos empresários da mineração, reunidos na FIEMG, começou uma nova aliança espúria entre o governo e o empresariado, bem diferente do que havia anteriormente. Enquanto no passado os empresários que não cumpriam a lei eram afastados da entidade, e inclusive, como no caso dos fabricantes de calcário que queimavam a mata natural, presos, de repente eles eram vítimas e heróis que, com os políticos, conseguiram mudar a legislação. Os novos regulamentos passaram ser elásticos, desprezavam os interesses amplos da sociedade e colocavam os interesses dos empresários acima dos interesses da sociedade.
Aí, dentro desse relaxamento do estado, do abuso empresarial e também da ausência maior de movimentos da sociedade, aconteceu o desastre de Mariana. Nenhuma lição aprendida levou a evitar o desastre de Brumadinho, da Vallourec e mais outros tantos que desconhecemos ou estão abaixo do tapete. Enquanto o setor agrícola lidera uma economia sustentável, as indústrias se adaptaram aos novos padrões, tanto no processo industrial como no produto final, veja por exemplo eficácia dos motores da Stealantis, o setor mineral é um calcanhar de Aquiles no desenvolvimento do Estado.
No balanço do desenvolvimento sustentável do Estado como um todo, o pêndulo neste momento vai para uma parte do setor mineral, que persiste, às vezes até dentro da lei que eles mesmo criaram, em ser sustentável para eles, e totalmente insustentável para outros.
O recente exemplo da empresa Tamisa e a mineração na Serra do Curral é exatamente isso. É a ponta do iceberg. A luta pela Serra do Curral é antiga e alguns devem lembrar ainda da Hanna Mining, e depois, da família Antunes, MBR, que exploravam entre outros, as minas em redor de Belo Horizonte, ou talvez antigo Belo Horizonte, e das lutas nas ruas da sociedade contra essa exploração nefasta. Agora apareceu uma brecha perfeita para uma empresa cujos modelos de negócios no passado são um verdadeiro manual do pior, mesmo enriquecendo e empoderando seus donos, em termos de ESG ( environment, social responsability, governance). Se precisar escolher uma empresa em termos mundiais que saiba usar todas as ferramentas para usurpar a sociedade, essa seria a campeã. Por que isso é importante? Porque tudo foi feito dentro da lei, aprovado de acordo com regulamentos, a empresa se compromete a que o projeto seja pequeno, só alguns hectares da fazenda, vão reforçar as estruturas do Hospital Baleia e mais e mais.
O problema é que o histórico deles é não cumprir. Bem, e se cumprem, o desmonte do estado que o governo Zema e seus antecessores imediatos, Pimentel e Aecio, fizeram, mostra que este estado não tem a mínima capacidade de controlar o que vai acontecer. Ou seja, juntou-se a fome com a vontade de comer. O projeto será sim executado conforme os interesses da empresa versus a sociedade. E o projeto, definitivamente, com as atuais tecnologias disponíveis, não é um projeto viável do ponto de vista da sustentabilidade nos dias de hoje. O estudo feito pelos canadenses, meu pai açougueiro dizia que papel aguenta tudo, lido com cuidado, demonstra claramente que o projeto traz prejuízos ambientais e de qualidade de vida irrecuperáveis aos moradores das cidades envolvidas.
Todo o processo de aprovação, entre outros, os funcionários da SEMAD controlando a movimentação de conselheiros durante a discussão do projeto e relatando “ in real time” à secretaria da pasta (fulano foi ao banheiro e conversou…), o envolvimento do próprio chefe de executivo no processo, incluindo a demissão de funcionários que discordam da orientação dele, e mais e mais, mostram que onde tem fumaça tem fogo. O output econômico do projeto é absolutamente mínimo no desenvolvimento do Estado e se, compararmos seu balanço social versus o econômico, é um brutal desequilíbrio a favor dos interesses da empresa versus a sociedade.
Last but not least, está o papel da sociedade empresarial ou de alguns dos seus representantes no episódio. Enquanto você tem o Rubens Menin, da MRV, liderando no setor de construção na sustentabilidade, inclusive sendo um exemplo no Brasil e no exterior, um Salim Mattar e Eugênio Mattar, no seu setor e tantos outros, a FIEMG lidera o apoio a um projeto nocivo à sociedade. Seu presidente, que permaneceu durante o desastre de Brumadinho no Caribe e não no local do desastre, o do milionário SESI, pago pelos trabalhadores, só apareceu para ajudar meses depois, defende junto com Zema o projeto com unhas e dentes. Aliás, dentes, já que ameaça a todos os que estão contra, com represálias econômicas e até pessoais. Por outro lado, seu arqui-inimigo presidente da CNI visita a Secretária do Meio Ambiente nos dias da aprovação do projeto, a sós, provavelmente pedindo favores para seus negócios como o apoio a esse projeto. E claro que os representantes empresariais no conselho, nenhum deles pelo que me consta empresário, mas “ empregados”, votaram a favor. O que espanta é o voto do representante da SME Sociedade Mineira de Engenheiros. Uma pessoa experiente internacionalmente, até respeitada, votar a favor de um projeto bichado, é de se espantar. Não sabemos se o voto teve respaldo dos sócios da centenária SME, onde seria de espantar que os jovens de hoje concordem em ajudar a destruir o seu futuro.
Em resumo, esse esposório, é, como dizia Boris Casoy, UMA VERGONHA. Fico triste que, no último quartil da minha vida, escreva estas linhas. O xingatório do atual ocupante do cargo que Nansen Araújo, o Senador José Alencar e eu ocupamos, lutando por Minas e suas ameaças, como dos meus sucessores, mostram mais quem são eles, do que quem fomos. Minas não pode perder sua alma, seu valor moral e Belo Horizonte não pode deixar de ser de fato em todos os sentidos um horizonte belo. Ou, como disse o Papa João Paulo, QUE BELO HORIZONTE.
Por ele e por Minas, eu levo pedrada, mas vale a pena lutar por sua gente e seu futuro.
Stefan Salej
15.5.2022.
Tuesday, 1 March 2022
DO IMIGRANTE E DO EMIGRANTE
DO IMIGRANTE E DO EMIGRANTE
As cenas dos meus conterrâneos brasileiros sendo deportados dos Estados Unidos, chegando a Belo Horizonte, no aeroporto Tancredo Neves, líder da redemocratização brasileira, que incluía ampla campanha pelos direitos humanos, são chocantes. Mais, doem no coração. A mim especialmente, porque quando tinha cinco anos de idade e estávamos fugindo da Iugoslávia socialista, fomos presos na tentativa de passar a fronteira ilegalmente. Jamais posso esquecer, após ter passado a infância na guerra, com meu pai em um campo de concentração, e em seguida com ele sumindo toda noite porque tinha que se apresentar na polícia política para interrogatórios, como foi a nossa prisão. Separaram a minha mãe de minha irmã, com um ano e pouco, e de min. Choramos, choro que ficou na garganta até hoje. Minha mãe foi condenada a sete anos de prisão, minha irmã Ana e eu sumimos. Isso mesmo, até hoje não sabemos, não há registros de onde estivemos por um ano, até sermos resgatados por parentes. Eu só me lembro que tinha sido obrigado a cantar canções socialistas e que inúmeras vezes, provavelmente de castigo, dormia na casa de um pastor alemão, cachorro que me guardava latindo o tempo todo.Meu pai, felizmente, conseguiu fugir antes e veio para o Brasil.
Quando tinha dezesseis anos, e minha irmã 12, viemos para Belo Horizonte, onde estava meu pai. Viramos emigrantes com uma mala amarrada com barbante e muita vontade de viver. Virei imigrante. Carteira modelo 19 por muitos anos e muita solidariedade e ajuda. Dos conterrâneos e dos amigos mineiros e brasileiros. Mas, mesmo assim jamais deixei de lutar para que o país onde nasci, a Eslovênia, se tornasse um país democrático e as pessoas pudessem escolher livremente seu destino. No dia que isso aconteceu, estava todo sorridente numa reunião na Associação comercial de Minas, a entidade onde iniciei minhas atividades associativas, quando o então o presidente Hiram me perguntou porque tanta alegria, já que em geral eu era taciturno e chato. Expliquei, e ele me disse, aproveite, já que é assim, e volte para a sua terra.
Foi a única vez que nesta terra em que fui lembrado de ser imigrante. Por isso dói tanto ver as pessoas que, mesmo se de fato, burlam a lei de outro país, voltam nas condições que estão voltando. Quando em 2008 fui Embaixador Enviado especial da Eslovénia para a América Latina e Presidente do Conselho das Relações da União Europeia para América Latina, tive que lidar com a brutalidade espanhola na rejeição de imigrantes brasileiros chegando no aeroporto de Barajas. Aprontei um escândalo digno do meu nome, dizendo aos espanhóis, entre outras coisas, que devem lembrar quantas vezes tiveram as portas abertas na história no Brasil. E consegui que fosse aprovada uma declaração da UE com a América Latina sobre imigração que até hoje rege as relações sobre o assunto entre as duas partes.
Hoje há mais de 4 milhões de brasileiros, 2 % de nossa população, que emigrou. Se de um lado condenamos a maneira com que nossos irmãos são expulsos dos Estados Unidos, temos também que perguntar por que as pessoas estão fugindo e arriscando a vida na mão de coyotes, que são bandidos da pior espécie, do Brasil. Em todos os anos que exerci funções nas entidades empresariais, nunca vi um governo de Minas combater as raízes dessa emigração. Nunca qualquer governador de Minas sequer visitou as comunidades brasileiras no exterior. Iam a Washington para dançar com banqueiros e não eram capazes de ir a Boston para visitar nossos valadarenses. O mesmo se aplica para prefeitos de Governador Valadares, cidade que vive de dinheiro vindo de emigrantes. Só um prefeito visitou a comunidade lá, e mesmo assim com passagem paga pela FIEMG.
Não são os gringos que tratam mal nossos patrícios. Somos nós mesmos, com honrosa exceção do Serviço Consular do Itamaraty, que é tratamento a posteriori e não chega às raizes do fenômeno. Aliás, sobre como Minas trata essa chaga da nossa sociedade, é significativo notar que o melhor trabalho acadêmico sobre emigrantes mineiros foi feito em Santa Catarina e, pelo que sei, até hoje não existe um centro de estudos sobre emigração em Minas. E, nesse capítulo, é interessante observar que as tão zelosas forças policiais do estado não conseguem desmontar esses esquemas criminosos. E os políticos protestam contra os Estados Unidos, o que é certo, mas não fazem nada nem para diminuir a criminalidade e nem para criar condições para que as pessoas tenham uma vida melhor e fiquem. Aliás, esse governo liberal que temos no Estado parece até achar graça que as pessoas que estão sofrendo nesse processo estejam sendo castigadas tão cruelmente.
É uma tristeza ver esses voos e as pessoas sofrendo. Mas, mais triste ainda é pensar que o país que me acolheu, e acolheu tantos milhares de pessoas - quem não é de uma família cujas raizes não são de imigrantes? - um país e um povo tão acolhedor, não consegue criar condições para uma vida melhor para seus cidadãos. Isso sim que da vontade de chorar.
Stefan Salej
Tuesday, 18 January 2022
DA NATUREZA MAL TRATADA
Começando por listar os desastres que estão assolando o país , a tristeza das pessoas atingidas por enchentes, secas, raios, e tudo mais, este artigo não acaba nunca. Ou a força divina está castigando este Brasil que acreditávamos que era imune a toda desgraça, ou então tem algo na natureza do homem de não querer entender o que está acontecendo.
De um lado, é no país inteiro que estão acontecendo os chamados desastres naturais. Do Oiapoque ao Chuí. Até neve tivemos. Esquecemos geadas e quebra de safra de café há alguns meses. Esquecemos queimadas há pouco no Centro Oeste. E nos fazemos cegos pelo desmatamento da Amazônia, o maior nos últimos dez anos. Não tem nenhum pedaço do Brasil que não tenha sido atingido por algum tipo de chamado desastre natural. Até terremoto temos.
Há enormes prejuízos econômicos, e um custo econômico quase que incalculável em todos os setores , mas há um custo humano ainda maior. Se a isso tudo somarmos a epidemia do coronavírus, sem falar em zica, tuberculose, e outros males, como a nova variante da gripe, chegamos à simples conclusão de que temos um país diferente , que precisa ser olhado e planejado de forma diferente.
A discussão sobre a origem destes fenômenos é interminável. Definitivamente alguns deles poderiam ser evitados por políticas públicas em todos os níveis. O negacionismo do governo federal de fenômenos com queimadas na Amazônia, desmantelamento de instituições científicas e de pesquisa como o INPE e a falta de ação quando acontece, de resposta à crise, contribuíram para que os desastres fossem maiores. A defesa civil, que funciona a posteriore, depois do desastre, como também os bombeiros, tem recursos limitados e parte da história deles é também o lamentável episódio do treinamento no interior em São Paulo, quando morreram os recrutas numa gruta por falta de cuidado da própria guarnição.
A situação em Minas ainda é mais critica por causa de configuração geográfica e suas riquezas minerais. Os mineiros permitiram através de séculos que os ganhos a curto prazo deixassem para próximas gerações buracos, mortes, como as de Mariana, Macacos, Brumadinho, entre outras, e um estado que esta se tornando economicamente inviável e difícil de viver. É impressionante a fragilidade estrutural de norte a sul de Minas. Uma hora de chuva em uma das cidades mais bem organizadas, como Uberlândia, destrói a cidade. As pontes e estradas parece que foram construídas para facilitar que sejam reconstruídas de tão frágeis que parecem. Minas teve uma das melhores escolas de engenharia, empresas de construção que apesar do escândalo da Lava Jato, construíram no mundo inteiro, e parece o que foi projetado e construído em Minas não aguenta chuva forte. E chove todo ano e chove forte todo ano.
Todos só reagem aos desastres. Os que tem conhecimento científico para prever não são ouvidos. Os que gritam são tachados de chatos, inconvenientes e doidos. Inclusive assim foi com o lendário ambientalista Hugo Werneck. Os políticos se beneficiam dessa desgraça prometendo e não resolvendo nada. O Estado como ente administrativo não tem um projeto com visão a longo prazo para aliviar o que esta acontecendo. E isso não será parte do debate eleitoral porque não ha visão sistêmica, mas soluções a posteriore, no máximo má gestão de desastres.
Em resumo, os jovens não protestam, os velhos somos chatos, as entidades empresariais cheias de dinheiro exploram ainda mais essa situação para defender empregos que não são empregos, mas aumentam a riqueza de alguns para gerar a desgraça dos muitos. Minas já foi melhor do que isso. É triste, mas é verdade. E pode sair dessa situação, porque os que sabem como fazer não faltam. Mas tem que ter coragem para lutar. A natureza por si só não é um desastre, é bela, é linda, nos alimenta, mas temos que cuidar dela.
Tuesday, 21 December 2021
DO RETRATO E FILME DO BRASIL EM 2022
DO RETRATO E FILME DO BRASIL EM 2022
O orçamento da Republica Federativa do Brasil aprovado e desaprovado, discutido e pouco conhecido, para 2022 é o retrato de um Brasil redesenhado pelos nossos lideres políticos do momento. Ou seja, nos temos um orçamento que reflete crescente poder de uma casta politica que se apropria de dinheiro publico, o administra segundo seus interesses e sua visão do pais, seu desenvolvimento e suas necessidades.
É muito simples entender isso. Os deputados e senadores terão um orçamento secreto, ou seja um orçamento sem nenhum controle seja da sociedade, seja dos órgãos do governo como Tribunal de contas, Controladoria geral da União, órgãos de controle dos ministérios, Tribunal superior eleitoral, ou seja os representantes da cidadania, que soma entre orçamento secreto de 16.5 bilhões, fundo eleitoral 5.1 bilhões, fundo partidários de 5.7 bilhões com adicional de 1.1 bilhão, miseráveis 28.4 bilhões de reais , aprox. 5.5 bilhões de dólares. Este dinheiro será basicamente administrado por 594 parlamentares e seus parceiros nos partidos. Teoricamente isso da um valor de 9 milhões de dólares por parlamentar por ano, ou seja 32 milhões de dólares no mandato de 4 anos, ou 62 milhões de dólares por senador no mandato de 8 anos
Se compararmos esses recursos com o dinheiro destinado a ajuda sob nome Auxilio Brasil de 400 reais por família, no total 17 milhões de famílias, famintas e em estado de pobreza que envergonha todos nos, no total de 68 bilhões de reais, vemos bem o retrato do Brasil. É impressionante como se criticam os programas sociais, sejam de qual governo for, e como se tapa sol com a peneira, quando tratamos de gestão de recursos públicos pelos políticos. Nos dois programas tem exceções que mostram boa gestão e tem falhas a serem corrigidas, mas a desproporcionalidade e modos operandi são bastante contraditórias.
E ai a estória não acabou. Para investimentos o governo e Congresso destinaram 44 bilhões de reais. Ou seja no ano que vem o governo não será a locomotiva de desenvolvimento. Na área de ciência e tecnologia teremos 756 milhões de reais ou aproximadamente 140 milhões de dólares. No ano de epidemia aliada ao dengue, Zica, paralisia infantil, Aids teremos 4.7 bilhões de reais e torcendo para que não sejamos atacados pela Bolívia, na área de defesa de um território que representa 2/3 da Europa, 8.8 bilhões de reais.
Em resumo, este orçamento e com expressão incorreta, mas que mais expressa o seu retrato, Samba de doido.
Juntando todos os dados econômicos, sempre muito bem analisados pelo Mercado comum, temos uma situação econômica e fiscal, apavorante para próximos anos. Os pretendentes ao trono, todos assessorados por economistas com soluções da lavra da Zélia Cardoso de Mello com nomes diferentes, mas todos olhando retrovisor e não o futuro do Brasil, terão que enfrentar o eleitorado com mais do que promessas. E mais: não basta falar agradar o mercado, porque esse sempre ganha. Terão que achar através de um consenso politico as soluções que de fato levam a melhoria de renda da maioria de população como força motriz de nosso desenvolvimento.
Todas as analises da conjuntura econômica de hoje, orçamento e um retrato dela, levam a crer que os políticos estão usufruindo da fraqueza do governo para quebrar o pais na crença que forcas divinas vão salvar o Brasil. Eles com alguns empresários aliados vivem o filme do Baile da Ilha fiscal.
Stefan Salej
Sunday, 19 September 2021
DOS 20 ANOS DO SETEMBRO
DOS 20 ANOS DO SETEMBRO
Para o Brasileiro, que Deus proteje, um ataque aéreo é coisa de filme. Ficçāo pura. Para europeus e asiáticos, que infelizmente experimentaram guerras, não é. E nem para os americanos dos Estados Unidos, que foram agredidos pelos japoneses em Pearl Harbor e no 11 de setembro 2001 em Nova Iorque e Washington, também não é ficção. Uma brutal realidade que nas duas ocasiões mudou o mundo. Na primeira, foi a entrada dos Estados Unidos numa guerra da qual tentavam se esquivar, e, no segundo caso, uma guerra com um inimigo previsível mas que apareceu com uma força aliada à invisibilidade: o terrorismo islâmico.
Os vinte anos que se seguiram, e que a nossa geração viveu, mudaram muito o mundo. Os Estados Unidos usaram a estratégia de que a melhor defesa é o ataque e, com alto custo humano e financeiro, conseguiram alguns resultados. A guerra no Iraque e Afeganistão e conflito no Oriente Médio, cuja face mais visível hoje é a Síria e a Líbia, podem ser totalmente inúteis do ponto de vista de quem não foi atacado, mas a lógica de quem sofreu um ataque como foi a destruição das torres gêmeas de Nova Iorque é totalmente diferente.
Essa concentração de esforço de defesa dos Estados Unidos em todas as suas políticas, não só a externa, se fez sentir num rearranjo do mundo. De um lado, houve uma tremenda mudança tecnológica nestes 20 anos e o surgimento de uma China e uma União Europeia bem mais fortes do que no início deste século. As mudanças tecnológicas e o crescimento da China são interligadas. O crescimento da China nesse ambiente de guerra também permitiu que osEstados Unidos se fortalecessem.
Agora, inclusive em função da epidemia de COVID 19, temos um mundo cujo desenho é bem diferente do que estávamos vendo no tempo após a Segunda Guerra Mundial. Em primeiro lugar, o terrorismo islâmico em formas e modos diferentes, continua sendo um inimigo da paz e da tranquilidade. Mesmo com a morte do líder dos atentados nos Estados Unidos, esse mal do nosso século não desapareceu, como foi o caso do nazismo ( apesar do ressurgimento de extrema direita em várias partes do mundo) após 1945, mas aparece com violência e brutalidade em vários lugares do mundo. Será sem dúvida alguma a preocupação de segurança das mais promitentes da nossa época.
O Brasil se saiu menos ferido nessa guerra. Com total desprezo pela situação que passaram os Estados Unidos, o Brasil não se envolveu em nenhum conflito militar. E muito menos deu um basta à expansão de células terroristas na fronteira tríplice com a Argentina e o Paraguai. E mais, não consegue acabar com as alianças dos terroristas islâmicos com o narcotráfico. Essa nossa fragilidade, que também advém da falta de recursos financeiros exigidos para esse tipo de combate, pode custar muito, mas muito mesmo, para o futuro do país. Só uma pergunta simples: estamos preparados para evitar um ataque do tipo que aconteceu na França há dois anos na boate Bataclan, ou em Nice, ou na Espanha, ou Alemanha?
Aconteceu também um outro cenário, aparentemente econômico, mas de repercussões geo-políticas importantes. Nos trocamos a parceira econômica com Estados Unidos por uma parceira com a China. China não só se tornou nosso principal parceiro no comércio exterior e nos nossos investimentos, mas falando de forma branda, salvou a pátria. Os saldos positivos obtidos nas trocas comerciais salvaram de todo o desdém de gestão pública dos governos Lula, Dilma, Temer e atual. Sem a China estaríamos falidos e a mercê das missões do FMI e credores externos.
Para podermos avaliar os próximos 20 anos, temos que entender bem os passados 20 anos. A presença do terrorismo no mundo, mesmo que por graça divina não aconteça aqui, deve ser a nossa preocupação. Essa ameaça também tem consequências para uma economia estruturalmente frágil como a nossa. Então não basta estar feliz porque aparentemente nada aconteceu. Aconteceu e não percebemos. E a felicidade dos poucos com os preços do minério e da soja, além do milho nas alturas, não substitui o perigo que nos ronda e que insistimos em ignorar.
Stefan Salej
Monday, 19 July 2021
DE MINAS PARA FRENTE E PARA TRÁS : 5G
DE MINAS PARA FRENTE E PARA TRÁS
As terras mineiras escondem nas suas profundezas complexidades pouco vistas em outras regiões. Não se trata só de diferenças sociais visíveis pelo país afora, mas, principalmente, de seus avanços tecnológicos, e de seus atrasos. Parece que se insiste em Minas em sempre começar de novo e de novo , ao invés de construir e renovar. Mas, como sempre, também neste assunto há exceções que confirmam a regra.
O mundo está vivendo uma revolução tecnológica que melhor se expressa pelas adoção da tecnologia de conectividade 5 G, que nem é continuidade de 4 G, nem tem nada a que ver com outras tecnologias, que alguns inadvertidamente já estão chamando de 6 G. É conectividade mais eficaz, mas que permite ligar sistemas de dados, controles, sensores e mais e mais. Muda o funcionamento da indústria, do agro, da medicina, da educação, das cidades, muda tudo, muda o nosso viver de hoje.
Mas, não basta conectar, algo que está em curso com os leilões de frequências pelo governo federal. É necessário um plano para que as conexões funcionem, facilitando a vida dos cidadãos, do governo e das empresas. E aí, Minas foi pioneira, estabelecendo um grupo de trabalho coordenado pelo Vice-Governador do Estado. Em resumo, Minas, que já fez duas vezes o Diagnostico da Economia Mineira (com Fernando Roquette Reis e Carlos Alberto Teixeira nas presidência do BDMG), o projeto Cresce Minas de introdução da metodologia de clusters feito pela FIEMG, está se organizando para dar um novo salto na sua percepção do futuro .
Nenhum estado brasileiro tem condições tão favoráveis de aproveitar esta revolução tecnológica 5 G como Minas. Começa com uma infra-estrutura de pesquisa com dois pilares, a UFMG e o INATEL. Continua com um parque industrial na área de telecomunicações que é o Vale da Eletrônica, e tem a única empresa de telecomunicações de comando nacional e excelência impar, a Algar. Também tem um centro de pesquisa da Google, o Sao Pedro Valey, cluster de empresas de informática e mais alguns outros projetos importantes.
Tem também um mercado onde essa tecnologia pode ser aplicada extraordinariamente. O uso de redes privadas, além da expansão das redes públicas pelas operadoras, é o “X” do problema no assunto.Ou seja, sistemas agrícolas como cooperativas, minerações, sistemas de saúde e de educação, são o mercado natural para o uso dessas tecnologias. E Minas tem exatamente isso.
Se tudo está assim maravilhoso, onde então as coisas estão emperradas? Por onde Minas anda para trás, ao invés de para a frente?
Um projeto dessa natureza tem que ser consensual e compreendido por todas as lideranças no estado. Tem que mudar o paradigma, parar de pensar só em arrumar o caixa do estado, emprestar dinheiro para projetos que não adotam as últimas tecnologias, aliás o que vale para incentivos fiscais, parar de chorar sobre o governo federal e sua inépcia, achar que infra-estrutura é só estrada e trem.
É um mundo novo para cuja construção tem que ter adesão de todos. De que adianta fazer um grupo de trabalho que tem bloqueio da FIEMG, se a indústria, caso não mudar de paradigma tecnológico, não terá nenhum futuro? E mais, a adaptação dessa tecnologia vai depender de municípios que regulamentam o uso de antenas. E aí, se os prefeitos e os vereadores não entenderem de que se trata ou acharem que é mais uma oportunidade para seus objetivos e não para o povo que representam, vai tudo para brejo.
Se pensarmos bem, os obstáculos são essencialmente de natureza de liderança politica. Trata-se de colocar todos os atores num projeto só, com resultados visíveis para a melhoria de vida da população. É só querer e trabalhar.
Monday, 28 June 2021
DE BRIGA DOS SUB CACIQUES DA INDUSTRIA BRASILEIRA
DE MINAS EM PRIMEIRO LUGAR. PARA ALGUNS, SIM E PARA OUTROS....
Dizem as leis não escritas, em Minas, que, sendo mineiro, primeiro Minas. E assim se julga as pessoas, principalmente as que ocupam cargos públicos de qualquer natureza em Minas. Às vezes se perdoam deslizes no amor à terra, mas não se esquece jamais nem se perdoa alguém que colocar interesses pessoais ou interesses de terceiros acima desse amor infinito com as terras de Minas.
Minas foi pioneira na industrialização do Brasil. Primeira usina siderúrgica, primeira usina hidroelétrica e assim por diante, foi se formando um parque industrial, se não o maior do Brasil, sem dúvida dos mais competitivos em qualidade e competitividade. Não só grandes complexos industriais, mas até produtos artesanais, como cachaça e queijo, viraram a marca de Minas. E dentro desse contexto, a entidade empresarial da indústria, a FIEMG, pioneira inclusive na implementação dos clusters no Brasil ou APL (dos quais se destaca o Vale da Eletrônica) tem um papel fundamental no contexto econômico-social do Estado.
É uma entidade pública no sentido da responsabilidade política e social, além da sua função econômica. Aliás participou da vida política desde sua fundação há 85 anos de forma ativa e participativa . Portanto, os atos praticados lá, independentemente de sua natureza legal, não são fatos de ordem interna. São sim fatos que afetam o estado como um todo e cada cidadão mineiro, seja da indústria ou não. Pelo menos assim pensavam e agiam dois dos ex-Presidentes da entidade, Nansen Araújo e José Alencar, e seu sucessor.
Os eventos das últimas semanas, onde os dois atuais ocupantes dos cargos na entidade nacional da indústria e na estadual, onde acusações de parte a parte saíram das salas de reuniões e se tornaram públicas, dizem diferente. Os dois mineiros ocupantes dos cargos da suposta liderança industrial se estranharam num assunto fundamental para a vida dos brasileiros: ficar ou não mais tempo na presidência da entidade nacional. O que está lá, atuando há mais de quarenta anos em entidades empresariais, dos quais oito na presidência da FIEMG e doze na CNI deseja, por voto da maioria dos seus 27 pares, ficar mais um ano. Mudou o estatuto uma vez para ficar mais quatro anos, e, apesar de não ser mais representante de Minas na entidade, quer prorrogar seu mandato por mais um ano. Por que? As respostas são variadas, mas vão desde a necessidade de terminar seus projetos (doze anos não foram suficientes), evitar que a eleição ocorra em ano eleitoral brasileiro, para não ser contaminada por políticos (como se já não estivesse) e esperar que o candidato preferido dele concorra na eleição no seu estado e, se não ganhar, junte os votos das federações do Nordeste e se eleja de novo.
O príncipe mineiro, que justiça seja feita, não vai provocar a mudança de estatuto para prorrogar o mandato, está contra e tem apoio das federações da indústria de São Paulo e do Rio Janeiro. Ou seja, 75% do PIB está contra essa prorrogação, o que não vale nada porque os que não têm peso industrial têm votos. Assim é o sistema que movimenta bilhões de reais por ano e nunca, nem em Brasília e nem em Minas nos últimos vinte anos, publicou um balanço sequer. Total falta de transparência, da qual o cúmplice é o Tribunal de contas da União. Mas isso não tem nenhuma importância porque as pessoas lutam por esses cargos pelos benefícios que oferecem e prestígio por politico e benefícios para seus negócios e não pelo bem da indústria.
Aliás, a pergunta que fica é o que os dois fizeram para que a indústria crescesse ao invés de ir ladeira abaixo. E o que os dois, quando eram amigos, fizeram mesmo para o crescimento da competitividade da indústria mineira e brasileira.
Enquanto a indústria está minguando, temos pandemia, 500 mil mortes e crise de energia, dois mineiros resolvem brigar publicamente ao invés de se unirem e fazerem algo de bom para Minas e para o país. O motivo de brigarem pode até estar correto, em especial quando se fala em prorrogação dos mandatos. A distorção que vivemos no mundo das entidades de classe é assustadora. De um lado um mundo real, de dificuldades para sobreviver, de outro lado, briga de poder. Apesar de que a previsão de crescimento do PIB industrial mineiro este ano seja de 7 %, a pergunta é se isso é resultado da conjuntura internacional ou de ações das entidades de classe. Coisa de caudilhos empresariais que consideram que ser presidente de entidade e atuar quarenta anos é mais lucrativo do que ser empresário. Caudilhismo empresarial que se estende pelas corporações como conselhos profissionais, outra área que merece destaque nos custos das empresas e cidades.
Mostrar que queremos bem ao país é dar resultados e dois mineiros só brigarem se for para Minas ficar melhor. E com Minas, o Brasil. E se não forem capazes de resolver as divergências de forma civilizada, então o questionamento fica para o tribunal da cidadania mineira.
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