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Saturday, 1 February 2020

DO MUNDO DE 2020 DIFERENTE

DO MUNDO DE 2020 DIFERENTE


O que aconteceu neste janeiro de 2020, está difícil de explicar. Incêndios na Austrália, chuvas torrenciais no Brasil e na Ásia, são só parte da história. Três outros eventos estão  marcando a história deste século de forma indelével. O relacionamento do mundo com a China, incluindo a guerra comercial e a epidemia de corona vírus, é o primeiro. O Brexit, ou a saída do Reino Unido da União Europeia, é o segundo. Mas, não deixa de ser de menor importância o processo de impeachment do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os três juntos guiam as mudanças globais que vão afetar Brasil, independentemente de nossa atenção maior ou menor com o que acontece.

Os Estados Unidos concluíram dois acordos comerciais neste janeiro. Com a China, que prejudica enormemente as exportações brasileiras de produtos agrícolas (aliás, fora do minério de ferro, as únicas exportações que temos para lá) e reorganiza parcialmente as relações entre as duas superpotências. E outro acordo  reestruturado após 25 anos, com o México e o Canada, que se chamava NAFTA. Os dois acordos trazem um pouco de calma no comércio internacional, mas não indicam uma clara tendência de volta ao comércio global como base de sustentação do comércio e do desenvolvimento da economia mundial. São antes de mais nada uma vitória política do Presidente dos Estados Unidos, que insiste que as regras do comércio mundial têm que aparentemente beneficiar e não prejudicar os Estados Unidos. Como se até agora fosse diferente.

Na relação China-Estados Unidos, as complexidades continuam. De fato, o modelo econômico norte americano é de aliança industrial com China e também acesso a um mercado quatro vezes maior  do que o dos próprios Estados Unidos. Estados Unidos e China cresceram até agora porque a aliança que havia sido feita funcionou. Os Estados Unidos,  derrotados  militarmente várias vezes pela República  Popular da China, se beneficiaram com essa associação. Mas parece que subestimaram a capacidade da China de aproveitar da situação para se tornar a segunda maior economia do planeta e uma séria ameaça aos Estados Unidos, inclusive no campo militar.

E aí aparece o corona vírus. Do ponto de vista epidemiológico, nada de muito novo. Tivemos no século passado a gripe espanhola, mais recentemente a febre amarela, ebola, gripe comum, tuberculose, AIDS, SARS, gripe suína, zica e mais alguma coisa. O fato é que o corona vírus está fechando fronteiras econômicas que ainda não havíamos visto. E afetando diretamente a segunda maior economia do mundo, a chinesa. E se não bastasse no ano passado a peste suína na China, que aliás nos beneficiou muito em exportações de carne, o corona vírus não esta limitado à China, mas está se espalhando pelo mundo afora.

O cínico Trump disse que isso é muito bom porque agora as fábricas vão ficar nos Estados Unidos. O fato é que de repente a China ficou isolada por terra, ar e mar. O governo chinês vai conseguir controlar a situação, apesar do desconhecimento científico do que está acontecendo. A ditadura do proletariado pode ter neste momento essa vantagem no combate ao vírus. Mas o contágio já esta em curso e não sabemos a sua extensão. E só falta a notícia que mata tudo, de que o vírus se espalha também com certo tipo de produtos.

A saída do Reino Unido da União Europeia é uma mudança na geopolítica mundial. A Europa fica enfraquecida, o Reino Unido menor sem a Europa, e os grandes como os Estados Unidos, Russia e China, maiores, com a Europa menor.

Last but not the least, está o processo de impeachment do Trump. Ele está salvo, mas a democracia, não. Ele recebeu, e com ele todos os presidentes eleitos, certificado de que não há limites no executivo para se manter no poder. Eleito, pode tudo. O balanço do poder morreu. O sistema democrático que tinha como base um equilíbrio mutável dos poderes, mudou. E se muda nos Estados Unidos, muda no mundo inteiro.

Assim, o mundo  está diferente. Sem falar em mudanças tecnológicas.

Sunday, 5 January 2020

DE EXPORTAR MAIS E IMPORTAR MAIS

DE EXPORTAR MAIS E IMPORTAR MAIS

Qualquer análise isenta do comércio mundial indica que o saldo da balança comercial brasileira do ano passado, de 46.6 bilhões de dólares, é digno de aplauso. Independentemente do fato de ser menor do que em 2018 em 58 bilhões de dólares, ainda é um número respeitável. Mesmo o Brasil participando pouco do comércio mundial, 1 %, e nossas importações representarem pouco no PIB, são números expressivos. Mas, o que importa mesmo é de um lado a perspectiva para os próximos anos e de outro lado o balanço de pagamentos e reservas cambiais.

Os dados finais do balanço de pagamentos ainda não foram divulgados, apenas o referente a novembro de 2019. Indicam um déficit de 51 bilhões de dólares. Somos deficitários na área de serviços e viagens e pesam muito remessas de lucros, juros, aluguel de equipamentos e, em menor escala, transportes. Por outro lado, houve um ingresso de capitais estrangeiros de 69,1  bilhões de dólares. E, para concluir os dados, nossas reservas internacionais foram de 366.4 bilhões de dólares. A essas reservas podem-se somar outros 500 bilhões de dólares das pessoas físicas que os brasileiros levaram para investir fora do país e que não fazem parte das reservas oficiais.

Ainda há a dívida externa. O Brasil devia em fevereiro de 2019, 319 bilhões , mas a grande divida não é do governo brasileiro, e sim do setor privado que, aproveitando os  juros baixos e o câmbio estável, se endividou no mercado internacional. Por alguns cálculos, que podem nāo ser exatos, esta dívida ultrapassa os 500 bilhões de dólares.

O governo e o Banco Central, mesmo com deslize nas estatísticas do comércio exterior em novembro, “esquecendo” de somar  alguns bilhões de dólares na conta de exportações, pode-se dizer que tem dados, informações e técnicos confiáveis. Ou seja, temos tudo o que quem sabe escrever pode fazer. Agora, a leitura desses dados para os próximos anos é bem diversa. Para começar, comércio e relações econômicas internacionais não são um assunto nem de curto prazo e nem para ignorar que elas não se chamam à toa internacionais. Os fatores externos são determinantes nessas relações. É o mundo que determina as condições como você se move nessa esfera e não você.

A euforia de que tudo está maravilhoso deve ser urgentemente substituída pela racionalidade e visão de longo prazo do mundo em que vivemos e com o qual nos relacionamos.

A politica externa, seja ela diplomacia presidencial, ou exercida pelo Itamaraty e outros atores, deve ter em vista os resultados nas nossas contas externas. Essas contas dependem do aumento de exportações, de acordos internacionais implementados e de investimentos estrangeiros. No ano passado, a volatilidade na nossa política externa, sejam nossas posições em relação ao meio ambiente, Oriente Médio, relações com China e Estados Unidos ou as relações com Argentina, se sobrepuseram à vitoriosa negociação com a União Europeia. Sem falar da Venezuela.

O nosso aumento de exportações esbarra num problema simples: exportar o que para quem. Nossa base produtiva, mesmo Agro Pop tão cantado aos quatro ventos como grande sucesso, é fraca e ninguém responde se podemos exportar por exemplo este ano 224 bilhões, como no ano passado, ou 250 bilhões. No ano passado, se a desgraça não atingisse com a crise de carne a China, de quanto teria sido a nossa exportação? Sem dúvida, bem menor. Como exemplo, São Paulo não possui um plano de exportações  paulistas nem para este e muito menos para os próximos anos. O governo paulista abriu escritórios na China e nos Emirados Árabes, mas para trazer investimentos e não para aumentar as exportações. Então, imagine no resto do país.

A propagada de abertura do país, que quer dizer mais importações, só terá sustentabilidade se tivermos dólares para pagar. É o  caso de viagens internacionais. Brasileiro só viaja ao exterior porque compra dólares livremente. E de onde vem o dólar mais sustentável para a economia? Das exportações.

E para exportar precisamos ser competitivos, o que não nos leva só à questão do chamado custo Brasil, câmbio, reformas, educação, mas principalmente ao atraso tecnológico que o país vive. E também quem são os exportadores, com que produtos, para que países.

Não se pode baixar a guarda e nem se comportar de forma amadorística, nem com euforia. Está mais do que na hora de aceitarmos como premissa básica que sem exportações não há estabilidade  monetária do país.

Monday, 16 December 2019

DO ANO NOVO CHINES

DO FIM DO ANO CHINES

O principal jogo dos chineses é GO. É um jogo de tabuleiro inventado há 2500 anos, ou seja 2000 anos antes da descoberta do Brasil,  jogado por dois jogadores. Num jogo abstrato de estratégia, ganha quem conquista mais território no tabuleiro. E todas as informações disponíveis dizem que é um dos mais complexos jogos existentes. Até mais do que o xadrez que pelo menos nós ocidentais consideramos muito complexo.

A referência a GO veio à tona agora que os dois governos, da China e dos  Estados Unidos, declaram trégua na guerra comercial e dizem que concordam que os Estados Unidos não apliquem tarifas adicionais em compras de produtos chineses no valor de 360 bilhões de dólares (o que representa umas vez e meia das exportações brasileiras anuais).Os chineses também concordaram em aumentar as compras de produtos americanos, em especial agrícolas, no valor de 50 bilhões de dólares. E mais , produtos farmacêuticos, petróleo, e outros manufaturados. E se comprometeram em  não manipular a moeda, não subsidiar empresas estatais e respeitar patentes e propriedade intelectual das empresas americanas.

No meio do jogo, os americanos mandaram de volta alguns espiões chineses, (aliás nos estamos convencidos que no Brasil não há ativo serviço de inteligência chinês),restringiram o movimento dos diplomatas chineses nos Estados Unidos,  deram um grande golpe na Organização Mundial do Comércio, não nomeando os árbitros (o que inviabiliza as disputas comerciais entre os países  e torna o comércio uma selva), mas  os chineses também fizeram de Trump o aparentemente grande vencedor da disputa (ele também conseguiu aprovação do novo acordo com o México e Canadá) e forte candidato à re-eleição.

Como a guerra não era comercial, apesar de que o comércio estava na pauta, a disputa entre os dois países está longe de ser resolvida. As tropas voltaram para os quartéis, afiando as baionetas para a próxima batalha. E a batalha é simples: ou  mudança do atual modelo de divisão de atividades  econômicas  (quem produz o que para quem) ou manutenção deste modelo de cooperação em condições diferentes das praticadas até agora e que levaram os dois países a se enriquecerem em níveis elevados, mas com a China se fortalecendo politicamente e, principalmente, militarmente,  além de ter tomado muitos mercados dos Estados Unidos, que não voltam mais para as empresas americanas.

Estas explicações batem no Brasil. Nos somos parte do acordo entre essas duas potenciais. Os chineses nos usaram para mostrar aos Estados Unidos que têm alternativa nas suas compras de alimentos. Os Estados Unidos perceberam, aliás nada difícil de se ver, e castigaram o Brasil na importação de aço com sobretarifa e avisaram que não vão permitir  a manipulação do cambio (como se houvesse).  Os chineses vão voltar a comprar nos Estados Unidos e reduzir as compras no Brasil. Somos mais competitivos do que os  produtores americanos, então, sem preocupação, dizem os leigos agro. Ledo engano, porque nem no campo somos tão competitivos como se alega e o comercio agrícola  internacional é  essencialmente um jogo politico-comercial-diplomático. E sorry agro business brasileiro, entre esses jogadores,  nos somos gandulas no campo de futebol da várzea. 

Alias, o próximo ano será nesse campo, de grandes  emoções. Se nos dependermos muito da entrada de capital chinês para equilibrar nossas contas externas, ao mesmo tempo que teremos que decidir a nossa opção pela adoção  do sistema 5 G, teremos que pensar muito em como equilibrar tudo isso. Não será nem fácil e nem divertido.

Não é que não fomos bem sucedidos até agora ou que houve incompetência, mas o jogo esta mudando. É bem mais  complexo e envolve todos os atores políticos e econômicos do país. Trump, gostando ou não dele, está sabendo jogar para o bem do seus constituintes. É sempre bom lembrar que países não tem amigos, mas interesses e alguns, nesse jogo, jogam GO e pôquer ao mesmo tempo.

Tuesday, 10 December 2019

DA FALTA DE QUE MESMO? CARNE?

DA FALTA DE QUE  MESMO? CARNE?

Não falta carne na mesa do brasileiro. É mentira que não tem carne na praça. Carne tem à vontade nos açougues, supermercados, nos matadouros municipais e clandestinos pelo país afora. Então porque tanta reclamação? 

Simples, não tem dinheiro para comprar a carne de boi, frango, e mais tantos produtos agrícolas, inclusive frutas e verduras. Os preços determinados pela lei de mercado, oferta e procura (alguém já queria eliminar essa lei, mas não conseguiu) subiram além da capacidade da maioria dos brasileiros de comprar. César esta nu, como conta a lenda. Esse choque de preços de produtos agro mostrou toda a fraqueza da nossa economia,  que tem um consumidor cada vez mais empobrecido e sem condições de comprar os alimentos que consome e que o mercado oferece.

Os 30 milhões de desempregados e sub empregados, e mais os outros, com salários congelados, são consumidores imaginários e não reais. Porque? Porque os produtos não alimentares, compram à prestação, pagam com cartão de crédito em n vezes, mas a feira e a comida de todo dia, não dá para comprar fiado. Ou quando comprar, tem que pagar em seguida. E para isso, enquanto os preços estavam estabilizados, o povo aguentava. Só não via a subida de preços na feira quem nunca foi lá. Mas agora, com a subida do preço da carne bovina em 40 % em pouco espaço de tempo, o balão de ilusão de que estava dando para aguentar estourou. E pelo jeito que os lideres do agronegócio anunciam, especificamente o presidente da Confederação Nacional de Agricultura, o preço da carne não volta para o  patamar anterior.

Sem entrar no mérito das grandes teorias econômicas, para cuja defesa e explicação não faltam doutores no país (inclusive educados no exterior), a certeza é que agora vai subir tudo. Atrás do boi vai o frango, arroz, milho, soja, verdura, feijão  e tudo mais. E começa também a pressão sobre salários, já que quem tem emprego também não consegue pagar a conta. Em resumo: voltamos à espiral inflacionária? Pela estatísticas não, mas recentemente o governo teve que corrigir os dados do comércio exterior, erros de digitalização, o que coloca dúvida sobre se não pode haver outros erros. E a outra pergunta que fica é se panelas vazias, desta vez de fato, vão ficar só em casa, ou vão sair  para a rua.

Nessa complexidade há alguns elementos que surgem para pensar sobre o assunto. Um deles é se os 232 milhões de cabeças de gado que temos no Brasil, com produtividade media de 1.8 bois por hectare (baixíssima em termos mundiais) atendem o mercado interno e externo. A mesma pergunta vale para todo o setor agrícola: a produção  brasileira é suficiente para garantir o abastecimento interno e mais atender à demanda externa? Os chineses garantiram, na crise que estão passando com a peste suína e outros problemas, o abastecimento de sua população. Isso para eles é prioridade e pagam o preço que for. O fato de nós entrarmos nesse jogo é normal, faz parte da economia de mercado, mas não é normal que outras medidas de salvaguarda do abastecimento interno não tenham sido tomadas. Ou que não fosse, na ânsia de vender e mais vender e atender os chineses, visto como vai ficar o trabalhador brasileiro que não tem dinheiro para se alimentar nos preços que estão aí.

Paradoxal é que o Partido Comunista chinês  (os chineses, que não queriam aprovar os frigoríficos brasileiros, de repente aprovaram  todos) cuida bem dos seus constituintes e nós estamos aqui na  democracia achando que o mercado resolve tudo. Talvez chegamos à situação russa, quando a Tzarina Catarina, ao lhe trazerem o  problema da fome do povo, disse que lhes dêem caviar. No STF já resolveram isso com lagostas. Bem, com manchas de óleo, também os peixes sumiram, só para não esquecer que temos mais um problema. 

Já faltou boi no pasto no passado, então lições não faltam. E agora falta observar como esse no górdio criado no agro vai ser desatado. Em  dezembro, com festas, férias em janeiro e carnaval em fevereiro, na porta e na mesa.

Stefan Salej

Monday, 2 December 2019

DO AGRO, DO CAMPO, DO BOI E DA VACA E DO BREJO


DO AGRO, DO CAMPO, DO BOI E DA VACA E DO BREJO

O agro brasileiro está hoje na crista da onda. Todos acreditam que,  sem as conquistas que o setor obteve nos últimos anos, o Brasil estaria quebrado. É o agro que está na moda, é Pop como diz uma emissora de TV, e está por cima da carne seca, como diz o povo.

Há muita verdade nisso, mas também é hora mais do que certa de analisarmos, no meio dessa euforia, qual será o futuro desse setor na economia brasileira. Aliás, para começar, a pergunta é qual é o modelo de desenvolvimento econômico e social que o país quer, sem ser um monte de declarações das autoridades estabelecidas e não estabelecidas e nenhum plano e com objetivos e resultados claros. Ou seja, não quanto vai crescer o PIB nesses cenários, mas quanto vai crescer a renda e diminuir a desigualdade, entre outros indicadores. Apesar de não termos um projeto claro na área econômica , temos que reconhecer que o setor agrícola é importante e, no momento, o que tem melhores perspectivas de crescer.

Bem, não nos esqueçamos da história, quando o Brasil já era uma potência agrícola, o caso da monocultura do café ou da borracha, e quando perdemos o mercado ou perdemos tudo. Uma revisão no auge do sucesso, alias algo que preconiza o professor Marcos Jank da Insper, é saudável, é absolutamente necessária. Se não pensarmos para a frente e muito para a frente e nos iludirmos que somos os melhores do mundo, que  por exemplo  a China acaba sem soja brasileira, o nosso futuro não existe. E aí vem a pergunta, o setor agrícola tem massa crítica para uma revisão dessas? Por exemplo, o setor industrial não teve essa capacidade. E aí está o resultado: 12 % do PIB brasileiro hoje representa uma indústria que já teve 35 % há vinte anos atrás.

O agro enfrentará os desafios tecnológicos e com eles também o problema da mão de obra. Não basta a re-estruturação da EMBRAPA, se o sistema de pesquisa no país como um todo, incluindo suas universidades, está em declínio. Pesquisa nessa área demora, custa muito dinheiro e precisa de gente. E hoje ela  é dominada pelas multinacionais, inclusive chinesas, e suas universidades com recursos intermináveis.

No quesito mercado, a verdade  é que não somos players com produtos industrializados ou até semi-industrializados.  Há há alguns exemplos na área de carnes brancas, mas longe de termos marcas que poderiam valorizar mais os nossos produtos. E também temos que levar em consideração o envelhecimento de população mundial, mudança  de hábitos de alimentação, e não final exigências cada vez mais rigorosas dos países compradores tanto no processo como nos produtos. Em resumo, num mercado onde nossas redes de distribuição dependem de empresas estrangeiras, somos muito mais comprados do que vendemos.

O setor que tem enorme potencial, também tem que ter políticas claras quanto ao meio ambiente. Não se trata só da Amazônia, trata-se de toda a cadeia produtiva no país inteiro. E negar que esse assunto não prejudica as vendas do setor no exterior é tapar o sol com a peneira. E aí vem também uma enorme possibilidade na área de produtos oriundos da biodiversidade brasileira. Por exemplo, o  açaí é muito mais lucrativo do que criar boi, e ainda não falamos do potencial da pesca, seja de água doce ou do mar. Para quem tem dúvida, basta lembrar do bacalhau de Portugal, que não o produz e vende com preços exorbitantes.

O setor tem sim, aliás no mundo inteiro, uma estreita relação com políticas governamentais. Mas, será que existe um planejamento do próprio setor, incluindo o governo? Por exemplo, na área de mão de obra para o setor (que aliás não é grande gerador de emprego), o que será feito no futuro? As fazendas precisam de engenheiros, especialistas em dados, analistas e claro todos os outros profissionais. Se depender dos governos, essa mão de não vai existir. E mais, o setor agrícola conversa com outros setores e coordena suas estratégias?

Dependendo só da China, comprando o que quer pelo preço que quer, não vamos muito longe no tempo. É bom lembrar as crises de café na década de 20 no século passado ou as crises de hoje na cafeicultura. Não se iludir com o sucesso de hoje e deixar de construir um futuro mais sólido. Ou como dizem os fazendeiros, não deixar a vaca ir para o brejo.

Stefan Salej

Friday, 15 November 2019

DOS ACORDOS E DESACORDOS COMERCIAIS

DOS ACORDOS E DESACORDOS COMERCIAIS

As relações econômicas  no sentido mais amplo de palavra são a base das relações diplomáticas e políticas entre os estados. Essas relações podem ser ou não traduzidas em acordos comerciais, ou muitas vezes em difícil entendimento entre os países que beiram mais o desacordo do que uma boa relação. Mas, um acordo entre países sempre significa um avanço nas relações, teoricamente benéfico para as partes. E principalmente coloca as regras claras mediante as quais essa relação evolui.

Hoje em dia tem muita falácia sobre a abertura do Brasil, país segundo alguns mais fechado do mundo, e a assinatura de novos acordos com blocos ou países. Mais recentemente, houve a declaração do Ministro da Economia Guedes, que disse que temos que fazer um acordo de livre comércio com a China. Primeiro precisamos esclarecer  que quem negocia os acordos comerciais pelo Brasil é o Ministério de Relações Exteriores, conhecido como Itamaraty. Claro que negocia em nome do governo, do país, mas são os diplomatas que negociam.

Bem, antes de fazermos um acordo com China, vale a pena ver o que temos de acordos em curso e em negociação. Primeiro está o nosso acordo mais amplo e menos eficiente, que é o Mercosul. Nele o Brasil tem o seu maior superávit de exportações de produtos manufaturados e tem uma relação mais intensa e extensa. Mas, esse acordo precisa ser revisto, também no seu sentido mais amplo, como não só uma união aduaneira mas como um acordo de desenvolvimento regional. E neste momento essa parceria está sob hemorragia verbal dos líderes políticos dos dois maiores parceiros, o que não indica que haverá uma revisão proveitosa para o desenvolvimento dos países em questão. Aliás, tanto Bolsonaro como o Presidente eleito da Argentina já falaram que se não for do jeito que eles propõem (o Brasil que baixe tarifas externas, por exemplo), vão sair do Mercosul. Em resumo, se não arrumar o Mercosul, o Brasil não pode negociar acordos com outros países.

O Brasil também faz parte de inúmeros organismos internacionais, entre eles a Organização Mundial do Comércio, que precisa de uma revisão antes que a entidade se torne inútil. A OMC, dirigida por um brasileiro, pessoalmente muito capaz, foi sendo desdenhada como fator de avanço do comércio internacional, e, como todos sabemos, está moribunda, e no pior estágio da vida: nem viva e nem morta.

Fazemos parte dos BRICS que se reuniram esta semana em Brasília. Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul evitaram discutir problemas políticos e pela enésimas vez declararam sua intenção de incrementar o comércio intra bloco. Nada disso aconteceu até agora, a não ser avanço das exportações chinesas para Brasil e importação de commodities brasileiras pela China. Nosso comércio com outros membros é tão miserável que não vale a pena nem mencionar. 

E na lista de espera está a ratificação do Acordo com União Europeia. Esse acordo, que verdade seja dita, vai afetar profundamente  a estrutura produtiva do país, esta sob ataque tanto na Europa como em especial na Argentina. Ou seja, o caminho a percorrer na aprovação do acordo ainda é longo, tortuoso e às vezes parece incerto. Quase o mesmo vale para o acordo com a EFTA, Suíça, Noruega, Liechtenstein . Um acordo cuja negociação foi concluída, mas ninguém viu o que se concluiu. E nas mesma esteira estão os acordos com Coréia do Sul, Japão e quem mais quiser. Tem também entusiastas de nossa adesão ao acordo com países do Pacifico e agora com a China. 

Em resumo, acordos e intenções de incrementar comércio não faltam.

Então, o que falta? Falta dizer com clareza que esses acordos fazem parte de um projeto econômico e social do país. Eles mudam não o nosso comércio externo, mudam a estrutura econômica e social do Brasil. Para os leigos é simples entender: o que vai se produzir no país, o que se vai importar, que empregos vai gerar. Que áreas vão desenvolver, e quais não. Onde vale a pena investir e onde não.

O fato é que esse projeto, se existe, está escondido e não  é consensual no país. Hoje os acordos com a UE e EFTA nos empurram para um novo patamar de competitividade para o qual não estamos preparados. E pior, com avanços tecnológicos, indústria 4.0, inteligência artificial, 5 G etc., a situação só tende a piorar.

Precisa de um plano de aumentar a competitividade da sociedade brasileira. Não basta só a modernização do estado, que está lenta, mas de toda a base econômica e ai vai social, como educação e saúde entre outras, do país. Também só ajustar a  infra estrutura e reduzir o Custo Brasil não será suficiente. Vai ajudar mas continuaremos a  exportar matérias primas, por exemplo soja para a China e não farelo de soja para mesma China.

Fazer acordos, ou então anunciá-los, sem uma base de transformação que os mesmos exigem, é a parte mais fácil ou às vezes até irresponsável da história. Implementá-los para que criem uma sociedade mais equilibrada, justa, com mais e melhores empregos, esta é a parte mais difícil . 

Monday, 11 November 2019

DE MINAS EM CACOS E CACOS DE MINAS

DE MINAS EM CACOS E CACOS DE MINAS

Recente campanha publicitária da quase centenária FIEMG, Federação das Indústrias de Minas Gerais, diz que o Estado de Minas está em cacos e precisamos todos apoiar o projeto do governo Zema para a sua recuperação fiscal, em discussão na Assembleia Legislativa do Estado. Os anúncios e o chamado à população para que entenda que, se o projeto não for aprovado, a situação do próprio cidadão vai piorar, merecem neste momento crítico uma reflexão que ultrapassa o simples anúncio.

De fato, Minas tem muitos cacos e cocos que foram feitos durante a história. O estado foi dirigido  por banqueiros, industriais, empresários, engenheiros, advogados, economistas, mas foi um médico, JK, que deixou mais progresso e desenvolvimento do que qualquer outro. Uma das atitudes mais proveitosos na solução de crises é que os atores envolvidos na sua construção, ou neste caso desconstrução do estado, governo, e sua sociedade, façam uma reflexão sobre o que aconteceu e qual foi o papel de cada um. Já que a palavra crítica é , no dicionário político mineiro é palavrão e ofensa grave, seria bom pensar o que fazer com os cacos que estão infernizando a vida do cidadão. Ou seja, não é uma análise de números e também uma solução aritmética que vão dar uma saída duradoura à situação crítica e triste de hoje do estado.

O que não falta em Minas são boas cabeças pensantes. E esta situação exige uma reflexão profunda dos melhores cérebros mineiros e brasileiros. Quiçá estrangeiros. Hélio Garcia não teve medo, para citar um exemplo, de ter ao seu lado técnicos do mais alto gabarito e ouvir sobre o Plano Real o redutável Professor Jeffrey Sachs. E pior, ou melhor, fazer o que ele  sugeriu. Um governo que foi eleito com tal maioria não pode ser sectário e nem se apequenar perante os problemas, mas tem que exercer a liderança que leva a soluções. O plano apresentado é parte da solução e as medidas anunciadas, como a pré-venda de recebíveis de nióbio ( algo parecido com o que aconteceu com venda fracassada do pré-sal ou na Grécia), privatizações e ameaças de medidas não passam de solução momentânea.

O plano tem que ser uma profunda reforma do estado, por incrível que pareça algo que Guedes, aliás quadro da UFMG, quer fazer. Se continuar com esse modelo de gestão do estado, composto por privilegiados e outros 90 %, de nada adianta esse plano. Se os setores privilegiados de ontem, hoje e querendo ser de amanhã, insistirem em não colaborar, o plano só vai resolver algumas coisinhas, mas na essência só vai transformaram os cacos de hoje em meteoritos de amanhã.

Minas tem que repensar urgentemente seu modelo de estado. Na área de gestão pública, no seu modelo político, altamente dependente do poder federal, econômico e social. O que está aqui faliu e faliu feio, deixando muito mais gente na miséria do que se imagina e muito mais gente riquíssima do que a sociedade aceita. Estamos numa nova era tecnológica e de desafios, e agimos, inclusive com esse plano, com métodos do século passado que morreram.Ou que nos deixaram onde estamos.

Nesta visão do futuro, não podemos deixar de repetir aquela frase de Presidente  Kennedy, salvo engano, o que você pode fazer por este país. Na área empresarial, colocar anúncio e fazer lobby pelos interesses só de um grupo de empresários, é coisa de amador , sem visão e muito pior: sem responsabilidade com o futuro. O empresariado mineiro tem sim que dar as mãos ao governo e outros atores na solução da crise, mas tem que também liderar seu próprio projeto de melhoria de competitividade e inserção no mercado global. A soberana indústria não conversa com o agro e com os serviços e comércio, ou vice versa. As reuniões de coordenação das 11 entidades não levam a um objetivo comum, um projeto comum, como aliás já aconteceu no passado. E enquanto o setor econômico for essencialmente pensar nas soluções do governo e com o governo, o estado vai para o Plano de recuperação e nada além. E isso quer dizer um grande Band aid, mas tudo continua como D’antes no quartel do Abranches.