DO MUNDO DE 2020 DIFERENTE
O que aconteceu neste janeiro de 2020, está difícil de explicar. Incêndios na Austrália, chuvas torrenciais no Brasil e na Ásia, são só parte da história. Três outros eventos estão marcando a história deste século de forma indelével. O relacionamento do mundo com a China, incluindo a guerra comercial e a epidemia de corona vírus, é o primeiro. O Brexit, ou a saída do Reino Unido da União Europeia, é o segundo. Mas, não deixa de ser de menor importância o processo de impeachment do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os três juntos guiam as mudanças globais que vão afetar Brasil, independentemente de nossa atenção maior ou menor com o que acontece.
Os Estados Unidos concluíram dois acordos comerciais neste janeiro. Com a China, que prejudica enormemente as exportações brasileiras de produtos agrícolas (aliás, fora do minério de ferro, as únicas exportações que temos para lá) e reorganiza parcialmente as relações entre as duas superpotências. E outro acordo reestruturado após 25 anos, com o México e o Canada, que se chamava NAFTA. Os dois acordos trazem um pouco de calma no comércio internacional, mas não indicam uma clara tendência de volta ao comércio global como base de sustentação do comércio e do desenvolvimento da economia mundial. São antes de mais nada uma vitória política do Presidente dos Estados Unidos, que insiste que as regras do comércio mundial têm que aparentemente beneficiar e não prejudicar os Estados Unidos. Como se até agora fosse diferente.
Na relação China-Estados Unidos, as complexidades continuam. De fato, o modelo econômico norte americano é de aliança industrial com China e também acesso a um mercado quatro vezes maior do que o dos próprios Estados Unidos. Estados Unidos e China cresceram até agora porque a aliança que havia sido feita funcionou. Os Estados Unidos, derrotados militarmente várias vezes pela República Popular da China, se beneficiaram com essa associação. Mas parece que subestimaram a capacidade da China de aproveitar da situação para se tornar a segunda maior economia do planeta e uma séria ameaça aos Estados Unidos, inclusive no campo militar.
E aí aparece o corona vírus. Do ponto de vista epidemiológico, nada de muito novo. Tivemos no século passado a gripe espanhola, mais recentemente a febre amarela, ebola, gripe comum, tuberculose, AIDS, SARS, gripe suína, zica e mais alguma coisa. O fato é que o corona vírus está fechando fronteiras econômicas que ainda não havíamos visto. E afetando diretamente a segunda maior economia do mundo, a chinesa. E se não bastasse no ano passado a peste suína na China, que aliás nos beneficiou muito em exportações de carne, o corona vírus não esta limitado à China, mas está se espalhando pelo mundo afora.
O cínico Trump disse que isso é muito bom porque agora as fábricas vão ficar nos Estados Unidos. O fato é que de repente a China ficou isolada por terra, ar e mar. O governo chinês vai conseguir controlar a situação, apesar do desconhecimento científico do que está acontecendo. A ditadura do proletariado pode ter neste momento essa vantagem no combate ao vírus. Mas o contágio já esta em curso e não sabemos a sua extensão. E só falta a notícia que mata tudo, de que o vírus se espalha também com certo tipo de produtos.
A saída do Reino Unido da União Europeia é uma mudança na geopolítica mundial. A Europa fica enfraquecida, o Reino Unido menor sem a Europa, e os grandes como os Estados Unidos, Russia e China, maiores, com a Europa menor.
Last but not the least, está o processo de impeachment do Trump. Ele está salvo, mas a democracia, não. Ele recebeu, e com ele todos os presidentes eleitos, certificado de que não há limites no executivo para se manter no poder. Eleito, pode tudo. O balanço do poder morreu. O sistema democrático que tinha como base um equilíbrio mutável dos poderes, mudou. E se muda nos Estados Unidos, muda no mundo inteiro.
Assim, o mundo está diferente. Sem falar em mudanças tecnológicas.