DO BRASIL SEM NOBEL
Nas últimas semanas foram anunciados os ganhadores do Prêmio Nobel pela Academia Real Sueca de Ciências nas áreas de química, física, economia, medicina e literatura. Desde 1901, esse prêmio, que tem origem na doação do inventor da dinamite sueco Alfred Nobel, é considerado o mais prestigiado do mundo. Enquanto na literatura houve um ganhador só, veja todos os ganhadores no www.nobelprize.org, em outros campos. O prêmio de um milhão de dólares é em geral dividido por três ganhadores. Ou seja pesquisas feitas nos diferentes lugares do mundo, por exemplo na medicina no Japão e Reino Unido, na química na Austrália, California e Japão, economia na França, Holanda, EUA, Canadá. Em resumo, pesquisa é global e não tem fronteiras. E mais, é antes de tudo cooperativa.
Explicar cada uma das conquistas que geraram os prêmios cabe mais aos especialistas de cada área e certamente acharão os caminhos de conexão entre a pesquisa que realizam e a dos ganhadores.
Aliás, o que mais teve no Brasil foi debate sobre o prêmio de economia porque ele toca na questão fundamental: sem contínua inovação, não há desenvolvimento. E aí vem a questão por que o Brasil nem progride e nem ganha Prêmio Nobel. Vivemos ondas de pesquisa e de inovação. Veja um exemplo: no governo FHC criaram o Instituto do Milênio. Pesquisas em rede, aliás algo que no Brasil sempre foi problema, os paulistas não cooperam com os mineiros e vice versa, e com recursos. No primeiro ano do governo Lula isso sobreviveu e hoje ninguém, a não ser os aposentados da época, se lembram disso.
Por incrível que pareça os prêmios Nobel indicam , cada ano mais, que pesquisa pura, acadêmica, leva a resultados concretos ou, como escreveu The Economist, as lições das pesquisa são imprevisíveis, e isso leva a resultados inesperados e concretos.
Na história dos prêmios Nobel deste ano tem ainda o da Paz, que é outorgado não pelos suecos, mas pelos noruegueses, mediante um comitê de cinco membros nomeados pelo Parlamento, à líder da oposição venezuelana Corina Machado. Dizem que Trump esperava ganhar esse prêmio, especialmente pelo acordo de Gaza, mas Corina fez questão de dizer a ele que lhe dedica prêmio. Esse prêmio é polêmico, tem sempre fundo político e os noruegueses já estão jogando de olho no futuro da Venezuela, onde têm grandes interesses energéticos. E Trump terá que esperar.
A reflexão mais importante é por que, nestes 124 anos do prêmio, nenhum brasileiro o recebeu. Que houve em todas as áreas merecedores, não há dúvida, mas por quê? Não se trata do prêmio, trata-se de saber por que não alcançamos este nível de reconhecimento. Vamos refletir.
Na minha vida esbarrei várias vezes nos ganhadores de Prêmio Nobel. Um domingo visitando com prof.dr.Robert Blinc, físico que ajudou erguer doutorado em física da UFMG, mas esloveno como eu, seu laboratório na ETH Zurique onde ele ensinava no curso de pós doutorado.Uma aula por semana, onde tinha que apresentar algo novo, e semana de pesquisa. Quando saímos do prédio, comentei que os suíços já não eram mais os mesmos, tinha muita luaz acessa no prédio. E a resposta dele foi: você acha que eles ganharam tantos prêmios Nobel porque só trabalham de vez em quando. Aqui a pesquisa é 24/7.
Outra vez foi num work shop na OCDE em Paris, onde um dos expositores foi um físico japonês ganhador do Nobel. A pergunta, o que mudou na vida dele depois do prêmio, respondeu: agora tudo que digo tem crebilidade e tenho mais recursos para pesquisa.
Um não ganhador foi Jeffrey Sachs, um economista bem reformulador das economias do Leste Europeu e outras em transição. Encontramos várias vezes inclusive em Minas Gerais. Dizem que não ganhou Nobel, porque monetizava suas opinões e pesquisas.
No Brasil teve vários candidatos que passaram na minha vida. D.Helder Camara, Jorge Amado, acho que no caso dos dois deve ter sido a pressão do regime militar para não ganharem porque eram da esquerda. Quem sabe.Na física César Lattes. O fato é que ninguém ganhou.
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