DO CÁ E LÁ, da Eslovênia para o Brasil
Para quem veio para Brasil em 1960, inauguração de Brasília, fim da época JK, início da indústria automobilística, eleição de Jânio Quadros com vassourinha, de uma Iugoslávia socialista, fazer uma reflexão de uma mudança tão radical é quase que uma obrigação. Enquanto o país de onde vim desapareceu, e o pedaço de onde somos virou, com seus 25 mil km2 e dois milhões de habitantes, um país independente, a Eslovênia, passando por um conflito armado e um processo de separação, o Brasil ficou onde sempre esteve: não teve conflito externo e nem um milímetro de território se mexeu. E um lugar sem guerra tem muito valor.
Lá, a Eslovênia se integrou à UE, à OTAN, aliança militar, e mais todas as instituições multilaterais, conseguindo não só presidir por duas vezes o Conselho de Segurança da ONU, e a própria UE, mas ser nestes dias destaque na conferência sobre o mar na França, segundo o jornal Le Monde, mesmo tendo só 42 km de costa. O Brasil tem 8,500 km, mais o maior rio do mundo.
Comparar um gigante territorial como o Brasil com um país onde os políticos e os até diplomatas insistem sempre em dizer “somos pequenos “não leva a lugar algum. Mas, há algumas realidades que moldam o futuro, que podem servir para reflexão.
Os primeiros eslovenos chegaram ao Brasil há 140 anos. O país até hoje recebe os imigrantes, mas mesmo assim a sua população de 210 milhões está envelhecendo. E tem 4 milhões de brasileiros no exterior. Dois por cento da população. Na Eslovênia de 2.1 milhões de habitantes, 10 % são estrangeiros. E boa parte, muçulmanos. E há 500 mil eslovenos vivendo em 137 países, um quinto de sua população. E falta mão de obra. Assim, o país importa filipinos, católicos.
A vulnerabilidade geopolítica de um país incrustado entre Leste e Oeste da Europa, a 500 km do conflito da Ucrânia, e dependendo totalmente do comércio internacional e do turismo, é bem diferente de um Brasil continental. Espirro em Moscou ou resfriado na economia alemã se sentem como terremotos na Eslovênia. E no Brasil? Quase nada. A independência da tomada de decisões no Brasil, mesmo levando em conta cenários internacionais, é bem diferente do que para quem está na União Europeia, onde os burocratas de lá mandam mais no seu município do que o prefeito. E agora tem que aumentar seu orçamento militar para 5 % do PIB e com isso reduzir seus gastos sociais.
Não é só a economia e a política que definem como viver. Mas o seu povo. E se teve que emigrar, então escolher Brasil foi uma excelente opção. Obrigado aos meus pais que fizeram essa escolha e obrigado aos brasileiros por nos receberem. Raizes a gente não deixa ter, mas planta novas árvores. E plantamos.La dor va dor.
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