Powered By Blogger

Tuesday, 4 December 2018

DA NOSSA IMPORTÂNCIA E O G-20


DA NOSSA IMPORTÂNCIA E O G-20

A apresentação do sempre bom de se ver tango e ouvir música plantense foi de matar. O renovado teatro Colón, em seu esplendor dourado, com assentos de veludo vermelho, relembrando o auge da potência que era a Argentina no início do século passado, quarta potência mundial após a Segunda Guerra Mundial, era o lugar certo para a festa dos líderes mundiais reunidos no grupo chamado G-20. E Buenos Aires, mergulhada mais uma vez numa crise econômica e social profunda, recebia  os convidados com galhardia e simpatia portenha. Os protestos eventuais, tão comuns no nosso vizinho e parceiro econômico mais importante, ficaram por conta da briga de torcedores dos dois maiores clubes portenhos: Boca Juniors e  River Plate, que terão que jogar o final de Taça Libertadores, por coincidência, em um lugar de onde a América Latina saiu para ser libertada: Madrid.

Mas o cenário, bem organizado, não foi suficiente para recompor um mundo cada mais polarizado, caminhando fortemente para uma composição nova, neste século de avanços tecnológicos mais rápidos do que conseguimos absorver. Na semana em que a agência espacial norte-americana colocou uma sonda em Marte, as desavenças pessoais entre os líderes mundiais determinam mais os interesses dos países do que os interesses dos seus povos. De um lado, tem a Rússia em conflito quase armado com a Ucrânia, de outro lado tem a guerra comercial entre Estados Unidos e China, e a Arábia Saudita com seu príncipe sorridente, pseudo reformador, andando por  Buenos Aires como se nunca tivesse sequer falado mal de ninguém, quiçá ter assassinado um jornalista em Istambul.

Seja como for, os líderes se encontraram e, entre outras coisas, declararam que a reforma de Organização Mundial de Comércio precisa ser reformada. Nada de novo, só que na prática está prevalecendo cada vez mais o unilateralismo e não acordos multilaterais de comércio. E o mais importante foi a conclusão do jantar entre os líderes dos Estados Unidos e China, que decidiram da boca para fora dar um tempo à guerra comercial. E se os norte-americanos precisassem sentir a força da China, o caso da Argentina é bem emblemático. Os chineses doaram à quebrada Argentina todos os equipamentos de segurança da reunião e têm no país uma base militar da melhor qualidade.

A presença brasileira foi exatamente como se descreve um final do governo, quando dizem que  nem cafezinho servem mais. O novo governo se entendeu com o governo Trump por canais não oficiais antes da reunião e o governo sainte nada tem a dizer. Nós temos políticas dos governos e não política de interesse nacional e de continuidade.

Assim, temos que esperar o novo governo assumir, algo que não perturbou por exemplo os mexicanos que assinaram com os canadenses e Estados Unidos novo acordo comercial, 24 horas antes do novo

Monday, 26 November 2018

DE MINAS UNIDA ou MINAS.....


DE MINAS UNIDA ou MINAS.....

Com a eleição inédita de um governador do Estado de Minas com mais de 70 % dos votos populares, estamos vivendo uma situação inesperada e ao mesmo tempo auspiciosa e perigosa.

Simples, o Estado tem agora um líder, um maestro ungido nas urnas, que tem imenso apoio popular e a responsabilidade também excepcional de cumprir aquilo para o que foi eleito. E a essa realidade, a classe política de Minas, sempre mais preocupada ou com o regionalismo microcósmico ou com interesses próprios, mais do que com os do estado, deve simplesmente se submeter, porque isso é do seu melhor interesse. 

A calamitosa situação de Minas, com dívida de 90 bilhões de reais e déficit corrente no orçamento de 5.9 bilhões de reais, foi brutalmente condenada, junto com os que ajudaram a chegar a essa situação, nas urnas. E agora, para sairmos dela, ou vamos quebrar aquela máxima do nosso querido escritor Otto Lara de Rezende, de que mineiro só é solidário no câncer (e olha lá), ou vamos retroceder em termos econômicos e sociais 50 anos. 

O novo governo não tem maioria de deputados estaduais, não tem maioria de deputados federais. Mas, tem maioria de votos da população e um objetivo crítico a realizar: colocar Minas em ordem para ter ordem.

Então, só com a união de todas, absolutamente todas as forças nesse tsunami de desgraça que está nos matando, e que, na falta de pagamento do salários do funcionalismo e transferências para as prefeituras tem a sua cara mais visível, pode-se sair da crise. Se os políticos, inclusive do atual governo, não entenderem isso e continuarem como estão fazendo durante a transição, com uma oposição irresponsável, é que porque lhes interessa mais a guarita da sua ideologia  do que os interesses de Minas. Hoje os erros do passado não devem servir para construir uma acusação, mas uma construção de soluções e lições que nos ajudem a sair da crise.

Essa adesão à vontade popular de mudança deve valer também para os empresários, incluindo os fazendeiros. Não é hora de reivindicações, reclamações e pedidos de benefícios, é hora de colaboração, cooperação, projetos conjuntos.

O mesmo vale para os sindicatos e agremiações dos trabalhadores. Que a corda está arrebentando do lado mais fraco, não há dúvida. E que se pode ficar sem corda e cair no precipito se não reforçar a corda, também é verdade. Preocupações críticas com a calça jeans do novo governador e sua maneira de ser são mesquinhas, idiotas e demonstram que seus críticos insistem em não enxergar a essência dos problemas .

Os intelectuais, universidades e também fornecedores do estado, alguns por ele  generosamente compensados nas concessões e negócios, em especial na área de construção,  terão que rever seu modo de agir porque, se não tem para a maioria, não pode ter para a minoria.

Não no final, sobrou se devemos ter ou não nesse processo de recuperação, de reviver de Minas, ajuda de fora. Toda ajuda para reverter o processo é bem vinda. Tem que primeiro sim aproveitar os valores que existem no estado, mas os de fora podem trazer visão mais ampla, sem arrestas e com novas perspectivas.

Maestro nos temos. Agora falta a partitura, um plano consensual  que possa resolver a crise e iniciar a fase de mais emprego, desenvolvimento social e econômico sustentável e respeitando as melhores tradições mineiras.

Wednesday, 21 November 2018

DO ORIENTE MÉDIO


DO ORIENTE MÉDIO 

O Brasil é provavelmente o país fora da Europa com maior população de origem dos países do Oriente Médio no mundo. Em especial,  população de origem árabe. Temos um Líbano inteiro aqui e o atual presidente do país é filho dos pais libaneses e primeira geração de sua família nascida no Brasil.  A Síria tem em Belo Horizonte um dos mais antigos consulados  honorários, sempre dirigido pela lendária  família Cadar. Em São Paulo tem uma belíssima Catedral ortodoxa síria. Ministros, governadores e em especial empresários, como Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, são de origem árabe. A Câmara do comercio árabe brasileira é sem dúvida das mais ativas promotoras do comércio entre esse bloco de 33 países e o Brasil.

Este ano a comunidade judaica está celebrando 70 anos da fundação da Confederação Israelita Brasileira, a CONIB, aliás a ser celebrada com palestra do filosofo francês judeu Bernard-Henry Levy. Bem ao estilo do povo do livro. No Brasil há mais de 100 mil judeus  espalhados pelos quatro cantos e que tiveram papel fundamental no desenvolvimento não só da Amazônia, mas da indústria, educação e serviços no Brasil. Lendário presidente da Federação do Comércio de São Paulo é Abrão Sczaiman cujos trabalhos no SESC são marca cultural brasileira.

Essas comunidades dão uma contribuição, como também outras, fundamental para  o crescimento do país . Veja os dois principais hospitais de São Paulo: Einstein e Sírio Libanês. Um da comunidade judaica, outro da comunidade árabe. E todos convivem como primos, brigando e brincando, mas todos brasileiros.

Os problemas que o Oriente Médio enfrenta, guerras de facções, pelo poder, disputas de grandes potências, guerra pelo petróleo e tantos outros conflitos, estão longe, a não ser quando afetam famílias e negócios. O assassinato de um jornalista saudita em Istambul é para nós um filme de horror visto ao vivo. A briga do Irã com os Estados Unidos, apesar de haver importante presença de iranianos em Minas, é briga deles, que impede de vendamos mais para o Irã. Os massacres no Iêmen, só na CNN, para quem assiste. 

A lendária presença da Mendes Jr. no Iraque e Mauritânia já foi esquecida. O sucesso da Andrade Gutierrez na Líbia acabou fazendo parte da decadência da construtora, como do próprio país.

A recente batalha entre Israel e facção belicista dos palestinos em Gaza, Hamas, que  quase virou guerra, foi posta do lado pelas repetidas declarações do novo governo de que a capital de Israel é Jerusalém e não Tel Aviv. E a ameaça dos países árabes de que vão deixar de comprar nossa carne, o Brasil é o maior produtor mundial de carne com corte exigida pelas leis islâmicas, Halal, quase se realiza, com o cancelamento de visita do Chanceler brasileiro ao Cairo.

Estamos longe dos conflitos, mas foi o Chanceler brasileiro Oswaldo Aranha que presidiu em 1948 a Assembleia Geral da ONU que declarou a fundação do Estado de Israel. Nem tão longe estamos que nada nos interessa, como uma guerra  sem fim e com consequências trágicas, como a da Síria. Estamos longe, mas fazemos parte sim desse Oriente Médio difícil de entender e compreender . De um jeito ou outro, mexer naquele tabuleiro sempre é um problema.

Tuesday, 13 November 2018

DAS GUERRAS, KRISTALNACHT E PAZ


DAS GUERRAS, KRISTALNACHT E PAZ

Na semana passada, o mundo lembrou das duas grandes tragédias maiores do Século XX, entre tantas que experimentamos. Tragédias das quais o Brasil não foi protagonista, mas que também afetaram o país no bem e no mal.

Em 11/11/1918, às 11 horas do dia 11 do mês 11 de 1918, foi assinado um armistício do que a história moderna chama de A Grande Guerra. Quatro anos de batalhas que mataram mais de 14  milhões de pessoas, 9 milhões de soldados, 28 países participando. Uso de armas novas, como tanques e aviões, terrível uso de armas químicas, como gás mostarda, batalhas como da Somme, na França, entre forças de Entente (França, Inglaterra, Rússia) versus a Tríplice Aliança da Austro-Hungria, Alemanha e Itália, onde um milhão de soldados morreram. Batalhas do rio Isonzo, entre a Itália e a Eslovênia, cujas águas cristalinas se tornaram vermelhas de sangue dos mortos. Um horror que mudou a face do mundo, quando terminou.

Acabou o Império Austro-Húngaro, começou o Império Soviético, terminou o Império Otomano, reduziu-se a Alemanha, nasceram novos países como a Tchecoslováquia e a Iugoslávia e ampliou suas garras coloniais o Império Britânico. Embaralhou-se o mapa mundial de tal modo que até hoje não está tudo resolvido. Em especial, lá onde partiu o tiro de início da tragédia, os Balcãs. 

O Brasil beneficiou-se muito como fornecedor de matérias primas, em especial borracha, para as partes em conflito. Com os alemães torpedeando navios brasileiros em abril de 2017, afundando um no Canal de Mancha, o Brasil não teve nenhuma outra saída senão entrar em guerra em 26/10/1917. Mandou alguns suprimentos, batalhões e ajuda médica. 

Outro evento que aconteceu na Alemanha na mesma data há 80 anos atrás foi a Kristalnacht, a noite dos cristais. Foi durante aqueles dias que as tropas paramilitares do governo nazista de Hitler atacaram os judeus. Destruíram 267 sinagogas, 7000 estabelecimentos comerciais que pertenciam a judeus, levaram muitos deles para campos de concentração e começou a era de perseguição que culminou com 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas.

A reação do governo Vargas, que namorava com os integralistas brasileiros, ao nazismo, foi proibir a entrada de judeus no país. Semita não. Aliás, o recente filme Meu Querido Embaixador, sobre o diplomata brasileiro Souza Dantas, mostra muito bem como seu comportou o governo brasileiro na época.

Nos dois episódios longínquos da vida cotidiana brasileira, a terra abençoada por deus, o povo brasileiro não sofreu aqueles horrores (e nem os da Segunda Guerra Mundial), como aconteceu em grande parte do mundo. Mas, apesar dos governos de cada época, o país foi sim generoso com os imigrantes fugidos das atrocidades que infligiam ao mundo. A maioria que veio par Brasil, veio fugindo de conflitos, guerras, terror, para procurar principalmente uma oportunidade de viver e quiçá construir um futuro.

Até que ponto os brasileiros de outras gerações sabem apreciar esse valor, tão raro no mundo? Veja ainda hoje os conflitos na África, Afeganistão, Iêmen e outros . Veja também nossos conflitos: de pobreza, de miséria, de crimes que matam mais do que a guerra no Afeganistão, de desastres provocados por má gestão pública.

Não é fácil, mas a guerra é o pior de todos.

Wednesday, 7 November 2018

DO EMPRESÁRIO E GOVERNADOR


DO EMPRESÁRIO E GOVERNADOR

Empresário é empresário e governo é governo.

A gestão de uma empresa de qualquer natureza é diferente da gestão pública. Por isso existem até cursos universitários diferentes. Administração de empresas e administração pública. Nas duas carreiras há pontos em comum, estudos comuns, matérias comuns, mas tem uma diferença fundamental: a empresa tem que apresentar resultados, lucros, balanço social, mas essencialmente retorno de capital.

O governo representa toda a  população do estado. Na sua mais expressiva diversidades antropológica, social e econômica. E os resultados que tem que apresentar são o bem estar, em todos os aspectos, da população.   

Então empresa não é governo, e governo não administra empresa. Os métodos de gestão podem ser até similares na parte operacional. E tem mais umas diferença brutal: os funcionários públicos têm regime diferente de trabalho do regime CLT dos trabalhadores nas empresas. Nos dois casos, são mais bem sucedidos os gestores que são mais líderes e menos ditagestores (manda quem pode e obedece quem deve). Na área pública ainda há variáveis políticas e legais, que são bem mais complexas do que na área empresarial.

Mas por que tanta explicação sobre o óbvio e conhecido.

Porque vamos ter pela primeira vez nas últimas décadas um governador do Estado eleito com uma proporção de votos jamais vista em Minas, sem nenhuma experiência política anterior, e empresário. Então, está trazendo ao Palácio da  Liberdade conceitos empresariais, sua experiência pessoal para uma gestão pública. Isso só pode ser positivo se for feito dentro de parâmetros estratégicos de melhorar o bem-estar da população. Governador não é chefe de 400 mil funcionários públicos, ele é líder do segundo maior estado do país. E quanto aos funcionários, eles são o menor problema na gestão do estado, desde que os métodos de gestão passem a ser melhorados. Além do mais, a distribuição de renda do funcionalismo público mineiro mostra claramente que menos de 5 % dos funcionários (em especial do judiciário, assembleia legislativa, tribunal de contas e similares)  são responsáveis pela maior parte de folha de pagamentos do Estado. Nisso se incluem as aposentadorias dos policias militares e as de mais alguns privilegiados. A absoluta maioria ganhas pouco e trabalha bem.

Também será interessante ver a relação entre as entidades empresariais mineiras e o novo governo. O governador eleito nunca participou dos clãs que dominam essa área. E as entidades com as quais conversa em privado, como é o caso da FIEMG, não têm nenhum projeto a ser apresentado de interesse de Minas como um todo. Tem sim reivindicações classistas que  aumentam o buraco fiscal, mas não aumentam nem emprego, nem renda e nem índices de qualidade  de vida. A construção de uma agenda comum estratégica será fundamental para o sucesso de um governo dirigido por uma empresário.

Não no final, cabe dizer que JK foi um político popular, modesto, simpático e eficiente. Teve projetos, teve ideias, teve humildade, mas jamais deixou de ser Governador ou Presidente. O cargo de governador de Minas é importante, e as mais recentes esculhambações  que aconteceram não justificam que se continue a desvalorizar o cargo pelo próprio ocupante. Simplesmente porque o cargo não lhe pertence, ele é do povo. E povo  quer  dignidade no Palácio da Liberdade.

Monday, 29 October 2018

DE ECONOMIA MINEIRA DE NOVO


DE ECONOMIA MINEIRA DE NOVO


César está nu.

Os mineiros rejeitaram nesta eleição o modelo político e econômico vigente. A página está virada, tempos novos, tempos diferentes. Pelo menos, é o que se espera.

E para a economia mineira, em decadência há décadas pelo modelo político em curso, agora chegou a última hora para, com apoio das urnas, mudar o modelo e fazer  Minas crescer. O novo governo vai assumir o Estado na pior situação desde que Minas existe. E se não fizer uma due diligence da melhor qualidade para saber o tamanho da desgraça em que nos meteram, não poderá fazer  um plano de recuperação e avanços. Portanto, não tem meia solução, não tem proteção ao passado, não pode ter dó, e nem cunhado a ser protegido, tem que levantar tudo nos menores detalhes para saber a real situação. Dezenas de anos se passaram em que dados e informações foram colocadas abaixo do tapete ou abaixo de terra para proteger a irresponsabilidade, interesses pessoais e políticos.

O governo novo não pode cair em tentação de fazer com pressa as mudanças e correções para atender à alta expectativa do eleitorado. E nem fazer nada de meia tigela. Ou faz direito e certo, ou nada vai adiantar. E o eleitorado terá que saber a real situação e ter confiança e paciência para que as mudanças sejam feitas. Estragos de dezenas de anos não serão corrigidos em meses, por isso a transparência na gestão é fundamental. O verdadeiro projeto de mudança será apresentado aos eleitores depois de saber o tamanho do buraco em que estamos. Então, esperar que os salários dos funcionários públicos melhorem já é uma ilusão sem fundamento. Não há dinheiro.

De um lado, rigor fiscal e de gestão do Estado, base para o desenvolvimento econômico.

De outro lado, organizar o desenvolvimento do Estado. Crescer com base em indústria subsidiada, vinda de fora do estado, mal gerida do ponto de vista ambiental, comércio ainda na fase analógica e com serviços, inclusive de engenharia, pendurados ainda na régua de cálculo e na Lava Jato, não vai dar mais.

Minas tem magníficos exemplos de capitalismo interno, que podem ser campeões de desenvolvimento. São empresas  líderes no Brasil, como a Kroton na educação, MRV na construção civil, Localiza na área de serviços, Martins em logística, Centauro no comercio varejista,  Sada em logística, Dom Cabral em educação executiva, e mais tantos outros que podem puxar a economia mineira. Temos que ter economia 4.0, estado 4.0, as melhores escolas do Brasil em todos os níveis, porque sem eles não vamos conseguir fazer leap frog. Temos que pular do estágio do século passado em que ainda estamos, para o século 21. E já.

Por outra parte, tem que reconhecer que o agro business é mais competitivo e menos privilegiado do que a indústria. Reconhecer que temos que ter empresas competitivas com um estado mais competitivo. E ainda entidades empresariais menos lobistas, menos reclamadoras de ações de governo e com projetos próprios de desenvolvimento de seu setor. O papel principal das entidades empresariais não é  defesa setorial, não é ficar reclamando do governo, é ter programas conjuntos de desenvolvimento. Parceria. Parceria ativa e altiva.

Serão tempos de suor, lágrimas e sangue, mas que terão que valer os sacrifícios para a última chance de mudança que temos para entrar no século 21. Que não da para continuar, a eleição demostrou. Agora, implementar mudança exige muito mais do que um dia de voto.

Sunday, 21 October 2018

DO TSUNAMI POLÍTICO E DA CONSTRUÇÃO DO ESTADO


DO TSUNAMI POLÍTICO E DA CONSTRUÇÃO DO ESTADO

Se as pesquisas estiverem certas, olha lá a comparação entre política e previsão de tempo, o Brasil sofrerá um tsunami eleitoral no próximo domingo de proporções épicas. A primeira onda, o primeiro turno, que definiu as eleições parlamentares, já destruiu uma boa parte da estrutura política do país e os surfistas na onda se saíram bem. E colocou muita gente na segunda onda que está se aproximando com uma velocidade incrível. Nem  o calendário  gregoriano consegue segurar mais a ansiedade de vitória ou as ondas de tsunami. A esperança de mudança ou revolta contra a situação presente em todos os sentidos impulsaram um ressentimento eleitoral não esperado. Em geral essas ondas são precedidas por manifestações de rua, protestos amplos, como aquele de 2013, ou uma campanha acirrada. Pouco disso aconteceu, com exceção que a revolta foi expressa nas urnas de forma silenciosa, ordeira e esperançosa.

Os vencedores desse campeonato eleitoral carregam com a vitória a responsabilidade de atender aos anseios dessa revolta política que foi expressa nas urnas. Só para lembrar, nas histórias políticas recentes, vários presidentes, como Macri e Macron,  foram eleitos nessas ondas de revolta e esperança. E o que sobrou deles? Mais revolta e menos esperança. O capital político foi gasto na governabilidade que não atendia aos anseios dos votos que ganharam nas eleições. Nos casos similares, só se mantiveram no poder  aqueles, como Orban na Hungria, que reduziram a pó o debate político, a oposição e a imprensa. 

E quais são esses desafios que o país enfrenta na sua governabilidade e que não estão tão visíveis como os aspectos macro-econômicos e fiscais?

Em primeiro lugar, nem todos os problemas do Brasil estão no Brasil. Fazemos parte de um mundo não só complexo mas, neste momento, complicado e no  qual a nossa influência é zero. Essa complexidade do mundo não determina só a nossa situação econômica e financeira mas sobre tudo a nossa segurança. Podemos não ser parte direta dos conflitos em curso, e os que estão sendo provocados pelos poderosos, mas somos colateral damage no melhor sentido da expressão.

E falando de segurança, é ilusão pensar que o problema está no Rio de Janeiro. Temos uma situação de criminalidade aterrorizante. De fato não sabemos quanto o crime cada vez mais organizado domina a política, a vida cotidiana, o negócios, o mundo religioso. E o Estado que está ai não dá conta dessa situação. Somos um país com uma população carcerária enorme, com crime mantendo territórios sob seu comando, corrupção dominando as relações entre estado e setor privado, um judiciário que não inspira confiança à população, fronteiras desguarnecidas , forças armadas se transformando em polícia, um novo ministério de segurança pública que ainda não está estruturado e mais e mais.

O episódio de conflito armado na semana passada entre policiais de Minas e de São Paulo em Juiz de Fora, numa “simples” troca de dólares por reais, é um caso emblemático da situação que vivemos. Qualquer filme sobre crime na Netflix é coisa para criança perto do que aconteceu em Minas. E é só a  ponta do iceberg da situação.

A agenda vai longe. Como oferecer à população mobilidade social. E aí começando com a criação de emprego. Além dos 30 milhões de descamisados que temos na linha abaixo da pobreza.

Os vencedores terão que agir, mostrar resultados não só para o mercado, que se ajeita, mas para os que os elegeram. A doutrina de gestão pública vai, num regime que continuar democrático, requerer mais do que só  palavra de ordem. E também só fé e esperança não serão suficientes. Eleição é um momento na política, governabilidade dura um mandato.

Monday, 15 October 2018

DOS CAVALHEIROS, MOSQUETEIROS E SENHORES DAS GERAIS


DOS CAVALHEIROS, MOSQUETEIROS E SENHORES DAS GERAIS

A morte repentina na semana passada dos um dos mais importantes analistas da política mineira e em especial das relações entre empresários e política, o professor doutor Otavio Dulci, a quem, como seu ex-colega de estudos presto homenagem, nos obriga ainda mais  a analisar melhor a atual situação política do Estado, segundo colégio eleitoral do país. Minas, o berço da vitória do segundo turno de Dilma nas eleições de 2013, contra um candidato também mineiro, a aliança entre o então senador José Alencar e Lula nos seus dois mandatos, sem a qual Lula nem se elegeria ou governaria eventualmente em conflito com o empresariado, se revolta na eleição deste ano e varre o PT do cenário regional e nacional com uma violência eleitoral assustadora.

O voto de protesto estourou a boca de urna e assustou o futuro. Os votos depositados querem mudanças estruturais na política regional e nacional. Aceitam  palavras de ordem, de progresso, de segurança e de um estado organizado, sem saber o que estão aceitando. Qualquer coisa que se prometa e que possa dar esperança de uma mudança é melhor do que o que aqui está.

Mas, como será a realidade de um futuro baseado em vácuo de um lado e de tantos fatos e atos de outro que numa normalidade democrática não seriam aceitos?

Relendo o livro de Heloisa Starling, Os Senhores das Gerais, que relata o papel da elite econômica mineira no golpe de 31 de marco de 1964, vê-se que não há como comparar com os dias de hoje. Através da via eleitoral, com a eventual vitória de Romeu Zema, o empresariado mineiro assume o poder político no estado. Ele, símbolo  de excelência empresarial na sucessão dos negócios da família, junto com mais três empresários de destaque cujos nomes contêm um M, formam um quarteto de mosqueteiros ou cavalheiros da esperança do novo desenvolvimento de Minas. E se Minas desenvolve, o Brasil também desenvolve.

Os princípios de gestão pública podem até incluir alguns princípios da gestão empresarial. Mas são duas  gestões com objetivos distintos e seus stakeholders, diferentes.  Vender aos eleitores  a promessa de gestão empresarial na gestão do estado, algo que nem Magalhaes Pinto  e nem José Alencar fizeram durante as suas carreiras políticas, pode custar caro ao Estado. E mais, achar que empresários que apoiam candidatos só têm interesse patriótico é renegar a história e ignorar  os ideais do empresariado. Os quatro cavalheiros da esperança, sob liderança do Zema, terão uma chance única de mostrar que a tese está errada, que o espírito público do empresariado mineiro ultrapassa os limites dos interesses pessoais e empresariais. Ou seja, que os cavalheiros da esperança não passarão a ser cavalheiros do apocalipse.

O novo governo, seja qual for, mas principalmente se for do Zema, vai precisar de uma aliança de todos para poder sanear o Estado e começar a fase de desenvolvimento. A política é feita de gestos, e sem dúvida a especulação que foi feita com as ações da CEMIG e o anúncio da vinda de Gustavo Franco, que contribuiu, quando no governo FHC, com a quebra da indústria mineira e hoje representa junto com Amoedo a dominação do setor financeiro na política, não ajudam a enxergar um futuro soberano e mineiro na essência para Minas. 

Minas não se pode dar mais ao luxo de ser um grande exemplo de atraso social e econômico do país, criando 15 bilionários  brasileiros. A esperança  das urnas gera responsabilidade dos senhores das gerais para mais do que isso.


Sunday, 7 October 2018

DA RESSACA DEMOCRÁTICA


DA RESSACA DEMOCRÁTICA

Quem ganhou, ganhou, quem perdeu, perdeu. As eleições são simples assim. Mas, nas deste ano, todas as análises no dia subsequente não têm a mínima importância. Não é por causa de segundos turnos, mas porque a complexidade criada no cenário político brasileiro após estas eleições só é superada pelo período pré-eleitoral. Esta transição que vivemos, de um modelo político distorcido para um novo modelo cujos contornos estão em formação, é um misto de incerteza, medo, receio e otimismo que  nos leva a mais incerteza.

Comecemos pela eleição de parlamentares  em todos os níveis, que representam tudo com exceção de alguma mudança no modelo político que nos trouxe para esta crise ao mesmo tempo política, econômica e sobretudo social. Nada mudou. E ninguém disfarça. As cabeças do desastre, de alianças espúrias, de cargos com porteiras fechadas para benefícios ditos partidários, mas na realidade pessoais, continuam no cenário parlamentar rindo na nossa cara, dizendo: o povo nos escolheu. Isso é democracia.

O povo brasileiro, do qual 30 milhões não tem emprego ou estão sub empregados, e com 11 milhões que ainda não sabem escrever e ler, sem falar nos que não têm agua, esgoto, moram em favelas e seus filhos não têm escola, é que elege. E esses políticos, na verdade, de boca cheia, falando de saúde, educação, e emprego, trabalharam nos últimos 16 anos para manter esse estado de coisas, para poder manipular e se re-eleger de novo. Nós não temos políticos falando de forma clara e honesta, forças políticas que têm nestes anos trabalhado para que diminua a ignorância do eleitor e aumente a sua inserção social. Quanto mais ignorante e dependente de ações sociais do estado permanece o eleitor, mais feliz fica o político no poder.

O paradoxo de nossas democracia também é a quantidade de candidatos. É espantoso seu cinismo, vendendo ao eleitor algodão doce que na hora de comer se transforma em jaca. E estarrecedora a falta de conhecimento dos reais problemas que os eleitores enfrentamos. Nesse mar de ignorância há exemplos de todos os tipos. E a maior delas todas é o deputado Tiririca, que ri na nossa cara dizendo que nos enganou porque, ao contrário do que havia anunciado, é candidato de novo e não vai renunciar a uma boca boa dessas de ser politico.

Quanto tempo o país aguenta esse modelo e se a divisão, com ódio crescente entre as classes sociais, que esta eleição provocou, vai  crescer, só os dias que vêm vão mostrar. Vamos precisar de muita paciência para que o segundo turno, que dizem ser uma nova eleição, talvez traga mais debates, mais projetos, mais discussões e um futuro menos sombrio. Não no final de contas dizem que Deus é brasileiro. Está na hora de acreditar nisso.

Sunday, 30 September 2018

DO PAÍS INGOVERNABLE


DO PAÍS INGOVERNABLE

Está passando no Netflix uma série sobre política mexicana chamada Ingovernable. Pura ficção, mas como toda ficção, tem fundo de verdade. O país tomado pelo narcotráfico, forças policiais corruptas, e por bandidos internacionais, está em guerra, sendo que mesmo realizando-se eleições nada muda, mas só piora para a população. Em resumo, as eleições por si só não são fator suficiente para as mudanças de que o país precisa. Esse mantra de aparência democrática, ou quase pseudo democracia, tem um elemento fundamental para que a democracia funcione: quem se elege. Quem é o vencedor das eleições e sua capacidade de governar.

Nas eleições de 7 de outubro tem um turno só  para deputados estaduais, federais e senadores.Com o acirramento da campanha presidencial, a escolha de parlamentares ficou, como raras vezes nas eleições anteriores, totalmente no segundo plano. Mas, o fato é que nenhum presidente ou governador pode, mesmo com a força que apresenta o nosso sistema presidencialista, fazer qualquer reforma ou avançar nas legislações sem o apoio do Congresso. Portanto, o desprezo por essa parte fundamental da eleição, juntamente com o  esfacelamento do sistema partidário, com um número inadministrável de partidos, é um dos grandes problemas do nosso sistema democrático.

A escolha do presidente da república apresenta um outro aspecto que confunde o eleitor e traz consequências graves para a gestão do país. Ideologia e ideias. Os candidatos estão se apresentando ao eleitor, ainda na suas maioria analfabeto e de baixa compreensão dos assuntos políticos, com ideias que assolam a sua cabeça, que são importantes sim, mas para as quais nenhum candidato diz com clareza que soluções pretende trazer.

Vamos ao emprego. Emprego quem cria são as empresas. E as empresas o criam com crescimento dos negócios e investimentos. E sobrevivem as empresas competitivas. Para serem competitivas precisam de ambiente macro econômico e político que as faz competitivas. Por exemplo, as relações de trabalho. Política fiscal. E previsibilidade legal.

Os dois candidatos mais competitivos para a presidência de república têm enviado mensagens tão confusas para o empresariado, que enfrenta um ambiente internacional de alta competitividade com mudanças tecnológicas, entre outras, que ninguém sabe o que esperar após 1º de  janeiro.

O nível de desesperança em que o país volte a crescer, entre os empresários que estão se agarrando como afogado num galho fraco numa correnteza, rezando para que o galho aguente e a água diminua , é de tal proporção que deixam de votar nos candidatos de centro porque os extremos estão cada vez mais próximos.

As perspectivas  pós eleitorais, mesmo com segundo turno, que serão definidas com a escolha do Congresso, são absolutamente desanimadoras. E pelo que estamos vendo, teremos mais quatro anos de velhas políticas, sem gente nova, até que surgem novas lideranças. Uma democracia brasileira, que renova as velhas ideias, práticas e hábitos e permite que seus políticos abusem de forma não impune, mas ungidos pelo sistema, pelo povo brasileiro. 

O país só pode ser feito de esperança e rico para aguentar tudo isso. Mas, e o povo, aguenta?

Monday, 24 September 2018

DA ENCRUZILHADA DAS EMPRESAS EM 2019


DA ENCRUZILHADA  DAS EMPRESAS EM 2019


Entre a cruz e a caldeirinha. Simples, esta é a situação eleitoral para as empresas e os empresários. Os projetos econômicos dos dois candidatos que estão na frente das pesquisas e a declarações dos seus principais economistas apontam  para duas certezas: a primeira diz que o tal de mercado (setor financeiro) continuará dando as cartas . Nesse capítulo, é interessante notar que as pesquisas divulgadas  por exemplo pelo Banco BTG, ou as palestras ali feitas pelos candidatos e seus economistas, despertam mais interesse e eventualmente credibilidade do que as feitas pelas instituições empresariais ou a mídia. E nenhum candidato, levando-se em consideração a crise que vivemos, tem força política para ignorar os pleitos, os interesses e o pseudo patriotismo do setor financeiro.

Por outro lado, tem empresariado que não pertence  ao tal mercado, aí incluídas também empresas cujo principal lucro é oriundo de engenharia financeira, e representa a absoluta maioria das empresas no Brasil. Estas empresas não têm nesta eleição nenhuma influência a não ser o voto individual dos empresários.

Os dois principais candidatos, na visão de hoje, Bolsonaro e Haddad, estão crescendo nas pesquisas devido a suas propostas populistas e não por causa de propostas que vão resolver a crise e fazer o país crescer. É o famoso paradigma exposto muitos anos atrás pelo cientista politico Fábio Reis, 8 ou 80: oito milhões de contribuintes de imposto de renda versus 80 milhões de não contribuintes, mas também eleitores. Os dois candidatos hoje representam uma clara tendência de que os eleitores contribuintes em escala maior podem eleger o presidente da república sem os votos dos contribuintes de maior poder aquisitivo.

E como os dois não precisam, devido à nova legislação, de financiamento empresarial, e têm os votos do povo, não precisam desse segmento da população que só aborrece os políticos, mas não tem, na avaliação deles,  potencial para eleger ninguém. Por outro lado, a flexibilidade política de interesses pessoais nas entidades representativas nacionais, como a CNT, que tem um ex-político mineiro como seu eterno presidente, ou a CNI, que apoia seu ex-presidente para governador em Pernambuco, que por sua vez apoia o PT, reduzem a base de interesse eleitoral para os candidatos. Bastam conchavos, não se precisa de programas e nem de  comprometimentos.

A grande preocupação é o que vai acontecer após  1° de janeiro. Se for o governo Haddad-Lula, incapaz de repetir A Carta aos Brasileiros e a aliança que foi representada por José Alencar, é uma situação. E se for Bolsonaro,  com Paulo Guedes metendo medo em todo mundo, sem ter projetos que, fora do mercado financeiro, inspirem confiança, é outra situação. E, em vista da situação  fiscal e cambial, nenhuma das propostas dos candidatos na ponta convence que o Brasil, através de fase de transição, rigor fiscal e gestão pública mais eficaz e transparente, vai chegar ao desenvolvimento. Serão medidas populares, confusas, sem respaldo do congresso, no qual não estamos prestando a atenção, que não levarão nem à estabilidade e nem ao desenvolvimento. Teremos a troca de meia dúzia por seis.

Ainda há tempo para que os candidatos percebam que sim, o empresariado não financeiro é eleitor importante, e, mais ainda, será ou não parceiro na governabilidade. Desprezar esse segmento do eleitorado vai custar muito ao governante e ao país.


Sunday, 16 September 2018

DO BRASIL E DOS CANDIDATOS QUE EU (NĀO) QUERO


DO BRASIL E DOS CANDIDATOS QUE EU (NĀO) QUERO

Para definir os candidatos que quero ou não, que vão me representar na liderança do meu Brasil, preciso definir que Brasil eu quero para mim, para meus co-cidadãos e, como se diz no popular, para meus filhos e netos . Que sonho tenho ou temos para este país, gigante adormecido?

Um Brasil democrático e uma economia de mercado, que oferece oportunidades para todos, com justiça social, é quase um consenso da sociedade. Desenvolvido para todos, com direitos para todos.

E como chegar lá, após um buraco profundo que temos na economia e na sociedade? Se não conseguir consertar essas mazelas centenárias, seja nas relações raciais, seja nas diferenças sociais e econômicas ou na absoluta quebra financeira do estado e nas relações federativas e mais e mais, nunca se vai chegar ao progresso, ou crescimento do país como um todo e, com isso, de cada cidadão.

No seu íntimo, na sua família e seus amigos , você tem que definir o que quer para este Brasil. Informações e análises não faltam, falta discernimento individual para as definições . Parte dessa decisão é emocional, mas as consequências não são emocionais, são racionalmente boas ou más para cada cidadão.

algumas características de candidatos que são comuns para todos. Uma é a vida pregressa, seja pessoal seja pública. Não existe essa de nada fez no passado, mas agora vai fazer. Todos nos temos uma história, e quando votamos temos que examinar bem os atos, opiniões e fatos dos candidatos. Provavelmente você já enfrentou situação simples de pequeno roubo no seu ambiente de negócios ou da família e pensou assim: se fez desta vez, vai fazer na próxima. Ou se não trabalha bem agora, não vai trabalhar no futuro. E mais: como vou saber se trabalha bem. Tem acesso a ele, há transparência?

Com os políticos toleramos tudo o que não toleramos na nossa vida privada ou profissional. Você contrataria alguém para o cargo de direção de sua empresa se ele tivesse um grave problema de caráter ou se tivesse feito coisas ilegais? Ou no emprego anterior, nada tivesse feito a não ser enrolar todo mundo? Jamais, porque você sabe que isso é um problema com certeza .

Mas, nas suas escolhas políticas você age de forma totalmente diferente. A onda de emoção leva-o a uma análise superficial, que lhe traz em seguida um resultado por alguns anos desastrado e acaba com tudo o que você fez a vida inteira.

Democracia é mais do que votar, é, principalmente para quem teve o privilegio de poder estudar e ser empresário, obrigação de votar de forma racional e acompanhar os políticos e suas políticas durante o mandato. O voto é um ato instantâneo, mas suas consequências duram a vida inteira.


Sunday, 9 September 2018

DA REFORMA DAS REFORMAS


DA REFORMA DAS REFORMAS


Provavelmente a maioria dos nossos leitores não anda de ônibus ou metro, seus filhos estão na escola privada, não usam SUS e nem vão ao INSS, ou usam qualquer serviço público à disposição do cidadão. Talvez o famigerado DETRAN, mas mesmo assim mais através de despachante. Aliás, o que seria dos ricos no Brasil sem despachante. Ou sem o “sabe com que esta falando?” Sempre temos um colega ou parente no serviço público que ajuda a resolver e quebrar galho. Bem, tem serviço público na área de fiscalizações, impostos e similares que o empresário, e aí no lugar do despachante entra o advogado, sente na pele e sabe onde fica.

Em resumo, serviço ao público ou serviço público na sua maior dimensão é mais perceptível  para certas classes sociais do que para outras. Sendo que temos ainda outra dimensão do nosso serviço público que é a multidão de terceirizados . Quem inventou isso deveria ser canonizado. Deve ser para não aumentar o número de funcionários públicos. Aí se contratam empresas privadas que vendem mão de obra por preço mais baixo, mas sem  treinamento e a supervisão necessária. E justamente na maioria dos casos este é o pessoal que representa a autarquia no seu relacionamento com o cidadão. Aliás, serviço público é serviço ao cidadão.

Não nos esqueçamos dos concursos, porque somos um país democrático e a oportunidade para entrar no serviço público é igual para todos. Aí, depois de dez concursos em áreas mais difíceis, o cidadão conseguiu passar num, mas quando entra, depois de muita espera, não há recursos para treinamento. Ou entra numa função que nada tem a ver com seu perfil psicológico ou a sua vontade de trabalhar. Queria ser delegado de polícia mas virou recepcionista do INSS porque foi lá que passou no concurso.

Não vamos falar dos equipamentos usados nas área públicas. Carros sem gasolina, hidrantes sem água, computadores do século passado.

Os candidatos falam e falam o que vão fazer, discutem os salários do funcionalismo, mas ninguém mesmo disse qual é o projeto de reforma de gestão do estado. Alias, o mesmo vale para os candidatos a governadores e prefeitos, que estão no cargo e não fazem nada. Sem essa reforma, que deve incluir o poder legislativo e judiciário, o cidadão brasileiro continuará em condição de miséria no seu  atendimento pelo estado. E tem mais: mesmo com alguns avanços no uso de tecnologia, estamos longe de aproveitar todo o potencial. A reforma deve ser essencialmente reforma de gestão administrativa e dar oportunidade de atualização aos funcionários.

Muita coisa boa existe. Inclusive pela Escola Nacional  de Administração Pública. Muitos serviços funcionam bem, mas longe do que o país precisa para melhorar a vida do cidadão e a sua competitvidade como um todo.


Sunday, 2 September 2018

DO BRASIL, JABUTICABAL NO MUNDO


DO BRASIL, JABUTICABAL NO MUNDO 

Sem dúvida alguma, as nossas preocupações com a campanha eleitoral são legítimas. Dizem os especialistas que campanha é campanha, e governar é  governar. E que na campanha o que importa é ganhar voto. E assim a nossa campanha nos leva ver a oitava economia do mundo, com previsão de vir a ser a quarta em vinte anos, limitada aos nossos enormes problemas, mas totalmente distante do que esta acontecendo no resto do planeta. Somos um país jabuticaba, fora do contexto mundial, para os candidatos à presidência. Será que nada do que acontece no mundo nos afeta e nada disso precisa ser discutido porque somos um povo de eleitores ignorantes, que não se interessam pelo que acontece lá fora? Não, mentira. 

Somos um país integrado ao mundo, considerado importante, e o mundo no qual vivemos é importante para nós. E mais, o que acontece no mundo nos afeta muito mais do que se pensa ou quer aceitar.

A bonança do primeiro governo Lula deu-se em função de altos preços globais de matérias primas, que encheram os cofres do governo, que então podia se dar ao luxo de distribuir parte desses recursos. E o fracasso do segundo governo Lula e, consequentemente, dos governos Dilma, deu-se em parte devido à crise financeira internacional em 2008, que Lula chamou de “marolinha” e disse que o Brasil estava imune. Tão imune estava que a má administração do fenômeno tem consequências até hoje.

Comércio exterior, aumento de nossa competitividade e mudanças tecnológicas mal são mencionados nos discursos dos candidatos. A guerra comercial provocada pelo atual governo dos Estados Unidos, que nos afeta em grande escala, não existe. A abstração dos conflitos no Oriente Médio, deixando de lado as irresponsáveis declarações populistas de alguns candidatos evangélicos, só confirma o nosso papel de anão diplomático. A saída do Reino Unido da União Europeia e falta de um acordo do MERCOSUL com a União Europeia, que aumentaria os nossos negócios, não são considerados assuntos que poderiam afetar a nossa economia.

O único item na área externa é a Venezuela, que nos deve 50 bilhões de dólares, e que tratamos mais como um resíduo da política lulo-petista do que como uma questão de política externa do maior país da América Latina, que é o  Brasil. E se não fosse a invasão dos imigrantes em Roraima, que para a população do Sul também não existe, nem essa questão seria debatida.

O câmbio só interessa discutir porque vai encarecer as viagens internacionais, a gasolina e as remessas de lucros, além do pagamento de nossas dívidas no exterior. Ninguém discute a política de comércio exterior, o fluxo do capital estrangeiro e nem a eventual crise financeira no mundo. 

Bem, se os candidatos não discutem por alegar que o eleitorado não está interessado, ainda pode ser compreendido, apesar de não ser verdadeiro. Mas que os economistas dos candidatos prefiram evitar essa discussão, é preocupante.

Se vier uma nova crise financeira, se o conflito comercial entre os Estados Unidos e China se prolongar, se o terrorismo ganhar mais  espaço e aumentar a insegurança no mundo, e se e se que não acaba mais, vamos dizer que Brasil é imune mais uma vez e que tudo não passa de “marolinha”?

A ilusão de que temos reservas cambiais para estarmos imunes às crises é inversamente proporcional à que está acontecendo no nosso vizinho  Argentina, da qual também ninguém fala. Efeito vodca: amanhã eu serei você.

Oh! jabuticaba gostosa e enganosa.


Sunday, 26 August 2018

DA MINHA IGNORÂNCIA E DA DE MAIS ALGUÉM SOBRE AS ELEIÇÕES


DA MINHA IGNORÂNCIA E DA DE MAIS ALGUÉM SOBRE AS ELEIÇÕES

Tive o raro privilégio de estudar no Colégio de Aplicação, de ter professores de direito no curso de administração como o posteriormente nomeado Ministro do STF e seu Presidente, Carlos Mario Velloso, de estudar no famoso e respeitado DCP (Departamento de Ciência Política) da UFMG e mais uma série de estudos e convivências que tornaram minha vida interessante e estudiosa. A minha primeira experiência política foi assistir a um comício do Jânio Quadros com o Governador Magalhaes Pinto, da antiga UDN, no Bairro Pompeia em Belo Horizonte em junho de 1960. Daí para a frente acompanhei a política mineira e nacional com afinco e sempre com crença firme nos valores  democráticos para um Brasil justo e com desenvolvido para todos.

Nesta eleição estou totalmente confuso. Sinto-me um total ignorante, sem saber por onde anda a nossa democracia, se democracia é sequer o queremos como pilar de nosso desenvolvimento social e econômico. A quantidade de partidos políticos sem nenhum viés ideológico, mas crescente viés fisiológico, é tão prejudicial à democracia brasileira como ter um partido só. E isso porque nem o judiciário e nem o Congresso resolvem por ordem nesta nossa democracia e dizer com clareza qual é a regra.

Já que estamos na área do judiciário, não consigo entender como uma pessoa presa, independentemente de seus méritos históricos como ator importante da política nacional, comanda toda uma campanha de sua cela em Curitiba. Por que ele pode e por exemplo Sérgio Cabral ou Fernandinho Beira Mar não podem sequer conversar com outros presos, muito menos serem atores importantes nas eleições. Que lei é esta que dá privilégios a um criminoso (o Código penal assim qualifica o condenado) e nega a outros 800 mil. E tem mais: como o judiciário não resolve isso e como permite essa agonia processual que deixa que o processo nunca termine para um, deixando dúvidas sobre a condenação (análises as mais tortas possíveis pelo mundo afora) e por outro lado declara que tem 40 %  dos presos no Brasil sem julgamento.

São situações que em nada ajudam o Brasil e o seu cidadão a consolidarem sua democracia e criam uma confusão eleitoral cujos resultados são absolutamente imprevisíveis, inclusive na governabilidade do país. Está difícil entender isso e acreditar que após as eleições vamos ter estabilidade política. Parece que há uma parcela dominante da política brasileira que quer levar o país a um caos institucional na base do quanto pior melhor. As indefinições de estruturas políticas que atuam no cenário eleitoral, inclusive a fisiológica distribuição de fundos eleitorais, mais um item na falsa transparência da democracia brasileira, gerando corrupção legal, levam a uma fragilidade cujas consequências são imprevisíveis. E essa fragilidade claro leva a benefícios a grupos políticos e econômicos nacionais e estrangeiros, a um prejuízo da nação como um todo.

Haja fé e esperança e compreensão neste cenário para o nosso Brasil.


Sunday, 19 August 2018

DE MINAS INDEPENDENTE, UNIDA E BRASILEIRA


DE MINAS  INDEPENDENTE, UNIDA E BRASILEIRA

Há trinta anos houve um grande movimento para separar o Triângulo Mineiro de Minas Gerais e formar um estado próprio. O movimento contra a divisão de Minas foi liderado por entidades empresariais, notadamente pela centenária e respeitada Associação Comercial de Minas, na época dirigida por Lúcio Assumpção. A divisão territorial de Minas não vingou. As más línguas dizem que também no Triangulo não chegaram à conclusão sobre onde seria a capital do novo estado. A tradicional rivalidade entre Uberaba e Uberlândia levava a capital para Araguari, o que também ninguém queria. Mas, o fato histórico mesmo foi o receio de divisão de outros estados, como o Pará, onde o distrito mineral de Carajás queria se separar, e assim o Congresso Nacional votou contra. A unidade de Minas foi salva. Foi mesmo?

Hoje continua a divisão. O Triângulo continua a mais próspera das regiões de Minas e permanece distante do egocentrismo da capital. Até os vôos para São Paulo, de Uberlândia, têm muita, mas muito mais frequência, do que os  para Belo Horizonte. A qualidade de vida e a pujança econômica da região em todos os sentidos fazem o Triângulo ser a locomotiva de Minas e não o contrário. O Triângulo também é a capital internacional, não só de genética de gado, em Uberaba, como também a sede da empresa de telecomunicações mineira, Algar. E mais e mais histórias de sucesso, além de um padrão de vida superior ao resto de Minas. E tem em suas empresas  de logística o elo de integração nacional.

Minas unida é Minas mais forte. Mas, Minas precisa ser também integrada. Talvez a idéia pouco convencional  do Presidente da CODEMIG de integrar Minas através de ligação aérea seja ousada demais para os mineiros de hoje, mas o fato é  que a economia mineira não é integrada. O nosso polo de integração e desenvolvimento se chama São Paulo, que detém inclusive mais de 75 % do comando da economia mineira. Uma dúzia de empresas bem sucedidas mineiras não são suficientes para desenvolver a economia do Estado. E a nossa aliança com a economia paulista precisa ser mais do que intenção, precisamos ter políticas comuns de desenvolvimento.

Mas, a independência e a integração de Minas ao Brasil também passam pela área politica. Os políticos, especialmente nordestinos, temem Minas forte e, como foi no caso recente da candidatura de Márcio Lacerda, intervêm de forma abusada na política de Minas. Aí sim que a nossa interdependência de unidade federativa fica ameaçada. Se os políticos de Minas têm que se submeter a decisões corporativas regionais do Nordeste e interesses ideológicos de partidos políticos adversos aos interesses de Minas, temos um problema de identidade de Minas e de seu futuro. Minas não se humilha, não se curva, e Minas só pode ser parte integrante do Brasil. Então a lição do Triângulo fica não para a história, mas para o futuro.


Friday, 10 August 2018

DA DEMOCRACIA VIVA, FERIDA OU MORTA


DA DEMOCRACIA VIVA, FERIDA OU MORTA

Nesta época de eleições, fala-se muito de democracia, dos seus valores e da sua importância fundamental para a construção de uma sociedade justa para todos os cidadãos. Mas, cada candidato tem sua visão de democracia, interpretação de nossa constituição cidadã  de 1988 e dos valores democráticos. Em resumo, a cada um convém uma interpretação da democracia que leve ao seu objetivo de exercício do poder democrático e absoluto em um regime presidencialista. E então que democracia quer a maioria dos brasileiros, sendo que vale a pena perguntar se a nossa democracia estará viva ou mortalmente ferida após as eleições.
Aliás, as eleições por si só são um dos elementos que  compõem o sistema democrático. Eleições transparentes, limpas, com sistema eleitoral que permite a aceitação dos resultados por todos. Neste item, o  Brasil tem se saído bem, apesar de recentes dúvidas quanto ao uso da urna eletrônica, que provêm mais de oportunismo eleitoral do que de fato comprovado de uso inadequado do sistema.

Mas, a democracia também é composta por partidos políticos. Aí a diversidade que está dominando o cenário político brasileiro confunde, porque não só não estão claros os vieses ideológicos, como falta esse próprio viés. E mais: há falta de projeto consistente para o país, que não corresponda só aos desafios atuais, ou só a respostas às atividades governamentais atuais ou dos governos mais recentes, mas a uma visão exequível do que será o Brasil nos próximos anos. Parte importante desse cenário são os movimentos sociais e sindicais.  Mas fundamental é entender que democracia só funciona bem com uma oposição estruturada e consistente, com um equilíbrio de forças políticas que se opõem mas que se complementam no exercício da construção democrática do país.

Outro elemento fundamental é o judiciário. Sem sua independência dos poderes legislativo e executivo, a democracia fica capenga e não funciona. E muito menos funciona sem liberdade de expressão, ou seja, com imprensa livre e independente.

Ou seja, deve ser um sistema sempre em construção, em função das próprias necessidades de desenvolvimento social, econômico e tecnológico dos seus partícipes, ou seja, cidadãos. E por isso é preciso prestar muita atenção nestas eleições, se os candidatos à presidência pretendem reforçar, ferir ou matar a nossa democracia. Ou a democracia que o eleitor quer.

Em recente debate com o Professor Steven Levitsky, da Universidade de Harvard, autor do atualíssimo livro Como Morrem as Democracias, no Instituto FHC, inclusive com a presença de dois grandes líderes empresariais mineiros, Salim Matar da Localiza e Rubens Menin da MRV, levantou-se a questão do futuro da nossa democracia. O professor disse com todas as letras que a justificativa do apoio de empresários, feita pelo Presidente da CNI, ao candidato Bolsonaro, cria um alerta com relação ao futuro do nosso sistema democrático, porque o viés das propostas do candidato engana o eleitor com a manipulação de preceitos da democracia. Segundo a avaliação da equipe de Levistky, que conta com pesquisadores brasileiros, Bolsonaro é o único candidato autoritário, que representa real ameaça à democracia. E insistiu que  o processo de construção e manutenção da democracia  requer também responsabilidade das elites empresariais.

Assistimos a um debate que, com a veemência de discursos eleitorais, passa à margem da discussão básica sobre a sobrevivência da democracia. A eleição às vezes traz ao poder assassinos da democracia, autocratas e ditadores, e nem sempre construtores de valores democráticos.

Sunday, 5 August 2018

DOS PROGRAMAS ELEITOREIROS E ELEITORAIS


DOS PROGRAMAS ELEITOREIROS E ELEITORAIS


Ouvir e ver  não é suficiente para entender. Faz parte do processo de análise, mas é preciso mais: há que analisar e distinguir o que os ilustres candidatos dizem para atingir nossa sensibilidade emocional (ele é tão simpático, mas ela é firme) ou nossa capacidade analítica e racional. E tratando-se de empresário, essencialmente um ser racional com algumas gramas de inteligência emocional, a distinção tem que ser clara e a análise profunda e  séria . Não no final, nosso problema de relacionamento com o estado não são as empresas estatais mas a influência direta do estado em todos os níveis nos negócios e na vida das empresas. Não é à toa que o cargo mais bem pago nas empresas é o de diretor de relações institucionais ou o dos advogados que nos protegem das mazelas governamentais.

Nas empresas deve-se proceder a uma análise fria, racional, do que os candidatos fizeram na vida pública, do que prometem para se eleger (afinal das contas são os votos da maioria não empresarial que elegem os políticos) e o que serão capazes de realizar quando eleitos.  E como isso vai afetar seu negócio, sua empresa, sua comunidade, seus funcionários no futuro. Um bom debate nessa área é sobre a abertura de economia. Se vamos abrir mais, sem dar  condições de competitividade às empresas existentes ou não. Ou, por exemplo, quais as políticas de mobilidade e transportes. A última greve dos caminhoneiros chamou a atenção pela falta de ferrovias e a dependência do transporte rodoviário.

A fase seguinte é levar essas conclusões às entidades de classe para um debate maior. É absolutamente inaceitável dizer que entidades empresariais devem ser apolíticas e que não devem apoiar um ou outro candidato. Elas têm que exprimir a opinião dos seus associados, cuidar para que os programas eleitorais e os compromissos dos candidatos estejam de acordo com os interesses do empresariado. E apoiar os candidatos que possuem uma agenda que atenda o empresariado.

E por que assim? Porque todos os atores políticos fazem assim. Sindicatos de trabalhadores, congregações religiosas, segmentos profissionais, como por  exemplo a bancada da  bala, e assim adiante.

Os empresários precisam ter idéias e projetos claros para negociar com os candidatos e obter deles compromissos de execução. A agenda é longa e parte dela foi discutida nos recentes debates na TV entre um grupo de jornalistas e candidatos à presidência. Aliás, debates que na sua maioria, com raras exceções, mostraram mais as mazelas  dos candidatos do que seus programas e seus compromissos com a nação.

Se não se colocar o guiso no gato agora, ou seja, exigir clareza de propósitos e compromissos, não adianta depois da eleição cobrar o que não foi proposto e aceito antes. 

E na democracia não é aético e nem imoral o empresariado ter proposições claras a favor do seu desenvolvimento e o da sociedade. As propostas que forem benéficas só aos empresários não terão respaldo na sociedade, e aí nenhum politico eleito por maioria pode aceitar. Essa aliança de propostas  faz parte da democracia, cuja construção firme é responsabilidade de todos. 

Na hora da eleição precisa-se de muita visão e raciocínio frio para construir o futuro e distinguir bem o eleitoreiro do eleitoral.

Sunday, 29 July 2018

DO ENSINO E EMPREGO DOS ENGENHEIROS


DO ENSINO E EMPREGO DOS ENGENHEIROS

No Brasil há mais de um milhão de estudantes de engenharia. Isso não é muito para um país de 210 milhões, desde que a qualidade do ensino leve ao aumento da empregabilidade. O fato é que as necessidades da indústria, dos serviços e da agricultura, de profissionais altamente qualificados, em função das mudanças tecnológicas, andam mais depressa do que a oferta desses profissionais. Em resumo: o nosso ensino anda anos luz atrás das necessidades do mercado, que precisa inovar, aumentar a capacidade competitiva e adotar as tecnologias chamadas 4.0.

A indústria, seja de manufatura, de serviços ou agricultura, que não se atualizar tecnologicamente, não tem futuro. O modelo de baixa produtividade e mão de obra pouco qualificada, de baixo custo, com altos incentivos governamentais, morreu. E para essas mudança precisa-se de mão de obra qualificada. Não só deve mudar o sistema na área do ensino profissionalizante, em que hoje há menos estudantes do que há 20 anos, mas também o ensino técnico e, em especial, o de engenharia. O de engenharia em especial porque, se você não tem lideranças tecnológicas bem formadas, você não pode esperar que o resto do sistema funcione bem.

Constituindo raras exceções, há algumas escolas de engenharia que podem ser consideradas do nível de que a indústria precisa. A absoluta maioria, nesse milhão de futuros formandos, não passa de pague-passe e cria mais um contingente de desempregados do que de formandos com possibilidades de emprego. Alguns cursos ficam enganando os alunos com falsas especializações - daqui a pouco vamos ter curso de engenharia em pão de queijo - ao invés de melhorarem tanto a exigência de entrada de alunos como todo o processo educacional. A situação é deveras crítica nos sistemas privados de engenharia, onde outra invenção é o tal do empreendedorismo. Empreendedorismo não substitui conhecimento de engenharia e nem é o gerador de soluções de engenharia de que as empresas precisam. É outra coisa.

Não há chance alguma de desenvolvermos o país sem profissionais, na área técnica, de melhor qualidade. Se a indústria deve ser 4.0, altamente integrada à internet das coisas, blockchain, big data, analítica e realidade virtual, então você não pode ter um ensino que forma profissionais 2.0, ou seja para uma economia do século passado. Essa distância entre o ensino e o mercado de trabalho precisa ser reduzida para que o país volte a crescer através de empresas tecnologicamente competitivas.

E nesse capítulo é fundamental que as instituições de ensino privadas liderem a mudança, porque senão estarão de fato formando desempregados ao invés de aumentar a empregabilidade dos formandos. Sem boa engenharia não tem saída nem da crise e nem do desenvolvimento. Simples assim.

Sunday, 22 July 2018

DAS LIÇÕES ARGENTINAS


DAS LIÇÕES ARGENTINAS

Definitivamente, o que hoje está acontecendo na Argentina deveria servir  de  lição para Brasil. Depois de longos anos de domínio populista do clã Kirchner, que ameaça voltar ao poder nas próximas eleições, o governo Macri veio com toda força, ganhando inclusive as eleições intermediárias, que lhe deram um poder de fogo maior no Congresso. Mas, mesmo anunciando após a posse a gravidade da situação, fazendo alguns remendos em seguida, não esperava que a situação seja social, econômica, monetária, educacional, moral, ética ou judicial fossem de tanta gravidade. 

E aí a bomba de efeito retardado explodiu e hoje a Argentina está sob domínio, jugo e administração efetiva do temível FMI- Fundo Monetário Internacional. Quem dita as regras são os burocratas de Washington que cuidam da área fiscal, das despesas públicas, do orçamento, tanto no nível federal como dos estado e tudo o mais. Tem outra solução? Neste caso não, inclusive porque as forças políticas argentinas não fariam os ajustes e reformas necessárias para colocar o país em ordem, sem intervenção externa.

E todos, com o Presidente Macri liderando, prometem o céu após esse sacrifício, que tem que ser feito já. Os sacrifícios sociais em um  país que tem 30 % de miseráveis (não se iluda com a beleza de Buenos Aires), alta taxa de  desemprego e inflação beirando os 40 % ao ano, trarão à rua os afetados diretamente pelas reformas que, se não forem feitas, deixarão a situação ainda pior. E tudo isso a dois anos de novas eleições, quando o kirchnerismo dirá “veja como foi bom quando nos governamos”.

O Brasil e a Argentina estão economicamente ligados e o fracasso de um afeta muito a economia do outro. Para ser ter uma ideia dessa ligação é só ver nossas exportações para o nosso sócio do Mercosul, que geraram um superávit de mais de 10 bilhões de dólares nas vendas de manufaturados. Isso  acabou. Ou a vinda de turistas argentinos que, com a alta do dólar em mais de 40 % neste ano, não poderão mais viajar para o exterior.

Mas, a lição maior é que a nossa situação econômica estará em janeiro bem pior do que imaginamos. De um lado, ninguém ganha as eleições com promessas de ajustes duros que terão que acontecer. E ninguém governa sem fazer esses ajustes. Macri demorou a fazer e está sitiado e sob judice do FMI. Conosco pode acontecer a mesma coisa, se não entendermos que o próximo governo pode ganhar a eleição com um discurso, mas, se não ajustar e puser ordem na casa, inclusive nos parlamentos a serem eleitos, o caminho será um só. FMI.

Sunday, 8 July 2018

DAS DERROTAS E VITORIAS


DAS DERROTAS E VITÓRIAS

A semana que passou foi uma desgraça para o brasileiro. A produção industrial caiu significativamente por causa de greve dos caminhoneiros. A inflação, que já estava controlada, subiu. O real continua se desvalorizando, ou seja, no popular, o dólar subiu. E o desemprego não melhorou em nada. A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto caiu, de novo, em função da referida greve, e as exportações também.

E a cereja no bolo da desgraça foi a eliminação da seleção canarinha pelos  belgicanos (como os chamava o saudoso Kafunga). Sem comentários,  a não ser que um time bilionário como esse fez jus ao seus salários: jogou mal e não teve responsabilidade alguma com a camisa que vestia. A responsabilidade deles é com seus clubes e patrocinadores. O Brasil que se dane. E ainda confirmam Tite para técnico da Copa do Catar. Aliás, o que você pode esperar de uma CBF cheia de escândalos e cujo único dirigente de que me lembro hoje é dono de um helicóptero que transportava 500 kg de droga e não sabia de nada. Provavelmente também  não de sabe nada agora.

Enquanto o futebol era o tema, e o melhor meme das redes foi aquele que dizia que agora vamos voltar a trabalhar na terça-feira, desenrolava-se uma das maiores derrotas  no cenário industrial brasileiro.  Se alguma coisa positiva  ficou do regime militar, foi a criação da EMBRAER em 1969, um dos maiores exportadores brasileiros. A criação de joint venture com a Boeing, em que a norte-americana tem absoluta maioria, faz a Embraer desaparecer como empresa brasileira. Virou filial obediente da gigante norte-americana.

A questão que fica não é  por que se fez o negócio agora, no final do governo fraco e desmoralizado, e praticamente sem possibilidade de não fazer, mas por que deixaram chegar a essa situação. Há anos atrás tiveram a  oportunidade de fazer aliança com a AIRBUS, que inclusive tem fábrica de helicópteros em Minas, e não fizeram. Esperaram enfraquecer a empresa ao ponto de ser entregue à Boeing pelo valor equivalente à metade do que uma siderúrgica do Rio de Janeiro deve ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica. Portanto, dinheiro não é a questão, a questão é que, ao contrário dos próprios Estados  Unidos, Alemanha, França e outros, nós vendemos a melhor empresa de tecnologia e viramos filial tecnológica.
Como a Bloomberg escreveu: a Boeing não quer a fábrica, quer os 400 engenheiros da EMBRAER e sua tecnologia.

Bem, do lado das vitórias, fica a notícia de que Minas passa a produzir lúpulo, ingrediente fundamental para produzir cerveja. Algo de mineiro , mais importante do que o anúncio da Fiat de que, com pesados incentivos, deve modernizar os novos modelos, prometendo emprego que na verdade só existirão se a fábrica for  efetivamente competitiva em tecnologia. E que o Governo de Minas vai pagar em três vezes o salário dos seus funcionários, enquanto dá incentivo à montadora. Vai entender o que esta por trás de tudo isso. Podem ser ou  não eleições.


Sunday, 1 July 2018

DA COPA E SUAS LIÇÕES


DA COPA E SUAS LIÇÕES 

As dimensões de uma Copa de futebol são tantas que  está difícil de percebê-las no espaço de um mês. Aliás, as suas repercussões duram muito tempo e, em especial, seus escândalos, resultados e as dívidas que deixam. Ninguém esquece a Copa de quatro anos atrás. Foi um marco indelével na história do país, marco de competência na organização e incompetência na essência, que é perder no final para a Alemanha.

E assim foi a nossa alegria maior esta semana, quando a Alemanha foi mandada para casa por uma  inexpressiva força no futebol mundial, a Coréia do Sul. O Brasil explodiu em alegria de vingança, como se um fato tivesse alguma ligação com o outro. Ou seja, o que um jogo quatro anos depois tem a ver com o jogo de quatro anos atrás? As equipes são outras, os tempos são outros, só a bola continua quadrada. Mas, a nossa frustração de perdedores desejando a vingança coletiva contra os alemães continua a mesma. Um fenômeno e tanto, essa alegria com a derrota dos alemães.

E a volta para casa de argentinos e portugueses? Em qualquer circunstancia torcemos pelos sejam quem for que podem ganhar da Argentina. As imagens de Maradona sofrendo com a derrota nos ajudam a aliviar as nossas dores de incompetência ? Parece que sim. E a derrota de Portugal, país tão querido? Doeu, mas não ganhou o nosso vizinho Uruguai. Mas, não gostamos deles porque em 1950, no Maracanã, ganharam a copa da gente.

A Copa da Rússia, em que não temos mais times africanos jogando na fase de oitavas de final, é até agora um show de bola em termos de organização. A Rússia isolada e com sanções econômicas levantou a cabeça mais uma vez e mostrou que é um país que sabe o que quer e sabe fazer as coisas. O governo do Presidente Putin fez da Copa um momento Rússia para ninguém botar defeito.

Interessante observar que predominam as seleções europeias e latino-americanas. Onde estão os africanos que organizaram a copa há oito anos e tiveram seleções inesquecíveis, como a de Camarões, nas competições anteriores. Por outro lado, as seleções europeias estão tão multirraciais que você se pergunta se realmente existe um problema racial e de imigrantes na Europa. Pelo jeito, no futebol não. 
Além da organização da Copa, para um leigo em futebol como eu, vale a pena observar as táticas de jogo. Definitivamente os dois times com maiores estrelas do futebol mundial, a Argentina com Messi e Portugal com CR7, se deram mal. E quem não teve estrela, por exemplo a França ou o Uruguay, e jogou como equipe unida com o objetivo de ganhar o jogo, levou. Ou seja a lição que fica para o empresário é que quem vence é o time, jogando junto, respeitando a bola, o gol, o público e o adversário. É a empresa como um todo que vence, os indivíduos fazem parte do time. E mais, achar que a vingança nos faz fortes e melhores é mero engano. A derrota da Alemanha não faz nosso time melhor. Ou ele é melhor, ou não é. A bola é redonda e gol é quadrado. Pura geometria na alegria de jogar.

Tuesday, 12 June 2018

DO DÓLAR UP AND DOWN (sobe e desce)


DO DÓLAR UP AND DOWN (sobe e desce)

Há semanas que ouvimos falar que dólar, a moeda dos Estados Unidos, tem influenciado a alta de preços, não só dos combustíveis mas também dos comestíveis. Aí, o tal do dólar sobe, na verdade é o real que fica desvalorizado, e o país econômico entra em pânico. O Banco Central começa a queimar reserva, só 20 bilhões de dólares. O pior são as  explicações que dão os representantes do governo: calma, está tudo sob controle, temos reservas cambiais que cobrem a saída de dólares, e mais um monte de coisas que não saem da repetição dos eventos do passado.

Mas, qual é a realidade da turbulência cambial. A primeira é que a economia brasileira não é uma economia dissociada do mundo. Nós fazemos parte da economia mundial, e somos altamente dependentes dela. E não temos nenhuma influência nos movimentos que regem a economia mundial mas, só repetindo, afetados por ela e muito. A valorização do dólar e o aumentos dos juros nos Estados Unidos ou Europa, as barreiras comerciais e a política monetária dos bancos centrais de países desenvolvidos, têm influência forte na economia brasileira.

Em segundo lugar, a nossa matriz econômica não é baseada na produção, mas nos ganhos de especulação. Somos um país por excelência de terra fértil para a especulação, seja para os nativos, e, muito mais para o capital estrangeiro. E repetindo, ele vem, mas sai ainda mais rápido do que entra. Então cria-se uma ilusão de que estamos bem com a entrada de investimentos estrangeiros, quando ou ele vêm para especular, ou vem rastreado nos empréstimos e benefícios fiscais que só aumentam as nossas vulnerabilidades de contas públicas ou contas externas. Claro que há exceções, mas que só confirmam a regra.

E a questão básica passa em seguida pela nossas exportações. Sempre e cada vez mais e mais dependentes não só de matérias primas e produtos primários mas de traders externos. Exceção talvez sejam a Vale, com mineiro de ferro, e alguns exportadores de carnes vermelhas e brancas. Mas, estes já têm passivo de qualidade que nos leva a tremer quando vem alguma inspeção sanitária. No caso do café, só exportamos grãos e cafés especiais que, apesar de um esforço  formidável de alguns, ainda não representam um valor significativo.

As nossas importações são baixas porque economia não deslancha. E as saídas na conta de turismo é maior do que a entrada com turistas estrangeiros.

Em resumo, tem cada vez menos dólares para gastar e cada vez mais gente querendo dólar, nem que seja para reserva contra essas incertezas e vulnerabilidades de todo dia. O pior é a ilusão de  que tudo está bem. O câmbio não deve refletir insegurança jurídica e política, mas é uma componente de política econômica e cambial. Mas, lamentavelmente, no nosso caso reflete sim e ainda vai balançar muito mais, porque a situação é precária e com perspectivas pouco claras. Mas, o pior não é a percepção, o pior é que não teremos dólar para a farra cambial dos especuladores.

Sunday, 3 June 2018

DA CERTEZA DA INCERTEZA


DA CERTEZA DA INCERTEZA

Cachorro mordido por cobra tem medo do barbante (dito popular).

Agora, você imagina a nação toda mordida pela greve de caminhoneiros . Está todo mundo com medo do que vai acontecer. E o boato corre solto, cada facção, seja política ou criminosa, tentando tirar ao máximo proveito da desgraça generalizada que caiu sobre todos nós nas últimas semanas. Mas, estamos aqui e nem todos podemos emigrar para os Estados Unidos, onde já há valadarenses demais. E por aqui temos que administrar o medo, o receio, a incerteza eleitoral, a fraqueza do governo e mais todos os ingredientes externos, como as políticas de fortalecimento do dólar e de sanções comerciais que Trump inventa e geram mais incertezas.

Neste momento, quem aceitar que a volatilidade será uma constante e administrar  a incerteza  será o vencedor na travessia que pode durar além do período eleitoral. Uma constatação que ficou nesta crise é que as forças do tal mercado financeiro especulativo prevalecem sobre as forças produtivas neste país. A política de preços dos combustíveis, que deveria fazer parte da política energética nacional, ficou por conta de  um grupo de gestores de uma empresa monopolista que defendia o valor das ações da empresa, de seu lucro e esquecia totalmente  que existe um país miserável, sem capacidade de pagar o que eles querem cobrar. Salve o investidor, salve a gerência, salve o mercado e dane-se o povo. Quem sabe os defensores dessas teorias ganham o prêmio Nobel de economia.

Aliás, uma boa coisa neste momento é fechar os ouvidos e olhos aos analistas e economistas, que defendem todos uma economia a favor dos especuladores financeiros. Por incrível que pareça, nem Roberto Campos conhecido na época como Bob Fields por ser favorável aos Estados Unidos,  e nem Mario Simonsen, sem falar no Horácio Lafer, eram tão  a favor de uma minoria especuladora como os atuais economistas de plantão que estão aí. Nenhuma economia que destrói a capacidade produtiva do país, assim como a de poupança e consumo, e privilegia a especulação do mercado financeiro, gera um país mais justo e equitativo na distribuição de renda e fomento do desenvolvimento.

As certezas que temos são que devemos manter o cliente satisfeito, o funcionário motivado, o caixa independente de bancos e empréstimos, e olhar bem para onde vai a demanda nesta estrada de mudanças tecnológicas rápidas. O resto são fatores que você não determina e não influi como empresário. Esqueça a  política, esqueça os economistas e analistas, volte a visitar os clientes e o chão da fábrica. Pegue o leme do seu barco e não deixe que a tempestade domine o seu destino. Muito menos uns usurpadores do bem comum que hoje dominam o país. E tem mais: nem sempre após a tempestade vem a bonança. Pode vir outra tempestade. 

Sunday, 27 May 2018

DO CAOS DE HOJE E DE AMANHÃ


O CAOS DE HOJE E DE AMANHĀ
O outro lado da moeda, ou seja do caos provocado pela alta dos combustíveis, que gerara  a revolta dos caminhoneiros, é que descobrimos o erro de todos  os governos até agora na área de transporte: deram a preferência aos transportes por caminhões ao invés de hidrovias e estradas de ferro. Deram preferência ao diesel poluidor, ao invés do etanol  e carros elétricos. E ficamos reféns da poluição e de um modelo nefasto de transporte.

Ainda nesse capítulo, o caos instalado mostrou uma incrível fragilidade da nossa economia. Ruiu o castelo de cartas. Os dados de realidade econômica, com previsões modestas de crescimento, mas firmes nas previsões de  inflação baixa, juros baixos, excelente desempenho externo com superávit da balança comercial, caíram em uma semana de país parado. Desgovernado pelos governos central e estaduais, que foram surpreendidos. Como surpreendidos, se os próprios caminhoneiros avisaram que a situação era insustentável e demonstraram isso com manifestações esporádicas varias vezes? Surpreendidos depois que o real desvalorizou em 60 dias 14 %, o petróleo subiu 19 % no mercado internacional e o preço dos combustíveis na refinaria da Petrobras subiu 48 %?

Qual é o gênio do governo que acha que essa conta fecha para o cidadão? Com o aumento de preços dos combustíveis salvaram os especuladores com ações da PETROBRAS, entre eles o próprio governo. A PETROBRAS atingiu o seu maior valor histórico, com lucros mirabolantes. E a conta foi paga, incluindo as indenizações bilionárias aos acionistas americanos, por  210 milhões de brasileiros. Aliás, nesse capítulo ainda há aumento de energia elétrica, de água, de gás, de previdência privada, e tudo mais, e o governo dizendo que a inflação está em 4 %. E tudo isso aprovado pelo governo. Há um bando de analistas e economistas que estão enganado todos nós, os trouxas de plantão, permanentemente, e ganhando dinheiro grosso com a especulação. Vide o caso da Petrobras e Eletrobrás, entre outros. E aliás, alguém previu esse caos?

E isso é só o inicio. Lamentavelmente, este episódio dos caminhoneiros está acordado o país para uma realidade do colapso do modelo político e econômico que nos foi imposto pelo curso da história. Acabou. E estamos em tempos de ruptura porque os candidatos para a presidência nada têm a  dizer de novo. E os que estão no poder estão perplexos, cuidando de si em vez de cuidar da nação. Tempos de transição que não serão fáceis e são imprevisíveis no seu curso e suas consequências.

Sunday, 20 May 2018

DO CASAMENTO REAL E BREXIT


DO CASAMENTO REAL E BREXIT

Fascinante o casamento do sexto pretende ao trono britânico, atualmente Duque de Sussex, Harry, com a agora duquesa, ex-divorciada, americana, afrodescendente, feminista, independente e famosa Meghan Merkel. No show, todo casamento real é um show, que foi assistido por mais de um bilhão de pessoas (cinco vezes ou mais do que a população total do Brasil) apareceu de tudo e todos. Mas, não havia políticos (não são convidados) e nem os colegas do elenco da ex-atriz da série Suits. Mas havia um coral Gospel de melhor qualidade, e um Pregador anglicano- americano falando de Martin Luther King. Realmente, para confundir qualquer um da Corte real britânica e tentar convencer o mundo de que a realeza britânica está se atualizando com relação ao que está acontecendo no mundo. O Reino Unido apareceu bem em cores e ao vivo, dizendo ao mundo aí estamos, vivos, ativos, lindos de morrer e continuamos atores importantes. Show de primeira.

Algo incrível é a fascinação, só faltou tocar esta música no casamento, que as pessoas têm com a monarquia e, em especial, a britânica. Do ponto de vista dos regimes democráticos, é uma forma que renega o princípio básico da democracia, que é a possibilidade de alternância no poder. Na Europa, além do Reino Unido, há monarcas chefiando o estado na Noruega, Holanda, Dinamarca, Espanha, e  Suécia. Alias, todos países bem administrados. No Brasil, há alguns anos tivemos referendum onde pessoas votaram a favor de um regime presidencialista, contra o parlamentarismo e a monarquia.

Mas, o casamento real desta semana, que trouxe para a Londres uma injeção enorme de dinheiro (casamento é business, além do amor, como disse o pregador americano) coloca também em questão como está o Reino Unido. A questão das mudanças na corte, com a presença de uma americana (por sinal para os britânicos  uma péssima referencias em função do rei que na década da 30 renunciou   Para casar com uma divorciada americana), não vai ser suficiente para reavaliar o papel do Reino Unido, ainda membro do Conselho de Segurança da ONU e força militar mais for forte da Europa, no mundo.

O antigo império britânico se esfacelou, mesmo sendo defendido com sangue (como a invenção dos campos de concentração na guerra dos Boers na África do Sul, onde foram assassinadas mais de cem mil pessoas. Ou o enforcamento dos combatentes judeus durante a luta pela  independência da Palestina. Ou na guerra em Chipre.Etc.etc.), mas ficou a Grã Bretanha procurando seu espaço perdido. Com a saída da União Europeia, não há canto de gospel que vá ajudar a redefinir o papel do país no mundo. Não vai bastar show, nem arrogância dos diplomatas, nem nossa fascinação, mas mais tecnologia, mais alianças, mais criatividade. O Reino Unido terá que, inclusive com sua diversidade cultural (no casamento estava o cantor Elton John, homossexual, enquanto lembramos que o gênio da computação Alain Turing se suicidava há 75 anos atrás por o homossexualismo ser proibido na Inglaterra) mostrar a sua diversidade econômica para continuar a propensa liderança no mundo.

Wednesday, 16 May 2018

DA ARGENTINA TURBULENTA


Da Argentina turbulenta

A semana de mau tempo em Buenos Aires não foi só de chuvas e trovoadas propriamente ditas, mas de uma turbulência econômica assustadora. Surpreendente, de certa forma, porque os incautos observadores da república portenha achavam que os piores momentos na economia passaram e que o governo Macri era só alegria. A sua aceitação internacional, a vitória nas eleições  parlamentares intermediárias, a determinação em fechar acordos internacionais através do Mercosul e algumas reformas sistêmicas, davam a impressão de um futuro brilhante e de uma re-eleição garantida no próximo ano.

Mas, o descontrole do câmbio, a repentina elevação dos juros pelo Banco Central (taxa básica de 40 % ao ano), a elevação da inflação ( prevista para este ano em  20 %) , levaram a Argentina, com a desculpa de que o dólar norte-americano se sobrevalorizou e prejudicou o peso argentino, a um turbilhão inesperado para os incautos e bem-vindo para todos aqueles que sempre ganham com a crise argentina. O capital, que vinha alegre, e em quantidade, de repente, saiu do país, com a mesma alegria, como escreveu o influente New York Times. Aliás, algo para lembrar no caso brasileiro, em que teimamos que capital só vem, e que não vai embora em velocidade ainda maior quando realizou seus lucros ou sentiu o perigo. O Banco Central argentino queimou, para manter a moeda em pé, mais de cinco bilhões de dólares.E aí vêm as declarações tantas vezes já ouvidas pelos investidores estrangeiros das autoridades argentinas, só mudam os nomes, mas não as frases, de como tudo está calmo e resolvido.

No Brasil temos mais especialistas em Europa, agora em China e Estados Unidos, do que entendedores de Argentina. A crise cambial argentina bate de frente com a recuperação da economia e, em especial, da indústria brasileira. Nosso superavit comercial, basicamente de manufaturados, de 10 bilhões de dólares, com Argentina, é resultado da recuperação da economia portenha. E a nossa exportação de automóveis é principalmente destinada ao país vizinho. Como 70 % de automóveis produzidos na Argentina usam peças importadas e a maior parte dos automóveis é importada, a desvalorização de 30 % da moeda local terá efeitos imediatos no custo e no preço de venda. Em resumo, acabou a alegria. Ficou mais uma vez a saudade da boa relação comercial.

A nossa aliança com a Argentina deveria ter sido mais solidamente revista há mais tempo. Mas, como somos também mais de vento do que de formação de uma política externa e comercial a longo prazo, acabamos aceitando esse tipo de eventos como normais. Aliás, estamos nos iludindo com superávits comerciais, inclusive com a China, sem nenhum fundamento sólido para uma relação consistente a longo prazo. Estamos confundindo balança comercial com balanço de pagamentos. Também no Brasil vai faltar dólar em breve, com a gestão e com a política de comércio exterior que temos. E mais, devido à base exportadora, que se restringe a poucos empresas, poucos produtos e poucos mercados. O efeito vodka, eu serei você amanhã, poderá se repetir, sem sabermos quando e como.