DO EMPRESÁRIO E GOVERNADOR
Empresário é empresário e governo é governo.
A gestão de uma empresa de qualquer natureza é diferente da gestão pública. Por isso existem até cursos universitários diferentes. Administração de empresas e administração pública. Nas duas carreiras há pontos em comum, estudos comuns, matérias comuns, mas tem uma diferença fundamental: a empresa tem que apresentar resultados, lucros, balanço social, mas essencialmente retorno de capital.
O governo representa toda a população do estado. Na sua mais expressiva diversidades antropológica, social e econômica. E os resultados que tem que apresentar são o bem estar, em todos os aspectos, da população.
Então empresa não é governo, e governo não administra empresa. Os métodos de gestão podem ser até similares na parte operacional. E tem mais umas diferença brutal: os funcionários públicos têm regime diferente de trabalho do regime CLT dos trabalhadores nas empresas. Nos dois casos, são mais bem sucedidos os gestores que são mais líderes e menos ditagestores (manda quem pode e obedece quem deve). Na área pública ainda há variáveis políticas e legais, que são bem mais complexas do que na área empresarial.
Mas por que tanta explicação sobre o óbvio e conhecido.
Porque vamos ter pela primeira vez nas últimas décadas um governador do Estado eleito com uma proporção de votos jamais vista em Minas, sem nenhuma experiência política anterior, e empresário. Então, está trazendo ao Palácio da Liberdade conceitos empresariais, sua experiência pessoal para uma gestão pública. Isso só pode ser positivo se for feito dentro de parâmetros estratégicos de melhorar o bem-estar da população. Governador não é chefe de 400 mil funcionários públicos, ele é líder do segundo maior estado do país. E quanto aos funcionários, eles são o menor problema na gestão do estado, desde que os métodos de gestão passem a ser melhorados. Além do mais, a distribuição de renda do funcionalismo público mineiro mostra claramente que menos de 5 % dos funcionários (em especial do judiciário, assembleia legislativa, tribunal de contas e similares) são responsáveis pela maior parte de folha de pagamentos do Estado. Nisso se incluem as aposentadorias dos policias militares e as de mais alguns privilegiados. A absoluta maioria ganhas pouco e trabalha bem.
Também será interessante ver a relação entre as entidades empresariais mineiras e o novo governo. O governador eleito nunca participou dos clãs que dominam essa área. E as entidades com as quais conversa em privado, como é o caso da FIEMG, não têm nenhum projeto a ser apresentado de interesse de Minas como um todo. Tem sim reivindicações classistas que aumentam o buraco fiscal, mas não aumentam nem emprego, nem renda e nem índices de qualidade de vida. A construção de uma agenda comum estratégica será fundamental para o sucesso de um governo dirigido por uma empresário.
Não no final, cabe dizer que JK foi um político popular, modesto, simpático e eficiente. Teve projetos, teve ideias, teve humildade, mas jamais deixou de ser Governador ou Presidente. O cargo de governador de Minas é importante, e as mais recentes esculhambações que aconteceram não justificam que se continue a desvalorizar o cargo pelo próprio ocupante. Simplesmente porque o cargo não lhe pertence, ele é do povo. E povo quer dignidade no Palácio da Liberdade.
Ainda está por explicar esse tsunami. Com uma cultura política considerada distinta da média do Brasil, MG elege um total outsider, assumidamente despreparado para o cargo. O que aconteceu ainda é a agenda. As consequências (ou inconsequências) derivadas da vitória eleitoral serão sentidas na sociedade como um todo e precisarão ser mitigadas. Mas as causas do fenômeno ainda estão em aberto.
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