DE BUENOS AIRES
Não há como não reconhecer que Buenos Aires é uma cidade sui generis na América Latina. Sua imponência arquitetônica, com largas avenidas e áreas verdes, com lojas elegantes e restaurantes excelentes, se sobrepõe a tudo o que se possa ver na periferia da cidade, onde mora a maioria das pessoas. Pessoas sofridas, com dificuldade de achar emprego, muitos pedindo esmola, e independentemente do inverno, frio, às vezes desagradável, mantendo o orgulho de ser argentino, uma maneira muito própria de ser, que poucos países têm.
Talvez essa argentinidade seja mais visível não só nos estádios de futebol, uma paixão nacional que chega a superar o nosso nacionalismo futebolístico, mas no seu centenário Teatro Colón, no centro da cidade. Renovado, concorrendo com seus oito andares de galerias só com o Teatro Lá Scala, em Milão, é lindo. E com uma programação, mesmo durante as férias, de fazer inveja a qualquer aficionado de música e opera. E sempre, todas as noites, lotado nos seus três mil lugares. A apresentação dos pianistas Daniel Barenboim (ele também regendo a Orquestra West-Eastern Divan) e Marta Argerich, além da apresentação de obras de compositores argentinos, valem uma visita a Buenos Aires. E mostram talvez o país que queria ser, mais do que o país que consegue ser.
A leitura dos jornais diários dá nítida impressão de que você esta lendo em espanhol, com nomes trocados, um jornal brasileiro. A semelhança termina no fato que Macri foi eleito e esta há sete meses no governo. Os escândalos de corrupção e quebra de caixa, aliados a todas as formas de má gestão deixada pelo governo anterior, são muito, mas muito parecidos com a situação brasileira. O kircherismo, com a manta do tradicional peronismo, se assemelha, por seus métodos de gestão pública, em muito com o período que vivemos no Brasil. A diferença com Brasil talvez esteja no fato de que a nossa justiça, em níveis de primeira instância, aquela que lidera o processo da Lava Jato, parece menos politizada do que a do país vizinho. E até no assassinato político somos similares: Celso Daniel aqui e procurador Nissman lá. Em nenhum dos dois casos descobriram os culpados, e nos dois casos se desconfia de que altas esferas do governo foram envolvidas.
Tão diferentes, tão semelhantes. A reconstrução da Argentina, apesar das enormes riquezas do país, vai levar décadas. A destruição feita, primeiro pelos militares, seguida pelos políticos irresponsáveis, é de tal tamanho que só a aliança com investidores estrangeiros não vai bastar. Pode ajudar, mas profundas mudanças terão que ser feitas pelos próprios argentinos, não com Messi, mas com Macri. Haja paciência para que isso aconteça, porque se a Argentina vai mal, o Brasil não vai melhor.
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