Da vizinha de roupa nova
Você já viu uma dançarina de tango novinha, jovencita? Em geral os dançarinos de tango são pessoas de idade indistinta, com cara seríssima, sem sorriso, e com alma atrelada a cada movimento da música que gera o movimento do corpo. Com toda a perfeição, mas sem sorriso, até o final da música. Assim é também a Argentina, nossa vizinha poderosa, rica e dedicada a movimentos políticos precisos. Um longo período de justicialismo ou peronismo que acaba com país, depois a tentativa de conserto, que nem sempre melhora o vizinho do Rio de la Plata.
A eleição do novo presidente argentino, cujo pai fez negócios no Brasil com a falecida Chapecó e deve algumas centenas de milhões aos credores brasileiros, por uma margem de menos de 3 %, traz esperanças falsas de que de repente este vizinho dominado por um sistema de governo inepto e chamado pelos seus opositores de corrupto, vai mudar tudo. Que os peronistas liderados pela Cristina Kirchner, saindo do governo, não vão facilitar as coisas, está claro. A visita de cortesia do presidente eleito para à presidenta saliente, foi tudo menos cortes. Mas, não é na cortesia que está o problema. É na herança, deveras maldita, que o governo dela deixa para o povo argentino e o novo governo. Total descontrole de economia, relações com os credores externos em aberto, e conflito entre as classes, são só parte do retrato que será entregue ao novo governo. E ainda, cambio irreal, inflação em alta e falta de transparência total nos dados econômicos.
Para consertar esta situação, que não é única no continente, vai levar tempo e a história argentina mostra tentativas anteriores desastradas. O novo governo não tem maioria no Senado, e ainda não formou a maioria do Congresso, imprescindível para ter o mínimo de governabilidade. No plano externo, as declarações do presidente eleito sobre a Venezuela democrática no âmbito da MERCOSUL, criaram o primeiro atrito com o Brasil. Macri quer expulsar o governo de Maduro do MERCOSUL , e o empate será daqui a umas semanas, na próxima reunião de cúpula do MERCOSUL no Paraguai. Que a Venezuela hoje não é democrática, ninguém tem dúvida. Mas, que a Argentina deve à Venezuela, e a Venezuela deve muito dinheiro ao Brasil, também ninguém tem dúvida.
Com a eleição de Macri, começa provavelmente um novo ciclo de governos de centro direita na América do Sul. É cedo para dizer que acabou o ciclo moribundo de governos populistas ineficientes e ineficazes, principalmente para as suas próprias populações. Mesmo com a roupa nova, a Argentina continua a mesma. Esperar para ver!
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