Bateram palmas e beberam champanhe. Fecharam um acordo que dá aos 27 países da União Europeia um acesso privilegiado tanto político como comercial a cinco países do Mercosul, um mercado de mais de 300 milhões de consumidores. Um acordo que na própria Europa não foi aplaudido nem por agricultores e nem por um país como a França. E por aqui virou vitória dos governos, enquanto ainda não se acordou, fora de algumas exceções na área de agro, o que esse acordo muda na economia e na vida das pessoas.
Enquanto o processo de ratificação do acordo vai correndo pelos parlamentos nacionais lá e cá, a Comissão Europeia, representando a UE, terá que convencer, em especial França, de que não tinha alternativa: ou fechava um acordo, após o conflito com a Rússia, o crescimento da China e a vinda de Trump, todos elementos que enfraquecem a economia europeia , acrescentando um mercado importante, ou perdia a oportunidade. O acordo é muito, mas muito mais importante para a UE do que para Brasil.
Vamos tomar como exemplo a indústria automobilística. Na Europa, numa crise sem precedentes. No Brasil, xodó do desenvolvimento, com motores de combustão, flex, etanol. Lá terão que fabricar outros modelos, para que possam transferir para os países do MERCOSUL maquinário, peças e modelos que ainda serão bem aceitos no mercado local. E isso vale para toda a indústria. O Brasil vai importar equipamentos e tecnologias de segunda geração. Além do mais, a indústria europeia é mais competitiva do que a brasileira, e portanto, com a eliminação de tarifas, mesmo em 12 anos, vamos importar mais e mais.
Exportar? Os Europeus vão continuar criando todo tipo de dificuldade para importar nossos produtos agrícolas. Mesmo com o reconhecimento de 350 produtos com origem, como alguns vinhos e queijos, teremos que fazer um esforço mercadológico, o que hoje não estamos fazendo, para colocar produtos industrializados no mercado europeu. No café, por exemplo, ao contrário dos colombianos, não temos marcas internacionais e a exportação de cafés especiais é ínfima comparando com café em grão.
Se quisermos aproveitar bem o acordo, temos um trabalho gigante à frente. Primeiro, preparar-nos do ponto de vista jurídico. Não confundir direito internacional com direito da UE. Conhecer bem a dinâmica da UE, estabelecer pontas em Bruxelas. É incrível que nossas entidades empresariais não tenham escritórios lá e nem planos pós-acordo par preparar seus associados para um modelo econômico gerado pelo acordo bem diferente dos que temos hoje.
Os belgas trouxeram uma missão de 400 pessoas para aumentar o comércio pós-acordo . Até a Eslováquia trouxe o Primeiro-Ministro. E quantas missões brasileiras foram à UE vender? Acabou, agora tem que trabalhar.
O governo Lula vai ficar com os louros de que assinou o acordo, más também não tem nenhum plano para fazer do limão a limonada. E se não nos prepararmos, vamos virar uma colônia diferente mas ainda colônia dos europeus, na indústria e na tecnologia.
O acordo é também um chute nos nossos melhores parceiros, China e Estados Unidos. Os dois aparentemente perderam espaço, mas vão reagir. Com a presidência Argentina do Mercosul, um aliado íntimo de Trump, não é de estranhar se insistirem em um acordo comercial com os Estados Unidos. A China tem um plano B e vai concorrer com todas as forças para manter seus mercados na América do Sul. E pelo visto, até agora, os europeus perderam essa batalha.
Cada empresa tem que ver como será o seu futuro. Não subestime a necessidade que os europeus têm de um mercado como o brasileiro. Croissant vem da França congelado, maçã vem da Itália, os franceses têm redes de distribuição de alimentos, hotelaria, material de construção, os espanhóis concessões de todos os tipos, italianos comunicações, automóveis , energia e os alemães, indústria de todo tipo. E você pode ter certeza de que todos eles vão aumentar as compras de suas matrizes e de seus parceiros europeus.
Esse acordo muda totalmente a nossa economia, principalmente porque o parceiro é muito mais eficiente e até agressivo nos negócios do que nós. Boa sorte.