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Sunday, 30 April 2017

DO DIA DO TRABALHO E DO DIA DA BAGUNÇA

DO DIA DO TRABALHO E DO DIA DA BAGUNÇA


Primeiro tivemos o dia da bagunça, chamada greve geral, às vésperas do Primeiro de Maio, dia do trabalho. O protesto de milhões de desempregados, milhões de preocupados com as reformas trabalhista e previdenciária, é mais do que justo e necessário para o andamento democrático do país. Os cidadãos que elegeram esses políticos, cuja maioria representa a corrupção mais imoral que a nossa história registra, estão revoltados e procurando meios de se expressar. Mas, o que vimos nessa chamada greve geral foi uma bagunça organizada, uma revolta cheirando mais a desordem do que a protesto legítimo e democrático. Os organizadores cooptaram o sentimento nacional de revolta para promover baderna de forma estrategicamente organizada. E acabaram dando um recado errado ao mundo: queremos desordem independente do que defendemos. E esse tipo de ação, lamentavelmente, leva à reação não só da polícia, que tem que manter a ordem, mas também de cidadãos que querem protestar, mas sem desordem.

No bojo desses protestos, ficou o Primeiro de Maio, festa de São José, marceneiro, festejado pela Igreja Católica, e festa iniciada há mais de um século e meio com o surgimento de Revolução Industrial. Festa de punhos fechados, de canto da Internacional e de cravos vermelhos. Festa de quem trabalha, que em alguns anos de nossa história foi a festa da revolta contra a opressão da classe operaria pelos patrões, inclusive representados pelos militares no poder. E teve também festa de congraçamento, simbolizada pelas festas que organizava por exemplo a Fiat Automóveis  na gestão do Franco Ciranni, entre capital e trabalho. Festa de união que faz prosperar as empresas e o país.

Os trabalhadores tem reivindicações e isso não é privilegio de um país tão injusto como o nosso Brasil. Nos países desenvolvidos também há luta por melhores condições de trabalho. É só lembrar  as greves dos pilotos da  Air France ou da Lufthansa. Nisso não há nenhum demérito. No Brasil, os sindicatos dos trabalhadores lutaram através do seu partido pelo poder político e o conquistaram. E, com o final da sua gestão, jogaram no lixo todas as conquistas que obtiveram, ao deixar um precedente perigoso para a democracia brasileira, de que a esquerda composta por líderes sindicais não é capaz de dirigir o país de forma honesta, transparente e para o bem de todos, ou seja, principalmente a classe trabalhadora.

A nova reforma das leis trabalhistas coloca a organização sindical tanto para empregadores como empresários em um novo patamar, que vai exigir mais diálogo e resultados. Acaba com a tutela do estado, para dar espaço a um projeto conjunto ganha-ganha. Vai ser mais difícil  para os dirigentes dos dois lados, acostumados ao fluxo de dinheiro fácil, advindo de uma gestão nem sempre a favor do empresário ou do trabalhador,  e de eterna proteção de estado. Tempos novos com mais responsabilidades. Alias, já passou de hora dessa mudança.


Sunday, 23 April 2017

DA GRANDE MEDALHA DA INCONFIDÊNCIA

DA GRANDE MEDALHA DA INCONFIDÊNCIA 

Os feriados de Páscoa estendem-se em abril até dia 21, quando  o Brasil inteiro comemora a Inconfidência Mineira, relembrando o herói nacional Tiradentes, ou Joaquim José da Silva Xavier, dentista que se rebelou, junto com outros inconfidentes mineiros, na capital da província rica em diamantes, ouro e outros metais, Ouro Preto, contra a colonização e a opressão portuguesa. E o castigo dos portugueses, que nós tanto amamos nos dias de hoje, foi dos mais cruéis da nossa historia: esquartejamento. Ou seja, os portugueses nas terras brasileiras não vieram para serem amáveis ou conciliadores, vieram mesmo para tirar o que podiam, sem dó ou piedade. E dizem os historiadores que a revolta começou com o exagero na cobrança de impostos pelos portugueses. Aliás, algo que acontecia também naquelas épocas nas colônias dos hoje Estados Unidos: o Rei George III da Inglaterra  resolveu cobrar mais impostos do que a colônia podia pagar.

A festa da Inconfidência em Ouro Preto todo ano tem mais e mais aspectos de política do dia do que reverência à nossa historia. E, além do mais, dá a oportunidade ao Governador de Minas de distribuir medalhas e homenagens que, para os que as merecem, dão a satisfação da recompensa e,  para os que não as merecem e ganham assim mesmo, dão a satisfação de que passaram no teste da aceitação pública e política. A Medalha de Minas sempre é uma honraria.

Mas, nesta festa faltou, e falta há anos, a grande homenagem e a Grande Medalha da Inconfidência (a maior honraria) ao cidadão contribuinte. No país que a tem maior carga tributaria do mundo e os maiores juros, devemos lembrar dos Inconfidentes. Naquela época, os exploradores sanguessugas eram os colonizadores portuguesas. E agora, numa situação fiscal impossível para o cidadão (nestes dias que estamos entregando as declarações de imposto de renda lembramos da defasagem em 80 % dos valores que a receita reconhece em relação ao valor atual da moeda) e para as empresas, somos explorados pelos sanguessugas de incompetência de gestão dos nossos políticos e seus gestores públicos. 

E se adicionarmos a isso os escândalos de corrupção, a Lava Jato só é o mais visível, mas há muito mais, então o custo de gestão de nosso país e suas unidades federativas e municípios é absolutamente inaceitável.

Não é só inaceitável do ponto de vista político, mas é inaceitável do ponto de vista econômico. Não se pode  ter nem  justiça social, nem igualdade, nem competitvidade com o sistema fiscal que temos. E ninguém fala em reforma fiscal. Ninguém! A reforma da previdência do setor privado, sem reformar a do setor público e sem atingir os estados e municípios, é pimenta nos olhos do trabalhador . E se ela não for acompanhada pela reforma fiscal, aliás prometida há vinte anos, quando os empresários mineiros, sob liderança da FIEMG, saíram na rua junto com o então Presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, nada de fato muda neste país ! Tudo será só ajeitamento circunstancial para favorecer um estado ineficaz, que empurra toda a sociedade para o abismo da ineficiência, pobreza e desemprego.

Portanto, Excelência, Cidadão Contribuinte, a medalha que os Inconfidentes cunharam com sua fé em um Brasil justo, com seu sangue e suas vidas, é sua.

Sunday, 16 April 2017

DA VERGONHA, REVOLTA E TRISTEZA

DA VERGONHA, REVOLTA E TRISTEZA

Neste momento não há programa mais excitante do que os depoimentos dos executivos e donos da Construtora  Odebrecht de Salvador, a maior empreiteira do Brasil propriamente dita, sobre como agiram nos últimos anos. Aliás, construtora que tinha tempos  atrás o nome do seu fundador Norberto e editou um livro pesado sobre o seu modelo de negócios, que era um exemplo para a gestão de empresas no Brasil. Da Bahia para o mundo. Um mundo subterrâneo e de subterfúgios, de compra do Congresso nacional, do governo e dos seus lacaios políticos.

Para quem atua na área empresarial, nada de novo. E tem mais: nada de novo desde que nós tínhamos nos anos sessenta a idade de colegiais. Já em 1960, Jânio Quadros exibia uma vassoura para banir a corrupção deixada pelo saudoso JK. Os militares do golpe de 1964 exibiam a luta contra a corrupção, junto com o anticomunismo, como trunfo para se manter no poder. Quem não lembra dos IPM-Inquérito policial militar, tribunais de exceção.

A Odebrecht foi exposta e todo mundo ficou chocado. Mas, as delações dessa empresa são histórias da carochinha, se colocar junto as delações já julgadas das outras empreiteiras, inclusive da nossa querida Andrade Gutierrez, parceira da Odebrecht em aventuras incríveis, e se examinar outras redes de corrupção como os setores elétrico, de saneamento, telecomunicações, privatizações, e créditos nos bancos oficiais. E mais, se o sistema funcionou na escala federal, imagina o que acontece nos estados e municípios.

Uma aliança politico-empresarial sofisticada que corroeu a democracia e a economia de mercado e destruiu qualquer valor moral da sociedade brasileira. 

De qual sociedade? Dos desempregados, dos pobres, dos desesperados, que hoje estão à mercê dos criminosos do narcotráfico, ou da sociedade de elite que aplaudia o sucesso dos Odebrecht  (descendente de alemães que teoricamente deveriam ter algum valor moral) que tomaram conta do nosso Brasil. Os valores que implementaram no nosso nariz com aplauso de toda a sociedade (nos últimos anos, dos industriais do ano de Minas, vários estão presos) e em especial o empresarial, destruíram qualquer base de sustentabilidade.

É  uma vergonha da qual participamos como eleitores. É uma vergonha da qual participamos como cidadãos. 

A Odebrecht continua como todos eles, rica, poderosa, rindo de todos nós, como todos os seus colegas empresários e políticos. Ninguém se abala (com raras exceções que confirmam as regra), ninguém fica mais pobre, e todos eles com tornozeleira frouxa continuam fazendo o que sempre fizeram: negócios escusos.

Nenhuma entidade empresarial nesse processo todo da Lava Jato emitiu uma nota de repulsa, fez um novo código de conduta, expulsou seus sócios corruptos. Nada. Porque no fundo acreditam que esse é o modelo de negócios que predomina no país e com o qual você pode ficar rico.

É uma tristeza que a nossa geração de jovens da década de sessenta deixe como herança este Brasil tão empodrecido e empobrecido. Tudo isso para dizer que, com o ganho à custa de miséria e desemprego, é mais seguro viver em Miami.

Erramos, mas ainda há tempo de corrigir, de mudar o rumo. Não com a  hipocrisia dos Odebrecht que salta aos olhos, mas com mudança de atitude para valer, com mudança do modelo de valores deste país, onde tem sim gente honesta e trabalhadora, que foi enganada. Onde sim, há empresários sérios e honestos que podem mudar o rumo.

Sunday, 9 April 2017

DA BUROCRACIA E DAS LEIS

DA BUROCRACIA E  DAS LEIS

Recentemente, um prócer acadêmico descreveu para um seleto público empresarial as enormes dificuldades que têm as universidades, sejam estaduais ou federais, na sua administração e, em especial, no cumprimento da lei 8666,  que rege as compras das entidades públicas. E mais, não conseguem ser mais flexíveis na transferência de tecnologias porque as leis impedem. Então, a solução é assim: ficamos parados reclamando ou então vamos trabalhar para mudar as leis. Sendo que os maiores estudiosos das leis estão nas universidades, que também formam os maiores defensores das leis, sejam advogados ou juízes. E se eles não conseguem seguir a legislação com essa máquina intelectual à disposição, como ficam as empresas, os empresários e seus executivos?

A lei não se discute, se cumpre, diziam antigamente. Os emaranhados jurídicos que enfrentamos todos nos neste país ultrapassam a capacidade humana de  gerenciar negócios a e vida do cidadão. Começam com as próprias modificações e emendas da constituição de 1988, que era um texto complexo, porém um livro que você carregava no bolso e hoje virou o que mesmo? Uma coletânea de interesses de grupos políticos, econômicos, sociais, uns contra os outros para procurar proteger seus benefícios. Vejam a quantidade de processos que temos na justiça, sem solução, com demora que ultrapassa nos casos penais qualquer nível mínimo de dignidade (prisões sem julgamento, presos condenados com pena cumprida ainda não liberados, e um sistema prisional que faz mais mal à sociedade do que o bem para o qual foi criado há séculos) e nos casos trabalhistas e econômicos, enfrentamos a demora e complexidade das soluções,  que aumentam os custos e a incerteza jurídica e diminuem qualquer chance de sermos competitivos.

Sim senhor, nos somos competitivos no chão de fábrica, na loja, em qualquer negócio. O que nos mata é a absoluta falta de compromisso dos agentes do estado e dos políticos, com raras exceções que confirmam a regra, com a modernização do sistema de gestão do estado. Novas leis em todos os níveis são nós górdios adicionados nas cordas que levam ao enforcamento da economia nacional e das liberdades do cidadão. O cidadão, no trato com o estado é um verdadeiro herói, o funcionário público sofre no sistema que lhe é imposto e a economia fica cada vez mais ineficaz e menos competitiva. E não é trazendo produto chinês que isso vai se resolver. Talvez precisemos dos chineses para resolver essas complexidades que o sistema nos impõe.

Estamos falando em grande reformas como a da previdência, a trabalhista e similares, mas os estados e municípios, sem falar no governo federal, não são capazes de reduzir em uma folha o regulamento dos impostos como o ICMS, que passa de cinco mil páginas em Minas Gerais.

Vamos desburocratizar este país, simplificar a vida do cidadão e inverter essa ineficácia que sufoca e mata o estado,  para termos a nossa chance de crescer. Aliás, essa é uma boa agenda para as entidades de classe e a sociedade civil. A não ser que elas também sejam beneficiárias dessa loucura burocrática que assola, domina e atrasa tanto o Brasil.

Tuesday, 4 April 2017

DOS VIZINHO INQUIETOS

DOS VIZINHO INQUIETOS

A América Latina estava, nos últimos tempos, com exceção da Venezuela, um pouco fora da atenção internacional. Os eventos no Brasil, em especial o desastre econômico que o país enfrenta, continuam exigindo muita atenção mundial por causa dos investimentos estrangeiros que temos. A Carne Fraca, sim, foi uma publicidade para o Brasil da pior qualidade, inclusive ofuscando a inesperada redenção da seleção canarinho que, com oito vitórias, voltou a jogar um futebol de boa qualidade. Mas, nossos vizinhos estão sendo um motivo de preocupação, inclusive para a própria estabilidade brasileira.

De um lado, o acordo de paz na Colômbia, entre o governo e os guerrilheiros da narco-marxista FARC, traz um pouco mais de tranquilidade, mas deixa no ar  a pergunta, onde e quem vai produzir coca agora. Um negócio tão lucrativo e em crescimento constante não se deixa por amor à causa, mas muda de lugar. E esperamos que, em uma fronteira frágil, os colombianos não façam no território brasileiro sua nova base de produção, porque de distribuição e logística já fizeram. Mas, a fronteira mais frágil nossa hoje em todos os sentidos é com a Venezuela. Não por invasão dos venezuelanos, procurando a comida que lá não tem mais, mas por todo um conjunto  de medidas políticas que levaram aquele país a uma ruína democrática. A última confusão com o fechamento de fato do Congresso eleito e substituído pela Corte de Justiça, depois revertida, mostra um país com uma liderança sem rumo e sem prumo. O governo Maduro é um governo que cria desgoverno e um símbolo de caos perigoso. O pior de tudo é que deve muitos bilhões ao Brasil, que ninguém sabe quando vai pagar. Aliás, uma das razões dessa situação venezuelana é que, nos governos Lula e Dilma, tinha amizade demais e agora tem indiferença demais. Essa situação, sem ajuda do Brasil, não vai se resolver nunca.

Se as eleições no Equador, outro irmão boliviariano da Venezuela, Cuba e Bolívia mostram certa maturidade política e tranquilidade, as notícias sobre a saúde do Presidente da Bolívia, em tratamento em Cuba, não são exatamente algo que poderíamos chamar de boas notícias. A Bolívia tem uma tendência histórica a criar, no vácuo de poder, soluções não muito democráticas. E a lição que Morales, tentando um quarto mandato que teve rejeição total da população, de nada serviram ao Presidente Carteles, do vizinho do sul, Paraguai. A tentativa de mudar a constituição para permitir a reeleição teve forte reação da população, em um momento em que mais e mais indústrias brasileiras estão mudando para lá.

Em resumo, nossas fronteiras estão cheias de intranquilidade, ou seja, somos nós mesmos uma ilha sacudida por terremotos políticos num arquipélago que começa a dar sinais de erupções políticas que estão mudando o cenário democrático de alguns anos. E isso sem esquecer que a vizinha do norte, Guiana francesa, nossa maior fronteira com a União Europeia, está em greve geral, parada, com seu aeroporto fechado há semanas. É a França revolta na porta do Brasil. Haja calma nesta hora!

Sunday, 26 March 2017

DO PÃO DE QUEIJO FRANCÊS

DO PÃO DE QUEIJO FRANCÊS

Impossível! Pão de queijo é algo tão peculiar, tão mineiro, ligado às montanhas e ao povo mineiro, que francês, que faz maravilhas com pães (que o digam  os padeiros mineiros que foram lá aprender em um programa chamado Companheiros do Dever, organizado pela FIEMG, em cooperação com a Embaixada do Brasil em Paris, nos anos 2000), não deve fazer pão de queijo. Mas, nos supermercados dos franceses, hoje, no Brasil,  como o Pão de Açúcar, você encontra maravilhas das padarias francesas, como croissant, fresquinhas. Vem congeladas de avião e, esquentadas na hora, nada perdem em gosto para as  que são  servidas na França.

Você também tem os queijos mineiros, que francês não faz. Ou os franceses, que mineiro na faz. E vinhos, como o Malbec, o mais famoso vinho argentino, que os franceses já fazem. Malbec francês, tão bom como o argentino e, nas lojas em São Paulo, mais barato. E a cachaça mineira, hoje em media mais cara do que whisky escocês? Nas verdade, a melhoria significativa de qualidade, que abriu os caminhos do mundo, foi feita com os franceses. Mas, a história não acaba aí: daqui a alguns anos, você vai comprar automóvel europeu fabricado na Europa sem  pagar taxa de importação, e portanto terá na mesa e na estrada produtos europeus da melhor qualidade por preços bem menores.

E o verso da medalha também é verdade: os europeus poderão comprar lá nossos produtos sem pagar taxas de importação, que segundo eles oneram os produtos deles nos mercados do Mercosul, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, em quase 24 bilhões de reais por ano. E tudo isso será possível se for assinado até o final do ano um acordo de livre comércio, cooperação  e político, entre o Mercosul e a União Europeia.

Na semana passada, os negociadores se reuniram e discutiram vários itens do acordo. De fato, nas regras de origem geográfica que protegem nossos produtos, como pão de queijo e cachaça, além dos queijos mineiros, como exemplo, faltam aos nossos negociadores dados, informações e indicação do interesse dos exportadores brasileiros. Na reunião, acompanhada por um grande número de empresários de São Paulo, só tinha de Minas o lendário representante da Magnesita, Engenheiro Renato Tavares, que sempre foi globalizada e sabe o que é  mercado internacional.
O acordo, a ser concluído ate o final do ano, anda bem segundo os negociadores brasileiros. Mas, as empresas e a economia como um todo precisam se preparar para uma nova fase, mais competitiva, com novas oportunidades de mercado, mas também novos desafios. O acordo deve criar mais empregos, melhores empregos, mas tudo será diferente.

E agora temos que ficar bem atentos às negociações e às mudanças que elas vão trazer. Senão, os franceses vão nos mandar queijos, vinhos, máquinas, e pão de queijo. E nós só vamos mandar para Europa o que mesmo?

Sunday, 19 March 2017

DO POBRE, NOBRE, E PODRE


DO POBRE, NOBRE, E PODRE

A frase de Hamlet, na peça teatral do inglês William Shakespeare de mesmo título, “há algo podre no Reino da Dinamarca”, pode ser mais uma vez repetida para os momentos de hoje no Brasil: há algo de podre neste país. O mais recente escândalo da “carne fraca” ou seja carne podre que pobre come, adiciona mais um capítulo à novela de podridão e corrupções que vivemos no país. A cada momento aparece um escândalo, os políticos de todos os partidos ficam mais enlameados, e as condenações  cada vez mais longe. Ninguém sabe onde isso vai parar e quando vai parar. E a razão é simples: a podridão é de tal tamanho que o país precisa de um renascimento, surgir das cinzas como Fênix para recomeçar. É uma transição dolorosa na qual a parte mais triste é que, mesmo com um processo como a Lava Jato, em curso há três anos, parece que ninguém se assusta e que não mudam os hábitos, sejam nas empresas, na administração pública ou entre políticos. Se para um respeitado deputado que vira ministro, um simples superintendente do Ministério da Agricultura no seu estado é chamado de Grande Chefe, então a escala de valores está de cabeça para baixo e quem manda mesmo e vale alguma coisa na hierarquia do poder é o Grande chefe e não o tal do deputado.

A operação da Carne Fraca traz muitas lições. Que há fiscais em todos os níveis honestos, não ha dúvida alguma. E que há desonestos contra os quais os empresários não tem força para lutar ou preferem não lutar, não há duvida também . Não tem um empresário neste país que não foi uma vez na vida, ou  mais, ameaçado por um fiscal de qualquer natureza. E quantos os puseram aos tapas para fora, denunciaram, e quais entidades de classe denunciaram essas situações? E quantos que fizeram isso não foram ameaçados, inclusive com suas famílias, suas vidas e suas empresas destruídas. Em 2010, o então Presidente do Sindicato de indústria de carnes de Minas, Cassio Braga, denunciou essas situações. E o mesmo fez na Câmara de Indústria de Alimentação da FIEMG,  defendeu posições a favor da indústria e contra esses desmandos que agora apareceram. Mas, as entidades empresariais deveriam se posicionar mais firmemente contra esses e outros casos, como o de desastre de Mariana e o escândalo de carne podre em Minas, que está na justiça  de Juiz de Fora há dois anos, sem solução.

A passividade ou acomodação vai nos custar caro. A BRF tem como seu Presidente do Conselho, Abílio Diniz, e seu membro o ex-ministro Luiz Furlan. Nenhum dos dois veio explicar o que aconteceu. Deixam que as pequenas malandragens prevaleçam ao invés de assumirem perante o público e seus consumidores a responsabilidade. Errar  é humano, reconhecer erros e corrigir é a grandeza do homem. Eles a tem? A balela do ministro da agricultura de que ele vai continuar comendo carne brasileira é ridícula, porque o que ele e seus antecessores, entre os quais há mineiros, não fizeram é organizar esse setor e garantir, em primeiro lugar ao próprio brasileiro, e ao mundo, que tudo está em ordem.

Este episódio da Carne Fraca vai custar milhares de empregos, acabou com o mito de que o agronegócio era maravilha, vai afetar todo o setor agrícola e sua posição no mundo. Vai afetar nossas exportações de forma inimaginável. Perdemos a credibilidade, como há quase 90 anos, quando acharam pedras nas sacas de  café que exportávamos. Culpar os que mostraram o cancro pelo que aconteceu, e está acontecendo ainda em muitos setores, é não resolver o problema maior: entre nós ainda os desonestos, com seus métodos de trabalho obscuros, e de conhecimento muitas vezes de todos, prevalecem. E estão acabando, com a passividade e silenciosa conveniência de cada um, mas em especial do próprio empresariado, que aceita esses métodos como facilitadores de negócios, com o país . Há algo de podre além da carne.