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Sunday, 22 January 2023

DOS CAMINHOS E DESCAMINHOS DA INDUSTRIA BRASILEIRA, O CASO DA FIESP.

   Dos caminhos e descaminhos da indústria brasileira


A maior preocupação da indústria hoje é como vai desenvolver o mercado. Meu negócios vão crescer se o mercado crescer. E nesse item as diretrizes governamentais têm seu peso. E a isso se juntam os juros e a inflação.O empresário precisa de rumo e estabilidade. Mesmo querendo a reforma tributária, não pode ficar pendurado na corda bamba esperando que reforma saia ou não saia. O mesmo vale pra as relações trabalhistas.


Então está claro que incerteza mata negócio. Retrai investimentos e todos saem prejudicados. Uma das forma para diminuir as incertezas é permitir a participação nas entidades empresariais. Nelas, você, com força maior, defende as causas, em especial junto ao governo, que você sozinho, grande ou pequeno, não consegue colocar em evidência.


Se a entidade empresarial não cumpre esse papel, inclusive nas negociações salariais, a pergunta é para que ela me serve. Não é que eu neste caso vá conseguir resolver sozinho, mas também a entidade fica fora do meu espaço de preocupações. 


As entidades empresariais no Brasil, que são baseadas nos sindicatos e administram o sistema S, são poderosas porque tem recursos oriundos de desconto na folha de pagamento de salários. Ou seja, falando francamente, assalariado recebe menos no seu salário para financiar sistema o S, Senac, Sesc, Sesi, Sebrae, Senai, Ápex, Embratur e mais alguns. As entidades empresariais que administram por exemplo o Senac, recebem 10 % dos recursos arrecadados. E ninguém pública o balanço dos recursos recebidos, nem confere os resultados, o TCU, que fiscaliza, faz vista grossa e ninguém diz com clareza quantos desses recursos são arrecadados no Brasil. A última estimativa, mas que não foi confirmada, é de 80 bilhões de reais ao ano.


Claro que há entidades que administram esses recursos com eficiência. Muita coisa foi bem feita nestes 70 anos dos sistema. Mas, também o sistema gera ambições e cobiça. Gera distorções, permanência longa dos seus dirigentes, envolvimento com política e distanciamento dos objetivos da indústria, sua competitividade e suas relações com trabalhadores mais equilibradas.


O recente episódio na FIESP mais parece disputa política numa república de bananas do que um debate sobre o desenvolvimento da indústria paulista. Em resumo, uma turma que dominou a entidade por 18 anos com tentativas fracassadas  de conquistar o governo do estado, elege seu sucessor, que elege o sucessor que traz um novo jeito de administrar. E aí de repente parte do grupo que o elegeu, acha nele tantos defeitos  que o transforma em São Sebastião flechado, e dos quais não sabiam nada quando o elegeram. 


Tudo muito estranho. Discussões, acusações num nível tão inconsistente e atitudes tão radicais que dão medo de estar perto da entidade. Aliás, ninguém pode acusar o acusado atual presidente da FIESP de desvios financeiros, simplesmente porque não há. As acusações que lhe são imputadas são de nível pessoal, sem substâncias e muito mais referentes a quem quer brigar e arruma razão para brigar. 

As divergências políticas, que a sociedade está tentando superar, uma parte de empresários que compõe a base sindical da entidades quer trazer para a entidade, copiando o modelo de acampamentos em frente aos quartéis.

A sociedade e inclusive a maioria dos empresários pelo Brasil afora não conseguem entender nem o nível de acusações, nem as atitudes e nem quem está brigando para ter que benefícios. A entidade vai sair tão arranhada que não será capaz de representar os interesses de seus associados numa hora crucial de re-industrialização do país. Os caciques brigam e os índios estão abandonados.


No fundo, pode-se arriscar esta previsão, no debate sobre dois conceitos de avanço da indústria: um, que mantém a entidade amarrada às ambições políticas que foram derrotadas por três vezes, e novamente nas últimas eleições, e um modelo de gestão para elevar a competitividade da indústria paulista, em um projeto com forças políticas dominantes hoje no governo.


A pergunta que não teve resposta até agora nesse conflito é o que a indústria ganha para ser mais competitiva com essa confusão. Por enquanto só perde. Em resumo, vamos parar de brigar e começar a trabalhar.[ O autor foi Presidente da Federacao de industrias de Minas Gerais de 1995 a 2002 e Vice Presidente da CNI e nunca viu coisa parecida, e olha que já viu muita coisa, do que está acontecendo hoje em dia na Av.Paulista ) 









Friday, 20 January 2023

   

Quote of the Day

“The market came with the dawn of civilization and is not the invention of capitalism. If the market leads to the improvement of people’s daily lives, then there is no contradiction with socialism.”

— President Mikhail Gorbachev of the Soviet Union, in a speech to the founding congress of the new Russian Communist Party, quoted in the Washington Post (June 19, 1990)

Sunday, 15 January 2023

DO ARROMBO NO PLANALTO AO ROMBO NA FARIA LIMA

   DO ARROMBO NO PLANALTO AO ROMBO NA FARIA LIMA


Janeiro deste ano merece mudar para agosto, mês tradicionalmente trágico na política brasileira. Após o arrombo na Esplanada em Brasília, cai logo em seguida uma bomba atômica na Faria Lima em São Paulo, capital financeira do país. Enquanto  em Brasília ainda estão se recuperando e descobrindo o que aconteceu e o que pode ainda acontecer, a bomba das Lojas Americanas tem o mesmo efeito mas com números mais exatos.


Quando o gato subiu no telhado e foram anunciadas inconsistências contábeis de 20 bilhões de reais, já foi assustador.E quando o gato chegou no telhado e falaram de 40 bilhões, o susto congelou. São míseros 8 bilhões de dólares. Dinheiro grande em qualquer lugar do mundo. 


A empresa, que tem 90 anos no mercado, e tem como sócios majoritários três dos maiores capitalistas brasileiros, com ramificações na área de cerveja, InBev e mais muitos outros negócios, tem um rombo desse tamanho descoberto pelo novo CEO da empresa em alguns dias. No conselho da empresa estão dois dos representantes dos acionistas majoritários, o próprio guru dos gurus Sicupira e o filho do outro sócio, o homem mais rico do Brasil, Jorge Lemann. Teoricamente, no Conselho de administração, com essa composição, ninguém detectou o que estava acontecendo. E teoricamente os auditores, além dos diretores, também não detectaram o que estava acontecendo para chegar a esse resultado tão nefasto.


Lendo o relatório anual da empresa (ri.americanas.oi) para o ano 2021, que diz que o propósito da empresa é “Somar o que o mundo tem de bom para melhorar a vida das pessoas”, você fica maravilhado. Uma empresa com 51 milhões de clientes, 3500 lojas físicas, 137 milhões de itens à disposição dos clientes, 55 bilhões de faturamento anual, 731 milhões de lucro líquido em 2021 e 44 mil colaboradores. Além dos famosos investidores 3 G, Lemann, Sicupira e Telles, há mais 600 fundos de investimentos, inclusive fundos de pensão, que investem na empresa. E o relatório, que dedica a maior parte às ações da empresa na sua responsabilidade ambiental, social e governança, ESG, suas estratégias de desenvolvimento, é um caso exemplar onde diz tudo mas esconde o principal: as tais inconsistências contábeis que provocaram esse rombo de 40 bilhões de reais.


A pergunta que não cala é como um time tão qualificado não sabia o que estava acontecendo. Ou sabia e se beneficiava com o modelo implementado. A dúvida que mata! Aliás, o 3 G já teve um caso similar na sua empresa nos Estados Unidos, Heinz. E ninguém pode dizer que essa inconsistências não são praticadas também em outros negócios do grupo que inclui cervejarias, alimentação etc.


Nos negócios, quando um perde, outro ganha. O ajuste de uma empresa desse tamanho será brutal. E os primeiros a pagar a conta serão pequenos acionistas, funcionários e fornecedores. E os bancos que emprestaram dinheiro. Entre eles, um dos menos prejudicados é, por incrível que pareça, o Banco do Brasil. Estatal, cuidadoso e tradicional. Quanto aos funcionários desprotegidos, porque os sindicatos foram trucidados, mal preparados para requalificação a ( a empresa se orgulha de dizer que investe 11 horas em treinamento por funcionário por ano), vão encontrar emprego onde? 3 G é conhecida no mundo inteiro por suas relações com capital humano, como empresa de ações com sangue frio e calculista. Então, em um  episódio assim, pode-se imaginar o que se espera na reestruturação. Os anúncios de que os acionistas preferenciais, os donos do negócio, vão capitalizar a empresa com bilhões, lembram o  ditado chinês que diz que rico não come vidro e nem rasga dinheiro.


O efeito dominó desse episódio, inclusive questionando o modelo de negócios do varejo brasileiro, o modelo de investimentos dos fundos, os controles contábeis e papel dos órgãos reguladores e mais e mais, ainda será medido. Provavelmente, o governo Lula, com seus magos econômicos ainda preocupados com o vandalismo no Planalto, ainda não se deu  conta desse evento chamado na literatura econômica de fraude. Suas consequências econômicas e sociais abalam a estrutura do mercado financeiro e do mercado de trabalho e ameaçam eventualmente o crescimento do país.


Aliás, o problema de fraudes empresariais, e o evento das Americanas pode se enquadrar nesta categoria, muito bem descrita em um artigo recente do Prof.Alexander Dyck da Universidade de Toronto Canadá (How pervasive is corporate fraud?)

Ele explica que 40 % das empresas cotadas na bolsa de valores nos Estados Unidos cometem fraudes e que isso destrói enormemente o valor das empresas. No caso das Americanas, após o anúncio de discrepâncias, o valor da  empresa, além do rombo de 40 bilhões, caiu 80 %. Nos EUA há neste momento três casos bilionários de fraudes, o mais famoso no passado foi o da Enron, que são  os de criptomoedas TRX, de caminhões elétricos Nikola e da  start up Theranos. 


Quantos casos há no Brasil, lembramos de EIke Batista, ninguém sabe. Como disse um advogado, se escrever um livro sobre isso, será de tomos infindáveis.


A responsabilidade empresarial nessa história vai no caminho de reduzir prejuízos. Qual será papel do estado e seus agentes, será um teste para  o governo Lula. Algumas ações já foram tomadas pelo judiciário e o  Ministério público, mas o tamanho do desastre requer também uma ação coordenada e liderada pelo  governo. Uma espécie de comitê de crise. Lembro o caso de uma montadora que dispensou da noite para o dia 12 mil funcionários para fazer bonito para os acionistas e, questionada se alguém do governo os questionou, era governo FHC, responderam: nos cuidamos do lucro, do problema social o governo que cuida.


Apertem os cintos que o céu não será de brigadeiro.


BVMF:AMER3









Tuesday, 10 January 2023

CHARGES E HUMOR DA VIDA REAL, BRASILIA 8. De janeiro 2023.

Kika Castro, jornalista mineira de primeira, publicou no seu blog, charges sobre eventos de último domingo em  Brasilia.  Vale a pena ver como os  chargistas, lembra de Pasquim, veem os acontecimentos nos dias de hoje


http://kikacastro.com.br/2023/01/10/charges-bolsonaristas-golpistas

Monday, 9 January 2023

DA QUEBRA DE VIDROS E DA CONFIANÇA

 DA QUEBRA DE VIDROS E DA CONFIANÇA


O quebra-quebra em Brasília quebrou mais do que os vidros e móveis dos palácios. Colocou em pauta algo que foi empurrado abaixo do tapete por todos os interessados, partidos  políticos, atual  governo, empresários e até trabalhadores: vamos virar a página e confiar que podemos trabalhar juntos no futuro. O fato  de o Congresso votar a PEC da forma proposta pelo então futuro governo, e de termos vivenciado uma posse do Lula tranquila, criou a ilusão de que tudo estava bem e que estávamos caminhando para uma paz econômica e social.


Os eventos deste fim da semana, no dia das Reis, mostraram que a conclusão estava errada. E mais: com consequências irreparáveis para o futuro do país. Primeiro mostrou que o governo está despreparado para conter essa onda revoltosa que está se alastrando há muito tempo pelo país. O governo, nos seus níveis mais diferentes, falhou em evitar um desastre de proporções épicas para o país. 


E do ponto de vista dos investidores, que não são só os da Faria Lima, mas milhares de empresários no país, todos levaram um susto e têm no bolso uma pergunta ainda sem resposta: até onde isso vai? A incapacidade do governo Lula de prevenir esses eventos  do ponto de vista da segurança pública e a existência de outro lado de um movimento que, à plena luz do dia, consegue quebrar os símbolos da República, assustam.


A reação no país e fora do país a esse vandalismo, inclusive de entidades empresariais brasileiras, e o apoio ao governo Lula não evitam a pergunta simples: de que essas pessoas são capazes? Já fecharam estradas, em São Paulo estão fechando o acesso ao Aeroporto de Congonhas, em Belo Horizonte um juíz permite que acampam em frente ao quartel do exército, já houve mortes e mais e mais.Como será no futuro? As esquerdas, em especial o Movimento dos Sem Terra, eram, junto com os sindicatos dos trabalhadores, o pavor dos empresários. E como eles vão reagir? Haverá um conflito armado ou que tipo de conflito vai se reproduzir no país? Essas e outras dúvidas persistem e se transformam em receio, medo e paralisam as atividades, prejudicam empregos e investimentos.


Mas a história na área empresarial não acaba com dúvidas e nem com as declarações das suas entidades. Todos os dirigentes empresariais sabem que é no meio empresarial que o bolsonarismo tem maior apoio. Provavelmente também, o maior apoio financeiro e logístico. Teve Federação das Indústrias que apoiou Bolsonaro nas eleições e a cujo presidente foi prometido o cargo de ministro. Inúmeros empresários se declararam bolsonaristas e inúmeros coagiram seu funcionários a votarem no Bolsonaro. Como ficam então essas entidades e seus associados? 


As quebras de Brasília não quebraram os vidros e cadeiras, quebraram o frágil equilíbrio democrático brasileiro e, com ele, a paz social e a  oportunidade de crescimento econômico e social equilibrado. O Brasil nunca mais será o mesmo.

 


Friday, 30 December 2022

DAS DUAS DESPEDIDAS NO FINAL DO ANO

te final do ano, do qual nos despedimos com muita esperança para o proximo ano, tambem presenciamos duss despedidas iconicas para os brasileiros e para o Brasil. Morreu Edson Arantes do Nascimento, mineiro de Tres Coraçoes e ficou eterno Pelé, jogador de futebol de Santos. Encontrei Pelé nos idos de 1958 quando Brasil ganhou primeira vez a Taça Jules Rimet. Meu pai estava no Brasil, a nos impedidos de sair da Iugoslavia, eu acompanhava ansiosamnete tudo do Brasil.JK,Brasilia, musica,Jorge Amado e claro futebol. Conhecia a selecao braisleira de cor, ganhei ate um concurso por conta disso e torcia por Santos e Botafogo,por causa de Garrincha. Chegando ao Brasil em 1960 e ai acompanhei mais de perto o futebol.Tornei me torcedor do Galo e escrevia para jornal Delo na Eslovenia. Como entre os leitores tinha mais interesse por futebol do que por politica, escrevia muito sobre futebol e seu jogadores.E quando Iugoslavia foi escolhida para o jogo de despedida do Pelé no MAracanã entrevistei o Pelé. Mas jamais me tornei um expert em futebol.Não admirava sómente as jogadas geniais do Pelé, mas sobretudo sua capacidade de jogar em equipe, reconhecer os colegas jogadores e toda a equipe tecnica. E com tempo passando dando um exemplo de humildade e seu compromisso com um Brasil diverso, do qual ele surgiu como afro brasileiro, possivel com talento, garra e muito esforço,com valores morais e eticos que o fizeram como exemplo no mundo inteiro de um Brasil sério, competente, trabalhador e honesto.Ele com seu comportamento era Brasil que o mundo quer e que nos almejamos.O seu exercicio de futebol era meio para exercer a brasilianidade na sua plenitude dos nossos sonhos e desejos. E era consenso exemplar.Um brasileiro que o mundo queria e nos quueremos.E por tudo isso inesquecivel como pessoa e nao só como jogador. A outra despedida que estamos vivendo é o fim do governo atual. Perdidas as eleições presidenciais, estamos vivenciando como nunca antes nos ultimos 60 anos que vivo lolitica brasileira, a saida de um presidente da Republica legitimamente eleito e legitimanente derrotado na re eleição, sair pela porta de fundos. Não quer reconhecer a vitoria do adversario, sua propria derrota e diz a metade dos eleitores que votaram nele, que votaram na verdade no homem errado que os abandona como Tite fez na derrota da seleção braisleira contra Croacia. Sai pela porta de fundos reconhecendo que vendia um discurso que na pratica com esse ato final nada tem ver com a realidade que prometia. O povo brasileiro é mais representado pelos valores do Pelé ou outras atitudes e valores que desembocam na Florida com direito a uso de transporte pago pelo exaurido contribuinte brasileiro. Cada um vai fazer a sua avaliaçao, mas eu sou Pelé com a dignidade que me fez ser brasileiro.

Monday, 16 May 2022

DO ECOCRIMINALIDADE E A SERRA DO CURRAL

DO ECO DA CRIMINALIDADE E A SERRA DO CURRAL Ao assumir a presidência da FIEMG, encontrei o logo da entidade simbolizando uma fábrica, com três chaminés soltando fumaça. Outros tempos. O Brasil acabava de sediar a Rio-92, o maior evento de meio ambiente realizado até hoje, e o mundo começava a criar consciência de que a ecologia era um item importante no nosso desenvolvimento. A mesma consciência foi abraçada pelos brasileiros e, em especial, pelos mineiros. Foi o presidente mineiro Itamar Franco que instituiu o Ministério do Meio Ambiente e da Amazonia Legal, em Minas foi criada a Secretaria de Meio Ambiente, que teve secretários memoráveis como José Carlos Carvalho e Mauro Lobo, entre outros, e o movimento ecologista mineiro, com Hugo Werneck e Maria Dalce Ricas (AMDA), tinha um apoio da sociedade que deixou marcas até hoje. A indústria, já sob a liderança de Nansen Araújo, e depois, de José Alencar na FIEMG, foi se adaptando. A USIMINAS, sob o comando do saudoso Engenheiro Rinaldo Campos, foi a primeira siderúrgica no mundo a obter a ISSO 18.000, certificação internacional na área de meio ambiente. Na história não devemos esquecer que foi um mineiro, o Engenheiro João Camillo Penna, como Ministro da Indústria e Comércio, que implementou o programa de etanol, e outro mineiro, o Engenheiro Alysson Paulinelli, que, como Ministro da Agricultura, implementou a agricultura tropical. E nesse rol da liderança mineira não devemos esquecer os mineiros no comando da CVRD, que implementaram programas de responsabilidade ambiental, inclusive em Carajás. E as florestas renováveis, com eucalipto para siderúrgicas, surgiram com a antiga Manesmann, com Marco Antônio Castelo Branco liderando a mudança tecnológica. Em resumo, Minas era um exemplo. Mesmo na mineração, a Samarco e outras mineradoras, como a Vale eram motivo de orgulho. Houve o desastre da Mineração do Rio Verde, em Macacos, nas redondezas de Belo Horizonte, com morte de vários operários, que chamou a atenção pela precariedade das bacias de rejeitos, na época mais de 170 no estado todo em situação crítica. Após 2002 houve uma mudança radical na percepção da importância do meio ambiente para o desenvolvimento do Estado. Começou a prevalecer a máxima de que a regulamentação e a legislação de meio ambiente prejudicam o seu desenvolvimento econômico. Com apoio intrínseco do empresariado, liderado pelos empresários da mineração, reunidos na FIEMG, começou uma nova aliança espúria entre o governo e o empresariado, bem diferente do que havia anteriormente. Enquanto no passado os empresários que não cumpriam a lei eram afastados da entidade, e inclusive, como no caso dos fabricantes de calcário que queimavam a mata natural, presos, de repente eles eram vítimas e heróis que, com os políticos, conseguiram mudar a legislação. Os novos regulamentos passaram ser elásticos, desprezavam os interesses amplos da sociedade e colocavam os interesses dos empresários acima dos interesses da sociedade. Aí, dentro desse relaxamento do estado, do abuso empresarial e também da ausência maior de movimentos da sociedade, aconteceu o desastre de Mariana. Nenhuma lição aprendida levou a evitar o desastre de Brumadinho, da Vallourec e mais outros tantos que desconhecemos ou estão abaixo do tapete. Enquanto o setor agrícola lidera uma economia sustentável, as indústrias se adaptaram aos novos padrões, tanto no processo industrial como no produto final, veja por exemplo eficácia dos motores da Stealantis, o setor mineral é um calcanhar de Aquiles no desenvolvimento do Estado. No balanço do desenvolvimento sustentável do Estado como um todo, o pêndulo neste momento vai para uma parte do setor mineral, que persiste, às vezes até dentro da lei que eles mesmo criaram, em ser sustentável para eles, e totalmente insustentável para outros. O recente exemplo da empresa Tamisa e a mineração na Serra do Curral é exatamente isso. É a ponta do iceberg. A luta pela Serra do Curral é antiga e alguns devem lembrar ainda da Hanna Mining, e depois, da família Antunes, MBR, que exploravam entre outros, as minas em redor de Belo Horizonte, ou talvez antigo Belo Horizonte, e das lutas nas ruas da sociedade contra essa exploração nefasta. Agora apareceu uma brecha perfeita para uma empresa cujos modelos de negócios no passado são um verdadeiro manual do pior, mesmo enriquecendo e empoderando seus donos, em termos de ESG ( environment, social responsability, governance). Se precisar escolher uma empresa em termos mundiais que saiba usar todas as ferramentas para usurpar a sociedade, essa seria a campeã. Por que isso é importante? Porque tudo foi feito dentro da lei, aprovado de acordo com regulamentos, a empresa se compromete a que o projeto seja pequeno, só alguns hectares da fazenda, vão reforçar as estruturas do Hospital Baleia e mais e mais. O problema é que o histórico deles é não cumprir. Bem, e se cumprem, o desmonte do estado que o governo Zema e seus antecessores imediatos, Pimentel e Aecio, fizeram, mostra que este estado não tem a mínima capacidade de controlar o que vai acontecer. Ou seja, juntou-se a fome com a vontade de comer. O projeto será sim executado conforme os interesses da empresa versus a sociedade. E o projeto, definitivamente, com as atuais tecnologias disponíveis, não é um projeto viável do ponto de vista da sustentabilidade nos dias de hoje. O estudo feito pelos canadenses, meu pai açougueiro dizia que papel aguenta tudo, lido com cuidado, demonstra claramente que o projeto traz prejuízos ambientais e de qualidade de vida irrecuperáveis aos moradores das cidades envolvidas. Todo o processo de aprovação, entre outros, os funcionários da SEMAD controlando a movimentação de conselheiros durante a discussão do projeto e relatando “ in real time” à secretaria da pasta (fulano foi ao banheiro e conversou…), o envolvimento do próprio chefe de executivo no processo, incluindo a demissão de funcionários que discordam da orientação dele, e mais e mais, mostram que onde tem fumaça tem fogo. O output econômico do projeto é absolutamente mínimo no desenvolvimento do Estado e se, compararmos seu balanço social versus o econômico, é um brutal desequilíbrio a favor dos interesses da empresa versus a sociedade. Last but not least, está o papel da sociedade empresarial ou de alguns dos seus representantes no episódio. Enquanto você tem o Rubens Menin, da MRV, liderando no setor de construção na sustentabilidade, inclusive sendo um exemplo no Brasil e no exterior, um Salim Mattar e Eugênio Mattar, no seu setor e tantos outros, a FIEMG lidera o apoio a um projeto nocivo à sociedade. Seu presidente, que permaneceu durante o desastre de Brumadinho no Caribe e não no local do desastre, o do milionário SESI, pago pelos trabalhadores, só apareceu para ajudar meses depois, defende junto com Zema o projeto com unhas e dentes. Aliás, dentes, já que ameaça a todos os que estão contra, com represálias econômicas e até pessoais. Por outro lado, seu arqui-inimigo presidente da CNI visita a Secretária do Meio Ambiente nos dias da aprovação do projeto, a sós, provavelmente pedindo favores para seus negócios como o apoio a esse projeto. E claro que os representantes empresariais no conselho, nenhum deles pelo que me consta empresário, mas “ empregados”, votaram a favor. O que espanta é o voto do representante da SME Sociedade Mineira de Engenheiros. Uma pessoa experiente internacionalmente, até respeitada, votar a favor de um projeto bichado, é de se espantar. Não sabemos se o voto teve respaldo dos sócios da centenária SME, onde seria de espantar que os jovens de hoje concordem em ajudar a destruir o seu futuro. Em resumo, esse esposório, é, como dizia Boris Casoy, UMA VERGONHA. Fico triste que, no último quartil da minha vida, escreva estas linhas. O xingatório do atual ocupante do cargo que Nansen Araújo, o Senador José Alencar e eu ocupamos, lutando por Minas e suas ameaças, como dos meus sucessores, mostram mais quem são eles, do que quem fomos. Minas não pode perder sua alma, seu valor moral e Belo Horizonte não pode deixar de ser de fato em todos os sentidos um horizonte belo. Ou, como disse o Papa João Paulo, QUE BELO HORIZONTE. Por ele e por Minas, eu levo pedrada, mas vale a pena lutar por sua gente e seu futuro. Stefan Salej 15.5.2022.