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Sunday, 4 February 2018

DA JUSTIÇA E DA INJUSTIÇA E O CASO LULA



Em um  determinado momento da história brasileira, dizia-se que, segundo a crença popular, não é recomendável brigar com quem usa saia: padre, mulher e juiz que usa toga. E tinha outra frase: sentença de juiz não se discute, se cumpre.

Com a celeuma do cumprimento da sentença que recai sobre o  ex-presidente da República Lula e que, claro, ainda não é definitiva, em vista dos recursos que permite a lei, a pergunta é simples: a lei, quando aplicada a um político, seja de que matiz for, tem interpretação diferente da lei aplicada a um cidadão comum, sem matiz político e sem recursos financeiros?  Sem exceção, a resposta seria uma só : a interpretação das leis e sua aplicação para políticos na justiça brasileira é na sua maioria diferente. Há sim políticos presos, há condenados que não foram presos, e há políticos ainda sob processo.

A questão que se coloca não é que se condene um politico de esquerda, fazendo-se justiça e aí se condena um de direita. O debate que se coloca é se temos um sistema judiciário que, mesmo com erros e acertos, merece a confiança do cidadão. Ou melhor, se temos um sistema judiciário que é um pilar firme e fundamental para o funcionamento da nossa democracia.

O processo de mensalão e agora o da de Lava Jato, expuseram  mais do que nunca na história do Brasil (não nos esqueçamos dos tempos dos portugueses que esquartejaram Tiradentes e nem do regime militar que criou suas próprias leis e sua própria justiça) de que maneira um sistema funciona e quanto ele atende o cidadão. E aí, ao lado de uma onda de novos servidores de justiça, sejam eles procuradores, juízes ou policiais federais, está um sistema que debate, como no caso de Lula, se condenado deve ou não cumprir a pena. E por outro lado ninguém debate que 40 % dos presos estão  presos sem sentença, sem processo concluído. E que nossos presídios, onde temos quase um milhão de pessoas presas, estão dominados pelas facções criminosas, verdadeiras escolas de crimes e de um nível de sobrevivência sub humana.

Em resumo, cidadão comum pode confiar na justiça? A Justiça de trabalho merece respeito? Milhões de processos, legislação confusa e complexa e ainda incipiente sistema de conciliação na área de trabalho e direito corporativo, tem criado custos para a vida das pessoas e também para empresas que ainda não for calculado.

Tem mais: tem procura de justiça fora da lei e que os agentes de lei ignoram porque convém a todos. Esta justiça, as vezes exercida pelas próprias policias ou as vezes pelas gangues esta totalmente fora de alcance da lei e de uma dimensão que supera o próprio sistema legal da justiça.

A perspectiva de criar um sistema de justiça que possa servir aos cidadão, criar a confiança e reduzir a aplicação da lei discriminatória entre poderosos e pobres, é hoje em dia pouca. As andorinhas que aparecem não são suficientes para criar a mudança necessária. E se políticos acham que a lei não deve  ser cumprida, porque vão fazer as leis para serem cumpridas? E não ha nenhum futuro de democracia brasileira se não houver leis e seu cumprimento. Seja no cumprimento de leis de transito ou das determinações das cortes supremas. E igual para todos.

Sunday, 28 January 2018

DO HOLOCAUSTO, SHOA, NUNCA MAIS



As Nações Unidas declararam 27 de janeiro o dia da Memória das vítimas do holocausto. A data escolhida se refere à libertação pelos soviéticos do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Aliás, um dos 40 mil campos de concentração e de trabalhos forçados, campos da morte, que os nazistas alemães mantinham com câmaras de gás e outros métodos para assassinar mais de 6 milhões de judeus  e mais cerca de 13 milhões de outros seres humanos, tais como como padres católicos, ciganos, comunistas, eslavos, homossexuais e pessoas com deficiências físicas ou mentais. Todos os  que o regime nazista liderado por Hitler, pelo fascista Mussolini e, com o apoio de simpatizantes nazistas nos países ocupados, consideravam inimigos de estado.

A perseguição aos judeus não foi novidade na Europa. Na história mais recente, no século 15, os espanhóis e portugueses promoveram durante a Inquisição a matança e expulsão dos judeus da península ibérica. E precisaram de 500 anos para reconhecerem isso, devolvendo agora a cidadania portuguesa ou espanhola aos descendentes dos judeus perseguidos. Os reinos austríacos, em várias ocasiões da história, proibiram os judeus de habitarem suas terras ou exercerem suas profissões. Na Rússia e Polônia, assim como na Romênia, existiam Pogroms que consistiam em agressões físicas e queima de aldeias onde moravam os judeus, e sua expulsão. Ou seja, a  perseguição existia desde os tempos dos gregos, romanos, assírios, mas na história moderna foi a Shoa, palavra em hebraico que significa catástrofe, que provocou mortes de forma sistêmica e a mais cruel vista na história da humanidade.

Após 72 anos do término da Segunda Guerra Mundial, a pergunta que fica é se a humanidade, tão evoluída do ponto de vista tecnológico, pode repetir esses acontecimentos e se de fato o antissemitismo, o ódio racial, foram enterrados com os mortos do holocausto ou não.

A resposta clara e em voz alta é: sim.  Sim, o antissemitismo não está enterrado, está vivo e está se tornando, como o racismo e discriminação racial até política de estado. De novo. Os nazistas que depois da guerra fugiram, inclusive para a Argentina, Chile, Paraguai e Brasil (onde se esconderam nas empresas alemães como a VW e Mannesmann, entre outras) ressurgiram com nova roupagem na Europa. Na Áustria, ganharam as eleições, na Alemanha entraram no parlamento, na França o Front Nacional nega o holocausto, na Polônia, na semana passada, aprovaram leis que negam a participação polonesa no holocausto, na Croácia multidões saúdam nos estádios de futebol com bandeiras de ustashas colaboradores dos nazistas, na Ucrânia as leis proíbem críticas ao regime nazista. E mais, na Hungria no dia da Memória das vitimas do Holocausto, os neonazistas fazem festa em homenagem ao seu líder durante a guerra, que mandou mais de 400 mil judeus para morte.

Nunca mais não quer dizer medo de que voltemos aos tempos do nazismo. Mas diz com clareza que os valores da civilização em que vivemos e que são tão bem representados pelos valores judaicos, entre outros, devem ser  preservados. Lutar pela justiça social, lutar pela igualdade racial e pelo respeito religioso, e lutar contra todas as formas de antissemitismo renascido, é preservar a democracia e respeitar os mortos no shoa.

Nunca mais não são palavras ocas, lembradas uma vez por ano, são um compromisso de todo dia,  para que o mundo seja mais igual, melhor para todos.


Monday, 22 January 2018

DA NOSSA INDUSTRIA



Nesta semana, a Câmara de Comércio Exterior, subordinada ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio, etc., deve decidir sobre a sobretaxa à importação de aço da Rússia e da China. As importações desses dois países têm prejudicado sobremaneira a indústria brasileira, principalmente a CSN e a Açominas, além da Usiminas. Os produtos daqueles dois países estão entrando no mercado brasileiro com preços aviltados, resultado de seus subsídios e jogos cambiais. Existe uma super produção de aço no mundo e o caminho é a exportação,  inclusive para o Brasil, onde após vários anos de queda do consumo e preço, no ano passado a indústria automobilística cresceu e o consumo melhorou.

Existem todas as razões e lógicas para o Brasil, um país produtor de jabuticabas nas políticas e regulamentos de comércio exterior e similares, proteger sua indústria. Assim fazem todos os países do mundo. Inclusive  a China, Rússia e Estados Unidos, especificamente no caso do aço. Mas, por outro lado, poderosos lobbies da indústria automotiva e de eletrodomésticos se reuniram para pressionar governo para que ajude a quebrar a indústria de aço no país e, em especial, em Minas. Esse segmento industrial  não tem compromisso a longo prazo e não consegue um diálogo na linha da corrente de suprimentos, supply chain, com os produtores de aço. E aí entra um pequeno detalhe esquecido na história: enquanto a cadeia produtiva de automóveis e linha branca é totalmente de capital estrangeiro, a indústria siderúrgica ainda pertence ao capital brasileiro. Ou seja, de um lado um que precisa mostrar  lucros rápidos, e outro que fica no país em um investimento de longo prazo. E, no meio, há falta de diálogo para construir um modelo de negócios que atenda aos dois.

Para aumentar a complexidade, temos que adicionar o setor de minério, que alimenta pelo menos a indústria siderúrgica chinesa, porque os russos têm uma cadeia siderúrgica parecida com a nossa, ou seja, do minério ao produto final.

Mas, ainda há exportadores de frango para China e de carne bovina para Rússia que estão dizendo que, se sobretaxar o aço deles, eles vão deixar de comprar nossos produtos. E  para a confusão ser total, a China quer ser economia de mercado na OMC e o Brasil não apoia.
Em resumo, por falta de uma diretriz sobre a indústria que queremos, tem gente que está dizendo que a época da indústria acabou, que esse tipo de situações só vai aumentar. Não há nenhuma possibilidade de o Brasil ser um país desenvolvido sem sua indústria ser mundialmente competitiva. E isso inclui os custos tributários, que oneram nossa a nossa escala de produção, e provocam essas situações inusitadas. O produto importado entra no Brasil porque é desonerado e, como no caso dos dois países mencionados, o câmbio faz parte das suas estratégias comerciais. E, no nosso caso, juros, custos tributários com sua complexidade, e um câmbio que privilegia a importação e castiga a exportação, fazem nosso produto ser mais caro. E aí, se não houver mudanças, tem sim que haver proteção temporária, para que a indústria possa sobreviver  e voltar investir. E o papel de mediador nesse caso é do governo, o mesmo que não faz reforma tributária. 

Lamentavelmente, nessas situações quem ganha é quem tem lobby mais forte e não quem mais está precisando de ter condições para se desenvolver.


DE DAVOS 2018



Mesmo com um inverno rigoroso este ano, repleto de enchentes, avalanches de neve que deixaram 13 mil pessoas praticamente no gelo na cidade suíça de Zermat, os aeroportos de Frankfurt e Amsterdam parados e mais e mais desastres abaixo de zero graus, nada assusta a elite politica e  econômica para que não se reúna na cidadezinha suíça de Davos. Até o Presidente Temer vai, levando alguns ministros. Por cinco minutos de gloria, que serão ampliados para algumas horas pela imprensa brasileira, só para dizer que valeu a pena vir.

A estrela deste ano será o Presidente Trump dos Estados Unidos. Com um ano de governo nas costas, bem descrito no livro Fogo e Fúria, e com a firme convicção de  que seu slogan da campanha, America First (Estados Unidos no primeiro lugar e dane-se o resto), Donald Trump, mesmo multibilionário, nunca frequentou as reuniões de Davos, símbolo do multilateralismo e da  cooperação mundial. No fundo, estar presente ou não, ao lado de uns 3000 participantes, não é tão importante como saber ler o que se diz e como interpretar o que dizem. Por isso, a presença de Trump é importante, porque teoricamente ele terá a oportunidade de expor seus pontos de vista, e quiçá de ouvir os pontos de vista de outros. Estarão lá todos os dirigentes europeus, além de muitos representantes de países da África e da Ásia, entre eles o primeiro ministro da Índia.

A pergunta que colocam em Davos numa era de crescimento da economia mundial, sendo o Brasil a exceção que confirma a regra, é quanto tempo vai durar a  paz econômica e o que puxa esse motor. O consumo dos ricos está aumentando, o número de ricos está aumentando, o fosso entre ricos e pobres em todos os sentidos está aumentando, a China está só crescendo e a  África,  cheia de oportunidades, está estagnando. Por isso, os discursos de  Trump e dos líderes europeus contam muito para nos dar alguma luz sobre se devemos esperar um ano de paz econômica ou não.

Por outro lado, não é só economia e política que vão dominar as discussões. Os debates sobre inteligência artificial, novos patamares tecnológicos e seus efeitos na humanidade, serão, junto com os temas sobre meio ambiente e igualdade de gênero, sem dúvida, dos mais interessantes.

Em resumo, se as discussões de Davos, que tinham até recentemente como contraposição o Fórum Social de Porto Alegre, mesmo se não revolucionam mundo, não há duvida de que são um indicador importante do que os “donos” do mundo, expostos em debate, pensam.

O Brasil não é hoje um problema mundial. Paga as dívidas em dia, permite muita especulação financeira, e organiza, com a Lava Jato e outros processos, a corrupção transparente  com igualdade de oportunidades. E além do mais, todos esperam as eleições e, mais do que os desdobramentos das reuniões de Davos, o que vai acontecer com Lula em Porto Alegre.

Por outro lado haverá, no início de março, um mini Davos regional, latino-americano, em São Paulo, do qual o show será no Brasil. E os temas serão, além de economia e política, também tecnologia.


Monday, 8 January 2018

DA VENDA DA EMBRAER E DA PERDA DA SOBERANIA TECNOLÓGICA



Se pioramos na última Copa do Mundo de futebol tão drasticamente que o sentimento nacional de incapacidade nos atingiu de forma quase insuperável (poxa, até no futebol este país esta mal), isso não aconteceu com o nosso campeão tecnológico fundado nos idos dos anos 70 pelos militares da aeronáutica, a EMBRAER. Originária de uma das melhores escolas de engenharia do país,  o ITA-Instituto Tecnológico da Aeronáutica, a empresa, cujo pai oficial é o Coronel Ozires Silva, grande amigo da nossa Fundação Dom Cabral, foi eficaz durante o período em que estava sob comando estatal e se tornou um campeão mundial após a privatização.

Viajar nos seus aviões pelas maiores empresas  aéreas do mundo enche o peito de orgulho. Este avião é brasileiro. Feito no Brasil, ou Portugal ou Estados Unidos. Ele é o resultado de um conjunto de tecnologias desenvolvidas no Brasil e com os componentes como motores  do mundo inteiro. E é claro, a parte eletrônica. Ou seja, uma perfeita integração à escala mundial de produção.

Nas exportações brasileiras, que são dominadas pelas commodities, a EMBRAER é o nosso exportador número um na lista dos manufaturados. Em um  mercado internacional quase que oligopolizado pelas grandes empresas, a europeia Airbus e a americana Boeing, a EMBRAER não só enfrentou bem a concorrência da Bombardier canadense, com apoio escancarado do seu governo, mas também a de outros concorrentes. Venceu com competência.

Agora,  a empresa precisa olhar para a frente e ver o que fazer. Nosso país, por si só,  não oferece muitas oportunidades de desenvolvimento  de empresas com alta tecnologia. Nossa indústria hoje, com raras exceções, como a WEG na área elétrica, Maxion nos transportes, Suzano e Fibria na celulose e papel, e mais algumas, é dominada pelo capital estrangeiro que não desenvolve tecnologia de ponta no país.

Portanto, encontrar alianças para  desenvolver tecnologias e mercados é um caminho lógico para qualquer empresa. A oferta da Boeing para comprar a EMBRAER é  totalmente lógica para a empresa americana. Mas será que ela tem  razão de ser  para a empresa brasileira, na qual o governo mantem poder de veto, Golden share,  no caso da venda?

Recentemente, três países europeus, Reino Unido, Alemanha e França, e o mesmo vale para os Estados Unidos, restringiram a venda de empresas  consideradas  tecnológicas e estratégicas. Assim, se a EMBRAER quiser comprar, como  os cervejeiros brasileiros fizeram com empresas  de cerveja no mundo inteiro, a Boeing ou a Airbus, não pode.

Vender a EMBRAER , que é uma empresa privada, para a Boeing, não é vender uma empresa a mais para estrangeiros, é dar uma mensagem clara para quem desenvolver empresa no Brasil. A de que o negócio é vender a empresa e não insistir em enfrentar os desafios de tecnologia do mercado internacional. 

Encontrar alianças  é fundamental e provavelmente esse é o caminho da EMBRAER. Mas vender o controle da empresa, é vender a alma  da esperança de que no Brasil somos capazes de fazer uma empresa global. Algo que ninguém em sã consciência faria, inclusive porque a EMBRAER  é uma empresa sólida do ponto de vista  financeiro. E não há duvida alguma de que a curto prazo haverá muita gente embolsando muito dinheiro na transação, e que a médio prazo, mesmo com todas as promessas e dizendo que a Boeing já tem centro de pesquisa no Brasil, a EMBRAER vai virar mera filial, executando ordens. Yes, sir, yes.


Tuesday, 26 December 2017

DO RETROVISOR E DO FREIO DE MÃO EM 2018



Dos balanços da vida no final do ano, sejam  pessoais, familiares ou  empresariais, todos têm uma característica: somar, analisar e ver pelo retrovisor o que aconteceu. É sem duvida um exercício muito útil, em especial se você analisar não o que você conseguiu mas o que você não conseguiu e onde você errou. Ou onde a sua equipe, seja na família, seja na empresa, poderia ter sido mais feliz, onde poderiam provocar menos stress e chegar a melhores resultados. É  absolutamente fundamental essa análise racional, com lápis e papel na mão. Na coluna da esquerda, onde acertamos, e, na da direita, onde erramos. Não precisa nem de computador ou de algum algoritmo para isso. E claro, onde eu errei e acertei, e onde a equipe acertou e errou. E discutir isso, de forma franca, aberta e, porque não, dizer tranquila e sinceramente. Dialogo não morde e não tira pedaço, mas é às vezes difícil, exige uma boa dose de liderança e desprendimento.

E daí, para a  frente, sente-se na carroça de sonhos e comece a construir os objetivos para os próximos anos. Feche o retrovisor, porque ele existe no carro, mas na vida empresarial não é o que vai levá-lo a realizar seus objetivos. Estes, quem vai determinar é você com a sua equipe e, daí para frente, é olhar para o adiante, construir mais e mais o seu futuro. Como empresário, se não enxergar as dificuldades, então você tem um problema grave, porque o mar de rosas nesta vida de empresário, seja onde estiver, não existe. 

Os obstáculos para alcançar seus objetivos são de dois tipos: internos, inerentes ao seu negócio, e externos, sobre os quais você tem pouca influência. 

Primeiro está o mercado, como ele se move, quais são as forcas que o compõem, como andam a concorrência, inovação, mudanças no comportamento dos consumidores ou modelos  de negócios  dos seus clientes. As inovações tecnológicas que batem na sua porta e que determinam  a mudança não só de produzir, oferecer seus produtos, mas também a atualização dos produtos. Ou as relações com seus sócios, ai incluindo seus funcionários, que não sabem o que vai acontecer dentro do contexto da nova legislação. E mais e mais.

E aí vem a segunda parte: o ambiente externo. Este país, com seu povo maravilhoso, esculhambado pelos políticos que nos elegemos até a medula.  Temos uma gestão pública orientada essencialmente em antagonismo com o empresário e um judiciário, em todos os níveis e ramos, assustadoramente não merecedor da confiança do cidadão. As eleições estão na porta, com os mesmos que fizeram o modelo econômico-financeiro e político do país falir. Ou seja, a desesperança que racionalmente assusta e nos induz a puxar o freio de mão na consecução dos nossos sonhos e objetivos.

Não faça isso, não se assuste e convença-se de que você, com sua garra , capacidade de trabalhar, persistir, resistir e vencer, supera tudo isso. Se você sobreviveu até agora, você também vai sobreviver a esse 2018 cheio de surpresas, golpes baixos dos políticos, poucas mudanças a seu favor (quem sabe vem uma reforma tributária). Não puxe o freio de mão. Acredite na sua equipe, acredite em você mesmo, porque esse  é o seu melhor investimento. E claro,  mantenha o caixa sob controle.


Um ano novo feliz, resiliente e resistente.

Sunday, 17 December 2017

DO PAÍS DOS MISERÁVEIS



Dezembro, mês de festividades, desde Hannuka até o Natal e Ano Novo, sem esquecer no início de janeiro Santa Claus (que os europeus festejam), nos confunde com alegria, presentes, bons votos e bondades, com os balanços e as perspectivas. Em geral, sempre desejamos mais e mais, esperamos, que o ano que se aproxima seja um ano melhor. As festas nas empresas são cheias de otimismo, ao mesmo tempo que os documentos estratégicos prometem mundos e fundos em um país que está prestes a ter uma eleição em que o que mais predomina é a incerteza.

Mas, fora das esperanças macroeconômicas, falam até em 3% de crescimento do Produto Interno Bruto, e passagens das reformas básicas como da Previdência e eventualmente uma tímida reforma tributária, está na hora de, com corações abertos, analisarmos, com os últimos dados do IBGE, em que país vivemos. O que de fato é o Brasil. 

O Brasil é um pais de 52 milhões de miseráveis, dos quais quase 14 milhões de pessoas vivem em condições de extrema pobreza. Onde temos 14 milhões de desempregados e uma geração de jovens de 16-29 anos nem-nem. Nem estudam e nem têm emprego. E a cada 48 horas temos um jovem assassinado. Uma população carcerária de quase 1 milhão de pessoas, das quais 40 % estão presos sem julgamento. E mais e mais estatísticas que nos colocam como o país de maior desigualdade social do mundo. Sem falar nos escândalos de corrupção.

Bem, há coisas positivas para todos os cantos, mas elas não se sobrepõem ao retrato de miserabilidade na qual o país caiu e, por incrível que pareça, com governos de esquerda dominando a política nos últimos 16 anos. 

Não adianta tapar o sol com a peneira. O retrato social, que é claro determina o retrato econômico (não vamos nem falar na educação) nos leva a pensar que futuro temos. Que modelo econômico de democracia será proposto para a inclusão desse contingente de miseráveis no mercado de trabalho. Quais concessões sociais o estado está disposto a ceder para que a situação mude. E como mudar?

Não vejo que nenhum dos políticos esteja discutindo isso neste momento. Não há uma visão a médio prazo e nem um projeto de país que vislumbre mudança, seja ela radical, seja ela gradual, dessa situação.

Simplesmente aceitamos que as diferenças sociais que temos fazem parte do Brasil, e somos indiferentes ao retrato do país dos miseráveis. 


Mas, a história mostra que essas diferenças não constroem um país, mas destroem seu tecido social, político e econômico. A vulnerabilidade é maior do que queremos perceber. Principalmente se aceitarmos essa triste realidade que construímos.