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Sunday, 19 November 2017

DO TANGO ARGENTINO RENOVADO



Goste ou não, foram os argentinos que criaram empregos na indústria brasileira este ano. E em especial na indústria automobilística. A Argentina está crescendo, comprando mais automóveis, mais máquinas, mais equipamentos do Brasil e criando emprego no Brasil. Sem as compras argentinas, que causaram no país portenho um déficit comercial com o Brasil  de 5 bilhões de dólares (aliás o déficit correspondente ao total do déficit da balança comercial argentina neste ano), a indústria brasileira estaria patinando e suas exportações de manufaturados não avançariam muito.

O fato é que enquanto avançamos lentamente,  o ex-Presidente do Boca Juniors e prefeito de Buenos Aires, hoje Presidente de la Nacion  (como o chamam na república vizinha), está colocando o país em ordem. Ganhou as últimas eleições intermediarias para o  Senado e a Câmara dos deputados contra o kirchnerismo que dominou a política argentina últimos 12 anos (o seu símbolo populista é a ex-Presidente Cristina Kirchner) e apresenta dados econômicos que mostram ao mundo que parceiro confiável hoje é a Argentina.

Para começar, resolveu uma briga de dezenas de anos com os fundos de investimentos que, com o default da dívida externa, iam perder o dinheiro investido na  Argentina. Deu segurança jurídica aos investimentos estrangeiros e locais (ao contrário do que está acontecendo especificamente  em Minas com investidores suíços no caso do aeroporto de Confins). Essa confiança criou não só um fluxo enorme de capitais estrangeiros de várias fontes, mas também trouxe de volta 117 bilhões de dólares dos argentinos (repatriação de capital), correspondentes a 20 % do Produto Interno Bruto.

A confiança nos rumos do governo também é notada pelos novos investidores na área da economia digital e de start up. Apesar do enorme esforço no Brasil, foi Buenos Aires se tornou, segundo a Bloomberg,  a capital latino-americana de inovação, com maciços investimentos dos investidores norte-americanos, entre eles a volta do George Soros depois de duas décadas de ausência nos investimentos na Argentina. O país portenho sempre teve educação primorosa e excelentes cientistas. E com a estabilidade política está colhendo os frutos com uma nova onda de empreendedores.


A ligação aérea de Confins para Buenos Aires (enquanto algum interessado em transferir isso para Pampulha não queimar o filme) deve significar uma ponte que vai além de indústria automobilística. Nossos empresários, financiados pelas entidades empresariais, gostam de passear pela Europa, o prefeito de Contagem vai à China, mas estamos desprezando um mercado com facilidades e um crescimento enorme na nossa porta. Aliás, isso vale também par o Uruguai e o Paraguai. Acusamos os argentinos, que por  sinal estão mostrando na Usiminas o que entendem da siderurgia, de arrogantes, enquanto nos somos míopes, desprezando o potencial de negócios que temos nesta nova era da Argentina.

Saturday, 11 November 2017

DOS FINS DOS CONFINS E DA PAMPULHA



A decisão de reativar os voos de aviões de grande porte para a Pampulha é a flecha de morte no coração de um projeto maior que  é um aeroporto chamado de Tancredo Neves, nas proximidades da capital mineira e administrado pela concessionaria BH Airport. Na mesa estão todas as emoções imagináveis, inclusive  declarações inadequadas do prefeito da capital, mas pouca racionalidade.

Entre as emoções devem-se incluir também os sentimentos dos passageiros que, para usufruírem da comodidade de uma distância menor, terão que se sujeitar às péssimas condições do aeroporto da Pampulha. Não tem finger (Confins tem 26 pontes de embarque/desembarque), nos dias de chuvas há alagamento e de noite, os taxis somem. O aeroporto que sustenta o nome do poeta que saiu e não voltou a BH, é dos piores do mundo em termos de infraestrutura,  que foi suportada, inclusive com pousos criativos pelos pilotos experientes, nos dias de chuva, pelos passageiros. Mas, a comodidade de uma viagem mais curta, especialmente pelos ansiosos por trabalhar mais e conviver mais com a família tradicional mineira, compensam os riscos de incomodo e de falta de segurança. Não se esquecendo de que, para o aeroporto ser novamente operacional no seu nível de qualidade e segurança mínima, a INFRAERO, leia-se  o governo e as empresas, terão que investir, o que vai elevar o custo da passagem.

Mas, vale a pena lembrar que, quando o aeroporto de Confins foi construído há 33 anos, e o projeto era de conectar Minas com o mundo (dos 42 destinos hoje, 4 são internacionais, além de servir para trânsito de cargas com infra estrutura de alfandega eficaz para a internacionalização das empresas mineiras, que importavam via São Paulo e Rio) . Em torno do aeroporto havia a intenção fazer uma zona industrial avançada, inclusive com serviços na área aeronáutica. BH teria assim um aeroporto de grande porte e mais um, além do militar de Lagoa Santa, na cidade, com serviços e para vôos regionais.

A decisão da bancada mineira de apoiar a mudança do aeroporto,  aliada aos políticos do PR (segundo a imprensa nacional), demonstra claramente que quem manda na política mineira e nos seu desenvolvimento é o ex-presidiário Waldemar da Costa Neto. 

Mas, a questão mais grave é que você não pode fazer em Minas um contrato, como foi o da a concessão do aeroporto de Confins, que vale, porque você não sabe o que os políticos vão mudar no decorrer do contrato. E, só para lembrar, a concessionária que investiu e modernizou o aeroporto, para alegria dos seus 22 milhões de passageiros (e dos taxistas que cobram realmente uma fortuna), tem sócio suíço, o aeroporto de Zurique.

E na Suíça, onde todos se conhecem e trabalham juntos, quem terá a coragem de investir num estado onde os políticos trabalham para desrespeitar um contrato? Um tiro no pé da melhor qualidade. E uma mudança no eixo de desenvolvimento em um estado em que o único porto é o aeroporto.

Sunday, 5 November 2017

DO QUE DIZER SOBRE O DESASTRE DE MARIANA

DO QUE DIZER SOBRE O DESASTRE DE MARIANA

Estes dias faz dois anos que as águas enlameadas rolaram da barragem da Samarco pelo lugarejo chamado São Bento, pela minha Barra Longa e por Mariana. Tiraram vidas, empregos, esperanças e enlamearam os rios até o mar. Sujaram a alma mineira por dezenas de anos, alma de quem oferecia suas terras ricas de minérios para serem exploradas para o bem dos homens. E como inúmeras vezes nesse negócio, onde o ganho de alguns, em detrimento do prejuízo de todos, prevalece, assim aconteceu também no rompimento da barragem de Mariana.

Se não fosse a imprensa, e em especial a TV Globo, que mostrou que depois de dois anos muito foi feito e nada aconteceu, que o desastre ainda povoa a memória e a vida das pessoas atingidas, provavelmente ninguém lembraria. As entidades de mineração, como seu sindicato  e sua entidade federativa, não foram capazes de organizar uma análise critica do que aconteceu e como está sendo resolvida a questão. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas continua mais preocupada com a fiscalização das empresas dos adversários políticos dos amigos dos seus dirigentes do que com a questão da barragem de Mariana. Os acionistas da empresa, Vale e BHP, já estabeleceram que foi um desastre e, com uma solução mais de relações públicas do que de consertar o que esta difícil de ser consertado, criaram uma fundação Renova e encheram de dinheiro para resolver o problema da empresa  e não da população atingida.

Não é que Renova não faz um bom trabalho, faz. Mas o objetivo tanto da Renova como dos políticos mineiros e da própria Samarco, é colocar a empresa para funcionar. Assim vai gerar emprego e impostos e tudo vai cair no esquecimento. A Justiça estadual, com alguns jovens e dedicados procuradores, tenta reparar o dano, mas como sempre anda devagar e sem perspectivas de solução. Em resumo, segundo jornal Folha de São Paulo, a empresa se salva e o cidadão prejudicado fica prejudicado.

Nessa tragédia toda ainda há aproveitadores como os prefeitos de algumas cidades atingidas, o exemplo mais gritante é onde Barra Longa (que de fato virou um barra de lama longa),  que prometeram mundos e fundos para os eleitores por conta das indenizações do desastre. E aí o dinheiro até pode  ir para as Prefeituras, mas não chega à população.

Em resumo, como Minas ainda tem muitas barragens como a de  Mariana, e ninguém está fazendo nada para que o modelo de exploração mude, a única esperança que resta é que a exploração  mineral cresça mais na Amazonia, porque assim ninguém em Minas fica preocupado com o que vai acontecer. Porque pelo andar da solução desse desastre,  só rezando para que não aconteça o próximo, visto que, dependendo do governo e das mineradoras, dos seus líderes,  do judiciário e dos políticos,  nada de bom vai acontecer.


DE PERNAMBUCO PARA MUNDO E VICE-VERSA

DE PERNAMBUCO PARA MUNDO E VICE-VERSA

Com todos os avanços tecnológicos à nossa disposição, ainda não se   descobriu como substituir uma boa posição geográfica na logística das exportações. E Pernambuco tem esta posição, tanto  do ponto de vista marítimo, como aéreo. É só olhar o mapa e ver como fica perto tanto dos Estados Unidos como da Europa, sem ignorar a África. E isto não é nenhuma novidade, já que a luta pelo domínio de Pernambuco e sua posição privilegiada data do descobrimento do Brasil e as invasões holandesas e francesas que esse estado sofreu. E a isso se soma também a tradicional base de produção e exportação de açúcar para o mundo.

Mas, nos tempos de hoje, o que vale essa posição? Muito e nada. Nada, porque para exportar precisa-se de base produtiva, precisa-se de produtos aliados a uma eficaz rede de logística e serviços. Essas duas condicionantes estão se recompondo em Pernambuco. De um lado, temos a eficácia do cluster de frutas em torno de Petrolina, por outro lado o cluster automobilístico, com a  fábrica da FCA. Mas  enquanto o primeiro prospera, o segundo tecnologicamente mais avançado do País, está orientado, graças a inúmeros benefícios (e com a dificuldade de não ter ainda uma escala de produção que amplie o anel de fornecedores de autopeças), mais para o mercado interno do que o externo. E adicionalmente, para o açúcar e etanol, sempre em dificuldades devido às politicas governamentais.

Em outro plano, mas de primordial importância, está a  consolidação do Porto de Suape, com sua zona industrial. É incrível que com tantos ministros que Pernambuco teve e tem, este projeto não se consolide e desenvolva (se me lembro bem começou há 50 anos). Deve ser interessante para alguém que demore. Mas, continua a questão primordial: um porto eficaz para exportar (ou importar) o quê?

Pernambuco talvez esteja mais adiantado não na indústria clássica, como alco-sucareira,têxtil ou até automobilística, mas na área digital e de serviços de medicina. O mundo não tem mais fronteiras, ou as diferenças de antigamente. E o valor maior, desprezado por tantos anos, é de capital humano. Hoje uma empresa de Pernambuco pode vender produtos e serviços no mundo inteiro, começando pelo imenso mercado brasileiro, usando as tecnologias digitais disponíveis. E justiça seja feita, há nessa área boas notícias do Porto Digital.
O estado precisa ter sua política de expansão internacional e de exportações, como São Paulo tem e acaba de formar um Conselho de  Relações Internacionais e Comercio Exterior. Hoje em dia não há mais espaço para empresa bem sucedida se ela não for global e usar as mais avançadas tecnologias à sua disposição. E isso quer dizer que é preciso ter também um sistema educacional compatível com as necessidades e mercados globais.


Quem ainda lembra do movimento armorial, com músicas tocadas em um Stradivarius, sabe que se pode atingir esse nível de excelência. De Pernambuco para o mundo.

Sunday, 29 October 2017

DA CATALUNHA E DO BRASIL



Até há alguns meses, apenas através do futebol a Catalunha existia para a maioria dos brasileiros: Neymar jogava no Barcelona, Barça, time com o mesmo nome da capital da região mais rica da Espanha. Neymar foi para Paris, mas a Catalunha continua e cada vez mais presente no noticiário internacional. A região, de 32 mil km2 (tamanho de Sergipe), onde 95 % dos 7.5 milhões de habitantes falam catalão, língua muito diferente do espanhol, com renda per capita de 35 mil dólares (a do Brasil não passa de 10 mil), maior do que o da Itália, Coréia do Sul e Israel, com exportações de 65 bilhões de dólares (só manufaturados) e responsável por 20 % da riqueza da Espanha, quer se separar. E assim se tornaria o 34° país mais rico do mundo, e um dos mais competitivos. 

O processo de declaração da independência está em curso e é claro que o governo central espanhol está lutando com todas as armas legais, inclusive a policia, para impedi-lo. Quem gostaria de ficar na história como responsável pelo esfacelamento do país? Nem o Rei Felipe e nem o Primeiro-Ministro Rajoy. Mas, o processo está em curso, e cada vez mais complicado. Os catalães não têm como voltar atrás e perder esta oportunidade histórica de sair da Espanha. E os espanhóis, que mantem até hoje colônias no Saara e perderam seu esplendor colonial (mas não a pose), também não sabem resolver a não ser no tapetão. Com experiência de lutar contra o separatismo basco, impregnado com atos terroristas do grupo ETA, estão confundindo o que está acontecendo hoje na Catalunha.

A Europa não quer, no meio das discussões sobre a saída da Grã Bretanha da União Europeia, mais uma confusão como a separação, hoje da Catalunha da Espanha, mas que amanhã pode ser do País Basco, também da Espanha, da Escócia do Reino Unido, do esfacelamento da Bélgica e das autonomias das regiões italianas. Mas, cada um desses processos é diferente, já que a Europa não é um continente unido pelos países mas um conglomerado de nações, com sua história e cultura. A consolidação europeia como união das nações –estados (a Baviera se diz Estado livre na Alemanha) está longe de terminar, se é que algum dia termina.

Na Catalunha, que tem um projeto de independência, tudo pode acontecer. O que não vai acontecer é que nada vai acontecer. A racionalidade do nacionalismo é totalmente irracional. E a Europa já viu esse processo dezenas de vezes, e nunca terminou sem derramamento de sangue.

E o Brasil como fica nessa situação? No caso da reorganização política da antiga União Soviética (neste ano comemorando 100 anos de revolução bolchevique) e da Iugoslávia, o Brasil agiu rápido e reconheceu os novos países. Só até hoje não reconhece o Kosovo, que se separou da Sérvia. E o governo disse que não vai reconhecer a independência da Catalunha. Isso tem lógica porque dizer hoje que vai reconhecer é comprar briga com a  Espanha, o que não convém.


Mas a lição mais importante que fica é olhar nesse mapa do mundo do desejo de cada um ficar sozinho, para o mapa do Brasil, um dos poucos países tão unido, uniforme geograficamente e linguisticamente, culturalmente e politicamente. Será que em contraponto a essas dificuldades de se manterem unidos e  coesos, o Brasil ganha mais forca e projeção? Se for aliado a um projeto nacional de competitividade e justiça social, sim. Mas só pelo tamanho e falarmos uma língua só, não será suficiente.

Sunday, 22 October 2017

DO LEITE E DA ESCRAVATURA



O setor agrícola brasileiro, junto com a mineração, foi internacionalizado desde a descoberta do Brasil. Não demorou muito para que, além de diamantes, ouro e outros metais e pedras preciosas, o Brasil, único país do mundo que tem seu nome oriundo de uma madeira, passasse a exportar madeira, açúcar, cacau. E depois vieram, já no século 19, café, borracha e, com novas conquistas, soja, milho, suco de laranja, etanol, cafés especiais, e mais e mais produtos da terra. O agronegócio foi, assim, sempre internacionalizado e muito antes da indústria. Hoje você encontra produtos bem mais sofisticados, como cachaça, no mundo inteiro. E não há ninguém que não reconheça que, se não fosse o agronegócio, o Brasil teria falido e quebrado ainda mais do que já está.

E como mesmo com toda a tecnologia que foi desenvolvida na área agrícola e pecuária (veja o exemplo do centro de genética de Uberaba) ainda depende muito de São Pedro (e haja mudança climática para ele administrar), nós também importamos produtos agrícolas. Vinhos do Chile, Argentina, França e Espanha, trigo da Argentina, Estados Unidos, etanol dos Estados Unidos, leite do Uruguai, e mais e mais outros produtos de inúmeros países. Com significativa exportação de nossos produtos agrícolas e carnes, criamos um superávit comercial que desequilibra nossas relações comerciais com o mundo.  Ou seja, se queremos exportar mais, vamos ter que importar. E importar de quem importa mais, não menos .

A nossas exportações agrícolas dependem também muito do exterior e das empresas multinacionais no Brasil. No mercado interno, as maiores distribuidoras de alimentos, lácteos, os supermercados, são estrangeiros. Os maiores exportadores de nossas commodities são  estrangeiros. Sementes, fertilizantes, transportes, máquinas e tudo o mais, tem estrangeiro dominando. Então, não dá para ignorar.

E aí entra esse episódio da importação de leite do Uruguai. Esse vizinho nosso tem pouca coisa para exportar para Brasil, a não ser produtos agrícolas, e importa muito do Brasil. Além do mais, é sócio importante no Mercosul, onde estamos negociando um acordo de comércio com a União Europeia. Se não ligar essas pontas, como aconteceu com a proibição de importação de lácteos uruguaios, temos um problema. É como proibirmos a importação de arroz de lá ou a importação de trigo dos Estados Unidos e termos um superávit comercial enorme com a Argentina, que também exporta trigo para Brasil.

Mas, o maior tiro no pé na área internacional foi a edição do decreto referente à definição de escravatura. Que é preciso ter novas definições de normas de trabalho em toda a sua extensão, não há dúvida alguma. Mas, nitidamente, no século 21, afirmar que é normal  que a legislação brasileira aceite normas consideradas imorais pelo mundo, que compra nossos produtos, é um absurdo inaceitável. Nem no Brasil e nem no mundo, ninguém de boa fé, aceita isso. Não há mais espaço para discussão sobre a escravatura, que já acabou . Agora, entidades empresariais defenderem esse regulamento e dizerem que não afeta nosso comércio internacional, como fez a  CNI, é de uma ignorância e irresponsabilidade que só será corrigida lamentavelmente pelo que nos espera. Para começar, já na negociação com a União Europeia, não há negociador europeu que possa aceitar isso. Nem governos e nem consumidores aceitarão. Portanto, o preço que vamos pagar pela meia dúzia de irresponsáveis que acham que o país inteiro tem que defendê-los, com sua falta de ética e responsabilidade social, será altíssimo. Bem-vindos ao nosso futuro visto pelo retrovisor da história.



Monday, 16 October 2017

DO MERCADO BRASILEIRO



Há alguns anos, em uma palestra na Escola Técnica de Formação Gerencial - ETFG -  do SEBRAE Minas, a uma pergunta sobre quantos alunos estiveram em Miami e quantos no Piauí, ou no Ceará, ou no Tocantins, Miami lamentavelmente ganhou disparado. O fato é que nossa futura elite empresarial, não só no SEBRAE, mas também em outras instituições, dá mais atenção ao chamado mercado global, do que ao mercado local ou mercado regional. Isso não vale só para os estudantes, seja de que área de estudo for, mas também para os empresários já estabelecidos. As entidades empresarias oferecem mais oportunidades para viajar para exterior, em especial participar de feiras, do que promovem mercados regionais e nacional. 

A empresa estrangeira que vem para o Brasil, com exceções nas áreas tipicamente de produtos cujo mercado é exterior, como mineração, vem investir porque este país tem um mercado de 210 milhões de pessoas, que ainda tem um potencial muito grande de desenvolver.  Não  há fronteiras, apesar das enormes dificuldades logísticas, nesse mercado. Uma das razões de o empresário não enxergar esse potencial é o preconceito regional. Os mineiros acham que os paulistas são arrogantes e complicados. Que os nordestinos, bem você sabe os nordestinos são nordestinos. Começando pelos baianos que são baianos. E assim por diante, ficam cheios de opiniões ao invés de estudarem melhor os mercados e se dedicarem a um projeto a longo prazo de conquista.

Aliás, as coisas são mais fáceis se olharmos que um mercado como o de Minas Gerais, é, do ponto de vista mercadológico, um mercado bem interessante. Mas, se olharmos de perto, descobrimos que o empresário de Montes Claros, a não ser que se instalou com polpudos incentivos,  não vende nem em Brasília e muito menos em Juiz de Fora. O mesmo vale para os empresários de todas as regiões mineiras que, fechados nos seus mercados locais, choram as mágoas, mas não se levantam para ir vender no imenso e dinâmico mercado brasileiro. Sem falar em Mercosul, Argentina, Paraguai e Uruguai.

A solução está na mudança de paradigma das entidades empresariais, que devem promover mais mercados regionais e o nacional, mas sem perder de vista o mercado global. Promover a indústria de Minas e seus produtos e serviços no país inteiro deveria ser a resposta à crise. E aí, o uso de modernos instrumentos de analítica e big data devem fazer parte desse esforço.


Com certeza isso pode melhorar em muito o faturamento da indústria mineira.