politica internacional, visao de Europa,America Latina,Africa, economia e negocios international politics, business, Latin America-Europa-Africa
Thursday, 6 November 2014
DO MURO QUE CAIU E NÃO CAIU
Do muro que caiu e não caiu
A queda do muro de Berlim, há exatos 25 anos, foi só um momento de um longo processo de mudança do mundo. Os Estados Unidos quebraram a União Soviética e, com o apoio do então Chanceler alemão ocidental Helmut Khol, não só reuniram as duas Alemanhas como mudaram os regimes políticos em toda a Europa do Leste, inclusive na própria Rússia. O mapa geopolítico do mundo mudou. Além de apareceram novos países como a Alemanha reunificada, a Rússia esfacelada e a Iugoslávia desaparecida, e seis novos países, desapareceu da Europa o sistema de governo chamado comunismo. Os Estados Unidos, como campeões da democracia, ganharam novos aliados e enfraqueceram o seu ex-aliado na luta contra o nazismo, a União Soviética, para transformá-la na menor Rússia, inicialmente enfraquecida e empobrecida até os ossos.
O período de transição nesses novos países, sem tradição de economia de mercado e de práticas democráticas, provocou inicialmente uma abertura dos mercados para produtos de consumo, seja dos Estados Unidos ou dos outros países da Europa Ocidental, que incentivou o crescimento europeu. E mais: os processos de privatização transformaram-se em uma oportunidade de ouro, já que as empresas com boa base industrial estavam à venda a preços, como se diz no popular, de banana. É o caso do avanço alemão na base industrial da República Tcheca (que se separou da Eslováquia ). Desta vez não precisaram de usar os tanques, como fizeram os nazistas em 1938: compraram por pouco a indústria, a tecnologia e a mão de obra barata. A Europa ganhou mercado e mais tudo isso.
E com a democratização criaram-se as elites empresariais aliadas aos políticos que depenaram os países e suas economias e criaram alianças corruptas de fazer vergonha a qualquer corrupto latino-americano. Os modelos econômicos implantados, que aliás se espalharam pelo mundo, geraram, mesmo com a adesão da maioria desses países, a crise mais recente e mais profunda da própria União Européia. Não há dúvida nenhuma de que você tem hoje uma Europa com países mais democráticos, mas de duas velocidades na economia e no seu conceito de democracia. Avançaram, como é o caso mais específico da Hungria, os governos democraticamente eleitos de uma direita muito parecida com a aquela que levou à segunda guerra mundial.
A hegemonia dos Estados Unidos ficou mais patente, ao mesmo tempo que a Alemanha ganhou para a maioria dos países do Leste Europeu uma importância fundamental. A Chanceller alemã Merkel é quem dá as cartas na Europa hoje. E os interesses alemães e a visão deles do mundo são os que predominam. Pesam desde a nomeação do ex-Primeiro ministro polonês Tusk para a Presidência do Conselho da União Européia até as privatizações na minúscula Eslovénia. E aí não se pode passar à margem o crescimento e consolidação da Rússia. Talvez quem mais se consolidou como país independente nesse processo, além da própria Alemanha, foi a Rússia.
O Brasil, que reconheceu esse novo mapa rapidamente, ganhou novos mercados e novos espaços de alianças políticas. Há clara consciência de que o muro caiu, mas que os países ainda não foram reconstruídos, o que leva a concluir que o processo de destruição do muro continua, como continua o de construção de uma Europa unida, em paz e em desenvolvimento.
Stefan Salej
6.11.2014.
Saturday, 25 October 2014
DE CHURRASCO NUMA FABRICA de TECIDOS
Do churrasco na fábrica de tecidos
A situação é extremamente simples: um operário na fábrica de tecidos organiza durante o expediente de trabalho um churrasco para ele e os demais colegas. E ao lado de produtos químicos, entre uma folguinha e outra, e sem cerveja. A empresa demite-o por justa causa, o Tribunal Regional do Trabalho anula a decisão da empresa e o Tribunal Superior do Trabalho, confirma: demita-se, mas com todos os direitos. E dá um pito na empresa que exagerou na dose de punição. O caso aconteceu na centenária fábrica de tecidos Santanense em Itaúna.
Bem, se você for empregado, vê isso com alegria. Aliás, você vê com alegria toda a proteção que a nossa legislação trabalhista lhe oferece junto com delegacias do Ministério do Trabalho e seus fiscais e mais a Justiça do Trabalho, que na absoluta maioria das vezes está a favor do funcionário, seja ele com curso superior ou então simples faxineiro. Alguém tem que proteger o explorado trabalhador.
Mas, se você for empregador, nem que seja de uma empregada doméstica, está sujeito à Consolidação das leis de trabalho baseada na lei italiana da época do Mussollini, com seus apetrechos e adendos, com ação dos fiscais de trabalho e da justiça, que acham em princípio que você decidiu ser empresário somente para ter a alegria de explorar o próximo.
Claro que nem todos os funcionários fazem churrasco durante o expediente, e claro que nem todos os empresários acham que ao não cumprir a lei pode progredir mais do que os que cumprem a lei. O fato é que está situação das relações trabalhistas torna com certeza as empresas menos competitivas e os operários, mais vulneráveis. É uma situação em que as duas partes perdem muito e sem dúvida alguma leva a um aumento dos custos de mão de obra que limita a expansão das empresas no aumento de suas vagas. Os nossos salários são baixos em termos internacionais, mas o custo de mão de obra é alto. Sem falar nos imprevisíveis, como as sentenças da Justiça do Trabalho, e outras vulnerabilidades que aparecem por pressão ou dos sindicatos ou lideranças mal intencionadas.
Estamos numa situação que não é boa para ninguém e, como a corda arrebenta do lado mais fraco, é certamente pior para o trabalhador. Com a perspectiva de redução das atividades econômicas, esse problema se torna ainda mais agudo. E tem mais outro elemento: nossos competidores internacionais, notadamente a China, não têm esse problema. E o consumidor quer produto bom e barato, não se importando de onde vem. E a essa situação ainda devemos somar os altos custos dos conselhos profissionais, sem retorno para o trabalhador ou as empresas, e de acidentes de trabalho onde estamos bem mal colocados no nível mundial.
A solução é simples: que os sindicatos de empresários e empregados, os dois também cobram taxas, sentem juntos e acham a solução. Que chamem os competentes juízes do trabalho, o Ministro do Trabalho e mais os deputados e façam a reforma. Muitos privilégios vão se perder neste projeto, mas ficarão as mãos limpas para poder trabalhar e criar mais empregos. Do jeito,que está, todos perdem. Aliás, provavelmente não se faz uma reforma, porque uns devem estar ganhando com a situação.
Algo de novo nisso? Não! Os alemães fizeram isso, criaram um grupo de trabalho de 15 representantes dos sindicatos, empresas e governo, e as conclusões foram transformadas em leis que permitiram o país estar onde está hoje. O único perdedor foi chefe do governo que perdeu as eleições, mas ficou na história.
Stefan SALEJ
sbsalej@iCloud.com
www.salejcommment.blogspot.com
24.10.2014.
A situação é extremamente simples: um operário na fábrica de tecidos organiza durante o expediente de trabalho um churrasco para ele e os demais colegas. E ao lado de produtos químicos, entre uma folguinha e outra, e sem cerveja. A empresa demite-o por justa causa, o Tribunal Regional do Trabalho anula a decisão da empresa e o Tribunal Superior do Trabalho, confirma: demita-se, mas com todos os direitos. E dá um pito na empresa que exagerou na dose de punição. O caso aconteceu na centenária fábrica de tecidos Santanense em Itaúna.
Bem, se você for empregado, vê isso com alegria. Aliás, você vê com alegria toda a proteção que a nossa legislação trabalhista lhe oferece junto com delegacias do Ministério do Trabalho e seus fiscais e mais a Justiça do Trabalho, que na absoluta maioria das vezes está a favor do funcionário, seja ele com curso superior ou então simples faxineiro. Alguém tem que proteger o explorado trabalhador.
Mas, se você for empregador, nem que seja de uma empregada doméstica, está sujeito à Consolidação das leis de trabalho baseada na lei italiana da época do Mussollini, com seus apetrechos e adendos, com ação dos fiscais de trabalho e da justiça, que acham em princípio que você decidiu ser empresário somente para ter a alegria de explorar o próximo.
Claro que nem todos os funcionários fazem churrasco durante o expediente, e claro que nem todos os empresários acham que ao não cumprir a lei pode progredir mais do que os que cumprem a lei. O fato é que está situação das relações trabalhistas torna com certeza as empresas menos competitivas e os operários, mais vulneráveis. É uma situação em que as duas partes perdem muito e sem dúvida alguma leva a um aumento dos custos de mão de obra que limita a expansão das empresas no aumento de suas vagas. Os nossos salários são baixos em termos internacionais, mas o custo de mão de obra é alto. Sem falar nos imprevisíveis, como as sentenças da Justiça do Trabalho, e outras vulnerabilidades que aparecem por pressão ou dos sindicatos ou lideranças mal intencionadas.
Estamos numa situação que não é boa para ninguém e, como a corda arrebenta do lado mais fraco, é certamente pior para o trabalhador. Com a perspectiva de redução das atividades econômicas, esse problema se torna ainda mais agudo. E tem mais outro elemento: nossos competidores internacionais, notadamente a China, não têm esse problema. E o consumidor quer produto bom e barato, não se importando de onde vem. E a essa situação ainda devemos somar os altos custos dos conselhos profissionais, sem retorno para o trabalhador ou as empresas, e de acidentes de trabalho onde estamos bem mal colocados no nível mundial.
A solução é simples: que os sindicatos de empresários e empregados, os dois também cobram taxas, sentem juntos e acham a solução. Que chamem os competentes juízes do trabalho, o Ministro do Trabalho e mais os deputados e façam a reforma. Muitos privilégios vão se perder neste projeto, mas ficarão as mãos limpas para poder trabalhar e criar mais empregos. Do jeito,que está, todos perdem. Aliás, provavelmente não se faz uma reforma, porque uns devem estar ganhando com a situação.
Algo de novo nisso? Não! Os alemães fizeram isso, criaram um grupo de trabalho de 15 representantes dos sindicatos, empresas e governo, e as conclusões foram transformadas em leis que permitiram o país estar onde está hoje. O único perdedor foi chefe do governo que perdeu as eleições, mas ficou na história.
Stefan SALEJ
sbsalej@iCloud.com
www.salejcommment.blogspot.com
24.10.2014.
Friday, 24 October 2014
DO UM MINUTO APÓS AS ELEIÇÕES
Do minuto após as eleições
O mundo está onde sempre esteve, mesmo que durante a campanha eleitoral olhemos pouco para ele. Mas, ao contrário de nós, o mundo inteiro olhou para as eleições presidenciais brasileiras com uma atenção ímpar, não só por curiosidade mas por interesse. O nosso tamanho, independentemente de certos comentários ocasionais salientando a nossa grandeza, é de um país importante e onde o jogo de interesses ainda é maior. Não há empresa importante no mundo, seja industrial, seja banco ou de serviços, que não esteja presente no Brasil. E mais, um resfriado econômico aqui pode levar muita empresa para a UTI, sem pensar que alguns acham que nós também podemos estar lá.
Enquanto o boato comia terra no Brasil, a União Européia teve confirmada a nova Comissão sob liderança do conservador luxemburguês Juncker. Os conflitos na Ucrânia, que também teve eleição parlamentar hoje, continuam, e sem perspectiva de terminar. Na Indonésia assumiu um novo presidente, mas na vizinha Bolívia foi re-eleito o amigo fraternal do Brasil, Evo Morales. E as eleições no vizinho Uruguai, também sócio do Mercosul, que não consegue fazer acordo com a União Européia, não estão mostrando um resultado muito promissor para as relações entre os dois países. A Argentina continua quebrada e sem pagar as contas e se junta à Venezuela, que caminha a passo largo rumo a uma democracia falida em todos os sentidos.
O Ebola, que era coisa dos africanos, está batendo na porta da Europa e dos Estados Unidos, sendo que, segundo o New York Times, é Cuba que está dando um exemplo que merece elogio no combate a essa terrível doença. A volatilidade do mercado financeiro supera a volatilidade política no Oriente Médio, onde o Estado Islâmico está expandindo seus territórios e onde o combate a eles está mais desorganizado do que jogo de futebol na várzea. E mais, daqui a pouco teremos eleições parlamentares nos Estados Unidos, onde tudo indica que os republicanos ganharão a maioria no Congresso e Senado, criando mais dificuldades para o governo democrata do presidente Obama.
A queda de preços das commmodities, que já atingiu em média 14 % neste ano e reduziu nossas exportações em 11 bilhões de dólares, é um fato grave nas nossas relações com o mundo. Nossas reservas estão sendo afetadas com a redução de exportações e a receita dos investimentos estrangeiros no país não nos dá a segurança do aumento de empregos de que vamos precisar. Não haverá tempo para estourar a champanhe após a eleição. O trabalho de inserção de uma forma responsável na política internacional nos será exigido pelos acontecimentos mundiais e pelos nossos parceiros. E mais, pela nossa situação cambial e financeira.
No nível regional, teremos que achar soluções autônomas para ativar a economia mineira dependente de matérias primas e capital estrangeiro, que no momento levou mais do que trouxe.É absolutamente mentira dizer que no caso de vitória de um ou outro deixarão de vir ou não bilhões de dólares. Dólar não tem ideologia, tem interesse.E quem não tem interesse em um mercado de 200 milhões de pessoas em crescimento? Mas, tem que ter crescimento. E ele pode ser regional ou setorial, mesmo que não seja de todo nacional.
Stefan B. Salej
24.10.2014.
O mundo está onde sempre esteve, mesmo que durante a campanha eleitoral olhemos pouco para ele. Mas, ao contrário de nós, o mundo inteiro olhou para as eleições presidenciais brasileiras com uma atenção ímpar, não só por curiosidade mas por interesse. O nosso tamanho, independentemente de certos comentários ocasionais salientando a nossa grandeza, é de um país importante e onde o jogo de interesses ainda é maior. Não há empresa importante no mundo, seja industrial, seja banco ou de serviços, que não esteja presente no Brasil. E mais, um resfriado econômico aqui pode levar muita empresa para a UTI, sem pensar que alguns acham que nós também podemos estar lá.
Enquanto o boato comia terra no Brasil, a União Européia teve confirmada a nova Comissão sob liderança do conservador luxemburguês Juncker. Os conflitos na Ucrânia, que também teve eleição parlamentar hoje, continuam, e sem perspectiva de terminar. Na Indonésia assumiu um novo presidente, mas na vizinha Bolívia foi re-eleito o amigo fraternal do Brasil, Evo Morales. E as eleições no vizinho Uruguai, também sócio do Mercosul, que não consegue fazer acordo com a União Européia, não estão mostrando um resultado muito promissor para as relações entre os dois países. A Argentina continua quebrada e sem pagar as contas e se junta à Venezuela, que caminha a passo largo rumo a uma democracia falida em todos os sentidos.
O Ebola, que era coisa dos africanos, está batendo na porta da Europa e dos Estados Unidos, sendo que, segundo o New York Times, é Cuba que está dando um exemplo que merece elogio no combate a essa terrível doença. A volatilidade do mercado financeiro supera a volatilidade política no Oriente Médio, onde o Estado Islâmico está expandindo seus territórios e onde o combate a eles está mais desorganizado do que jogo de futebol na várzea. E mais, daqui a pouco teremos eleições parlamentares nos Estados Unidos, onde tudo indica que os republicanos ganharão a maioria no Congresso e Senado, criando mais dificuldades para o governo democrata do presidente Obama.
A queda de preços das commmodities, que já atingiu em média 14 % neste ano e reduziu nossas exportações em 11 bilhões de dólares, é um fato grave nas nossas relações com o mundo. Nossas reservas estão sendo afetadas com a redução de exportações e a receita dos investimentos estrangeiros no país não nos dá a segurança do aumento de empregos de que vamos precisar. Não haverá tempo para estourar a champanhe após a eleição. O trabalho de inserção de uma forma responsável na política internacional nos será exigido pelos acontecimentos mundiais e pelos nossos parceiros. E mais, pela nossa situação cambial e financeira.
No nível regional, teremos que achar soluções autônomas para ativar a economia mineira dependente de matérias primas e capital estrangeiro, que no momento levou mais do que trouxe.É absolutamente mentira dizer que no caso de vitória de um ou outro deixarão de vir ou não bilhões de dólares. Dólar não tem ideologia, tem interesse.E quem não tem interesse em um mercado de 200 milhões de pessoas em crescimento? Mas, tem que ter crescimento. E ele pode ser regional ou setorial, mesmo que não seja de todo nacional.
Stefan B. Salej
24.10.2014.
Sunday, 19 October 2014
De São Petersburgo com arte e temor
De São Petersburgo com arte e temor
A segunda maior cidade da Rússia, com 5 milhões de habitantes e que há 97 anos se chamava, durante o Outubro Vermelho, Petrograd, quando explodiu a revolução bolchevique, é um misto de história e atualidade. Depois de passar a se chamar Leningrado, em homenagem ao líder bolchevique, voltou ao nome antigo de São Petersburgo. Enormes palácios, cópias de europeus, dourados quanto podiam e não podiam, mostram a opulência da época dos czares russos. Poderosos e guerreiros, ricos e ostentatórios, competindo por um espaço na Europa moderna, não querendo ficar para trás nem em mostrar poder nem luxo. Tudo refeito, especialmente após a destruição provocada pelos nazistas, que chegaram a 30 km da cidade na Segunda Guerra Mundial.
Os palácios refeitos tem o seu ponto alto no Museu Hermitage, com milhares das obras mais importantes da cultura européia em seu acervo. Como chegaram lá esses milhares de pinturas dos últimos seis séculos é outra história. Umas compradas, outras pertencentes a famílias que fugiram do novo regime, em especial judeus, e outras vindas com as conquistas durante a segunda guerra mundial. O fato é que alguém pode ficar semanas no museu e não vai ver tudo. Mas, é imperdível uma visita focada nas principais obras, seja de mestres holandeses, italianos, franceses ou até de Picasso.
A cidade, extensa, tem prédios ainda da época dos czares, depois muito poucas construções da época soviética e inúmeras construções, em especial nas áreas comerciais, de épocas mais recentes. E tanto que tem marcas da época dos czares, mas muito pouco de lembranças de ser o berço de um dos mais importantes eventos do século passado, a Revolução de Outubro. Parece que o orgulho de uma pujança aparente das épocas dos czares algozes quer substituir o papel que a cidade teve na construção de uma ordem diferente, ordem nova. Quanto mais se valoriza o czarismo, tanto mais se quer desvalorizar a época soviética. Ainda não o chegou tempo de uma análise equilibrada da história.
Do outro lado do Golfo, fica a Finlândia que perdeu uma parte de seu território na guerra com a Rússia em 1939, o qual ninguém pensa em devolver. Aliás, a Finlândia, membro da União Européia, é grande beneficiária das sanções européias.O comércio fronteiriço cresce e os russos se abastecem por lá, a uns 200 km de São Petersburgo, como se fosse na esquina. A convivência da Finlândia com a Rússia é um exemplo que muitos russos mencionam quando falam das relações hoje complicadas com a Ucrânia.
Uma visita a Saint Petersburgo é obrigatória, indo à Rússia. O trem super veloz, confortável e organizado vem de Moscou para a estação Moscovsqui e, por exemplo, o próprio Museu Hermitage tem um hotel com qualidade difícil de ser vista no Brasil. A desgraça são os táxis as vezes mancomunados com a polícia, que roubam dos passageiros e ameaçam se não se pagar tarifa absurda. Para a Copa de 2018 estão construindo o maior estádio de futebol da Europa e provavelmente até lá vão enquadrar os taxistas ladrões de turistas.
Stefan B. Salej
13.10.2014.
A segunda maior cidade da Rússia, com 5 milhões de habitantes e que há 97 anos se chamava, durante o Outubro Vermelho, Petrograd, quando explodiu a revolução bolchevique, é um misto de história e atualidade. Depois de passar a se chamar Leningrado, em homenagem ao líder bolchevique, voltou ao nome antigo de São Petersburgo. Enormes palácios, cópias de europeus, dourados quanto podiam e não podiam, mostram a opulência da época dos czares russos. Poderosos e guerreiros, ricos e ostentatórios, competindo por um espaço na Europa moderna, não querendo ficar para trás nem em mostrar poder nem luxo. Tudo refeito, especialmente após a destruição provocada pelos nazistas, que chegaram a 30 km da cidade na Segunda Guerra Mundial.
Os palácios refeitos tem o seu ponto alto no Museu Hermitage, com milhares das obras mais importantes da cultura européia em seu acervo. Como chegaram lá esses milhares de pinturas dos últimos seis séculos é outra história. Umas compradas, outras pertencentes a famílias que fugiram do novo regime, em especial judeus, e outras vindas com as conquistas durante a segunda guerra mundial. O fato é que alguém pode ficar semanas no museu e não vai ver tudo. Mas, é imperdível uma visita focada nas principais obras, seja de mestres holandeses, italianos, franceses ou até de Picasso.
A cidade, extensa, tem prédios ainda da época dos czares, depois muito poucas construções da época soviética e inúmeras construções, em especial nas áreas comerciais, de épocas mais recentes. E tanto que tem marcas da época dos czares, mas muito pouco de lembranças de ser o berço de um dos mais importantes eventos do século passado, a Revolução de Outubro. Parece que o orgulho de uma pujança aparente das épocas dos czares algozes quer substituir o papel que a cidade teve na construção de uma ordem diferente, ordem nova. Quanto mais se valoriza o czarismo, tanto mais se quer desvalorizar a época soviética. Ainda não o chegou tempo de uma análise equilibrada da história.
Do outro lado do Golfo, fica a Finlândia que perdeu uma parte de seu território na guerra com a Rússia em 1939, o qual ninguém pensa em devolver. Aliás, a Finlândia, membro da União Européia, é grande beneficiária das sanções européias.O comércio fronteiriço cresce e os russos se abastecem por lá, a uns 200 km de São Petersburgo, como se fosse na esquina. A convivência da Finlândia com a Rússia é um exemplo que muitos russos mencionam quando falam das relações hoje complicadas com a Ucrânia.
Uma visita a Saint Petersburgo é obrigatória, indo à Rússia. O trem super veloz, confortável e organizado vem de Moscou para a estação Moscovsqui e, por exemplo, o próprio Museu Hermitage tem um hotel com qualidade difícil de ser vista no Brasil. A desgraça são os táxis as vezes mancomunados com a polícia, que roubam dos passageiros e ameaçam se não se pagar tarifa absurda. Para a Copa de 2018 estão construindo o maior estádio de futebol da Europa e provavelmente até lá vão enquadrar os taxistas ladrões de turistas.
Stefan B. Salej
13.10.2014.
Friday, 10 October 2014
DA RÚSSIA, COM AMOR
De Moscou com amor
Passear à meia noite, com agradável temperatura de outono, após assistir a uma ópera de Tchaikovsky no Teatro Bolshoi, pela Praça Vermelha iluminada, com o túmulo do legendário Lenine em frente ao restaurante dentro do shopping Gum, em segurança, é um pouco da Moscou que um turista percebe. Apesar do trânsito infernal, a gente não vê Lada, que foram os carros russos importados no Brasil na época das carroças do Collor, mas só carros modernos. A cidade, uma das grandes capitais do mundo, oferece uma tranqüilidade ímpar. Não tem marca famosa, seja de carro, de roupa, de restaurantes ou do que for, que não esteja presente nas ruas com prédios antigos, mas todos bem arrumados, na área central da capital russa. E além dos restaurantes, é impressionante o número de farmácias e bancos. E o internet gratuito por todo lugar.
No dia em que o Presidente Putin festejou 62 anos longe da capital, nas taigas da Sibéria, e por outro lado a imprensa mundial escrevia muito sobre a eleição brasileira, os jornais daqui se preocupavam mais com a queda do rublo, o plano do governo para incrementar a produção de alimentos em vista de boicote da importação de alimentos europeus, e a televisão falava bastante dos acontecimentos na Ucrânia. A eleição brasileira, mesmo sendo a Rússia parte dos países BRICS, não era assunto de muita importância. Aliás, no oceano de produtos importados e marcas mundiais que predominam em todas as esquinas, você só ouve música brasileira no bar do hotel, mas a marca Brasil está mais escondida do que a história da União Soviética.
Aliás, é ilusão achar que todos os russos, e aí se inclui o governo, detestam e escondem o que aconteceu no tempo de União Soviética. No programa do Bolshoi são mencionados não só artistas que receberam honrosos prêmios durante URSS, como também o conferencista Volkov, ex-conselheiro econômico do Comitê Central. Não há conversa com os russos em que eles disfarcem seu orgulho de terem vencidas três grandes guerras, sendo a última a derrota do nazismo, que ceifou quase trinta milhões de vidas, ou seja 15 % de população brasileira de hoje. E nos fantásticos museus de Moskva, você vê crianças de todas as idades aprendendo história.
Os ocidentais aproveitaram a queda da União Soviética para colocar todos os seus produtos, bens e serviços aos russos, que os receberam de braços abertos. Assim, as sanções que querem impor por causa do conflito na Ucrânia vão afetar sim o consumidor russo, mas vão bater forte no bolso das empresas e bancos ocidentais.Os russos estão unidos com Putin mais do que os ocidentais percebem e são patriotas que não se assustam com ameaças. Ou seja, Putin tem apoio popular para reerguer o Império russo. A queda de preço do petróleo e as sanções podem levar a um isolamento em que Rússia continuará Rússia.
E 2018, com a Copa? Moscou, como cidade, será um bom lugar para se torcer. Talvez um pouco cara, mas mesmo assim um lugar com transporte público e segurança acima da expectativa. E vale a pena visitar já. Principalmente pelas oportunidades e cultura.
( O colunista está de viagem na Rússia)
Stefan B. Salej
9. de outubro 2014.
Passear à meia noite, com agradável temperatura de outono, após assistir a uma ópera de Tchaikovsky no Teatro Bolshoi, pela Praça Vermelha iluminada, com o túmulo do legendário Lenine em frente ao restaurante dentro do shopping Gum, em segurança, é um pouco da Moscou que um turista percebe. Apesar do trânsito infernal, a gente não vê Lada, que foram os carros russos importados no Brasil na época das carroças do Collor, mas só carros modernos. A cidade, uma das grandes capitais do mundo, oferece uma tranqüilidade ímpar. Não tem marca famosa, seja de carro, de roupa, de restaurantes ou do que for, que não esteja presente nas ruas com prédios antigos, mas todos bem arrumados, na área central da capital russa. E além dos restaurantes, é impressionante o número de farmácias e bancos. E o internet gratuito por todo lugar.
No dia em que o Presidente Putin festejou 62 anos longe da capital, nas taigas da Sibéria, e por outro lado a imprensa mundial escrevia muito sobre a eleição brasileira, os jornais daqui se preocupavam mais com a queda do rublo, o plano do governo para incrementar a produção de alimentos em vista de boicote da importação de alimentos europeus, e a televisão falava bastante dos acontecimentos na Ucrânia. A eleição brasileira, mesmo sendo a Rússia parte dos países BRICS, não era assunto de muita importância. Aliás, no oceano de produtos importados e marcas mundiais que predominam em todas as esquinas, você só ouve música brasileira no bar do hotel, mas a marca Brasil está mais escondida do que a história da União Soviética.
Aliás, é ilusão achar que todos os russos, e aí se inclui o governo, detestam e escondem o que aconteceu no tempo de União Soviética. No programa do Bolshoi são mencionados não só artistas que receberam honrosos prêmios durante URSS, como também o conferencista Volkov, ex-conselheiro econômico do Comitê Central. Não há conversa com os russos em que eles disfarcem seu orgulho de terem vencidas três grandes guerras, sendo a última a derrota do nazismo, que ceifou quase trinta milhões de vidas, ou seja 15 % de população brasileira de hoje. E nos fantásticos museus de Moskva, você vê crianças de todas as idades aprendendo história.
Os ocidentais aproveitaram a queda da União Soviética para colocar todos os seus produtos, bens e serviços aos russos, que os receberam de braços abertos. Assim, as sanções que querem impor por causa do conflito na Ucrânia vão afetar sim o consumidor russo, mas vão bater forte no bolso das empresas e bancos ocidentais.Os russos estão unidos com Putin mais do que os ocidentais percebem e são patriotas que não se assustam com ameaças. Ou seja, Putin tem apoio popular para reerguer o Império russo. A queda de preço do petróleo e as sanções podem levar a um isolamento em que Rússia continuará Rússia.
E 2018, com a Copa? Moscou, como cidade, será um bom lugar para se torcer. Talvez um pouco cara, mas mesmo assim um lugar com transporte público e segurança acima da expectativa. E vale a pena visitar já. Principalmente pelas oportunidades e cultura.
( O colunista está de viagem na Rússia)
Stefan B. Salej
9. de outubro 2014.
Sunday, 5 October 2014
DA DEMOCRACIA DE GUARDA CHUVA
Da democracia de guarda chuva
No mundo cheio de conflitos armados, a notícia de protestos pacíficos pela democracia em Hong Kong na China, parece um alívio. Hong Kong (HK))que esteve desde primeira guerra de ópio que os chineses perderam parados britânicos em 1841 sob domínio da coroa inglesa ate 1997 quando passou ser parte da China continental ou como preferem alguns China Comunista. E foi feito um acordo entre as partes que dava autonomia a cidade de 7 milhões de habitantes que importa 70 % de sua água e 90% de sua comida do continente que o resto da China não tem. HK é uma ilha de relativa democracia no continente chinês. Além de ser um centro financeiro fundamental para China, 40 milhões de visitantes vem anualmente a HK fazer compras e ver como funciona tal autonomia.
E agora mais uma vez explodiu a panela de pessoa democrática. A razão é que governo chinês anunciou que em 2017 haverá eleições para a escolha do governo local e que os candidatos serão escolhidos por um conselho de 1200 pessoas. E aí veio a revolta: os candidatos apontados por este conselho serão todos de agrado de Beijing, portanto as eleições não serão democráticas.E a revolta que sob guardas chuvas reuniu mais de 200 mil pessoas tem um líder. Jovem estudante secundário de 17 anos, Joshua Wong é segundo imprensa internacional Whiz kid deste evento para o qual o governo americano já disse que sufrágio universal é a base de democracia. Portanto, Estados Unidos apóiam o movimento. Europeus estão calados, e os japoneses querem China com problemas enquanto os britânicos não dizem nada.
Na memória de todos estão ainda os acontecimentos de Praça Celestial de Beijing em 1989 quando os estudantes fora esmagados pelos tanques.O falecido político Jose Alencar dizia com voz clara que o governo chinês estava certo. Num país grande como China, alegava ele, tem que prevalecer ordem. E agora José? O governo chinês está procurando limitar o caso de Hong Kong a seus limites geográficos. Está cidade e sua situação é muito peculiar e nada tem que ver com a situação no resto da China. Claro como toda regra também esta tem exceções: Tibet e a minoria Uighur. O caso de Tibet com Dalai Lama é mais conhecido mas os Uighur que são muçulmanos e seus membros participam ativamente dos movimentos radicais pelo mundo adora, é mais complexo. Aliás, eles também tem promovido os atentados na própria China. A solução que será dada aos manifestos em Hong Kong vai marcar a posição do governo em relação a todas as dissidências.
Conflito desta natureza não beneficia nenhuma parte. Hong Kong é importante para China e é importante apesar de crescimento de outros centros, para todos que fazem negócios com este país. Se afetar crescimento chinês, afeta ainda mais Brasil de cujas exportações para la depende em muito o nosso bem estar diário. Meu, seu e de todos.
Stefan B. Salej
2.10.2014.
No mundo cheio de conflitos armados, a notícia de protestos pacíficos pela democracia em Hong Kong na China, parece um alívio. Hong Kong (HK))que esteve desde primeira guerra de ópio que os chineses perderam parados britânicos em 1841 sob domínio da coroa inglesa ate 1997 quando passou ser parte da China continental ou como preferem alguns China Comunista. E foi feito um acordo entre as partes que dava autonomia a cidade de 7 milhões de habitantes que importa 70 % de sua água e 90% de sua comida do continente que o resto da China não tem. HK é uma ilha de relativa democracia no continente chinês. Além de ser um centro financeiro fundamental para China, 40 milhões de visitantes vem anualmente a HK fazer compras e ver como funciona tal autonomia.
E agora mais uma vez explodiu a panela de pessoa democrática. A razão é que governo chinês anunciou que em 2017 haverá eleições para a escolha do governo local e que os candidatos serão escolhidos por um conselho de 1200 pessoas. E aí veio a revolta: os candidatos apontados por este conselho serão todos de agrado de Beijing, portanto as eleições não serão democráticas.E a revolta que sob guardas chuvas reuniu mais de 200 mil pessoas tem um líder. Jovem estudante secundário de 17 anos, Joshua Wong é segundo imprensa internacional Whiz kid deste evento para o qual o governo americano já disse que sufrágio universal é a base de democracia. Portanto, Estados Unidos apóiam o movimento. Europeus estão calados, e os japoneses querem China com problemas enquanto os britânicos não dizem nada.
Na memória de todos estão ainda os acontecimentos de Praça Celestial de Beijing em 1989 quando os estudantes fora esmagados pelos tanques.O falecido político Jose Alencar dizia com voz clara que o governo chinês estava certo. Num país grande como China, alegava ele, tem que prevalecer ordem. E agora José? O governo chinês está procurando limitar o caso de Hong Kong a seus limites geográficos. Está cidade e sua situação é muito peculiar e nada tem que ver com a situação no resto da China. Claro como toda regra também esta tem exceções: Tibet e a minoria Uighur. O caso de Tibet com Dalai Lama é mais conhecido mas os Uighur que são muçulmanos e seus membros participam ativamente dos movimentos radicais pelo mundo adora, é mais complexo. Aliás, eles também tem promovido os atentados na própria China. A solução que será dada aos manifestos em Hong Kong vai marcar a posição do governo em relação a todas as dissidências.
Conflito desta natureza não beneficia nenhuma parte. Hong Kong é importante para China e é importante apesar de crescimento de outros centros, para todos que fazem negócios com este país. Se afetar crescimento chinês, afeta ainda mais Brasil de cujas exportações para la depende em muito o nosso bem estar diário. Meu, seu e de todos.
Stefan B. Salej
2.10.2014.
Friday, 26 September 2014
DOS comoditties incômodas
Das comoditties incomodas
Não há mais nenhuma dúvida, pelos últimos dados divulgados tanto pelo Banco Central brasileiro como pelas autoridades norte-americanas, que o nosso maior problema no próximo ano será no front externo. De certa maneira, com muita variação, a economia mundial se recupera, mas essa recuperação também está gerando um fenômeno conhecido: a superprodução de commodities, sejam elas agrícolas ou minerais. Em resumo, a super-safra de grãos nos Estados Unidos, que são de longe os maiores produtores mundiais de grãos, está provocando uma oferta maior, com a respectiva queda de preços. E o Brasil, que está só aumentando a sua fronteira agrícola, também produziu mais do que o mundo pode absorver.
A composição das exportações brasileiras é absolutamente desastrosa para um cenário mundial em saída de recessão global. As matérias primas e suas poucas melhoras, como cafés especiais, açúcar refinado e similares, representam 75 % da nossas exportações. O minério de ferro teve queda de 40 % neste ano, o que afetou profundamente a receita de exportações. E claro, o resultado das empresas exportadoras. E com exceção do café e do cacau, não há nenhuma matéria prima que indique que haverá recuperação de preços a curto prazo. E a longo prazo, como disse o consagrado economista do século passado Lord Keynes, todos estaremos mortos.
Com a queda de preços, a alegria de curto prazo de vendermos mais carnes para Rússia, e com a contabilidade criativa e as vendas de petróleo, a diminuição de importação devido à queda de atividades econômicas, conseguiremos este ano um superávit comercial de 3 bilhões de dólares. Miserável. Não dá para pagar a conta de turismo dos brasileiros de um mês, quiçá de um ano, quando passará de 20 bilhões de dólares. E mais 25 bilhões de dólares de remessa de lucros e mais as importações e mais e mais. A diferença entre a saída de dólares e a entrada no seu total vai provocar este ano um deficit de 80 bilhões de dólares.
A entrada de investimentos estrangeiros na sua maioria é financeira, ações e papéis. Leia se especulação. Novos investimentos para gerar empregos, são poucos. E, mesmo assim, bem acolchoados com gordos incentivos. Portanto, com esse cenário, ao qual devemos ainda adicionar as dificuldades dos nossos parceiros quebrados do Mercosul, a absoluta prioridade no próximo ano será a recomposição do balanço de pagamentos externos. Não pela restrição, como a Argentina está fazendo, agora controlando a saída dos passageiros com ridículas 32 informações, sem falar nas restrições de importação, mas com um vigoroso plano de aumento de competitividade da indústria brasileira no nível mundial. E aí, soma-se um esforço hercúleo para aumento de exportações e diversificação da pauta e dos mercados.
Minas não precisa só esperar as medidas do governo federal, mas com a sua dependência total de matérias primas na sua matriz econômica, vai passar seus apertos, dos quais vai ter que sair sozinha. É o tempo de oportunidade, como dizem nossos maiores parceiros, os chineses.
Stefan B. Salej
26.9.2014.
Não há mais nenhuma dúvida, pelos últimos dados divulgados tanto pelo Banco Central brasileiro como pelas autoridades norte-americanas, que o nosso maior problema no próximo ano será no front externo. De certa maneira, com muita variação, a economia mundial se recupera, mas essa recuperação também está gerando um fenômeno conhecido: a superprodução de commodities, sejam elas agrícolas ou minerais. Em resumo, a super-safra de grãos nos Estados Unidos, que são de longe os maiores produtores mundiais de grãos, está provocando uma oferta maior, com a respectiva queda de preços. E o Brasil, que está só aumentando a sua fronteira agrícola, também produziu mais do que o mundo pode absorver.
A composição das exportações brasileiras é absolutamente desastrosa para um cenário mundial em saída de recessão global. As matérias primas e suas poucas melhoras, como cafés especiais, açúcar refinado e similares, representam 75 % da nossas exportações. O minério de ferro teve queda de 40 % neste ano, o que afetou profundamente a receita de exportações. E claro, o resultado das empresas exportadoras. E com exceção do café e do cacau, não há nenhuma matéria prima que indique que haverá recuperação de preços a curto prazo. E a longo prazo, como disse o consagrado economista do século passado Lord Keynes, todos estaremos mortos.
Com a queda de preços, a alegria de curto prazo de vendermos mais carnes para Rússia, e com a contabilidade criativa e as vendas de petróleo, a diminuição de importação devido à queda de atividades econômicas, conseguiremos este ano um superávit comercial de 3 bilhões de dólares. Miserável. Não dá para pagar a conta de turismo dos brasileiros de um mês, quiçá de um ano, quando passará de 20 bilhões de dólares. E mais 25 bilhões de dólares de remessa de lucros e mais as importações e mais e mais. A diferença entre a saída de dólares e a entrada no seu total vai provocar este ano um deficit de 80 bilhões de dólares.
A entrada de investimentos estrangeiros na sua maioria é financeira, ações e papéis. Leia se especulação. Novos investimentos para gerar empregos, são poucos. E, mesmo assim, bem acolchoados com gordos incentivos. Portanto, com esse cenário, ao qual devemos ainda adicionar as dificuldades dos nossos parceiros quebrados do Mercosul, a absoluta prioridade no próximo ano será a recomposição do balanço de pagamentos externos. Não pela restrição, como a Argentina está fazendo, agora controlando a saída dos passageiros com ridículas 32 informações, sem falar nas restrições de importação, mas com um vigoroso plano de aumento de competitividade da indústria brasileira no nível mundial. E aí, soma-se um esforço hercúleo para aumento de exportações e diversificação da pauta e dos mercados.
Minas não precisa só esperar as medidas do governo federal, mas com a sua dependência total de matérias primas na sua matriz econômica, vai passar seus apertos, dos quais vai ter que sair sozinha. É o tempo de oportunidade, como dizem nossos maiores parceiros, os chineses.
Stefan B. Salej
26.9.2014.
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