De Moscou com amor
Passear à meia noite, com agradável temperatura de outono, após assistir a uma ópera de Tchaikovsky no Teatro Bolshoi, pela Praça Vermelha iluminada, com o túmulo do legendário Lenine em frente ao restaurante dentro do shopping Gum, em segurança, é um pouco da Moscou que um turista percebe. Apesar do trânsito infernal, a gente não vê Lada, que foram os carros russos importados no Brasil na época das carroças do Collor, mas só carros modernos. A cidade, uma das grandes capitais do mundo, oferece uma tranqüilidade ímpar. Não tem marca famosa, seja de carro, de roupa, de restaurantes ou do que for, que não esteja presente nas ruas com prédios antigos, mas todos bem arrumados, na área central da capital russa. E além dos restaurantes, é impressionante o número de farmácias e bancos. E o internet gratuito por todo lugar.
No dia em que o Presidente Putin festejou 62 anos longe da capital, nas taigas da Sibéria, e por outro lado a imprensa mundial escrevia muito sobre a eleição brasileira, os jornais daqui se preocupavam mais com a queda do rublo, o plano do governo para incrementar a produção de alimentos em vista de boicote da importação de alimentos europeus, e a televisão falava bastante dos acontecimentos na Ucrânia. A eleição brasileira, mesmo sendo a Rússia parte dos países BRICS, não era assunto de muita importância. Aliás, no oceano de produtos importados e marcas mundiais que predominam em todas as esquinas, você só ouve música brasileira no bar do hotel, mas a marca Brasil está mais escondida do que a história da União Soviética.
Aliás, é ilusão achar que todos os russos, e aí se inclui o governo, detestam e escondem o que aconteceu no tempo de União Soviética. No programa do Bolshoi são mencionados não só artistas que receberam honrosos prêmios durante URSS, como também o conferencista Volkov, ex-conselheiro econômico do Comitê Central. Não há conversa com os russos em que eles disfarcem seu orgulho de terem vencidas três grandes guerras, sendo a última a derrota do nazismo, que ceifou quase trinta milhões de vidas, ou seja 15 % de população brasileira de hoje. E nos fantásticos museus de Moskva, você vê crianças de todas as idades aprendendo história.
Os ocidentais aproveitaram a queda da União Soviética para colocar todos os seus produtos, bens e serviços aos russos, que os receberam de braços abertos. Assim, as sanções que querem impor por causa do conflito na Ucrânia vão afetar sim o consumidor russo, mas vão bater forte no bolso das empresas e bancos ocidentais.Os russos estão unidos com Putin mais do que os ocidentais percebem e são patriotas que não se assustam com ameaças. Ou seja, Putin tem apoio popular para reerguer o Império russo. A queda de preço do petróleo e as sanções podem levar a um isolamento em que Rússia continuará Rússia.
E 2018, com a Copa? Moscou, como cidade, será um bom lugar para se torcer. Talvez um pouco cara, mas mesmo assim um lugar com transporte público e segurança acima da expectativa. E vale a pena visitar já. Principalmente pelas oportunidades e cultura.
( O colunista está de viagem na Rússia)
Stefan B. Salej
9. de outubro 2014.
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