Sinceramente ainda não sei em que estágio me encontro: Débora e eu resolvemos ficar em casa seguindo as recomendações das mais variadas para evitar a contaminação com Coronavirus. E adentramos a esse novo estagio da vida, não sei se é confinamento, quarentena ou isolamento de forma bem cuidadosa: uma happy hour de dez eslovenos onde um casal estava hospedando na casa deles parentes da Europa com os quais acabaram de vir do Carnaval do Rio e da vista a Foz de Iguaçu. Depois um jantar com dois banqueiros suíços no dia que chegaram de lá.E bem no início da semana desastrosa nas bolsas quando os dois sabiam de como vai ficar bem daqui a pouco. Depois um Pilates com estúdio cheio. Um jantar no restaurante italiano cobrando uma taça de vinho chileno rose 55 reais. E no domingo consegui por conta do vírus matar a aula de hebraico, apesar de ter feito dever de casa antes e terminamos numa pizzeria como manda figurino onde garçom que nos atende disse que ele não se incomodava em não nos dar a mão.
Mas, já no domingo nos começamos organizar para este estágio novo da vida.
Vimos como estão nossos amigos pelo mundo. Um, em Israel, fez 93 anos.Sem família, sozinho, filho,acabou de voltar do Chile e está em quarentena mas também os outros não podem visitar ele.Outro na Slovenia está em Casa de repouso, todas fechadas, filhas não podem visitar e ele não tem celular, Um nos Estados Unidos, está com filhos espalhados pelo país,também não vai a lugar algum. Outro na Alemanha veio de Barbados, não pode ir a lugar nenhum. Ninguém entra e ninguém sai.Tambem mais um casal em Düsseldorf com filhos espalhados em Washington, San Francisco,Berlin, Munich.Iam esquiar junto em abril, tudo cancelado. O que é Embaixador da Eslovênia em Buenos Aires tem que tirar os patrícios e mandar de volta. tem 6 mil europeus para serem repatriados e ninguém sabe como.Outra diplomata no Iran, está ainda na situação pior.E assim adiante, isolamento, incerteza,medo.
O pior desse confinamento, temporário sem data de terminar, é repentina falta de liberdade. Você não sai, não vê pessoas, sua vida social desaparece e você está com uma tornozeleira invisível sem sentença chamada ameaça de Coronavirus junto com milhões de pessoas que você nem conhece.De repente olhar pela janela ganha um valor que você conhecia, então a lua quando aparece parece o mundo novo. E você se torna um ser digital. Que bom que telefone tocou. TV está funcionando. A internet sobrecarregada funciona. E as mensagens pelo WhatsApp. Toneladas e toneladas de tonteiras, bobagens e uma total irresponsabilidade nos assuntos como Coronavirus.
TV se torna sua amiga, que bom que chegou CNN Brasil, canais abertos e de graça para ver o mundo desgraçado se esfacelando.
Tem mais os filhos, espalhados desde Ouro Fino, Belo Horizonte,Pauliceia e Santa Monica, Califórnia. Cada um com sua família, marido, esposa e filhos, sogra e sogros. E melhor de tudo: vigilantes sanitários perguntando toda hora, parece que fizeram acordo de revezamento, se estamos em casa, que não devemos sair, se estamos cumprindo as regras de isolamento. E claro, nos perguntando a eles, pedindo fotos de netos. Em resumo, um intercâmbio intenso e submerso.
Lemos NYT, Lê Monde, Delo, assistimos TV brasileira e francesa e eslovena e CNN. Too much. Aí parece no meio um belíssimo artigo de Simon Swartzman sobre fascismo e uma série turca de verdade sobre a conquista de Constantinopla. Ai descobrimos que os sérvios, que faziam com eslovenos parte da Iugoslávia de 1917 a 1992, tinham um poder enorme no Império Otomano. E por isso que até hoje o café preferido deles é turska Kafka, café turco.
De cancelamento de tudo, para perspectiva invisível, vamos ter que nos organizar. Se nos salvamos de vírus, a mudança de cotidiano vai deixar marcas no pouco tempo que ainda temos.
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