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Sunday, 26 November 2017

DE MINAS EM MOVIMENTO



Minas está onde sempre esteve.

Uma das frases preferidas dos mineiros, em especial dos políticos sábios, é que estamos onde estamos e você tem que saber onde estamos. Se não entrarmos na discussão política, onde as variáveis de funcionamento são inexplicáveis para o cidadão comum, sobra-nos a parte econômica, que no fundo tem muita influência sobre a política. Aliás, é a que paga o exercício da política.

Nesse capítulo, Minas, segundo os dados da revista Mercado Comum e do Diário do Comércio, deixou de estar onde esteve há muito tempo. A  nossa diferença com São Paulo, estado mais competitivo do Brasil, foi aumentada nas últimas décadas. Não só os governos mais recentes deixaram um arraso nas contas públicas como também até agora nenhum governo federal cumpriu e pagou as diferenças que pertencem ao estado no caso da exportação de minérios, ou seja a chamada Lei Kandir, o que afeta e em muito a consolidação e o crescimento do Estado. A distância que nos separa de São Paulo é de 50 anos, se aumentarmos em 5 %  ao ano o nosso Produto Interno Bruto. A indústria mineira virou filial de empresas com sede em São Paulo ou no exterior e perdeu em faturamento nos últimos 15 anos  mais de 50 %.

A situação dramática não deve assustar. Não é só o desastre de Mariana que nos deve levar a uma reflexão serena sobre o futuro do Estado, que assumiu o segundo lugar na economia brasileira por causa da queda da economia fluminense. No passado foram feitos diagnósticos da economia mineira que levaram a um plano de desenvolvimento no início dos anos 60 e 70. Deu certo. 

Hoje, o mundo é diferente, em especial quanto à globalização e tecnologias. Então, você tem ainda exemplos de empresas mineiras líderes nacionais, como a Kroton, Martins, Algar, Unimed BH ( a mais bem administrada Unimed do Brasil), Localiza, Forno de Minas, Araujo, Cia. Do Terno, Itambé, e tantas outras. Nós temos um movimento de start up nada desprezível e temos graças ao Guilherme Emrich não só um centro de biotecnologia mas também um centro de pesquisas da Google.

Temos um setor agrícola que deixou no chinelo a indústria, e está despontando como líder da economia. Demos um tiro no pé com a destruição do cluster de serviços e industrial em torno do aeroporto de Confins. Ou seja um passo para a frente e dois para trás.

Minas são várias disse Guimarães Rosa. Aliás, Minas na cultura,  com o grupo Corpo, produções teatrais, músicos, Inhotim, de longe supera o marasmo econômico e também  tem reconhecimento mundial.


Está na hora de Minas e em especial as suas entidades de classe voltarem a abraçar o projeto Cresce Minas, projeto que uniu a todos, governo e empresariado, na década de 90 e, através da introdução da metodologia de clusters, desenvolveu Minas. Fez a Minas, que tem na sua gente o seu  valor maior, crescer.

Sunday, 19 November 2017

DO TANGO ARGENTINO RENOVADO



Goste ou não, foram os argentinos que criaram empregos na indústria brasileira este ano. E em especial na indústria automobilística. A Argentina está crescendo, comprando mais automóveis, mais máquinas, mais equipamentos do Brasil e criando emprego no Brasil. Sem as compras argentinas, que causaram no país portenho um déficit comercial com o Brasil  de 5 bilhões de dólares (aliás o déficit correspondente ao total do déficit da balança comercial argentina neste ano), a indústria brasileira estaria patinando e suas exportações de manufaturados não avançariam muito.

O fato é que enquanto avançamos lentamente,  o ex-Presidente do Boca Juniors e prefeito de Buenos Aires, hoje Presidente de la Nacion  (como o chamam na república vizinha), está colocando o país em ordem. Ganhou as últimas eleições intermediarias para o  Senado e a Câmara dos deputados contra o kirchnerismo que dominou a política argentina últimos 12 anos (o seu símbolo populista é a ex-Presidente Cristina Kirchner) e apresenta dados econômicos que mostram ao mundo que parceiro confiável hoje é a Argentina.

Para começar, resolveu uma briga de dezenas de anos com os fundos de investimentos que, com o default da dívida externa, iam perder o dinheiro investido na  Argentina. Deu segurança jurídica aos investimentos estrangeiros e locais (ao contrário do que está acontecendo especificamente  em Minas com investidores suíços no caso do aeroporto de Confins). Essa confiança criou não só um fluxo enorme de capitais estrangeiros de várias fontes, mas também trouxe de volta 117 bilhões de dólares dos argentinos (repatriação de capital), correspondentes a 20 % do Produto Interno Bruto.

A confiança nos rumos do governo também é notada pelos novos investidores na área da economia digital e de start up. Apesar do enorme esforço no Brasil, foi Buenos Aires se tornou, segundo a Bloomberg,  a capital latino-americana de inovação, com maciços investimentos dos investidores norte-americanos, entre eles a volta do George Soros depois de duas décadas de ausência nos investimentos na Argentina. O país portenho sempre teve educação primorosa e excelentes cientistas. E com a estabilidade política está colhendo os frutos com uma nova onda de empreendedores.


A ligação aérea de Confins para Buenos Aires (enquanto algum interessado em transferir isso para Pampulha não queimar o filme) deve significar uma ponte que vai além de indústria automobilística. Nossos empresários, financiados pelas entidades empresariais, gostam de passear pela Europa, o prefeito de Contagem vai à China, mas estamos desprezando um mercado com facilidades e um crescimento enorme na nossa porta. Aliás, isso vale também par o Uruguai e o Paraguai. Acusamos os argentinos, que por  sinal estão mostrando na Usiminas o que entendem da siderurgia, de arrogantes, enquanto nos somos míopes, desprezando o potencial de negócios que temos nesta nova era da Argentina.

Saturday, 11 November 2017

DOS FINS DOS CONFINS E DA PAMPULHA



A decisão de reativar os voos de aviões de grande porte para a Pampulha é a flecha de morte no coração de um projeto maior que  é um aeroporto chamado de Tancredo Neves, nas proximidades da capital mineira e administrado pela concessionaria BH Airport. Na mesa estão todas as emoções imagináveis, inclusive  declarações inadequadas do prefeito da capital, mas pouca racionalidade.

Entre as emoções devem-se incluir também os sentimentos dos passageiros que, para usufruírem da comodidade de uma distância menor, terão que se sujeitar às péssimas condições do aeroporto da Pampulha. Não tem finger (Confins tem 26 pontes de embarque/desembarque), nos dias de chuvas há alagamento e de noite, os taxis somem. O aeroporto que sustenta o nome do poeta que saiu e não voltou a BH, é dos piores do mundo em termos de infraestrutura,  que foi suportada, inclusive com pousos criativos pelos pilotos experientes, nos dias de chuva, pelos passageiros. Mas, a comodidade de uma viagem mais curta, especialmente pelos ansiosos por trabalhar mais e conviver mais com a família tradicional mineira, compensam os riscos de incomodo e de falta de segurança. Não se esquecendo de que, para o aeroporto ser novamente operacional no seu nível de qualidade e segurança mínima, a INFRAERO, leia-se  o governo e as empresas, terão que investir, o que vai elevar o custo da passagem.

Mas, vale a pena lembrar que, quando o aeroporto de Confins foi construído há 33 anos, e o projeto era de conectar Minas com o mundo (dos 42 destinos hoje, 4 são internacionais, além de servir para trânsito de cargas com infra estrutura de alfandega eficaz para a internacionalização das empresas mineiras, que importavam via São Paulo e Rio) . Em torno do aeroporto havia a intenção fazer uma zona industrial avançada, inclusive com serviços na área aeronáutica. BH teria assim um aeroporto de grande porte e mais um, além do militar de Lagoa Santa, na cidade, com serviços e para vôos regionais.

A decisão da bancada mineira de apoiar a mudança do aeroporto,  aliada aos políticos do PR (segundo a imprensa nacional), demonstra claramente que quem manda na política mineira e nos seu desenvolvimento é o ex-presidiário Waldemar da Costa Neto. 

Mas, a questão mais grave é que você não pode fazer em Minas um contrato, como foi o da a concessão do aeroporto de Confins, que vale, porque você não sabe o que os políticos vão mudar no decorrer do contrato. E, só para lembrar, a concessionária que investiu e modernizou o aeroporto, para alegria dos seus 22 milhões de passageiros (e dos taxistas que cobram realmente uma fortuna), tem sócio suíço, o aeroporto de Zurique.

E na Suíça, onde todos se conhecem e trabalham juntos, quem terá a coragem de investir num estado onde os políticos trabalham para desrespeitar um contrato? Um tiro no pé da melhor qualidade. E uma mudança no eixo de desenvolvimento em um estado em que o único porto é o aeroporto.

Sunday, 5 November 2017

DO QUE DIZER SOBRE O DESASTRE DE MARIANA

DO QUE DIZER SOBRE O DESASTRE DE MARIANA

Estes dias faz dois anos que as águas enlameadas rolaram da barragem da Samarco pelo lugarejo chamado São Bento, pela minha Barra Longa e por Mariana. Tiraram vidas, empregos, esperanças e enlamearam os rios até o mar. Sujaram a alma mineira por dezenas de anos, alma de quem oferecia suas terras ricas de minérios para serem exploradas para o bem dos homens. E como inúmeras vezes nesse negócio, onde o ganho de alguns, em detrimento do prejuízo de todos, prevalece, assim aconteceu também no rompimento da barragem de Mariana.

Se não fosse a imprensa, e em especial a TV Globo, que mostrou que depois de dois anos muito foi feito e nada aconteceu, que o desastre ainda povoa a memória e a vida das pessoas atingidas, provavelmente ninguém lembraria. As entidades de mineração, como seu sindicato  e sua entidade federativa, não foram capazes de organizar uma análise critica do que aconteceu e como está sendo resolvida a questão. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas continua mais preocupada com a fiscalização das empresas dos adversários políticos dos amigos dos seus dirigentes do que com a questão da barragem de Mariana. Os acionistas da empresa, Vale e BHP, já estabeleceram que foi um desastre e, com uma solução mais de relações públicas do que de consertar o que esta difícil de ser consertado, criaram uma fundação Renova e encheram de dinheiro para resolver o problema da empresa  e não da população atingida.

Não é que Renova não faz um bom trabalho, faz. Mas o objetivo tanto da Renova como dos políticos mineiros e da própria Samarco, é colocar a empresa para funcionar. Assim vai gerar emprego e impostos e tudo vai cair no esquecimento. A Justiça estadual, com alguns jovens e dedicados procuradores, tenta reparar o dano, mas como sempre anda devagar e sem perspectivas de solução. Em resumo, segundo jornal Folha de São Paulo, a empresa se salva e o cidadão prejudicado fica prejudicado.

Nessa tragédia toda ainda há aproveitadores como os prefeitos de algumas cidades atingidas, o exemplo mais gritante é onde Barra Longa (que de fato virou um barra de lama longa),  que prometeram mundos e fundos para os eleitores por conta das indenizações do desastre. E aí o dinheiro até pode  ir para as Prefeituras, mas não chega à população.

Em resumo, como Minas ainda tem muitas barragens como a de  Mariana, e ninguém está fazendo nada para que o modelo de exploração mude, a única esperança que resta é que a exploração  mineral cresça mais na Amazonia, porque assim ninguém em Minas fica preocupado com o que vai acontecer. Porque pelo andar da solução desse desastre,  só rezando para que não aconteça o próximo, visto que, dependendo do governo e das mineradoras, dos seus líderes,  do judiciário e dos políticos,  nada de bom vai acontecer.


DE PERNAMBUCO PARA MUNDO E VICE-VERSA

DE PERNAMBUCO PARA MUNDO E VICE-VERSA

Com todos os avanços tecnológicos à nossa disposição, ainda não se   descobriu como substituir uma boa posição geográfica na logística das exportações. E Pernambuco tem esta posição, tanto  do ponto de vista marítimo, como aéreo. É só olhar o mapa e ver como fica perto tanto dos Estados Unidos como da Europa, sem ignorar a África. E isto não é nenhuma novidade, já que a luta pelo domínio de Pernambuco e sua posição privilegiada data do descobrimento do Brasil e as invasões holandesas e francesas que esse estado sofreu. E a isso se soma também a tradicional base de produção e exportação de açúcar para o mundo.

Mas, nos tempos de hoje, o que vale essa posição? Muito e nada. Nada, porque para exportar precisa-se de base produtiva, precisa-se de produtos aliados a uma eficaz rede de logística e serviços. Essas duas condicionantes estão se recompondo em Pernambuco. De um lado, temos a eficácia do cluster de frutas em torno de Petrolina, por outro lado o cluster automobilístico, com a  fábrica da FCA. Mas  enquanto o primeiro prospera, o segundo tecnologicamente mais avançado do País, está orientado, graças a inúmeros benefícios (e com a dificuldade de não ter ainda uma escala de produção que amplie o anel de fornecedores de autopeças), mais para o mercado interno do que o externo. E adicionalmente, para o açúcar e etanol, sempre em dificuldades devido às politicas governamentais.

Em outro plano, mas de primordial importância, está a  consolidação do Porto de Suape, com sua zona industrial. É incrível que com tantos ministros que Pernambuco teve e tem, este projeto não se consolide e desenvolva (se me lembro bem começou há 50 anos). Deve ser interessante para alguém que demore. Mas, continua a questão primordial: um porto eficaz para exportar (ou importar) o quê?

Pernambuco talvez esteja mais adiantado não na indústria clássica, como alco-sucareira,têxtil ou até automobilística, mas na área digital e de serviços de medicina. O mundo não tem mais fronteiras, ou as diferenças de antigamente. E o valor maior, desprezado por tantos anos, é de capital humano. Hoje uma empresa de Pernambuco pode vender produtos e serviços no mundo inteiro, começando pelo imenso mercado brasileiro, usando as tecnologias digitais disponíveis. E justiça seja feita, há nessa área boas notícias do Porto Digital.
O estado precisa ter sua política de expansão internacional e de exportações, como São Paulo tem e acaba de formar um Conselho de  Relações Internacionais e Comercio Exterior. Hoje em dia não há mais espaço para empresa bem sucedida se ela não for global e usar as mais avançadas tecnologias à sua disposição. E isso quer dizer que é preciso ter também um sistema educacional compatível com as necessidades e mercados globais.


Quem ainda lembra do movimento armorial, com músicas tocadas em um Stradivarius, sabe que se pode atingir esse nível de excelência. De Pernambuco para o mundo.