Da corrupção grande e pequena
A coisa mais fácil do mundo é ficar revoltado com a corrupção nas grandes esferas da nação. Na Petrobras, na Eletrobrás, nos trens e nas merendas escolares, ou então na Volkswagen, falsificando os dados de emissão nos motores diesel nos Estados Unidos. Quanto maior o escândalo, maior a nossa revolta. Parece que quando nos revoltamos por esses casos, gritamos contra a injustiça, contra as desigualdade e os prejuízos que tivemos como cidadãos. E gritamos contra pessoas que não conhecemos, nunca vimos e queremos punição. Então, quando estão envolvidos políticos, a revolta quase alegre é o ápice de nossa satisfação de sermos contra. São todos ladrões, e mais todos os outros adjetivos, sequer publicáveis.
Bem, isso não é só comum no Brasil. No mundo inteiro, as pessoas preferem se revoltar contra quem não conhecem, que estão lá no Olimpo, e que nunca viram ou trataram com eles na vida. São os inatingíveis, que passam a ser atingidos por cada um de nós.
Há diferença entre roubo grande ou a corrupção do dia a dia que enfrentamos? Do ponto de vista ético, não. As duas são iguais na origem de desrespeito à lei, regras da sociedade e prejuízo à comunidade. Mas, somos bem mais tolerantes com esta pequena corrupção, que nos traz benefícios pessoais, empresariais e quiçá políticos.Alguns chamam isso de jeitinho, outros de ajuda na vida cotidiana, outros de que se não fizer, não vai fazer negócio.
O fato é que somos mestres de enxergar o que acontece com os outros, mas queremos perdão para nós mesmos pelos fatos idênticos, mas em menor escala. Quanta comissão é distribuída entre vendedores e compradores, com ou sem conhecimento da direção da empresa? A tolerância, por exemplo, muito comum com as empresas espanholas, é enorme. Desde que eu produza os lucros exigidos, não interessa, se o outro, legalmente ou não, ganha uns extras. Há enorme tolerância nisso, com a desculpa, se não fizer e entrar no jogo, perco o negócio. Mas, esquecemos que quando faz, não há volta, não há cura, o turbilhão de corrupção gira e gira e não volta. E quem controla seu negócio é o corruptor e não você.
Não existe entre nós firme a convicção de que, quando corrompemos, somos tão corruptos quanto os corrompidos. Queremos nos fazer de vítimas de um sistema que nos mesmo criamos e do qual temos a ilusão de nos termos beneficiado. Não percebemos que entregamos a alma do nosso negócio ao diabo, que não a devolve mais.
Interessante nisso é que tudo passa ser natural. De repente, não sabemos mais fazer negócios de uma maneira transparente, limpa. O modelo de negócio tem como base um sistema nefasto.São fiscais, são compradores, são sócios, é a família, são os vendedores, é o produto com defeito, e mais e mais.
E esperar agora que o Brasil vá ser melhor com algumas mudanças políticas, sem mudar a insignificante porém significativa corrupção do dia a dia, é uma ilusão. Cada um de nós deve ser o Moro na sua área de influência.
Stefan Salej
Consultor internacional
Ex Presidente de SEBRAE Minas e da FIEMG
Ai de tí se comentares a corrupção à tua volta.
ReplyDeleteNo mínimo vais ser processado por difamação, dependendo de quem se trata corres risco de morte!