DA PÉRSIA E IRÃ
A milenar história da Pérsia, um país de extraordinária contribuição à humanidade, continua nestes dias no Irã, após o acordo nuclear entre as potências mundiais voltando à cena mundial. Passados 16 anos sem visita de nenhum presidente iraniano, finalmente o atual Rouhani visita a França, oVaticano e a Itália. Independentemente do protestos de ativistas de direitos humanos pela Europa afora e de estatuas na Itália cobertas para não ofender os visitantes, ou do almoço presidencial na França cancelado porque os franceses não retiraram do menu o vinho, proibido para os muçulmanos, a volta foi um sucesso de negócios.
Os negócios que os italianos fecharam ficaram bem mais discretos do que os dos franceses. A venda de 114 aviões Airbus no valor aproximado de 25 bilhões de dólares, mais a abertura de fábrica da Peugeot-Citroen, com investimentos de 400 milhões de euros, além de negócios na área de ferrovias e infra estrutura, são para os franceses um real refresco na economia, que precisa de gerar empregos. Os europeus estão correndo atrás de negócios no Irã após o levantamento de sanções, como se o país tivesse sido descoberto ontem, e não um parceiro secular.
A Europa abriu as portas, créditos para o Irã, os Estados Unidos ainda não chegaram com todo o seu potencial econômico , e o preço do petróleo que sustenta a economia iraniana está só caindo. Ou seja, os negócios se fazem na base de crédito governamental com garantias dos governos para os exportadores. Isso vale também para a Siemens, que fechou um contrato de 1.6 bilhões de euros.
Mas, a parte política e a inserção do Irã, um player fundamental no Oriente Médio, ainda estão longe de serem resolvidas. O Irã vai continuar todo o esforço para ser uma potência militar na região e em nada reduziu sua animosidade contra Israel. E nem os países europeus exigiram dele que eliminasse as ameaças contra Israel. Aliás, nisso acompanharam os Estados Unidos.
Nesse contexto, como fica o Brasil, que estabeleceu relações diplomáticas com o Irã já em 1903 e mais recentemente tentou intermediar um acordo nuclear que no final foi concluído sem a presença brasileira. O nosso comércio caiu de 2.3 bilhões de dólares em 2014 para 1.67 bilhões em 2015. O Ministro Monteiro, que liderou uma missão empresarial em outubro último, com 33 empresas, disse que em 5 anos vamos aumentar as nossas exportações em 5 vezes. Nas base de que produtos, ninguém sabe. Agora tudo mundo esta lá, e nos só vamos exportar mais via multinacionais que estão presentes aqui, se elas forem competitivas. E mais: os investimentos vão para lá, e não para cá. Perdemos o bonde. O Irã tem outros interesses e outras ofertas melhores que as nossas.