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Friday, 30 October 2015

DO TANGO ARGENTINO PARTE 2

DO TANGO ARGENTINO

As eleições  presidências e a eleição de metade do parlamento no país vizinho são muito mais emblemáticas do que parecem à primeira vista. O resultado inesperado das urnas, que levou os dois principais candidatos, Scioli, governista, e Macri, (pelos nomes parece que só tem candidato de origem italiana no páreo), da oposição, ao inédito segundo turno em 22 de novembro próximo, tem muita emoção para a frente. A diferença entre os dois primeiros colocados foi de aproximadamente dois por cento. E o terceiro, também de origem italiana, Massa, teve 22 % dos votos. E agora começa a disputa dos 5 milhões de votos dele pelos dois primeiros colocados.

Além da  votação para presidente, ainda houve escolha de governadores, onde o governo ganhou em 12 das 21 províncias, e a escolha de metade da Câmara dos Deputados, onde o governo manteve maioria, mas com menos deputados do que tinha até então. E a cunhada da atual ocupante da Casa Rosada, Cristina Kirchner, foi eleita governadora da Província de Santa Cruz, onde o clã  domina a política local, e também elegeu seu filho para a Câmara.

As discussões que vêm depois do fechamento das urnas são comuns e procuram-se culpados e elogiam-se vencedores. O fato é que Scioli carrega o peso de um desgoverno kirschnerista de 12 anos, que levou a Argentina a mais crises do que no passado. Manteve-se no poder o clã Kirchner, democraticamente eleito, mas a Argentina está numa situação econômica e social insustentável. Se Scioli ganhar, terá mais dificuldade de governar, porque os peronistas, aglutinados nesse clã complicado e complexo que governa hoje, limitarão em muito sua ação saneadora da economia e da política argentinas.

As pesquisas indicam que a disputa será difícil e Macri ganhará com pequena margem. Ou, como dizem os especialistas, neste momento tem empate técnico. Até as eleições, muita água vai passar pelo Rio de la Plata e vamos ter que esperar o resultado. O famoso mercado financeiro está apostando alto em Macri, a bolsa subiu 4 % no dia seguinte à eleição, por considerar que ele tem chances de ganhar, mas Kirchner não vai entregar fácil a chave da Casa Rosada, sede do governo em Buenos Aires.
Para o Brasil, o que é efetivamente verdade é que a situação na qual se encontra nosso principal parceiro econômico na América Latina não nos beneficia. País instável, quebrado, sem crédito internacional e vendido aos pedaços aos chineses, reduzindo intercâmbio, e empatando as decisões de Mercosul, não interessa ao Brasil. Mas, agora não cabe nadas mais do que esperar e torcer para que o novo presidente mude a política para fortalecer seu próprio país, a Argentina.

Tuesday, 27 October 2015

DO MINAS EXPORTA

Do Minas exporta

Minas Gerais é responsável por 13% das exportações brasileiras e 70 % da sua pauta de exportações é representada pelo minério, produtos siderúrgicos, carnes e café. O restante são auto-peças, têxteis, alguma coisa de vestuário, alguns produtos elétricos e automóveis, que têm maior peso na área de manufaturados. Pedras preciosas e jóias não têm nenhuma exportação significativa. A cachaça mineira não é significativa em volume, mas em valor. A região metropolitana representa mais da metade das exportações mineiras. E o total de empresas que exportam  não passa de 1500, sendo que o número das que importam são quase o dobro disso. E a exportação está presente em menos de um quarto dos municípios mineiros.

Em resumo, a exportação é fundamental para o desenvolvimento mineiro.E por isso a queda do preços das matérias primas afeta profundamente a nossa economia. A dependência de exportação das matérias primas nos fez ricos em vários estágios de nossa história, mas também nos faz pobres nos ciclos posteriores dos booms das commodities. Assim, na situação que vivem hoje as empresas mineiras e com a desvalorização do real, é legítima a discussão sobre a possibilidade de a exportação ser a saída para a crise.

Efetivamente, chegamos tarde para afirmar isso. Esse retrato de dependência de matérias primas existe desde o famoso Diagnóstico da Economia Mineira da década de 60, feito pelo BDMG e por jovens economistas mineiros. E em alguns momentos da nossa história houve um ligeiro avanço na mudança desse retrato singular de exportação de minérios e de mineiros  (não vamos esquecer o enorme contigente de nossos patrícios que emigram, em especial de Governador Valadares, para os Estados Unidos), mas basicamente nada mudou. A nossa estrutura econômica esta presa a matérias primas.

Mudar esse quadro requer mais do que ação do governo, que está querendo imitar o governo federal e fazer um Plano Mineiro de Exportação. Quem exporta não é o governo, mas as empresas. E apesar de muitas ações isoladas e individuais, incluindo missões ao exterior financiadas pelas entidades empresariais e agências de fomento, além do esforço organizado e sistêmico da Fundação Dom Cabral na internacionalização das empresas, pouco se tem conseguido de significativo. Primeiro, a própria promoção do estado e a coordenação entre os atores envolvidos, incluído a agência estadual de promoção de exportações Exporta Minas, é fraca e muito mais dirigida para a atração de investimentos com incentivos do que para a promoção de produtos mineiros no exterior. E segundo,  exportar o quê e para quem.

A decisão empresarial de exportar não pode ser conjuntural, como está acontecendo agora, com a desvalorização do real, mas estratégica. E requer um trabalho de longo prazo. Também é preciso juntar os esforços em consórcios de exportação, organizar os canais e trabalhar marcas. Só fazer planos e falar de novo em Made in Minas, não será suficiente. É preciso ter produtos de qualidade  em quantidade e trabalhar a longo prazo.

Thursday, 15 October 2015

DE LOS ANGELES, CALIFÓRNIA

De  Los Angeles, Califórnia


O brasileiro de classe média alta, que em geral pensa que os Estados Unidos são igual a Miami, ou a Florida, porque lá todo mundo fala portunhol e podia comprar apartamento barato para pagar em 30 anos, apostando que o real sempre valeria mais e agora está engasgado para pagar a dívida que não devia ter assumido, não sabe muito da Costa Leste dos Estado Unidos. The Golden State of California, onde acabou o ouro há muitos anos, é uma das economias mais ricas e dinâmicas do planeta. A Califórnia é, quando separada da economia dos Estados Unidos, a nona maior economia do mundo. É o estado mais rico dos Estados Unidos, com a renda perto capita que passa dos 45 mil dólares anuais. E é pelo tamanho e população muito parecido com Minas.

O impressionante na economia da Califórnia é  a sua composição. Maior produtor agrícola dos Estados Unidos, não só produz vinhos excelentes e laranjas, mas tudo o que a agricultura e a pecuária oferecem. Noventa mil fazendas produtivas! A indústria, além de Silicon Valley, cluster de indústria eletrônica e de software mundial, é outra parte de economia. Quem não conhece marcas famosas e não usa produtos concebidos e espalhados pelo mundo desde a Califórnia? A economia criativa (nome bonito que no Brasil de criativo tem mais é suporte do governo ) é outra área que produz resultados fantásticos para o estado. Cartazes na rua indicam que um filme que custa  70 milhões de dólares gera quase mil empregos diretos e mais de três mil indiretos. E muito dinheiro em impostos. Em resumo, uma economia diversificada de classe mundial.

Parte fundamental dessa economia é o sistema educacional. UCLA, Berkeley, Stanford, CALTEC, e mais e mais, são universidades excelentes e entre as melhores do mundo. Elas não são só centros de educação mas também de pesquisa, inseridos em um sistema de estreita ligação com a economia. Os professores ganham parte substancial do seu salário pelo que produzem junto com as empresas. Aliás, o sistema é válido em todo país. E os alunos começam as aulas às seis da manhã, estudam dia e noite e pagam caro pelo estudo. E o professor também é avaliado pelo sucesso dos alunos tanto em presença nas aulas como pelo desempenho. E aí, tem muito mais brasileiros participando, inclusive como professores bem sucedidos, como o diretor da faculdade de odontologia da UCLA em Los Angeles.

Os problemas, por outro lado, em especial de água, de rigor com o meio ambiente e na área política, onde há forte influxo de dinheiro de fora do estado para influir nas eleições, existem. É um estado em permanente desenvolvimento, onde todos andam nas seis pistas de estradas modernas mas há uma pista de alta velocidade, livre para os carros com mais de dois passageiros. E 50% de todos os carros elétricos dos Estados Unidos estão na Califórnia.

Muito se pode aprender aqui e aplicar em Minas. Mas, para se aprender é preciso ter conhecimento. E pelas andanças de nossos políticos pela Europa e da classe alta mineira por Miami, o  nosso aprendizado ficará restrito ao nosso nível de poder aprender. E  Califórnia está fora desses limites. Lamentavelmente. Mas, não para todos.

PS o colunista escreveu a coluna durante visita a Los Angeles

Stefan Salej

15.10.2015.


 

Saturday, 10 October 2015

DOS ACORDOS E DO MERCADO BRASILEIRO

DOS ACORDOS E DO MERCADO BRASILEIRO

Os Estados Unidos e mais 10 países que beiram o Oceano Pacifico, aquele de outro lado do nosso Atlântico, concluíram um acordo comercial, tecnológico, de serviços e facilidades de cooperação que vai mudar o fluxo do comércio mundial. Mesmo se a China não está incluída, isso não diminui nem em importância e nem em alcance o bloco comercial que se formou. Para a gente entender mais fácil o que aconteceu, podemos dizer que foi feita a ALCA, que reunia 33 países da América Latina e Caribe, e que não prosperou, do outro lado do mundo. Aliás, se juntarmos esse bloco comercial com o bloco norte americano, que reúne Estados Unidos, Canadá e México, temos de repente dois blocos que dominam uma boa parte do comércio internacional.

Mas, enquanto nós discutimos e não chegamos a nenhum acordo com a União Europeia através do MERCOSUL, os próprios Estados Unidos estão negociando um acordo com os europeus. E  para piorar a situação, três países da América Latina fazem parte desse acordo chamado Transpacífico: Chile, Peru e México. Ou seja, lá estão três dos nossos parceiros  comerciais importantes. Em quanto esse  acordo vai reduzir nossas oportunidades de negócios ainda é uma incógnita, apesar que alguns estudos apontarem redução de 30 bilhões de dólares de exportação. Também a verdade é que ainda vai demorar até que o acordo, que precisa ser aprovado pelos parlamentos dos respectivos países, entre em vigor. E a maior dificuldade será  nos Estados Unidos.

Esse acordo nos coloca diante de algumas perguntas, como qual o papel da Organização Mundial do Comércio, que não consegue fechar nenhum acordo significativo para  promover o comércio  mundial. Virou, com o brasileiro Roberto Azevedo  na direção, um tribunal de disputas e nada  mais. Clube de conversar. A outra pergunta continua sendo: o que o Brasil vai fazer. Creio que esta tem resposta  ainda menos  clara do que a primeira.

Mas,  onde estará o mercado para as empresas brasileiras e em especial para as menores? Continua sendo nas vizinhanças difíceis, e para essas empresas menores, no descobrimento de mercados nos seus próprios Estados e no Brasil. Nas épocas de crise, as empresas precisam, na procura de novos mercados, mudar suas estratégias de produtos e de marketing. É com certa alegria que vemos a publicidade de leite Cemil no desastroso jogo contra o Chile. Ou a do pão de queijo Forno de Minas nos cinemas dos Estados Unidos. Mas, isso não é suficiente para gerar emprego. Ainda há um mercado interno a explorar e externo, a conhecer.

STEFAN SALEJ
9.10.2015.

Saturday, 3 October 2015

DO PRESTÍGIO EXTERNO E DA POLÍTICA INTERNA

DO PRESTÍGIO EXTERNO E  DA POLÍTICA INTERNA
É sem duvida uma maravilha andar pelo mundo, receber títulos de doutor
honoris causa, tapete vermelho, falar dos problemas que estão longe de cada
minuto da política nacional, fazer brindes, nem que seja com suco de
laranja, e insistir com a imprensa brasileira  para  deixá-lo em paz. Deixem
os problemas do Brasil no Brasil, aqui estamos tratando de política
internacional!
Daí a imprensa nacional levanta a bola, elogia como o mundo gosta do Brasil
e de como somos importantes  neste planeta e diz que a política externa
brasileira reforça a política interna. Em outras palavras, os índices de
popularidade presidencial vão subir porque fizemos um bom papel no exterior.
Me engane, que eu gosto. A política externa brasileira, que de fato afeta a
vida de cada cidadão, é totalmente dissociada do ritmo da política ou
politicagem interna. Ainda bem, porque, caso contrário, nos teríamos mais um
problema a enfrentar. A política externa brasileira está em mãos dos
diplomatas do Itamaraty que são funcionários do Estado e que seguem a
orientação da Presidência da República. Ninguém em bom estado de saúde
acredita que as ações de polícia externa vão salvar alguns casos notórios de
erros na política interna.
Toda moeda tem dois lados. Sem dúvida alguma, para ajudar a resolver os
problemas internos, em especial na área econômica e financeira, precisamos
entender bem o que acontece no mundo e participar ativamente. Sermos atores
e não coadjuvantes. Para começar, saber exatamente o que os movimentos
financeiros significam para a nossa economia. Seja as desvalorizações de
moedas, seja o crescimento  ou não dos nosso principais parceiros, seja o
fluxo de investimentos e em especial  o comércio internacional.
Mas, nada disso que afeta profundamente a nossa vida e o crescimento do
pais, interessa aos nossos políticos. Interessa só para dizer que os
cenários internacionais prejudicam o Brasil e são culpados pelas crises
internas. Nem na ultima eleição  os  temas de política externa foram sequer
citados e muito menos debatidos. Aos nosso deputados só interessa ter
passaporte vermelho para terem privilégios para fazer compras em Nova
Iorque.
Então a conclusão está clara: boas relações internacionais podem ajudar na
solução dos problemas internos, mas não os resolvem.