DO MANDA QUEM PODE...
A viagem do Presidente dos Estados Unidos a dois países africanos, Kenya e Etiópia, assemelha-se, segundo o colunista Andrés Oppenheimer, muito às suas viagens à América Latina. Bem, tem algumas diferenças, como o Kenya é país natal do pai do Obama e tem parentes lá. E a Etiópia, que na fase de descolonização tinha o Imperador Baile Sallasie, que inclusive na presidência do Jânio Quadros visitou Brasil, tentando convencê-lo -lo a fazer parte do bloco dos Não Alinhados, é a sede da União Africana. A visita do presidente do país mais poderoso do planeta ao continente mais pobre do mesmo planeta era exatamente para reafirmar a liderança norte-americana no mundo. E em especial reafirmar que Estados Unidos, como Obama deixou claro, não são só parceiros comerciais, não constroem obras com mão de obra estrangeira e nem exploram só os recursos naturais e deixam buracos.
Os Estados Unidos são parceiros em democracia, valores de desenvolvimento e ganha-ganha. Diferentes são os chineses, que tomaram conta da África, enquanto os Estados Unidos esqueceram, junto com a Europa, o continente negro. Agora, com taxas boas de crescimento e oportunidades que aparecem para as empresas norte-americanas, Obama foi acompanhado por um grupo expressivo de empresários, que não querem nem perder essas oportunidades e nem deixar para os outros. Em Adis Abeba, capital da Etiópia, que junto com o Kenya tem os melhores fundistas do mundo, a delegação norte-americana visitou também as instalações da companhia aérea etíope, que já possui um Dreamliner 787 da Boeing. É aquele avião que leva até 335 passageiros, enorme, e que nenhuma companhia aérea brasileira tem.
Mas foi o discurso na União Africana que ficou mais visível para o mundo e pode ser bem usado para os políticos no nosso continente. Não a corrupção, não a permanência eterna no poder (o amigo fraterno do Brasil e da Odebrecht, o presidente de Angola, está lá há mais de 33 anos), e não o desrespeito aos diretos humanos. Isso se aplica a quase todos na África.
E se aplica a dirigentes na América do Sul. Os Estados Unidos, mesmo considerando a recente visita da Presidente brasileira a Washington e as mudanças na equipe diplomática no Brasil, reforçada com gente de primeira linha, não deixarão de exercer o papel de liderança democrática do mundo. Não vão alimentar nenhuma ruptura democrática, seja no Brasil, seja em outros países. Mas, como vão conviver com as ditaduras que fazem bons negócios com eles, e na África está cheio delas, é uma pergunta sem resposta. A experiência da Primavera árabe que diga quão difícil é essa transição.
Stefan Salej
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