E a conta vai para....
Ser contra movimentos
populares e manifestações pacificas neste momento é ser quase politicamente incorreto. Mas, essas manifestações, cujas soluções políticas estão desenhadas pelos próceres da república na capital federal, têm no fundo um sussurro silencioso de espanto ignorado. São os nossos milhões de empresários, independentemente de sua grandeza e do seu tamanho. Para
começar, os quebra-quebras estão trazendo prejuízos visíveis a serem cobertos, na
maioria das vezes, pelos pequenos empresários. E essa maioria, que
hoje tem até ministério próprio, o qual nada disso viu
ou deu alguma solução, é um lumpenempresariat
que representa uma boa parte de chamada capacidade empresarial brasileira. E
pensar que eles acham graça é desprezar que a democracia de rua também tem outro lado.
Adicionalmente, uma boa
parte de classe media é composta de empresários e seus funcionários. Na ruas estavam
filhos, colaboradores, capital humano das empresas. Ao mesmo tempo, não há nem entidade de classe no
Brasil (veja o caso da CNT, com SENSUS e
CNI, com IBOPE) e nem grande empresa ou banco, que não usasse pesquisa de opinião pública e consultores políticos de primeira linha.
Eles falharam em detectar o que está acontecendo no Brasil,
assim como os políticos, o governo e os seus
tentáculos de inteligência. E o Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social e a Assessoria avançada do Jorge Gerdau no Palácio do Planalto também. Falhou a percepção do momento político ao empresariado brasileiro.
E agora José? O silêncio empresarial, começando pelas concessionárias de transporte público, que aparentemente foram o pivô da revolta, não será suficiente para o Brasil
sair da crise. O já mencionado setor de
transporte terá que rever sua parceira
quase centenária com o poder público e seu envolvimento com a política. Se quiser sair da
crise, terá que aumentar a transparência das contas, a eficiência do sistema e reduzir
seu envolvimento com a política. Segue que o temor de
medidas populistas, a mais ridícula delas é o passe livre, tem que ser rejeitado publicamente pelos empresários com o esclarecimento de que não existe conta sem ser paga. As lideranças empresariais, que frequentemente navegam mais pelas águas políticas, com candidaturas às vezes até bem sucedidas, do que pelo
desenvolvimento competitivo das empresas, têm que dizer claramente o
que é e o que não é aceitável e viável para a economia empresarial. Essa clareza, comunicada de forma
adequada, é sem dúvida alguma uma contribuição fundamental para a manutenção de uma democracia saudável no país.
O debate sobre o novo modelo político para o Brasil não pode prescindir do setor
empresarial. Não há como avançar se nesta hora só têm voz no Planalto os que
gritam, ignorando os que ajudam pagar a conta. Nenhuma reforma política será sustentável se não contemplar mudanças na área econômica. Em resumo, a reforma política, sem reforma tributária, não se sustenta a médio prazo.
As entidades empresarias,
das quais uma parcela ponderável recebe aproximadamente
50 bilhões de reais por ano de
contribuições obrigatórias, e que participam de inúmeros órgãos do governo, além de terem uma bancada no Congresso nada desprezível, devem oferecer propostas e criar diálogo. Para começar, iniciar o diálogo com os trabalhadores, antes que a manifestação da rua atinja ainda mais duramente as empresas do que já atingiu. Os prejuízos financeiros das
manifestações são a parte visível do problema. O invisível esta para vir.