DO PRIMEIRO DE MAIO, DIA DO TRABALHADOR
A esculhambação que o país vive, às vésperas das eleições gerais de outubro, é de tal tamanho que o feriado de 1° de maio, dia de trabalho, ou de São José Marceneiro, virou mais um feriado sem significado algum. Os sindicatos dos trabalhadores, ricos em recursos que lhes foram destinados durante o governo Lula e pobres porque os recursos foram tirados pelo governo Temer (o que aliás vale também para os sindicatos empresariais), vão fazer grandes shows, quem sabe churrascos e bebedeiras, mas não passa disso. A nossa estrutura sindical, fundada pelo governo Vargas na base da legislação fascista italiana, foi se deteriorando a olhos nus e hoje não serve nem para fazer uma grande manifestação nacional pela dignidade do trabalho e pelos problemas que o trabalhador ou a trabalhadora enfrentam.
Primeiro de maio não é essencialmente um dia de protesto, como nasceu na história do movimento trabalhista, mas de reflexão de como está a situação do trabalho. O protesto é uma forma de expressar essa situação. A outra é reflexão dos atores envolvidos, governo, empresários e trabalhadores, como parceiros num pacto social imaginário, sobre a situação do trabalho no Brasil. Analisando as estatísticas e comparando com outros países mais desenvolvidos socialmente e economicamente, um desastre.
Além de um número absurdo de desempregados (14 milhões) e sub-empregados (outros 15 milhões), sem perspectiva de emprego, temos ainda ilhas de trabalho escravo, milhões de ações na justiça do trabalho, uma legislação trabalhista que não consegue ser modernizada, de incentivar conflito e injustiças, e um sistema educacional que, mesmo com alguns exemplos como o SENAI e o SENAC de São Paulo, tem educado mais para o desemprego do que para o emprego.
A questão que se coloca não é o que está acontecendo hoje, mas o que vai acontecer amanhã. Qual a perspectiva, numa competição tecnológica acelerada, de que haverá trabalho, e de que tipo e empregabilidade, no futuro. E se continuarmos com o modelo em que os salários são baixos e os encargos altos, com benefícios sociais regidos pelo estado ineficaz, temos uma mistura pouco competitiva da nossa força de trabalho. Ou seja, podemos ficar bem preocupados. O emprego de hoje, como foi também no passado, não se aproxima nem um pouco do emprego de amanhã.
Não no final vale a pena perguntar se a organização política dos trabalhadores e seus sindicatos, ou seja entre outros, o Partido dos Trabalhadores, fez seu papel de avançar nos direitos dos trabalhadores (há vários partidos políticos no Brasil que usam o termo “trabalhista” no seu nome) ou se apenas se utilizou a massa trabalhadora para fins políticos pessoais ou de grupos ideológicos ou fisiológicos.
Se quisermos que o país avance, o diálogo sobre a evolução do trabalho e o papel dos trabalhadores, com o 1° de maio caído no ostracismo ou não, vai ter que existir. Sem diálogo, capital e trabalho não há avanços nem na área social e nem na econômica.