DO OIAPOQUE AO CHUÍ
No tempo do regime militar, havia repressão às pessoas e ideias, mas também havia (claro que não em compensação) algumas piadas sobre seus dirigentes, algo que hoje nem há mais. E uma delas era que o avião presidencial subia, subia, e o comandante informava a posição do avião: altitude, mil metros, posição geográfica, graus etc. Quanto atingiu atitude de cruzeiro do avião, algo como oito mil metros de altitude, a autoridade da república disse solenemente: "eu sabia que este país era grande, mas não sabia que era tão alto".
E grande, quer dizer que se estende do Oiapoque, no extremo norte, ao Chuí no extremo sul. Não custa repetir que somos um país de 8.5 milhões de quilômetros quadrados, e 200 milhões de habitantes, falando com sotaques diferentes, uma língua só. E por exemplo na África do Sul falam 22 línguas diferentes, e mesmo sendo o inglês uma delas, não é a única língua oficial. Sem falar na Índia ou na China, outros parceiros nossos, no quase falecido BRICS. Também vale a pena repetir pela milésima vez que Minas Gerais tem um território igual à França, mas com metade da população. Somos um país grande, pouco populoso e com todas as mazelas de oitava economia do mundo.
Nesse retrato há uma necessidade de vender certos produtos no exterior. Café, é um exemplo clássico. Carnes, soja, milho, e mais produtos industriais. Hoje se produz para o mercado global e a nossa visão de negócios tem que ser global, porque somos afetados profundamente por essa tal de globalização.
Ultimamente, e nisso se incluem programas do governo do estado com a FIEMG, há um amor exagerado pela internacionalização da economia mineira. Vamos internacionalizar tudo e todos. Mas, qual é a realidade das pequenas e médias empresas para o tal passo a ser dado? O fato é que a absoluta maioria das empresas mineiras não vende no mercado mineiro. Quantas empresas da Zona da Mata vendem no norte de Minas? E daí, quantas vendem em São Paulo, um mercado sofisticado e de difícil conquista? E quantas vendem, por exemplo no Piauí, ou no Rio Grande do Sul?
Primeiro o mercado nosso é regional, depois nacional e em seguida internacional. Promover internacionalização das empresas cujo inglês não passa de mororless, sem qualidade e sem testes no mercado nacional, é jogar dinheiro fora, enganar o empresário e nutrir uma esperança que não se realiza. É bonito viajar para o exterior às custas de terceiros, mas, sem uma base competitiva, não é eficaz. Internacionalização é um estágio, aliás o pessoal da Dom Cabral é o maior especialista no Brasil no assunto, mas um estágio a mais, e não um pulo de cabrito doido gastando dinheiro público.