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Sunday, 19 February 2023

DO BRASIL DO CARNAVAL E DO CARNAVAL DO BRASIL


DO BRASIL DO CARNAVAL E DO CARNAVAL DO BRASIL


Estes três dias de folia confundem o mundo inteiro. Uns veem no carnaval brasileiro um povo divertido, alegre e que extravasa na folia, no ritmo, na dança e na beleza todo o seu ser brasileiro. O Carnaval no Brasil é única atividade, pode chamar de festa popular, que une o país inteiro. Nenhuma data no calendário, nem Natal com Papai Noel, põe abaixo do mesmo chapéu todas as raças, religiões, gêneros, classe sociais e tudo o mais. Carnaval iguala. Mas, iguala por cima, iguala no feliz viver e viver feliz.


Não existe país neste mundo que tenha uma festa assim. Os carnavais pelo mundo afora não só não tem a ginga do carnaval brasileiro, mas são reduzidos a cidades, bailes fechados e sectários no sentido de reunir só uma ínfima parte da população. Há tempos atrás, os milionários brancos de Cidade do Cabo, África do Sul, inventaram o carnaval de lá. Beleza de desfile, alegria geral, mas algo totalmente artificial, inclusive matando a festa popular do Mistral e sem ter nada a ver com as raízes  culturais do país.


A alegria contagiante brasileira tem outra característica ímpar no assunto carnaval: ela é universal, mas muito regional. O carnaval do Recife é diferente na forma, mas não no conteúdo dos carnavais de outros lugares, inclusive famosos, como o do Rio de Janeiro. Em todos eles não permeia o só o ritmo, mas o conteúdo, às vezes ofuscado pela beleza dos ritmistas, do batuque e do brilho que os carnavalescos apresentam. 


Esse conteúdo se mistura com figuras, música de hoje e  de ontem. Em sua contemporaneidade, os carnavais, sejam escolas de samba, sejam blocos, nunca fogem de serem o espelho da sociedade atual ou passada, mesmo nos bailes dos chiques e ricos. O Carnaval  permite que as pessoas se expressam individualmente e coletivamente. O indivíduo sai da casca de um dia para se tornar um ator em um momento de um mundo que existe, mas não deixa de ser imaginário. Um exemplo disso é como o gênero, hoje em ampla discussão e com novos valores, foi tratado através dos carnavais. Ou como os políticos e suas figuras aproveitadoras da alma popular são apresentados.


Músicas de carnaval são o melhor da poesia mundial. Elas expressam amor e vida de um povo, e de cada um. Um momento vivido eternamente nos três dias de folia, que se perde na história. Me diga com sinceridade, o carnaval de Colônia, Alemanha, tem essa alma de poesia?


As escolas de samba e frevo têm uma magia visual insuperável. Tem enredo, tem ritmo, tem dança e nos dizem sempre algo para enriquecer a nossa alma, nosso ser, ou como dizem hoje em dia, o nosso essencial humano. Você sai de um desfile desses enriquecido, humilde diante da capacidade dos seus participantes de mostrar e exibir o melhor que a pessoa, ou seja, o brasileiro ou brasileira têm.


Há dois outros aspectos quando olhamos para carnaval brasileiro. Um, sobejamente conhecido, que é o econômico. O Carnaval movimenta muito dinheiro, lavado ou não, bilhões de reais e milhões de empregos. Um negócio que saiu da contravenção para a legalidade, quem não lembra dos bicheiros que dominavam carnaval no Rio, e hoje é um dos maiores negócios que se tem no país. Dá e cria emprego, permite que os menos privilegiados se igualem socialmente e que os ricos participem. É um sucesso social para uma loira rica exibir-se no Sambódromo, seja do Rio ou de São Paulo. Ali só tem samba, a diferença é quem ginga melhor.


Mas, a mais fascinante face do carnaval brasileiro, para quem é estudioso de teorias e práticas gerenciais, é a súmula de tudo o  que existe de melhor em gestão no mundo, que é a folia brasileira. 


Ela reúne criatividade ímpar, design, organização ( você já viu desfile do bloco ou da escola da samba atrasar?), conteúdo, engenharia com todos os recursos mais avançados em tecnologia e, antes e acima de tudo, liderança impecável, verdadeira e autêntica. Veja um desfile de escola  samba, além do branding perfeito, milhares de pessoas numa associação impecável de ritmo humano com máquinas, e uma mensagem que atinge o público além dos dias de desfile. E a cada ano há mais inovação, nada se repete, sempre se inova.


Vivendo 40 anos de chão de fábrica, só se pode ficar não com inveja dos carnavalescos, de qualquer parte do país, mas com profunda admiração. O Carnaval mostra uma capacidade ímpar do povo brasileiro em inovar, liderar, organizar, gerenciar  e obter resultados, tanto no campo econômico como social, com alegria de viver. É uma festa maior do que a festa em si, é uma alegoria eterna ao viver bem brasileiro, superando o difícil dia a dia, para dizer que sim senhor, somos alegres, cantamos e dançamos, mas somos capazes. E aí vai a pergunta, qual outro povo tem esse conjunto de capacidades reunidas na sua cultura ?


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Sunday, 12 February 2023

DO CAOS JURÍDICO E DA CALMA EMPRESARIAL

DO CAOS JURÍDICO E DA CALMA EMPRESARIAL


Como o STF não modulou a sua decisão - 6 ministros votaram contra a modulação e 5 a favor -, esse contribuinte poderá ser cobrado pela CSLL não paga (desconsiderando o prazo de decadência para a constituição do crédito tributário e considerando que todos os períodos já estão lançados) desde 1º/12/2007, ou seja, 90 dias após a publicação da ata de julgamento da ADI nº 15, quando o STF considerou em controle concentrado que a CSLL era constitucional e, portanto, deveria ser paga por todas as pessoas jurídicas que praticassem seu fato gerador. O caso concreto julgado tratou da CSLL e a utilizaremos de forma exemplificativa por aqui, mas o efeitos da decisão se irradiam para todos os demais tributos declarados constitucionais ou inconstitucionais pelo STF que contrariam decisões individuais e concretas dos contribuintes.

Esse texto faz parte de um longo artigo do advogado Luiz Gustavo Bichara do escritório de advocacia que tem o seu nome na placa.


Diziam no interior de Minas que não se briga com quem usa saia: mulher, padre e juíz. Aliás, nenhuma briga é boa, mas se você entender o texto acima, como empresário - a absoluta maioria dos empresários brasileiros são de pequenas empresas - então você merece ser empresário na Suíça. Mas, entendendo ou não, o fato é que uma boa parcela de empresas terá que pagar, após essa decisão, muito imposto. E tudo isso porque o mesmo STF decidiu no passado que não precisa pagar esse imposto.


Se a isso juntar a decisão de governo que no CARF, Conselho administrativo de recursos fiscais, o voto de Minerva só pode ser do fisco, ou seja as empresas na maioria das vezes perdem, podemos perguntar, qual é a próxima medida ou jurídica ou administrativa que vai bater nas empresas. Entramos numa escuridão jurídica, no túnel das incertezas, que não assusta, mas apavora.


O sistema tributário brasileiro faz de qualquer empresário e dirigente de empresa potencial criminoso. Se a isso se adicionar a legislação trabalhista e  outras, há um compêndio de impossibilidades de cumprir a lei que desafia qualquer ser humano. Os  governos tomam como infrator em potencial  o empresario, mas não se pergunta por que. Não é que não há infratores ou sonegadores, estamos vivendo agora o caso da Lojas Americanas, mas se o governo quer crescimento econômico e social, terá que, junto com o judiciário, colocar certos limites para que as empresas naveguem com tranquilidade nessa área, já que, quanto aos outros componentes que compõe a gestão, como produto, mercado, tecnologia etc. a imprevisibilidade é total.


No Brasil a gestão jurídico-fiscal na empresa consome mais esforços, energia e recursos financeiros do que qualquer outro setor. O diretor jurídico ou advogado tem mais poder na empresa do que qualquer outro diretor. E aí, em especial após essa decisão do STF, com a reforma tributária temos que evitar o caos tributário e jurídico. Com a promessa de que no próximo semestre já vamos ter a reforma pronta, parece que estamos nos apressando para ter a reforma, mas a sua consolidação jurídica e fiscal pode demorar. Sob ilusão de simplificação do sistema,  não é aceitável  aceitar que ela crie buracos negros fiscais que provocarão disputas jurídicas e dúvidas eternas resolvidas nos tribunais. 


Essa parte de reforma talvez seja mais difícil e requeira por parte do empresariado um preparo técnico para as discussões que às vezes falta, não por causa de conhecimento, mas por excesso de foco nos interesses individuais.

E, para ilustrar o que ainda nos espera, devemos lembrar que um recém escolhido ministro de TCU pela Câmara dos deputados, com apoio do governo, ficará lá com saúde, alegria e nossa tristeza por 36 anos. Também no STF tem dois ministros recém nomeados que ficam mais 40 anos. E nas prisões brasileiras tem aproximadamente 1 milhão de presos, dos quais, pelo que diz a imprensa, metade está sem julgamento. Ou seja, ignorar o ordenamento jurídico para que não só a democracia funcione, mas que funcione também a economia, e o país seja minimamente justo, será um dos itens mais necessários  do debate nacional. Talvez até lá valha a pena ler o livro do acadêmico José Murilo de Carvalho : A cidadania no Brasil.


DO CAOS 

Sunday, 5 February 2023

A SIMPLICIDADE E COMPLEXIDADE DO BRASIL NO MUNDO

 A SIMPLICIDADE E COMPLEXIDADE DO BRASIL NO MUNDO


Há uma euforia enorme nos vários setores políticos e econômicos no Brasil, afirmando que o Brasil voltou. A interpretação dessa frase é que o mundo está alegre e feliz com o  novo governo que dialoga e apresenta valores que a maioria dos países aceita. O fato é que a agenda externa está cheia: veio o Chanceler alemão, Lula foi à Argentina e ao Uruguai, veio a Ministra de Negócios Estrangeiros da França (o antecessor dela não foi recebido pelo Bolsonaro, que mandou foto cortando o cabelo no horário que havia marcou o encontro com ele), Lula vai aos Estados Unidos e depois à Índia e China e mais e mais. A Noruega e  a Alemanha voltaram a investir no Fundo Amazônia e a imprensa mundial toma nota das ações do novo governo com uma atenção pouco vista nos últimos anos.


AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DE UM PAÍS SÃO DE UMA COMPLEXIDADE INCRÍVEL E DE DIFÍCIL COMPREENSÃO PELO ELEITORADO. MAS ELAS SE RESUMEM A UMA SIMPLICIDADE COMPREENDIDA POR TODOS: A DEFESA DO INTERESSE NACIONAL. OU SEJA, QUALQUER POLÍTICA EXTERNA QUE GOVERNO LULA TIVER TERÁ QUE SE BASEAR NOS INTERESSES NACIONAIS.


E aí entra a questão crucial que é a definição dos interesses nacionais. Um belo exemplo disso é a compreensão distinta entre o governo e o público em geral sobre o  anúncio de um empréstimo para a construção de um gasoduto na Argentina, durante a visita do Presidente Lula a Buenos Aires. Enquanto o governo entende que é do interesse brasileiro financiar e com isso criar emprego no Brasil e ter acesso a mais gás, a opinião pública se espanta e pergunta por que financiar lá, se há tanta necessidade de investir no Brasil.


Ou seja, a política externa tem que estar alinhada com a política interna. A do governo Lula nessa área é extensa e clara, atendendo ao que consideram que são os nossos interesses. E o principal interesse do Brasil é o aumento de suas exportações e de investimentos. A ação política e diplomática é a base dessa premissa, claro que incluindo aí outros itens de igual importância.


É uma maravilha para qualquer presidente visitar outro país, ser recebido com tapete vermelho e com guarda presidencial perfilada. Mas, a realidade, depois que sai do tapete vermelho é outra, é a mostra dos interesses recíprocos e antagônicos. 


Na sua visita a Washington, devemos ter em mente como funcionam os Estados Unidos. Por exemplo, lembrar que temos mais de meio milhão de brasileiros lá e que quando são pegos na passagem ilegal da fronteira, são devolvidos ao Brasil acorrentados no voo, sejam crianças, adultos ou mulheres. Tudo dentro do melhor respeito aos direitos humanos. Também vale a pena lembrar do escândalo de espionagem da própria Presidente Dilma pelos serviços de inteligência norte-americanos na véspera da visita de estado (mais alto grau de visita presidencial). E o presidente lá era nada mais e nada menos do que Obama, democrata e querido por todos.


Talvez mais ilustrativa dessa relação foi a resposta que deu Robert Zoellick, alto funcionário do governo norte-americano americano e posteriormente presidente do Banco Mundial, quando reunido no Restaurante Maxim em São Paulo com cinco empresários e um banqueiro, na véspera de eleições presidenciais em 2002  ( Lula X José Serra): Gosto e respeito o José Serra. O trabalho que fez com remédios contra a AIDS e pelos genéricos em Doha (reunião de OMC naquele ano) foi extraordinário.Mas, Lula vai precisar mais dos Estados Unidos para governar do que o Serra.


No capítulo da vista aos Estados Unidos, está a postura do governo dos Estados Unidos com relação à permanência de ex-Presidente brasileiro lá. Ele está no território republicano da Flórida e com status não muito claro. O que convém hoje ao governo Lula, só Lula sabe. E se convém que o Bolsonaro fique por lá, Biden tem que estar de acordo.





Essa tônica de que o governo Lula precisa de apoio do exterior para se firmar na sua governabilidade é dúbia. Aliás, Lula foi claro na entrevista com o Chanceler alemão, dizendo que o Brasil está sim interessado em ser membro da OCDE, mas não como espectador, senão como ativo participante das decisões mais importantes. Neste item deve ser mencionada também a Amazônia. O mundo se preocupa com o meio-ambiente sim, com o pulmão do mundo, mas dentro de interesses deles (é só lembrar a expedição do ex-Presidente  norte-americano Ted Roosevelt na década de 1920 à Amazônia). 


Isso vale também para o acordo Mercosul-União Europeia. Sem dúvida alguma, esse acordo, por melhor que seja negociado pelos países do Mercosul, é fundamental para os europeus expandirem suas fronteiras econômicas e consolidarem suas posições. Portanto, como disse Presidente o argentino, no acordo, do jeito que está, estamos começando o jogo perdendo quatro a zero. Aliás, achar um equilíbrio de interesses nesse acordo e concluí-lo será a tarefa mais árdua da diplomacia brasileira neste ano, quando a melhor chance para fazer isso será durante a presidência espanhola do Conselho da EU e a do Brasil, no do Mercosul.


Nessa extensão de interesses brasileiros vale a pena prestar atenção no mapa abaixo. China, China, China. E aí está nosso principal parceiro de comércio exterior e de  investimentos. Não só nosso, mas de toda a América Latina. A visita presidencial a Beijing vai determinar o nosso futuro e principalmente se a proposta de uma acordo entre Mercosul e China for adiante. E se a isso se  adicionar a nossa participação nos BRICS, temos uma reviravolta histórica. E como os Estados Unidos tem uma relação concorrencial com China, podem estar efetivamente preocupados com a mínima chance de essa ideia  se realizar.


Nesse tabuleiro faltam muitas peças, como nossas relações com os países da América Latina, a reativação do Celac e da Unasul, com a África e com o Leste Asiático como um todo. E, na transversalidade, a nossa posição em relação ao  conflito armado entre Rússia e Ucrânia, Oriente Médio, direitos humanos entre outros.


Mesmo que no Brasil o único lobby organizado para influenciar a política externa seja de empresários, sendo a participação de outros atores, como partidos políticos e sociedade civil, pífia, há neste momento dois elementos fundamentais para termos a tranquilidade de  que a política externa vai estar alinhada aos interesses do Brasil: a alta qualidade de diplomacia brasileira, ou seja, o Itamaraty, e um Presidente que sabe onde fica o mundo e o Brasil neste mundo. Mas nunca é demais lembrar que se os eventos na área externa não forem bem entendidos pelo eleitorado, por melhores que sejam os resultados que apresentem, tornam se prejudiciais ao  invés de se adicionar às vitórias.





 








 

Monday, 30 January 2023

DA VACA MUERTA AO SAMBA, Relações argentino -brasileiras

DA VACA MUERTA AO SAMBA 

Relações argentino-brasileiras


A crença popular dos brasileiros sobre os argentinos teve uma erupção vulcânica na semana da visita do Presidente Lula ao país vizinho. Que os brasileiros não amam os argentinos, e vice-versa, é um fato do folclore político mais do que conhecido. E aí as notícias que circularam nas redes sociais, desde Lula roubar a Taça  Jules Rimet até que o Brasil vai conceder financiamento à Argentina que será pago com alfajores, são mais um produto do ódio político interno do que real ojeriza dos brasileiros ao povo vizinho. A bem da verdade, não faltaram notícias sobre a visita que levantam as sobrancelhas .E a principal é sobre a moeda comum.


As visitas presidenciais são políticas e geram fatos políticos. Então a sua interpretação deve ser serena e em função dos resultados que possam gerar após a visita. A  primeira constatação nesta análise deve ser que os dois países são vizinhos e vão continuar vizinhos. A segunda constatação é que nos últimos seis anos praticamente rompemos um fluxo de relações políticas e econômicas com Argentina. E o terceiro fato é que os dois presidentes, Lula e Fernandes, são amigos pessoais. Não  se pode esquecer que Fernandes visitou Lula na prisão em Curitiba, e que foi o primeiro mandatário estrangeiro a vir visitar Lula após declarado o resultado das eleições.


Apesar de que Brasil nos últimos dois governos perdeu espaço no comércio entre os dois países, vale a pena salientar que mesmo assim tivemos um superávit comercial no ano passado superior a 2 bilhões de dólares num intercâmbio superior a 28 bilhões de dólares. Provavelmente o balanço de pagamentos também seja favorável ao Brasil, devido ao grande fluxo de turistas e serviços.


Um presidente e seu governo têm que entender que o país só exporta se tiver um mínimo de competitvidade da indústria para exportar. E o mercado argentino, sempre em crise e volátil, é um mercado em que a indústria brasileira, já que no agro somos concorrentes e grandes importadores de trigo, é competitiva. E é dever do governo brasileiro achar meios para proteger nossos exportadores e aumentar os negócios.


Portanto a missão de Lula foi indicar essas soluções. O Brasil perdeu muitos negócios  por falta de mecanismo de crédito nas suas exportações de manufaturados, que geram mais empregos no país. E é absolutamente inverosímil que as exportações de engenharia para Cuba e Venezuela representam default e que devem servir de referência para o futuro de nossas exportações.


O debate que se abriu durante a visita sobre a moeda única foi mal comunicado e é um fato político da visita sem uma sustentação econômica, aliás muito bem descrito pela consultoria argentina www.abeceb.com



Outro assunto é o crédito do BNDES para o projeto Vaca Muerta, que já teve a participação da Vale, que perdeu muito dinheiro e o abandonou. Esse projeto, com suas reservas de petróleo e gás, o qual recentemente todos os embaixadores dos países da União Europeia acreditados em Buenos Aires, eleva a Argentina a ser quarto maior produtor de petróleo do mundo, e o segundo de gás. Ou seja, o projeto muito bem explicado pela consultoria McKinsey no seu site Insights, pode colocar a Argentina em um outro patamar econômico, criando mais de 240 mil empregos, mas sobre tudo numa outra posição geopolítica. E Brasil ignorar isso, é ignorar o nosso futuro.


Claro que sempre tem algum jabuti nas histórias. O de crédito para o gasoduto no valor de 689 milhões de dólares, diga-se de passagem aproximadamente 1.5 % do rombo da Americanas, seria fornecido provavelmente a uma empresa brasileira maior fabricante de tubos que pertence a uma empresa argentina. Com esse crédito, a empresa “brasileira” torna-se competitiva e pode derrotar os chineses. Vale também a pena indicar que esse financiamento é para o gasoduto que ainda não traz gás para o Brasil.


Salvo falha de memória, foi essa mesma empresa que tirou, segundo recente depoimento do empresário Benjamin Steinbruch ao Brazil Journal, a possibilidade de a CSN assumir o controle acionário da Usiminas. Foi uma decisão da então Presidente Dilma Rousseff, de ceder controle da Usiminas aos argentinos em troca de uma  presença maior da Petrobras naquele país. Para alguns especialistas no assunto, essa troca se enquadra bem no dicionário de nomes de nossas tradicionais cervejas.


Não existe nenhuma dúvida, entre os empresários, economistas e investidores, que o Brasil recebeu, mesmo com um desastroso governo, um total de investimentos externos no ano de 2021 de 46 bilhões de dólares e a Argentina, 5.7 bilhões. A dívida externa do Brasil cresceu em 10 anos de 352 bilhões para 606 bilhões e a da Argentina, de 126 para 246. Só que o Brasil tem reservas para pagar, Argentina, não. Enquanto a inflação beira 100% ao ano no país portenho, aqui está em torno de 15%. (Dados publicados pelo Banco Mundial)


Seja como analisarmos essa relação, desde que não o façamos pelos termos futebolísticos, os dois países são sócios em um projeto chamado MERCOSUL, que devem reativar inclusive com o acordo com a União Europeia. Se os  políticos tiverem um pouco de bom senso, como tiveram com a fundação de MERCOSUL, os dois países podem ser mais competitivos e com melhores índices sociais, ao aumentarem a cooperação e não ao contrário.As relações Mais tensas se deram no período de regimes militares nos dois países quando só floresceu a cooperação em tortura, Operação Condor e no governo Bolsonaro, como copycat da época do regime militar.


Se tivermos um mínimo do juízo, vamos  reconhecer que temos inúmeros campos em que podemos obter resultados significativos para os dois países. Os argentinos, por exemplo, estão muito mais avançados em tecnologias nucleares que Brasil.Há uma cooperação, mas tímida. O espaço antártico e a área de ciências exatas são outros exemplos. Na área de IT, e em especial e-commerce é só lembrar de o Mercado Livre. Há  investimentos industriais importantes bilaterais e, fora da indústria automobilística, há um espaço enorme de cooperação das cadeias de produção. Mas, temos que achar um meio de quebrar essa pretensa e idiota percepção cultural que temos uns dos outros, como se relação política e econômica fosse um jogo de futebol.De fato, os anos de política visceral que Brasil exerceu contribuiu muito para piorar essa versão cultural que predomina no nosso relacionamento.





No final do ano haverá eleição presidencial na Argentina.  Então,  a nossa amizade com o governo argentino não pode ser pessoal, mas de estado para estado, onde os dois interesses sejam convergentes, respeitando seus interesses nacionais.


No fundo, não se pode dançar tango ou samba no mesmo ritmo, mas pode-se dançar um ou outro num show de respeito e beleza.






 





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Thursday, 26 January 2023

FIESP
NOTA CONJUNTA
São Paulo, 26 de Janeiro de 2023
Nas últimas semanas a FIESP passou por momentos de discusses, internas e
públicas, que representaram um dos grandes desafios na história de mais de 90
anos de nossa entidade. Diante disto, estivemos juntos refletindo sobre nossa
Federação, a situação da Indústria e sua inserção no quadro de intensas
transformações não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
Concluímos que cabe a nós dar o exemplo de superação de divergências.
Assim, decidimos usar toda a nossa energia, capacidade de liderança e de
articulação para fortalecer a nossa entidade e impulsionar, a partir dela, o
processo de reindustrialização do nosso País, fundamental para o avanço
socioeconômico e a realização das mais nobres aspirações de nossa população.
Isso passa por uma gestão mais ampla e abrangente da FIESP. Acreditamos que
a participação de todos os sindicatos filiados, por meio de suas lideranças, seja
fundamental para o born funcionamento da entidade. Também é fundamental
que o reconhecimento àqueles stores formados por empress pequenas e
medias, fundamentais empregadoras, seja contínuo e representativo.
Trabalharemos juntos visando a contínua melhoria do funcionamento da nossa
entidade e buscando atingir nosso propósito de impulsionar o desenvolvimento
sustentàvel da nossa Indústria e do nosso País.
Conclamamos a todos que abandonem eventuais diferenças e se unam a nós
nesta jornada, com a certeza de que estamos fazendo o melhor pela FIESP
pelo Brasil.
Josué Gomes  da Silva
Paulo Skaf,

Sunday, 22 January 2023

DOS CAMINHOS E DESCAMINHOS DA INDUSTRIA BRASILEIRA, O CASO DA FIESP.

   Dos caminhos e descaminhos da indústria brasileira


A maior preocupação da indústria hoje é como vai desenvolver o mercado. Meu negócios vão crescer se o mercado crescer. E nesse item as diretrizes governamentais têm seu peso. E a isso se juntam os juros e a inflação.O empresário precisa de rumo e estabilidade. Mesmo querendo a reforma tributária, não pode ficar pendurado na corda bamba esperando que reforma saia ou não saia. O mesmo vale pra as relações trabalhistas.


Então está claro que incerteza mata negócio. Retrai investimentos e todos saem prejudicados. Uma das forma para diminuir as incertezas é permitir a participação nas entidades empresariais. Nelas, você, com força maior, defende as causas, em especial junto ao governo, que você sozinho, grande ou pequeno, não consegue colocar em evidência.


Se a entidade empresarial não cumpre esse papel, inclusive nas negociações salariais, a pergunta é para que ela me serve. Não é que eu neste caso vá conseguir resolver sozinho, mas também a entidade fica fora do meu espaço de preocupações. 


As entidades empresariais no Brasil, que são baseadas nos sindicatos e administram o sistema S, são poderosas porque tem recursos oriundos de desconto na folha de pagamento de salários. Ou seja, falando francamente, assalariado recebe menos no seu salário para financiar sistema o S, Senac, Sesc, Sesi, Sebrae, Senai, Ápex, Embratur e mais alguns. As entidades empresariais que administram por exemplo o Senac, recebem 10 % dos recursos arrecadados. E ninguém pública o balanço dos recursos recebidos, nem confere os resultados, o TCU, que fiscaliza, faz vista grossa e ninguém diz com clareza quantos desses recursos são arrecadados no Brasil. A última estimativa, mas que não foi confirmada, é de 80 bilhões de reais ao ano.


Claro que há entidades que administram esses recursos com eficiência. Muita coisa foi bem feita nestes 70 anos dos sistema. Mas, também o sistema gera ambições e cobiça. Gera distorções, permanência longa dos seus dirigentes, envolvimento com política e distanciamento dos objetivos da indústria, sua competitividade e suas relações com trabalhadores mais equilibradas.


O recente episódio na FIESP mais parece disputa política numa república de bananas do que um debate sobre o desenvolvimento da indústria paulista. Em resumo, uma turma que dominou a entidade por 18 anos com tentativas fracassadas  de conquistar o governo do estado, elege seu sucessor, que elege o sucessor que traz um novo jeito de administrar. E aí de repente parte do grupo que o elegeu, acha nele tantos defeitos  que o transforma em São Sebastião flechado, e dos quais não sabiam nada quando o elegeram. 


Tudo muito estranho. Discussões, acusações num nível tão inconsistente e atitudes tão radicais que dão medo de estar perto da entidade. Aliás, ninguém pode acusar o acusado atual presidente da FIESP de desvios financeiros, simplesmente porque não há. As acusações que lhe são imputadas são de nível pessoal, sem substâncias e muito mais referentes a quem quer brigar e arruma razão para brigar. 

As divergências políticas, que a sociedade está tentando superar, uma parte de empresários que compõe a base sindical da entidades quer trazer para a entidade, copiando o modelo de acampamentos em frente aos quartéis.

A sociedade e inclusive a maioria dos empresários pelo Brasil afora não conseguem entender nem o nível de acusações, nem as atitudes e nem quem está brigando para ter que benefícios. A entidade vai sair tão arranhada que não será capaz de representar os interesses de seus associados numa hora crucial de re-industrialização do país. Os caciques brigam e os índios estão abandonados.


No fundo, pode-se arriscar esta previsão, no debate sobre dois conceitos de avanço da indústria: um, que mantém a entidade amarrada às ambições políticas que foram derrotadas por três vezes, e novamente nas últimas eleições, e um modelo de gestão para elevar a competitividade da indústria paulista, em um projeto com forças políticas dominantes hoje no governo.


A pergunta que não teve resposta até agora nesse conflito é o que a indústria ganha para ser mais competitiva com essa confusão. Por enquanto só perde. Em resumo, vamos parar de brigar e começar a trabalhar.[ O autor foi Presidente da Federacao de industrias de Minas Gerais de 1995 a 2002 e Vice Presidente da CNI e nunca viu coisa parecida, e olha que já viu muita coisa, do que está acontecendo hoje em dia na Av.Paulista ) 









Friday, 20 January 2023

   

Quote of the Day

“The market came with the dawn of civilization and is not the invention of capitalism. If the market leads to the improvement of people’s daily lives, then there is no contradiction with socialism.”

— President Mikhail Gorbachev of the Soviet Union, in a speech to the founding congress of the new Russian Communist Party, quoted in the Washington Post (June 19, 1990)