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Friday, 18 January 2019

DOS MUROS E MURROS


DOS MUROS E MURROS

A notícia das últimas três semanas é a disputa entre o Presidente  Trump e o Congresso dos Estados Unidos sobre a construção de um muro na fronteira sul, entre o México e os Estados Unidos. Uma bagatela de 20 bilhões de reais que, num orçamento de trilhões do país mais rico do mundo, não faria nenhuma diferença financeira. A disputa é outra: de um lado o Presidente, que durante a campanha prometeu o muro, e não o fez durante o pleno domínio do seu partido (Republicano) no Congresso, e do outro lado o Congresso recém empossado, com maioria democrata, que acha o muro desnecessário. E essa disputa paralisou os serviços do governo. Mais de 800 mil funcionários públicos estão em casa, sem trabalhar e sem receber. Os serviços essenciais, como de segurança nos aeroportos e controle de voos, estão ameaçados. Os funcionários, sem receber, não pagam as contas, nem de alimentação, nem prestações da casa. Em resumo, o mais longo período da história norte-americana de fechamento do governo, isso inclui os serviços no exterior, como emissão de vistos, não tem data para terminar, mas tem que terminar porque está, junto com a guerra comercial com China, já afetando o crescimento da economia norte-americana. E quando isso acontece, ninguém nos Estados Unidos come vidro e nem rasga dinheiro.

Mas,  o exemplo do muro, alias já construído em várias partes da fronteira entre México e Estados Unidos, levanta a questão de muros que existem neste nosso mundo. Se não levarmos em consideração a charge onde, na Muralha da China, o Presidente Trump pergunta ao colega chinês Xi se ele também tem problemas com os mexicanos, o fato é que a construção de muros para proteger os países não tem nada de novo na história da humanidade. Hoje atração turística, a Muralha da China foi construída no século VII a.c. contra a invasão de tribos da Eurásia e, em especial, invasões dos mongóis.

O mais famoso muro do século passado foi o Muro de Berlim, dividindo as duas Alemanha, do Leste e Oeste, artificialmente construídas após a Segunda Guerra Mundial. E a queda de Muro de Berlim, hoje capital da Alemanha reunificada, foi a queda dos regimes socialistas do Leste Europeu, começando com a própria União Soviética.

Há vários  tipos de muros que nos rodeiam. No Brasil há comunidades onde as pessoas, por questões de segurança, criam barreiras ou até muros que os separam do resto. Sejam de um lado as de favelas como o Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, ou as  de Alphaville dos ricos na grande São Paulo. São muros que representam a exclusão ou o isolamento social. São verdadeiros guetos, aliás estes possuíam muros desde que foram inventados para separar os judeus dos cristãos no século XV, onde as pessoas se isolam dos outros.

O dilema de nos fecharmos entre muros ou vivermos mais uns com os outros apareceu  com toda força nas sociedades de hoje. Mais abertura ou mais fechamento. E o Brasil, mesmo sem construir muros nas fronteiras, vive esse dilema, com toda a força que a democracia que temos nos impõe.

Stefan Salej

Sunday, 6 January 2019

DA IMPORTÂNCIA DA VENEZUELA


DA IMPORTÂNCIA DA VENEZUELA

Definitivamente, o Brasil no momento só tem um problema grave na sua política externa: a Venezuela. Por isso é de suma importância a viagem do novo Chanceler Embaixador Ernesto Araújo, um dia depois de tomar posse e encontrar o Secretário de Estado dos Estados Unidos, para o encontro do Grupo de Lima, 14 países do continente que procuram uma solução para a situação venezuelana. E essa situação tem data certa para ser ou não resolvida:10 de janeiro, quando começa o novo mandato do atual Presidente Maduro.

A situação venezuelana tem o nome do seu padrinho e sustentáculo cravado em letras douradas: a política externa do governo do PT. Chávez, o presidente que introduziu o bolivarismo, um socialismo que ele intitulava Socialismo do Século 21, apareceu já no governo FHC. Enquanto os europeus estranhavam as atitudes do exótico coronel, FHC tolerava e dizia que podia controlar eventuais excessos. Em 2002, com a entrada de Lula no governo brasileiro, iniciou-se um golpe de estado que praticamente derrubou Chávez e seu socialismo. Mas, sob coordenação do então Chanceler brasileiro Celso Amorim e sob os auspícios do Assessor Internacional do Presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, fizeram um grupo de amigos da Venezuela que abafou o golpe e manteve Chávez no poder. Sem essa intervenção brasileira, não teríamos  nem Chávez, nem Maduro e nem caos e crise humanitária na Venezuela.

Com a bonança dos preços de petróleo, o governo Chávez teve dinheiro para gastar à vontade e atendeu bem todos os interesses. Deu aos militares a área do narcotráfico, bem descritos em todas as séries sobre narcos no Netflix, compras de equipamentos militares do mundo inteiro e mais o controle da base da economia venezuelana: petróleo e sua empresa PDVSA. Assim, criou-se um modelo político-militar que empurrou o país para a ditadura e o caos social, usando instrumentos aparentes de democracia, como eleições manipuladas e opositores presos, para se manter no poder.

O Brasil, com suas empreiteiras corruptas, aliou-se a esse modelo e deu apoio político à sua expansão, através da Aliança Bolivariana na América Latina. Sobrepôs-se aos Estados Unidos e à Europa leniente e garantiu Chávez e depois Maduro no poder. Assim, a Venezuela hoje deve ao Brasil incobráveis 55 bilhões de dólares.

A população brasileira só se deu conta do problema com a chegada de refugiados venezuelanos a Roraima. Mas, este é o menor dos problemas. Pior é a aliança da Venezuela com a Rússia e a China, que confronta diretamente a esfera de influência norte-americana no continente.

E, sem dúvida, a Declaração de Lima, que condena o regime de Maduro e prevê sanções, menciona pela primeira vez com clareza as pretensões venezuelanas sobre o território da Guiana. E nada melhor para um regime podre e falido do que reunir seu povo ao provocar um conflito armado. Maduro e seus militares precisam de algo mais para se manter no poder e um conflito com a Guiana, rica em recursos naturais, pode oferecer essa oportunidade.

O problema é que isso acontece na nossa fronteira. E o conflito militar não seria um conflito regional, mas, de um lado Venezuela, China e Rússia, e de outro lado Brasil e Estados Unidos. Uma loucura que está sendo evitada pela diplomacia brasileira, mas que está longe de ser irreal. Uma herança da política externa dos governos petistas das mais malditas.

Tuesday, 4 December 2018

DA NOSSA IMPORTÂNCIA E O G-20


DA NOSSA IMPORTÂNCIA E O G-20

A apresentação do sempre bom de se ver tango e ouvir música plantense foi de matar. O renovado teatro Colón, em seu esplendor dourado, com assentos de veludo vermelho, relembrando o auge da potência que era a Argentina no início do século passado, quarta potência mundial após a Segunda Guerra Mundial, era o lugar certo para a festa dos líderes mundiais reunidos no grupo chamado G-20. E Buenos Aires, mergulhada mais uma vez numa crise econômica e social profunda, recebia  os convidados com galhardia e simpatia portenha. Os protestos eventuais, tão comuns no nosso vizinho e parceiro econômico mais importante, ficaram por conta da briga de torcedores dos dois maiores clubes portenhos: Boca Juniors e  River Plate, que terão que jogar o final de Taça Libertadores, por coincidência, em um lugar de onde a América Latina saiu para ser libertada: Madrid.

Mas o cenário, bem organizado, não foi suficiente para recompor um mundo cada mais polarizado, caminhando fortemente para uma composição nova, neste século de avanços tecnológicos mais rápidos do que conseguimos absorver. Na semana em que a agência espacial norte-americana colocou uma sonda em Marte, as desavenças pessoais entre os líderes mundiais determinam mais os interesses dos países do que os interesses dos seus povos. De um lado, tem a Rússia em conflito quase armado com a Ucrânia, de outro lado tem a guerra comercial entre Estados Unidos e China, e a Arábia Saudita com seu príncipe sorridente, pseudo reformador, andando por  Buenos Aires como se nunca tivesse sequer falado mal de ninguém, quiçá ter assassinado um jornalista em Istambul.

Seja como for, os líderes se encontraram e, entre outras coisas, declararam que a reforma de Organização Mundial de Comércio precisa ser reformada. Nada de novo, só que na prática está prevalecendo cada vez mais o unilateralismo e não acordos multilaterais de comércio. E o mais importante foi a conclusão do jantar entre os líderes dos Estados Unidos e China, que decidiram da boca para fora dar um tempo à guerra comercial. E se os norte-americanos precisassem sentir a força da China, o caso da Argentina é bem emblemático. Os chineses doaram à quebrada Argentina todos os equipamentos de segurança da reunião e têm no país uma base militar da melhor qualidade.

A presença brasileira foi exatamente como se descreve um final do governo, quando dizem que  nem cafezinho servem mais. O novo governo se entendeu com o governo Trump por canais não oficiais antes da reunião e o governo sainte nada tem a dizer. Nós temos políticas dos governos e não política de interesse nacional e de continuidade.

Assim, temos que esperar o novo governo assumir, algo que não perturbou por exemplo os mexicanos que assinaram com os canadenses e Estados Unidos novo acordo comercial, 24 horas antes do novo

Monday, 26 November 2018

DE MINAS UNIDA ou MINAS.....


DE MINAS UNIDA ou MINAS.....

Com a eleição inédita de um governador do Estado de Minas com mais de 70 % dos votos populares, estamos vivendo uma situação inesperada e ao mesmo tempo auspiciosa e perigosa.

Simples, o Estado tem agora um líder, um maestro ungido nas urnas, que tem imenso apoio popular e a responsabilidade também excepcional de cumprir aquilo para o que foi eleito. E a essa realidade, a classe política de Minas, sempre mais preocupada ou com o regionalismo microcósmico ou com interesses próprios, mais do que com os do estado, deve simplesmente se submeter, porque isso é do seu melhor interesse. 

A calamitosa situação de Minas, com dívida de 90 bilhões de reais e déficit corrente no orçamento de 5.9 bilhões de reais, foi brutalmente condenada, junto com os que ajudaram a chegar a essa situação, nas urnas. E agora, para sairmos dela, ou vamos quebrar aquela máxima do nosso querido escritor Otto Lara de Rezende, de que mineiro só é solidário no câncer (e olha lá), ou vamos retroceder em termos econômicos e sociais 50 anos. 

O novo governo não tem maioria de deputados estaduais, não tem maioria de deputados federais. Mas, tem maioria de votos da população e um objetivo crítico a realizar: colocar Minas em ordem para ter ordem.

Então, só com a união de todas, absolutamente todas as forças nesse tsunami de desgraça que está nos matando, e que, na falta de pagamento do salários do funcionalismo e transferências para as prefeituras tem a sua cara mais visível, pode-se sair da crise. Se os políticos, inclusive do atual governo, não entenderem isso e continuarem como estão fazendo durante a transição, com uma oposição irresponsável, é que porque lhes interessa mais a guarita da sua ideologia  do que os interesses de Minas. Hoje os erros do passado não devem servir para construir uma acusação, mas uma construção de soluções e lições que nos ajudem a sair da crise.

Essa adesão à vontade popular de mudança deve valer também para os empresários, incluindo os fazendeiros. Não é hora de reivindicações, reclamações e pedidos de benefícios, é hora de colaboração, cooperação, projetos conjuntos.

O mesmo vale para os sindicatos e agremiações dos trabalhadores. Que a corda está arrebentando do lado mais fraco, não há dúvida. E que se pode ficar sem corda e cair no precipito se não reforçar a corda, também é verdade. Preocupações críticas com a calça jeans do novo governador e sua maneira de ser são mesquinhas, idiotas e demonstram que seus críticos insistem em não enxergar a essência dos problemas .

Os intelectuais, universidades e também fornecedores do estado, alguns por ele  generosamente compensados nas concessões e negócios, em especial na área de construção,  terão que rever seu modo de agir porque, se não tem para a maioria, não pode ter para a minoria.

Não no final, sobrou se devemos ter ou não nesse processo de recuperação, de reviver de Minas, ajuda de fora. Toda ajuda para reverter o processo é bem vinda. Tem que primeiro sim aproveitar os valores que existem no estado, mas os de fora podem trazer visão mais ampla, sem arrestas e com novas perspectivas.

Maestro nos temos. Agora falta a partitura, um plano consensual  que possa resolver a crise e iniciar a fase de mais emprego, desenvolvimento social e econômico sustentável e respeitando as melhores tradições mineiras.

Wednesday, 21 November 2018

DO ORIENTE MÉDIO


DO ORIENTE MÉDIO 

O Brasil é provavelmente o país fora da Europa com maior população de origem dos países do Oriente Médio no mundo. Em especial,  população de origem árabe. Temos um Líbano inteiro aqui e o atual presidente do país é filho dos pais libaneses e primeira geração de sua família nascida no Brasil.  A Síria tem em Belo Horizonte um dos mais antigos consulados  honorários, sempre dirigido pela lendária  família Cadar. Em São Paulo tem uma belíssima Catedral ortodoxa síria. Ministros, governadores e em especial empresários, como Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, são de origem árabe. A Câmara do comercio árabe brasileira é sem dúvida das mais ativas promotoras do comércio entre esse bloco de 33 países e o Brasil.

Este ano a comunidade judaica está celebrando 70 anos da fundação da Confederação Israelita Brasileira, a CONIB, aliás a ser celebrada com palestra do filosofo francês judeu Bernard-Henry Levy. Bem ao estilo do povo do livro. No Brasil há mais de 100 mil judeus  espalhados pelos quatro cantos e que tiveram papel fundamental no desenvolvimento não só da Amazônia, mas da indústria, educação e serviços no Brasil. Lendário presidente da Federação do Comércio de São Paulo é Abrão Sczaiman cujos trabalhos no SESC são marca cultural brasileira.

Essas comunidades dão uma contribuição, como também outras, fundamental para  o crescimento do país . Veja os dois principais hospitais de São Paulo: Einstein e Sírio Libanês. Um da comunidade judaica, outro da comunidade árabe. E todos convivem como primos, brigando e brincando, mas todos brasileiros.

Os problemas que o Oriente Médio enfrenta, guerras de facções, pelo poder, disputas de grandes potências, guerra pelo petróleo e tantos outros conflitos, estão longe, a não ser quando afetam famílias e negócios. O assassinato de um jornalista saudita em Istambul é para nós um filme de horror visto ao vivo. A briga do Irã com os Estados Unidos, apesar de haver importante presença de iranianos em Minas, é briga deles, que impede de vendamos mais para o Irã. Os massacres no Iêmen, só na CNN, para quem assiste. 

A lendária presença da Mendes Jr. no Iraque e Mauritânia já foi esquecida. O sucesso da Andrade Gutierrez na Líbia acabou fazendo parte da decadência da construtora, como do próprio país.

A recente batalha entre Israel e facção belicista dos palestinos em Gaza, Hamas, que  quase virou guerra, foi posta do lado pelas repetidas declarações do novo governo de que a capital de Israel é Jerusalém e não Tel Aviv. E a ameaça dos países árabes de que vão deixar de comprar nossa carne, o Brasil é o maior produtor mundial de carne com corte exigida pelas leis islâmicas, Halal, quase se realiza, com o cancelamento de visita do Chanceler brasileiro ao Cairo.

Estamos longe dos conflitos, mas foi o Chanceler brasileiro Oswaldo Aranha que presidiu em 1948 a Assembleia Geral da ONU que declarou a fundação do Estado de Israel. Nem tão longe estamos que nada nos interessa, como uma guerra  sem fim e com consequências trágicas, como a da Síria. Estamos longe, mas fazemos parte sim desse Oriente Médio difícil de entender e compreender . De um jeito ou outro, mexer naquele tabuleiro sempre é um problema.

Tuesday, 13 November 2018

DAS GUERRAS, KRISTALNACHT E PAZ


DAS GUERRAS, KRISTALNACHT E PAZ

Na semana passada, o mundo lembrou das duas grandes tragédias maiores do Século XX, entre tantas que experimentamos. Tragédias das quais o Brasil não foi protagonista, mas que também afetaram o país no bem e no mal.

Em 11/11/1918, às 11 horas do dia 11 do mês 11 de 1918, foi assinado um armistício do que a história moderna chama de A Grande Guerra. Quatro anos de batalhas que mataram mais de 14  milhões de pessoas, 9 milhões de soldados, 28 países participando. Uso de armas novas, como tanques e aviões, terrível uso de armas químicas, como gás mostarda, batalhas como da Somme, na França, entre forças de Entente (França, Inglaterra, Rússia) versus a Tríplice Aliança da Austro-Hungria, Alemanha e Itália, onde um milhão de soldados morreram. Batalhas do rio Isonzo, entre a Itália e a Eslovênia, cujas águas cristalinas se tornaram vermelhas de sangue dos mortos. Um horror que mudou a face do mundo, quando terminou.

Acabou o Império Austro-Húngaro, começou o Império Soviético, terminou o Império Otomano, reduziu-se a Alemanha, nasceram novos países como a Tchecoslováquia e a Iugoslávia e ampliou suas garras coloniais o Império Britânico. Embaralhou-se o mapa mundial de tal modo que até hoje não está tudo resolvido. Em especial, lá onde partiu o tiro de início da tragédia, os Balcãs. 

O Brasil beneficiou-se muito como fornecedor de matérias primas, em especial borracha, para as partes em conflito. Com os alemães torpedeando navios brasileiros em abril de 2017, afundando um no Canal de Mancha, o Brasil não teve nenhuma outra saída senão entrar em guerra em 26/10/1917. Mandou alguns suprimentos, batalhões e ajuda médica. 

Outro evento que aconteceu na Alemanha na mesma data há 80 anos atrás foi a Kristalnacht, a noite dos cristais. Foi durante aqueles dias que as tropas paramilitares do governo nazista de Hitler atacaram os judeus. Destruíram 267 sinagogas, 7000 estabelecimentos comerciais que pertenciam a judeus, levaram muitos deles para campos de concentração e começou a era de perseguição que culminou com 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas.

A reação do governo Vargas, que namorava com os integralistas brasileiros, ao nazismo, foi proibir a entrada de judeus no país. Semita não. Aliás, o recente filme Meu Querido Embaixador, sobre o diplomata brasileiro Souza Dantas, mostra muito bem como seu comportou o governo brasileiro na época.

Nos dois episódios longínquos da vida cotidiana brasileira, a terra abençoada por deus, o povo brasileiro não sofreu aqueles horrores (e nem os da Segunda Guerra Mundial), como aconteceu em grande parte do mundo. Mas, apesar dos governos de cada época, o país foi sim generoso com os imigrantes fugidos das atrocidades que infligiam ao mundo. A maioria que veio par Brasil, veio fugindo de conflitos, guerras, terror, para procurar principalmente uma oportunidade de viver e quiçá construir um futuro.

Até que ponto os brasileiros de outras gerações sabem apreciar esse valor, tão raro no mundo? Veja ainda hoje os conflitos na África, Afeganistão, Iêmen e outros . Veja também nossos conflitos: de pobreza, de miséria, de crimes que matam mais do que a guerra no Afeganistão, de desastres provocados por má gestão pública.

Não é fácil, mas a guerra é o pior de todos.

Wednesday, 7 November 2018

DO EMPRESÁRIO E GOVERNADOR


DO EMPRESÁRIO E GOVERNADOR

Empresário é empresário e governo é governo.

A gestão de uma empresa de qualquer natureza é diferente da gestão pública. Por isso existem até cursos universitários diferentes. Administração de empresas e administração pública. Nas duas carreiras há pontos em comum, estudos comuns, matérias comuns, mas tem uma diferença fundamental: a empresa tem que apresentar resultados, lucros, balanço social, mas essencialmente retorno de capital.

O governo representa toda a  população do estado. Na sua mais expressiva diversidades antropológica, social e econômica. E os resultados que tem que apresentar são o bem estar, em todos os aspectos, da população.   

Então empresa não é governo, e governo não administra empresa. Os métodos de gestão podem ser até similares na parte operacional. E tem mais umas diferença brutal: os funcionários públicos têm regime diferente de trabalho do regime CLT dos trabalhadores nas empresas. Nos dois casos, são mais bem sucedidos os gestores que são mais líderes e menos ditagestores (manda quem pode e obedece quem deve). Na área pública ainda há variáveis políticas e legais, que são bem mais complexas do que na área empresarial.

Mas por que tanta explicação sobre o óbvio e conhecido.

Porque vamos ter pela primeira vez nas últimas décadas um governador do Estado eleito com uma proporção de votos jamais vista em Minas, sem nenhuma experiência política anterior, e empresário. Então, está trazendo ao Palácio da  Liberdade conceitos empresariais, sua experiência pessoal para uma gestão pública. Isso só pode ser positivo se for feito dentro de parâmetros estratégicos de melhorar o bem-estar da população. Governador não é chefe de 400 mil funcionários públicos, ele é líder do segundo maior estado do país. E quanto aos funcionários, eles são o menor problema na gestão do estado, desde que os métodos de gestão passem a ser melhorados. Além do mais, a distribuição de renda do funcionalismo público mineiro mostra claramente que menos de 5 % dos funcionários (em especial do judiciário, assembleia legislativa, tribunal de contas e similares)  são responsáveis pela maior parte de folha de pagamentos do Estado. Nisso se incluem as aposentadorias dos policias militares e as de mais alguns privilegiados. A absoluta maioria ganhas pouco e trabalha bem.

Também será interessante ver a relação entre as entidades empresariais mineiras e o novo governo. O governador eleito nunca participou dos clãs que dominam essa área. E as entidades com as quais conversa em privado, como é o caso da FIEMG, não têm nenhum projeto a ser apresentado de interesse de Minas como um todo. Tem sim reivindicações classistas que  aumentam o buraco fiscal, mas não aumentam nem emprego, nem renda e nem índices de qualidade  de vida. A construção de uma agenda comum estratégica será fundamental para o sucesso de um governo dirigido por uma empresário.

Não no final, cabe dizer que JK foi um político popular, modesto, simpático e eficiente. Teve projetos, teve ideias, teve humildade, mas jamais deixou de ser Governador ou Presidente. O cargo de governador de Minas é importante, e as mais recentes esculhambações  que aconteceram não justificam que se continue a desvalorizar o cargo pelo próprio ocupante. Simplesmente porque o cargo não lhe pertence, ele é do povo. E povo  quer  dignidade no Palácio da Liberdade.