DO CÉSAR NU. E NÓS TAMBÉM.
Independentemente do juízo de cada um, o processo de impeachment de Dilma Rousseff e os processos de investigação e judiciais, dos quais o maior e mais conhecido é a Lava Jato, confirmam mesmo que cada um tem sua opinião, que o Brasil está equilibrando suas mazelas históricas de corrupção e irresponsabilidade de gestão pública, com o uso de meios constitucionais, instrumentos legais e jurídicos. A prisão recente do ex-Presidente da República Lula demonstra isso com clareza e também que não é só o César que está nu, mas com ele o ficamos também todos nós. Lula não se elegeu sozinho, o partido dos trabalhadores não governou por 13 anos sozinho e a corruptização do país não é um privilegio de uma pessoa ou de um partido político.
O processo de Lula, que é um processo criminal, mas com consequências políticas, também trouxe à tona o funcionamento de nosso sistema judiciário. O show, dos últimos dias, televisionado, das sessões do STF, coloca mais uma vez (já vimos isso nos processo do Mensalão) com brutalidade, ao vivo, quem são e o que pensam e como agem os ministros da suprema corte da nação. Independentemente da erudição, os comportamentos pessoais de alguns não são recomendados para menores, porque senão vamos ouvir dos nossos filhos e netos que eles não precisam nem fazer dever de casa porque ou estão cansados ou têm que ir para uma festa de amigos. Alias, parece que um ministro vive mais em Portugal do que em Brasília.
Também a encenação da entrega de Lula para a polícia federal, por sinal muito bem ensaiada, leva claramente à conclusão de que o Brasil tem condenados e criminosos de vários quilates. Os que têm dinheiro e podem usar um sistema judiciário com advogados caros que os protegem, inclusive na hora da prisão e demais, ou o porteiro do meu prédio, pai de cinco filhos, consertador de telefones celulares nas horas vagas, pego com um telefone roubado, que, como 40% da população carcerária brasileira, está na prisão sem julgamento e sem chance de ter qualquer emprego quando sair.
A prisão do Lula deve nos levar a uma reflexão, tardia, muito tardia, de alianças políticas que se fazem no país para governar. Lula liderou um partido que teve sim apoio de empresários. Não só do seu vice-presidente, mas de vários ministros, sem falar nas entidades de classe como a CNI. Muitos, mas muitos deles mesmo, ganharam cargos, muito dinheiro e escaparam de todos os processos. Muitos continuam bajulando e participando do governo Temer (que nada tem a ver, pelo que ele diz, com os governos do PT). Há muitos processos em curso no judiciário, nos órgãos de investigação (inclusive até hoje o não concluído processo sobre uso de recursos públicos por uma fundação, mais de 300 milhões de reais, que envolveria dirigentes da principal entidade industrial mineira) que ou dormem, ou desaparecem, ou cuja vez ainda não chegou.
Colocar o Brasil a limpo requer mudança de atitudes, e em especial uma revisão de políticas de alianças de empresários com o poder público e os políticos. Como disse um dirigente da FIESP: por aqui não foram homenageados e nem passaram os Eikes da vida e nem os envolvidos na Lava Jato. Simples, no pássaro, parafraseando a líder comunista espanhola.
Condenar um ex-presidente da República pode ser o início do fim da impunidade, mas de jeito nenhum é por si só, o fim da corrupção e o início de mudanças no país.